Kaiko escrita por Lily Starks


Capítulo 6
V


Notas iniciais do capítulo

Desculpe por passar umas semanas sem postar. Estou de férias e estou muito feliz, porque estive a fazer obras no meu quarto que ficou magnífico, fantástico!
Espero que aproveitem a maluquice da nossa Kaiko, que não consegue parar quieta.



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Eu estava perdida, também. Não só amaldiçoada, como perdida?

Quem é que eu estava a tentar enganar?

Ao subir aquelas escadas que separavam o resto da minha antiga vida de uma nova vida desconhecida, senti-me entorpecida. As minhas pernas não obedeciam ao meu comando de parar, apenas deslizavam para a frente. E mais para a frente… E mais para frente…

Já disse que sou a maior azarada deste mundo? Se não disse, ficam a saber agora. Se já disse, bom, eu já referi que sou bem repetitiva.

E foi por isso, pelo facto de ser uma azarada de primeira, que as minhas pernas delizaram mesmo. E caí. Caí de bunda no chão.

Felizmente não chamei a atenção de ninguém. Ninguém se riu, ninguém me ajudou porque ninguém me conhecia. Até que não era assim tão mau.

Agora quanto ao Harry e à Olívia… Ah! Estavam feitos comigo quando os visse novamente! Abandonarem-me assim nesta prisão de loucos!

Eu arrancar-lhes-ia as entrnhas assim que os visse, oh sim, faria isso… Ok, chega Keahi. Chega de pensamentos homicidas. Não faz bem a ninguém.

Levantei-me sacudindo e dirigi-me para a sala em que teria biologia. Até que não era tão mau. Sempre gostei de biologia.

Caminhando agora mais ciente e tentando não cair outra vez, tive uma visão que quase me fez vomitar o meu café da manhã.

Esse garoto só me podia estar a perseguir! James O’Brien estava quase de frente para mim, apesar de só ver metade da sua face linda, porque a outra metade estava enfiada na cara de uma garota, num amasso super escaldante, quase no meio do patio. Não sabiam o que era privacidade e respeito mútuo?

Eu tinha a minima esperança de que não estivesse no mesmo colégio que o gostoso desprovido de inteligência. Erro meu. Afinal, O’Brien era o melhor amigo de Harry.

Merlin.

A sala em que eu queria entrar estava por detrás deles.

E… A sério?! Estavam tão agarrados que se pareciam fundir num só…num só muco nojento e grudento! Argh!

É isso ciúmes Kaiko? Cala-te consciência.

Eu tinha de fazer algo. Ou talvez tentar passar despercebida e atravessá-los? Segunda opção.

Meu grande erro. Novamente. Que cansaço.

Assim que tentei passar por aqueles nojentos sem vergonha alguma, tropecei. Outra vez.

Eu segurei-me ao poste que estava mesmo ali como missão de vida a proteger-me de cair no chão outra vez. No entanto, o estardaçalho já havia surtido efeito.

Eles afastaram-se, assustados. Pelo menos a parte feminina da gosma tinha um olhar assustado. Já ele, nem tanto. Não era novidade no entanto.

Ele olhava-me com surpresa. Não sei se por me ver ali ou por me ver ali, na “cena do crime”. Se é que me percebem.

Depois abriu um meio sorriso, talvez o mias verdadeiro que lhe já vi na face.

—Ora, Roberts, por aqui?

—E não tenho direito?- rebati, já a ficar nervosa. Não te exaltes. Não vale a pena. Virei-me para entrar na sala.

—Ei, espera aí!- ele andou rapidamente para me alcançar.- Vais para a aula?

—Vou, porém não te interessa. Porquê? Achas que sou como tu? Achas que falto a todas e fico retida depois? Nem pensar.

—Eu não fico retido!- a indignação dele me fez sorrir. O que ele achou um marco. Roberts 1 x 1 O’Brien.

—Não, vamos fingir que não. Agora, acho melhor voltares para a tua companhia ambulante, porque eu acho que ela não ficou muito feliz com o teu abandono repentino. E bye-bye.

Entrei na sala, sem lhe dar importância. Liv estava lá, numa conversa animada com o Harry. Por Zeus, esses dois não se largavam nem por um segundo?

Aproximei-me deles na minha melhor pose de menina mimada. Ou na melhor pose de Amber, a Barbie estragada.

—Bem, o que temos aqui? Dois amigos traidores que deixam a pobre menina aqui sozinha num sítio novo e nunca visto por ela para que passe vergonhas.- eles riram, Liv corando ligeiramente nas bochechas e nas orelhas.

—Se te consola guardei-te um lugar.

—Oh obrigada! És a melhor amiga do mundo!- saltitei até ela, dando-lhe um abraço de urso depois- Nunca deixes a Zoe ouvir isso.

Naquele instante, o professor entrou na sala. E atrás dele vinha James. Eu juro que o mundo está contra mim! Ele tinha que ter as aulas comigo?

Ele pediu desculpas pelo atraso ao professor e toda a gente pareceu surpresa por ele sequer se dignar a aparecer a essa aula. Até mesmo o seu melhor amigo.

—Caramba, o James está aqui! Ele odeia biologia. Normalmente só aparece para os testes.

O’Brien sentou-se atrás de mim, ao lado de Harry.

—Sabes, é feio deixar as pessoas a falar sozinhas. É muito feio. És uma menina muito má.- ele sussurrou no meu ouvido, causando-me arrepios.

—Se calhar sou mesmo. Não me conheces.

—Mas quero conhecer.- ele sussurrou ao qual eu ignorei.

O professor apoiou-se na sua mesa e sorriu para todos.

—Olá! Vejo que estão todos e que- consultou a lista de presenças- temos uma cara e um nome novo. Queres apresentar-te, querida?- ele olhou diretamente para mim.

Senti todos os olhos em mim.

Cerca de quarenta e oito olhos. Éramos vinte e quatro alunos e a dobrar dá quarenta e oito, sem contar comigo (eu não me observe a mim própria) quarenta e seis olhos postos em mim.

Quando eu fico nervosa, tenho pensamentos estranhos. Olhei para cima, tímida e encabulada.

—O meu nome é Keahi Roberts e sou de Oahu, Hawaii.

—Então, Keahi, eu sou Hugo Wallace, sou natural da Bélgica, vim para cá muito pequeno. Vens da terra da carne enlatada. Gostas?

Fiz logo uma careta. Carne enlatada… Ugh…

—Vocês todos têm um preconceito enorme contra nós sobre comer carne enlatada. Lá porque se vende mais carne enlatada lá e se consome mais, não quer dizer que seja bom ou que toda a gente goste. Eu, pessoalmente, odeio tudo esse conceito e ideia. E posso não ser nativa da ilha, mas a minha mãe é e ela também odeia.

—Gosto do seu ponto. Poderemos agora começar a aula?- sorriu para mim antes de se virar para o quadro de giz.

Sorri também. Talvez estar aqui, mesmo aqui, não era assim tão mau.

Pelo menos, não era o apocalipse.

^~^~

Estávamos no intervalo. Apenas eu e a Liv. Falando coisas normais de mulheres, ah!, vocês sabem… Harry tinha ido ter com uns amigos adicionais dele e James estava adianta, numa mesa com os amigos dele que estavam com ele no café dos pais da Liv, na primeira vez que eu o vi.

—Elas têm tanta sorte…- ouvi Liv murmurar, fazendo-me olhar para onde ela olhava vidrada.

Ela olhava um grupo de miúdas magras e esbeltas, bonitas mesmo, com saias curtas e tops curtos também, das cores da escola. Aquelas eram as líderes de torcida.

Elas podiam ser mais bonitas e marcantes se quase todas elas não tivessem aquela expressão de quem comeu e não gostou impresso em todo o seu rosto.

—Tu tens noção de que és mil vezes mais bonita do que elas?

—Ah, não disso que eu estou a falar. Estou a falar das coreografias e do facto de poderem dançar quando elas quiserem, porque custa-me admitir, mas elas têm talento.

—Não há clube de dança aqui na escola?

—Não. Tentei que houvesse, mas o director não deixou. Não havia orçamento suficiente- ela parecia desolada.

—Há um clube de quem come mais, porém não há um clube de dança?!- eu estava bastante indignada. Um clube de comida sobreposto a um clube de dança… Francamente… O que eles faziam nesses encontros? Comiam?

—Porque não concorres e entras para a equipa?- perguntei, apontando com o queixo para as meninas que se tinham sentado perto dos gajos do futebol.

—Estás a ver aquela ali de cabelo preto, curto? Com olhos castanhos?- ela referia-se a uma menina sentada quase no colo de James. O porquê disso me ter revirado as entranhas e queimado o estômago, não faço a minima ideia. O rosto dela assemelhava-se a uma boneca, sem imperfeições vísiveis e ela era alta e magra, com aquele uniforme ridículo.

—Chama-se Millie Morgan. Ela odeia-me desde que me conheço por gente. Ela é minha vizinha. Nós já fomos “amigas”, quando pequenas. Apenas não resultou. E, sendo sinceras a cem porcento, ela é uma V-A-D-I-A.- sorri pela forma como Liv era inocente. Nem sequer conseguia dizer uma palavra “menos bonita” sem soletrar e gaguejar um pouco. Depois corava profundamente e desviava o olhar, como um menino pequeno que tinha feito asneira.

—Deixa-me adivinhar: ela é a chefe do grupo, não?- ela assentiu. Ficámos em silêncio. Depois uma lâmpada de luz acendeu-se na minha cabeça.

—Liv, acabei de ter uma excelente ideia.

^~~^

No final do dia, estava a caminhar de volta a casa, quando ouvi um barulho. Um barulho que se sobreponha aos carros e aos outros barulhos naturais da cidade de Miami. Um barulho muito próximo do meu ouvido.

Estava praguejando mentalmente por não ter aceitado a carona de Harry. Disse que queria explorar a cidade. Andar por entre os passeios e observar o ceú azul e as palmeiras a tapar o sol brilhante de setembro. Sentir o cheiro da maresia.

Parecia uma respiração. Parei os meus passos e ouvi novamente o barulho. Respiração ofegante. Ok, calma. Peguei o gás pimenta que o Kanoa me tinha dado de brincadeira e que estava no bolso, à distância de um dedo. Devagar, movi o meu braço e BAM! Disparei o gás, sobre quem estava atrás de mim.

—Aiiii! Estás louca, sua doida?

O’Brien. Pobre do rapaz. Aquilo devia doer.

Ele estava com as mãos pressionando os olhos e praguejando em vol alta, quase gritando.

O que ele estava mesmo a fazer ali?

Oh. Meu. Deus. Ele era um perseguidor, um stalker. Só podia ser. Era por isso que ele me seguia para todo o lado. Ele era um doente mental. Única explicação possível.

—Porque é que me estás a seguir? O que estavas a fazer mesmo por detrás de mim, a respirar no meu ouvido?- perguntei, fula.

Ele olhou para mim, com os olhos um pouco irritados em todos os sentidos.

—Não te estava a seguir. Esta é a minha casa. Ainda não tinhas percebido isso?

Espera. A casa ao lado é a minha. Ele era o meu vizinho. ELE ERA MEU VIZINHO! O QUE É QUE OS CEÚS TÊM CONTRA MIM?

Então lembrei-me. O garoto que espreitava atrás do muro quando eu estava na piscina no outro dia. Era ele. Ele Morava com a mãe dele, Dean e Maya.

Duvido que Dean andasse a olhar-me escondido, principalmente quando tinha Alice como sua mulher. Só podia ser ele.

 A minha boca abriu-se. Estava espantada. Os meus olhos estreitaram-se. Quem era ele para andar a espreitar-me? E a minha mão levantou-se e mirou os olhos dele novamente com o gás pimenta.

Mais um grito. Vingança por ser um esquisito sociopata.

—Tu és um perseguidor! Seu louco!

E, raivosa, dirigi-me para a minha própria casa, completamente chateada e desvairada.

Acho que posso ter perdido a cabeça.


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Notas finais do capítulo

Digam-me o que acham. Gostava muito de saber a vossa opinião.
Até à próxima leitores.



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