Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 15
Máscaras caídas




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Antes das duas da tarde, todo o grupo ansioso esperava na sala de exibição, com exceção de Haikai que alheio a tudo, àquela balburdia, ouvia música pelos seus fones de ouvidos, com ar tranquilo, como se nada daquilo o importasse.

— Esse garoto é muito esquisito — Amélia cochichou para Célia, olhando o pelos cantos dos olhos.

Caroline estava de pé, ao lado do advogado, atuando no seu papel de secretária, segurava alguns papéis sem serventia, ela mesmo desconhecendo o que estava para acontecer ali. Esticando os olhos na tentativa de ver Tom, sentando na última fileira, com um jeito apático, enquanto, os outros se remexiam nas cadeiras, aflitos à espera do que iria desenrolar em poucos minutos.

— Boa tarde, senhores e senhoras. Sei que todos estão ansiosos e curiosos, para saber os últimos desejos de nossa amada Eva, mas antes assistiremos um pequeno filme.

— Filme?

— Que filme?

— O que está acontecendo?

— Sobre que se trata?

Perguntas pipocavam entre eles, surpresos com a notícia. Então, Gustav levantou a mão para pedir calma.

— Na verdade, eu não sei o seu conteúdo. Há cada ano, Eva me entregava uma gravação diferente lacrada e pegava a anterior, que destruía, fazia isso no dia do seu aniversário, desde a morte de seu segundo marido, Ortega, acho que ficou impressionada com o ocorrido, queria deixar gravados os seus derradeiros desejos, caso algo acontecesse. Então, sem mais delongas, vamos assistir o que Eva nos deixou.

De imediato, Caroline apagou a luz, apertou o botão do controle remoto e se sentou em uma das poltronas laterais. A imagem de Eva linda e luminosa encheu a tela, sob os olhares atentos dos espectadores. Foi chocante.

— Olá a todos! Se vocês estão assistindo essa gravação, significa que eu morri. Espero que tenha sido uma boa morte, sem muito sofrimento, sendo assim, nesse momento, já fui cremada e minhas cinzas espalhadas pela ilha, com desejei. Então, todos devem estar bastante curiosos para saber o que eu deixei para vocês. Não demorarei muito. Gustav tem tudo detalhado em documento, com cada valor específico. Então, começarei pela minha doce mãezinha, que fez de tudo para que eu conseguisse sucesso e dinheiro, inclusive me transformar em uma vadia — Eva disse, entredentes.

— Oh! Meu Deus! Não, eu nunca fiz nada parecido. Eu a amava, Eva — Amélia rebateu, inutilmente.

— É claro que você vai negar, mãe. Mesmo a odiando pelo que fez, eu não a deixarei desamparada, assim terá um fundo para que viva confortavelmente, sem muito luxo.

— O quê? — Amélia protestou, os outros pediram silêncio.

— Meu caro Arthur não me esqueci de você, mesmo já estando na sua cama quando era muito jovem, diferente de outros, nós nos tornamos amigos e você me ajudou muito na minha carreira.

Todos os olhos se voltaram para o velho produtor, que se encolheu na poltrona.

— Assim como Célia, que me apontou as pessoas certas que devia me aproximar, ambos terão sua cota da minha herança.

— A minha fiel Melissa, que cuidava de mim, e ao meu habilidoso Murilo, que escutava a minhas lamentações, também, não me esqueci de vocês dois.

— Meu caro Haikai, eu queria ser uma mãe melhor para você, mas eu não o deixarei desamparado, terá dinheiro suficiente para ter uma vida confortável e feliz, sem precisar se preocupar, e criar as histórias que tanto gosta, além do seu apartamento favorito, em Londres — O rapaz não esboçou nenhuma reação.

— Ao meu querido Tom, quero dizer que eu o amei muito. Você foi um grande amor da minha vida e, por um tempo, fui feliz ao seu lado, nessa casa, por isso, ela e tudo que está dentro dela, são seus, além de recursos suficientes para mantê-la e ter uma boa vida.

Nesse momento, todos olham com inveja para Tom, que tinha os olhos brilhantes de lágrimas.

— E o resto do dinheiro? As casas, os apartamentos, as ações, tudo mais? — Amélia pergunta, indignada, por ficar com um quinhão menor que imaginava.

Como se respondendo a mãe, Eva dá um sorriso esplendoroso.

— Quando o resto das minhas posses, deixarei para minha filha. A criança que tive na juventude, cujo pai, eu desconheço, já que nessa época tive muitos amantes, na ânsia de minha escalada para a fama. Eu a abandonei recém-nascida, no hospital, a própria sorte, e agora, quero compensá-la por toda privação que teve no passado. Esses são os meus desejos finais. Tenham todos uma boa vida, meus queridos. Adeus. — E a imagem desapareceu.

A sua volta, todos estavam estarrecidos, de queixo caídos.

— Isso é um absurdo! Como deixar todo dinheiro para uma desconhecida qualquer, que não sabemos se está viva ou morta!  — Amélia deu um pulo da cadeira, protestando, transtornada.

— Não é uma desconhecida qualquer, é a filha de Eva — Gustav rebate, com calma.

Em dois passos, Tom estava na frente da sogra.

— Você sabia dessa criança? — ele perguntou a ela, com os olhos em brasa.

— Sim, eu sabia. Descobri a gravidez tarde demais para um aborto, Eva poderia correr risco de vida, então, eu a convencia a ter a criança com um nome falso e deixá-la no hospital.

— Como pode fazer isso com sua própria neta?!

— Não queria que nada impedisse Eva de se tornar uma grande estrela.

— Por isso, você a prostituiu! — Tom esbravejava.

— Eva sabia o que tinha que fazer, era uma garota esperta — a mulher rebate, com um certo orgulho.

Aquela conversa, o filme, as revelações e tudo mais reviraram o estômago de Caroline que teve vontade de vomitar, contudo, respirou fundo e segurou firme. Sua boca estava seca, suas mãos trêmulas e seu coração em disparada, sem ter a mínima ideia de quanto dinheiro estavam falando, mas, tinha certeza que era muito.

— E onde está a criança agora, que já deve ser uma mulher? — Tom se virou para o advogado.

— Estamos tentando localizá-la, enquanto isso, todo o dinheiro estará à espera dela, em um fundo especial — mentiu.

— Isso é um absurdo! — Amélia se exaltou.

— Em absoluto, esse é o último desejo da sua filha — Gustav respondeu, pacientemente.

— E se a garota nunca aparecer, o que será do dinheiro? — Murilo perguntou.

— Essa é outra história, mas, por enquanto, trabalhamos com a hipótese que a filha de Eva seja encontrada. Não há nada a fazer, no momento. Todos os outros detalhes serão resolvidos no meu escritório. Sendo assim, acho melhor tomarmos algo em outro lugar, para acalmar os ânimos.

— Excelente ideia! — Arthur disse, animado, esfregando as mãos — Vamos, minha cara Amélia. Não temos mais nada a esconder, já que nossas máscaras caíram, ou melhor, foram retiradas — ele ofereceu o braço a mulher, que aceitou, prontamente.

Aproveitando a saída do grupo, Gustav se aproximou de Caroline, ainda, em estado de choque, mas ninguém havia reparado na moça.

— Como você está? — sussurrou junto a ela.

— O que você acha? Ao mesmo tempo, revoltada e chocada, depois de tudo que escutei — ela respondeu no mesmo tom.

— Fique tranquila, tudo está indo muito bem.

— Você acha isso mesmo? Depois de tudo que descobri sobre a minha mãe.

— Você está traçando um retrato bastante errôneo de Eva. Ela era encantadora e adorável.

— É estranho você falar assim de uma cliente — Caroline observou, desconfiada.

— Eva não era só uma mera cliente.

— Quando poderei revelar a verdade? — Ela estava ansiosa, principalmente, por causa de Tom, de como ele reagiria ao descobrir que o enganara.

— Só quando toda parte legal estiver resolvida, será mais seguro.

— Por quê? Você acha que podem fazer algo contra mim?

— Não seja boba, menina. Mas, por enquanto, manteremos o nosso pequeno segredo — Ele sorriu benevolente – Vamos nos juntar os outros.

— Pode ir. Eu irei depois, quero ficar um pouco sozinha.


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