Os segredos de Eva escrita por calivillas


Capítulo 14
Cerimônia do Adeus




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763784/chapter/14

Mesmo cansada, Caroline demorou a dormir, rolando na cama, enquanto, sua mente indomada fugia e vasculhava cada fato ocorrido e cada palavra dita, naquele dia, ainda sem nenhuma resposta a respeito da personalidade obscura da sua mãe biológica. E ainda havia Tom, que mexera tanto com ela, parecia que era a única pessoa a ter sentimentos verdadeiros para com Eva, mesmo assim, segundo o advogado, a esposa queria a separação, cansada daquele relacionamento insonso.

Por fim, caiu em um sono agitado, cheio de sonhos confusos, até acordar no dia seguinte, bem cedo. Pela janela, avistou um dia incrivelmente claro, o céu azul sem nuvens, a chuva acabou sem deixar vestígio a não ser a terra úmida e a vegetação mais verde. Assim, Caroline se aprontou para inevitável cerimônia de despedida de Eva, já que não haveria nenhum outro empecilho para que não ocorresse. Colocou o discreto vestido escuro, comprado para aquela ocasião, os sapatos baixos fechados, prendeu o cabelo em um rabo de cavalo e saiu para procurar o advogado, a fim de justificar sua presença ali.

Ao longe, em um recanto do jardim, avistou os empregados arrumando as cadeiras e as flores para a cerimônia, sobre a coordenação da severa Melissa.

Ao entrar, notou que a casa estava extremamente silenciosa e deserta.

 — Ninguém acordou ainda — um dos empregados avisou, quando ela foi tomar o café da manhã, já que pular o jantar a deixou com bastante fome.

Logo em seguida, Gustav, vestindo um clássico terno escuro, veio lhe fazer companhia.

— Bom dia.

— Bom dia.

— Espero que tenha se acalmado e colocado a cabeça no lugar, Caroline — ele disse com ar de censura, quando se sentou em uma das cadeiras junto a ela, com seu frugal mingau de aveia e frutas.

— Minha cabeça nunca saiu do lugar, em tempo nenhum, doutor.

— Sendo assim, espero que não tenha revelado a ninguém a sua verdadeira identidade.

— Eu ainda continuo a ser um segredo muito bem guardado — ela respondeu, em tom ácido.

— Assim espero, não confie em ninguém, por mais confiável que essa pessoa possa parecer, por estar sofrendo com a morte repentina da sua esposa, e por mais charmoso que isso aparenta ser. Ele é mais esperto do que você imagina, Caroline.

— Espera um pouco! Como soube com quem eu estava?

Mas a conversa encerrou, quando Célia se aproximou da mesa deles, tomando um dos lugares.

— Bom dia. Felizmente, o sol, assim poderemos acabar com tudo isso e seguir a vida — ela falou animada, comendo seus ovos mexidos com torrada.

No fim da manhã, reunidos no pequeno auditório improvisado no jardim, diante do mar, o grupo solene assistia a singela cerimônia, onde emocionados discursos de despedidas se seguiam, de frente a bela urna funerária de cerâmica azul, contendo as cinzas de Eva Montserrat, depositada em um pequeno altar cercado de arranjos de flores brancas. Os empregados da casa assistiam tudo com uma respeitosa distância.

Perante daquele objeto, Caroline tentava entender seus sentimentos, procurando no fundo da sua alma alguma emoção por aquela mulher desconhecida, porém não encontrava nada. Era apenas uma estranha, um nome, algumas imagens e um monte de impressões desencontradas.

— Como era desejo da nossa querida Eva, suas cinzas serão espalhadas pelos recantos dessa ilha que ela tanto amava — o advogado finalizou a primeira parte da cerimônia.

Aí se deu início um pequeno e silencioso cortejo, em passos lentos, pelos caminhos ainda lamacentos devido à chuva dos dias anteriores. Em cada parada, um pouco das cinzas era espalhado, por um dos presentes, ao som de algumas breves fungadas e sob semblantes sérios, assim eles passaram pelo orquidário, o jardim de flores exóticas e outros recantos, até chegarem junto ao mar onde, enfim, o restante das cinzas foi derramada, solenemente. E a cerimônia acabou.

— Meus caros, vamos almoçar, pois, mais tarde, teremos outra reunião, desta vez, para abrirmos o testamento. Nós nos encontraremos por volta das 2 horas na sala de exibição — o advogado avisou, antes do grupo se dispersar.

— Na sala de exibição? Um lugar estranho para isso, não acha? — Amélia questionou, exausta, aparada por Murilo, após a pequena caminhada.

— Teremos mais espaço e todos ficarão mais confortáveis — Gustav respondeu e o grupo se dispersou a passo lento, indo em direção a casa.

Durante todo o tempo, Caroline observou Tom, pelos cantos dos olhos, comovida com a expressão devastada e séria dele, deixando-a aflita. Desejava tanto se aproximar, segurar sua mão, apoiá-lo, confortá-lo, mas não podia, principalmente, na frente de toda aquela gente.

Foi quando o grupo retornava ao conforto da casa, que ela percebeu que ele ficou para trás, assim sendo, sutilmente, diminuiu os passos, para se atrasar e quando tomaram uma certa distância, ela voltou nos seus próprios passos e se postou ao seu lado, que continuava no mesmo lugar, onde o restante das cinzas fora derramado, com olhar perdido e brilhante de lágrimas,

— Como você está? — perguntou de forma retórica, pois já sabia a resposta.

— Terminou.

— Ainda não.

— Mas, para mim, sim. Apesar do que possa acontecer mais tarde. Quer andar um pouco, podemos ir até o fim da praia?

— Sim — ela tirou o sapato e pisou na areia fina e fria, cheia de resquício da tempestade do dia anterior, caminharam lado a lado, em silêncio, por algum tempo. — Você não está curioso? — Finalmente, ela perguntou.

— Não. Por que estaria?

— Eu não sei. Tudo isso é tão estranho para mim. Nunca vivi nada parecido.

— Você nunca conviveu com tanto dinheiro e interesses.

Prosseguiram sua caminhada em silêncio.

— Ela ia me deixar — Tom falou de um jeito sombrio.

— Não, claro que não!

— Eu sabia, percebi há algum tempo. Eva andava diferente, cheia de segredos com Gustav, acho que era sobre o divórcio. Tínhamos um contrato pré-nupcial. Não estávamos muito bem, nos últimos meses, andamos brigando.

— Todo casal briga, pelo menos, eu acho. Meus pais sempre brigam e estão casados, há trinta anos.

— Não gostava da maneira que ela escondia coisas de mim.

— Como pode ter tanta certeza que ela escondia algo?

— Simplesmente, sabia — Ele deu de ombros.

— O que você acha que seria esse segredo? — Caroline se sentia irrequieta por vê-lo sofrer assim, sabendo que ela era o grande segredo de Eva. Poderia contar a verdade a ele e acabar com toda aquela angústia, mas Gustav recomendou que fosse prudente, que esperasse o momento certo, e era que faria.

— Eu não tenho ideia. Mas, suponho que seria um novo amor, um amante.

— Não! Claro que não! — Ela foi um tanto enfática demais, ele franziu a testa sem entender.

 — Acho melhor, voltarmos.

— Sim, talvez, fosse melhor.

Enquanto retornava, Caroline considerava se Tom a perdoaria, se um dia descobrisse a verdade, que ela o enganara, por todo esse tempo,


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os segredos de Eva" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.