Kaiko escrita por Lily Starks


Capítulo 7
VI


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Eu sei que desapareci por um tempo, mas agora estou devolta com um capítulo fresquinho.
Aproveitem e BOA LEITURA!!!!



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No dia seguinte, na escola, eu não sabia bem o que sentir. Posso ter sido um pouco cruel, mas eu tinha a quase certeza que ele merecia o gás pimenta. TINHA quase a certeza. Porque não a tenho no presente do indicativo e sem o “quase”?

Lá no fundo do meu ser, eu sei a resposta.

Culpa.

Eu sou brigona e chata e tudo mais, mas aquele idiota mexe com os meus pensamentos e por muito que eu não queira admitir, com o meu coração.

Isto não saí daqui.

Não mesmo.

É segredo, ok? E só porque sou muita doida, pesquisei a definição na internet. 

 

se.gre.do/səˈɡredu

nome masculino

 

 

1.

coisa que não se deve dizer ou não deve ser do conhecimento de outrem

 

2.

coisa que não se divulga; sigilo

Perceberam agora, certo?

~^~^

Como precisava de espairecer e a minha primeira aula da manhã seria natação (finalmente algo decente nestas aulas!), dirigi-me à piscina perto do campo de futebol.

E, quando lá cheguei… A minha boca abriu-se até ao chão. Era uma enorme piscina, do tamanho de uma olímpica, de água azul tão límpida que parecia água do oceano onde costumava surfar.

Então, vesti o fato de banho, pus a touca que me escondia os cabelos absurdamente vermelhos (no entanto, por teimosia, deixei uma madeixa encaracolada de fora), coloquei os óculos e mergulhei.

Senti-me livre, como sempre me sentia debaixo de água. Senti-me em casa e senti-me extremamente vulnerável.

Por vezes era bom, mas hoje, só piorou a minha situação, porque parecia que não tinha a parede que me separava do mundo. Aquilo que me fazia forte.

Suspirei, encostando-me à parede da piscina.

Entraram no pavilhão toda a minha turma. E o professor.

—Vejo que a senhorita Roberts já está pronta. Importa-se de sair da piscina para começarmos a aula? Ou será demais para a sua cabecinha oca?

Sério! Eu começo a pensar se o mundo não está contra mim. E isto, não era considerado assédio? Assédio moral? Eu sou menor de idade, necessito de respeito!

Ok… O professor não era assim tão legal como todos os outros. Envergonhada, saí da piscina e fiquei sentada no banco enquanto esperava todos os outros.

Foi quando alguém entrou na piscina, com um salto mortal fantástico e elegante.

Nadou quatro piscinas de seguida sem parar para respirar. De forma tão perfeita, de uma forma tão exemplar, que os seus braços fortes rasgavam a água a uma velocidade não real, o seu corpo movia-se de acordo com o movimento das pequenas ondas que ele criava.

Era algo com que me identificava. A água era o lar dele, onde ele pertencia, onde podia ser quem era, tal como eu…

Mas quem era ele?

Foi apenas depois que o reconheci.

James O’Brien.

^~^~

A minha boca escancarou novamente em menos de duas horas. Isto estava a ficar cada vez mais comum.

Ele era o capitão da equipa de natação.

Ele jogava futebol.

Ele era um bom aluno, mesmo aparecendo só para os testes.

Ele era o meu stalker pessoal e talvez de muitas outras garotas.

Ele era ridículo.

E incrivelmente bonito.

E um magnifico nadador.

Com futuro provavelmente olímpico.

E, bem, incrivelmente lindo. E gato. Com um abdomen e um peito dignos de suspiros…

Ah, não.

Cala-te Kaiko. Estás a começar a meter-me nojo.

Deixa de pensar nessas coisas.

Deixa de pensar, realmente.

Pensando bem, até podes deixar de existir.

~~~~~

Okay, eu não posso deixar de existir. Senão, o que seria da minha mãe e do meu pai? E do Kanoa? Eu não poderia irritar a Sarah e o avô não me poderia chamar de anã! E a Zoe morreria sem mim, a Liv e o Harry nunca ficariam juntos e o Tommy nunca teria aprendido a ser menos tímido…

Ceús, sou mesmo dramática.

—O’Brien pare de se exibir e venha aqui, rapaz!

James saiu da piscina com um sorriso exibicionista e convencido. Como sempre.

Revirei os olhos.

—Hoje, como é a primeira aula não serei muito exigente, no entanto estarei a avaliar-vos. Cada pequeno erro conta para a media escolar. Vamos fazer um concurso de estafetas e quem ganhar estará dispensado da próxima aula de física, do qual sou professor também. Primeiro, meninas contra meninas e meninos contra meninos e depois vemos quem chega à final. Cinquenta metros croll.

Toda a gente prontamente obedeceu às ordens do treinador. Fizeram os pares para a primeira rodada e adivinha com que meu fiquei? Não com o Harry, não com a Liv e incrivelmente não com o James.

Eu ia competir com a Millie Morgan. Sim, a Millie. Aquela que vestia um fato de banho tão pequeno que lhe punha os seios quase de fora e mostrava metade da vagina oxigenada que ela tinha.

Isto não era inveja, não confundam as coisas, seus seres perversos. Eu certamente não gostaria de ter o treinador a olhar para mim como se eu fosse o próximo pedaço de bife de “vaca” (hahaha, perceberam a semelhança?!) a ser engolido por ele. Puff, Tarado. Este mundo estava cada vez melhor.

Posicionámos-nos e eu concentrei-me apenas na água e na sensação que eu tinha. Quando o apito tocou eu pude finalmente fundir-me com o meu meio, o meu maior amor.

Nadei com tudo o que tinha, os meus braços apenas seguindo o seu caminho, completamente livres. O meu corpo movia-se como uma sereia, como um ser marinho. Quando acabei estava ofegante e cansada, mas compensava ver o espanto de todos por ter ganho com vantagem a Millie Morgan. Oh que sensação mais agradável!

A seleção se seguiu e vi galinhas que eram arraçadas de cadela a nadar como patos com uma indigestão. Os patos sequer sofriam de indigestões? Eu tentava conter o riso a todo o custo, mas era simplemente “adorável” aquelas doidas a tentarem provar-se melhor que muitos.

Os rapazes tinham o mesmo curso. Havia alguns muito bons e outros lastimáveis.

Pedi licença para ir à casa de banho fazer as minhas necessidades e quando voltei… O meu pesadelo começou.

O único que restava dos rapazes era o James. O JAMES! Oh meu santo senhor!!

Adivinhem lá qual era a última que restava das meninas.

Oh, pois, EU.

Estava mortinha. E frita da vida com certeza.

^~~^^~~^~^~~^~

—O’Brien, Roberts, quero duzentos e cinquenta metros de estilos, isto é: mariposa, bruços, croll e costas.-depois virou-se para mim, com uma cara de pena. Eu tinha passado incríveis dez minutos (a tentar) discutir com o treinador sobre toda esta babaquice- É melhor conformares-te com a derrota. Não me apetece cenas depois da final.

Quem ele pensava que eu era?! HÃ??? Algum tipo de Madonna ruiva e mais escandalosa?

Afff, mas era isso que eu era.

No entanto, ele continuava a não ter o direito de me julgar pelo meu cabelo, as minhas sardas e o meu minúsculo tamanho.

—Sim, pirralha, é melhor aceitares que vais perder. Aqui o garanhão esmaga sempre!- bateu o punho com um amigo dele, enquanto todos os outros riam. Eu fiquei vermelha. Não de vergonha, contudo de raiva, da mais pura raiva.

—Eu acho, James, que é melhor começares a abaixar essa crista porque senão tornas-te um galo e todos sabemos que os galos não sabem nadar.

Todos riram e houve vaias por todos os lados. Ele também teve direito a uma corzinha rosa nas suas bochechas. Os seus olhos faiscavam de pura raiva também. Ele não respondeu e pôs-se na sua posição. Segui o seu exemplo.

—Prontos, às vossas posições e…AGORA!-o apito soou por entre aplausos e eu mergulhei. James nadava mil vezes melhor que eu, porém eu não podia deixá-lo ganhar, seria insulto à minha dignidade e ao meu orgulho. E à minha reputação também. Portanto, havia tudo em jogo.

Tentava acompanhá-lo, outra vez concentrando-me na água e em tudo o que me rodeava.

Desanimei logo depois porque vi que estava a perder por duas piscinas e me sentia incrivelmente cansada. Eu não era nadadora profissional. Eu não tinha jeito para aquilo. Estava já a conformar-me com a derrota...

Numa das braçadas olhei a turma toda e lá estavam Harry e Liv a sorrir e gritar por mim, por muito que Harry fosse o melhor amigo de James.

A voz da minha mãe veio à minha mente por apenas uma fração de segundo.

Nós somos Roberts, filha. Tu és também. Não és de sangue, mas és de coração. Nós amamos-te de qualquer forma, de qualquer maneira, de qualquer cor de cabelo ou cor de olhos. Nós amamos-te porque tu fazes parte de nós, porque és alguém nas nossas vidas. Não deixes que sejas um ninguém na vida dos outros também. Faz por isso e esforça-te para conseguires aquilo que queres. Vai atrás e não desistas só porque outros te dizem para deixar ir. Tu és importante. ”

Isto tinha sido antes do meu primeiro Campeonato de surf quando tinha seis anos. Estava nervosa e com medo. E se eu falhar? O meu subsconsiente perguntou parvamente.

A voz do meu pai veio de seguida.

Tu és a minha Kaiko e se caíres, levantas-te novamente. Tu és o mar, meu amor. Selvagem, indomável e muito teimosa. E digo-te um segredo: tu és minha filha e nós nunca perdemos. Agora vai lá orgulhar-me!!”

Aquilo deu-me um novo ânimo e uma nova força. Os meus pais realmente eram os meus anjos guardiões. Voltei a nadar com rapidez e com agilidade. Pensa como no surf, Keahi. A onda é tua e de mais ninguém. Desliza, nada, coordena-te. Não percas o ritmo.

 De repente estava na última piscina, empatada com o James. Eu consegui vislumbrar o olhar presunçoso dele a desmanchar-se num olhar nervoso.

Faltava só mais um pouquinho… va lá… Por favor… Só mais um pouquinho… Estiquei a mão e… SIM! HA! CONSEGUI!!

Eu tinha ganho de O’Brien. E Deus não estava assim tão contra mim afinal. Ou o mundo.

Ah, tanto faz, estou demasiado feliz para pensar nisso. :)

^~~^~~^^~^~^^^~~

Todos me encaravam espantados, chocados, abismados, incrédulos, boquiabertos literalmente, paralisados, shocked, sorprendidos, scandalisé, bestürzt. Até o sei dizer em várias linguas vejam lá!

Eu tinha ganho daquele idiota de meia tigela! Até o treinador parecia sem palavras.

—Não, deve ser engano, não pode ser… Como isto aconteceu? Isto não é possível…- ouvia a voz de James murmurando ao longe. Quase inaudível. Sorri deliciada.

Saí da água e caminhei até ao treinador. Finalmente ele tomou uma atitude e quebrou o silêncio pesado que se havia instalado. Ergueu o meu braço e disse, abaobalhado:

—A Roberts é a vencedora!

E então, um chuva de aplausos começou ecoando por todo o pavilhão.

James saiu da água encabulado, mas ao aproximar-se de mim, abriu um sorriso constrangido.

—Bem, Keahi, nadaste muito bem. Parabéns pela vitória.- Foi a minha vez de ficar pasma.

Eu esperava que James fizesse uma birra ou leva-se a mal a partida ou até mesmo que chorasse por ter perdido! Mas lá estava ele à minha frente com uma mão estendida para mim e um sorriso tímido, encabulado, que lhe ficava muito bem, reparei tardiamente. Bem melhor do que o sorriso desbochado. Parecia mais verdadeiro. Mais James.

Peguei a mão dele com a minha e dei-lhe um aperto. Talvez por não ser um idiota agora e não agir como uma criança mimada. Ele pareceu surpreendido, ainda mais do que estava antes.

—Roberts, acho que estás dispensada da aula de física amanhã.- virei-me para ele.

—Na realidade, treinador, eu acho que, se não se importar gostaria de fazer na mesma a aula.

—A sério?- ele pareceu feliz e surpreso.

—Sim, afinal o treinador disse que a partir de agora cada pequeno erro contava paras as notas. Bom, eu quero  ter a minima margem de erros e por isso tenho de fazer a sua aula.-ele deu-me um mínimo sorriso e vi que ele tinha passado a sua primeira impressão de mim para o lixo.

Feliz, olhei a multidão que ia para interval escolar e vi um rosto nada feliz no meio dela. Millie.

Reparei que olhar dela estava na minha mão pegada com a de James. Retirei-a apressadamente e isso deu-me tempo para pensar.

Os testes para líderes de torcida eram daqui a dois dias. Sorri maquiavélica.

Estava na hora de colocar o meu plano em curso.


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