Kaiko escrita por Lily Starks


Capítulo 4
III


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo. Devo dizer que fiquei extremamente feliz ao ver que há pessoas a ver a minha fic, mas fiquei muito tristeeee por não ter nenhum comentário.
Boa leitura e espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763718/chapter/4

Kanoa parou-me logo que saímos da cafetaria.

—Tu és maluca por acaso, Kaiko? E se ele te fizesse mal, hum? Tu não conheces o gajo de lado nenhum e já estás a provocá-lo?- perguntou ele, irado e com um olhar duro.

A minha boca caiu. Estava muito indignada.

—Estava só a defender a Liv! Tu sabes o que o idiota fez? Ele derrubou o milkshake dele de propósito para que a Olívia limpasse! É uma falta de respeito! Além disso, disse que eu tinha doze anos!

O olhar de Kanoa suavizou. Ele tinha entendido o meu ponto.

—Tens de ser menos impulsiva e criança. Já imaginaste se ele fosse mau sujeito? Duvido que ele te bata, porque ele próprio afirmou isso, mas pensa um pouco... Se tivesses um pouquinho de maturidade nessa tua cabeça dura, resolvias toda a situação como a adulta que em breve te vais tornar. Se continuares a agir como se tivesses de facto doze anos, as coisas vão correr mal para o teu lado.

Ao olhar aqueles olhos castanhos e achocolatados tão iguais aos de Malia, senti-me mal. Sim, eu tinha agido como uma criança. Suspirei, sentido-me inferior e ainda mais pequena do que era.

—Ok, obrigada mano. Só não contes aos pais, por favor.

Ouvimos a buzina de um carro. Quando olhei só pude ver a Sarah com toda a sua animação, a fazer uma birra enorme e a fazer-nos sinal para nos mexermos. Ri, balançando a cabeça, correndo para o carro e entrando em seguida.

~

Quando cheguei a casa, levei um susto. Na mesa da cozinha, estavam sentados os meus pais com uma mulher desconhecida por mim, porém também familiar. Ela era morena, com cabelos curtos e num corte masculino (que lhe caía incrivelmente bem), olhos negros e um nariz longo, com lábios rosados e ressecados.

—Ora, finalmente conheço a famosa Keahi Roberts!- Famosa? Eu? Estranho...

—Desculpe, deveria conhecê-la?- Quem era ela?

—Não, não te preocupes. Eu ouvi falar muito de ti por parte de um amigo meu. Acho que deves conhecer o nome: Marcos Abram.

Marcos era o meu treinador na BillaBong. Meu amigo também. Foi horrível ter de me despedir de todos os membros da minha equipa de surf...

—Sim, conheço.- a mulher adiantou-se para me apertar a mão.

—Kea, querida, esta é a treinadora da equipa de surf O'Neill, Camilla Gonzalez. Eles querem conhecer-te e avaliar-te. Para poderes participar da equipa profissional.- referiu a minha mãe, com um sorriso lindo no rosto.

Fiquei incrédula. Não me conseguia mexer. Estava em completo choque.

—Kaiko, meu anjo...?- ouvia as vozes do meu pai e dos gémeos. Até que tive de acordar.

—É verdade...?- tinha a certeza de que os meus olhos estavam tão arregalados quanto duas moedas.

—Sim, querida. Amanhã às sete horas na praia principal de Miami. Aqui tens o meu cartão. Devo ir. Adeus.

E saiu pela porta principal. No segundo seguinte, tive o maior ataque de histeria da minha história. E quando fui dormir, o sorriso não saiu do meu rosto a noite inteira.

 

~

Tinha de comprar um prancha nova. Foi isso que fui fazer na manhã seguinte, a três dias de começar a escola nova. Podia não admitir, mas estava morrendo de medo. Pelo amor de Merlin, Keahi, são só alguns adolescentes e professores...

Encontrei uma lojinha bem pequenina e acolhedora perto do centro da cidade. Um velhinho muito simpático atendeu-me e quando escolhi a prancha que queria, propôs-me fazer uns ajustes rápidos. Durante esse tempo, dei uma volta na loja, explorando todos os fatos e todas as pranchas, quando uma voz me despertou:

—Olha se não é a garota que humilhou o meu melhor amigo!

Olhei para trás e dei de caras com o Harry O'Connor. Ele não era muito alto, talvez um metro e setenta. Tinha sardas e a pele era branquinha e leitosa como a minha. O seu cabelo ruivo escuro era parecido com o meu, porém ele possuía olhos azuis esverdeados, extremamente bonitos e... honestos? Ele não era do time de futebol? Ele não devia ser malicioso e uma pessoa sem miolos como todos os outros, mentiroso com tudo o que tinha? Franzi a testa, confusa, e a pergunta escapou-me dos lábios antes que pudesse detê-la:

—Tu não és do time de futebol?

Ele riu, parecendo confuso como eu, porém divertido.

—Não sou não. E o teu nome?

Ups, olha o preconceito novamente Keahi. Corei muito. Mesmo muito.

—Sou a Keahi. E tu és o Harry O'Connor.

—Pois sou. Nunca te vi, como podes saber o meu nome?

—Pela Liv, ela disse-me- porque é caidinha por ti, completei mentalmente- e eu sou nova por cá. Mudei-me faz umas semanas.

Ele sorriu. E Deus, que sorriso. Não era tão bonito quanto o sorriso do O'Brien... Calma! O que estás a pensar, Roberts?

Ah... A Liv...- ele suspirou, parecendo aéreo e perdido em pensamentos. E eu percebi que tinha razão. Ele era caidinho por ela! 

—Acabei de te conhecer e peço desculpa se te estou a invadir a privacidade, mas preciso realmente de perguntar: Tu gostas da Liv, certo?

Ele olhou-me atentamente e surpreendeu-me quando corou completamente, desde das suas bochechinhas até às suas orelhas.

—Ah bem... Eu...- ele atrapalhou-se tanto, que eu me vi obrigada a rir. Sentei-me num banquinho perto do balcão da loja e mirei-o com um olhar animado e um sorriso no rosto.

—Desembucha, ruivinho.

—Oh está bem! Sim, eu adoro a Liv! Nunca conversámos muito, porque ela não me permite aproximação. Mesmo no ano passado, quando pedi/implorei ao professor de física durante semanas para fazer o trabalho do semestre com ela, ela não permitiu aproximação. Ela é tão bonita, tão natural, tão delicada e corajosa. Eu sei o que ela faz pelo irmão dela. Ela dança tão bem. E não é falsa, é honesta e tímida. Tão generosa e doce...

Interrompi o devaneio dele sobre como a Olívia Martins era perfeita. Era hora de fazer de cupido.

—A Liv é caidinha por ti, porém ela acha que, como és popular pelo o que pude perceber, não lhe vais ligar nenhuma; que há meninas mais bonitas que ela; que não vais perceber os sentimentos dela. Que és demasiada areia para a camioneta dela. Está na hora de fazer de cupido. Eu gostei de ti, O'Connor. Não me desapontes.

Ele sorriu, muito feliz.

—Não vou, Kea. Vais mesmo ajudar-me?

—Sim, eu vou. E eu não costumo descumprir promessa. Por isso, eu prometo que vou ajudar-te Harry. Vai ser bastante fácil. Vou andar no mesmo colégio que tu. Contudo, começo a ajudar-te ainda mais cedo. Hoje vou ter uma prova de surf às sete horas, aparece por lá porque a Liv vai estar a assistir com o Jeremy.

—Ah, muito obrigada ruivinha!- ele inclinou-se e beijou-me a bochecha. Foi estranho. Era como uma sensação há muito tempo perdida, como se eu conhecesse o Harry O'Connor ou estivesse ligada a ele antes deste momento. Corei ligeiramente. E então, lembrei-me: "-Olha se não é a garota que humilhou o meu melhor amigo!"... Não podia ser!! James O'Brien era o melhor amigo do bondoso Harry!

—O O'Brien é o teu melhor amigo?

Ele pareceu embaraçado.

—Sim, o Jay é como meu irmão. Conhecemo-nos desde muito pequenos e estamos juntos contra o mundo desde então.

—A sério? Aquele babaca que desrespeitou a garota que gostas é o teu melhor amigo?

Ele pareceu um pouco ofendido por um momento.

—O James não é sempre assim. Aliás, eu não gosto que ele faça o que faz quando está perto dos idiotas do time. Mas, ele é tipo o garoto rebelde. Ele teve uns problemas na vida que o mudaram um pouco a sua atitude para com o mundo exterior. Desculpa se ele te ofendeu. Ele percebeu que exagerou naquele dia. Pode não parecer, porém ele tem consciência. Ele vai pedir desculpa à Liv quando voltarmos às aulas.

—Melhor assim. Posso só conhecer a Liv há algumas semanas, contudo ela já é uma grande amiga. Comigo não te preocupes, eu sei me defender- Ela não sabe muito bem. Ela tem medo deles.

—A sério?

—Sim. Portanto, recomendo que te aproximes devagar dela, ok?

—Sim, senhora.- ele riu, mais descansado. O velhinho aproximou-se com a prancha e eu entreguei-lhe o dinheiro. Estava muito satisfeita.

—Já vi que conheceste o meu neto.- ele comentou com um sorriso.

—Conheci pois- disse eu com um sorriso. -Obrigada, senhor O'Connor. Até logo, Harry.

Ri quando saí da loja, pois ouvi a voz de senhor O'Connor dizer: "Ela é muito bonita, meu filho. Que tal investir nela?"

~

Naquela tarde, eu já estava na praia. Entre surfar umas ondas, comer um gelado e tentar convencer a Liv de que o Harry estava a olhar para ela no dia anterior, as horas passaram demasiado rápido.

Às sete horas, Camilla estava na areia a observar-me com Liv, Jeremy e  Harry a observar-me atrás dela. Confiança, Kaiko, disse eu para minha própria. Tu és capaz.

As ondas estavam magníficas. A corrente do mar estava incrível e atrevo-me a dizer que apanhei umas das melhores ondas da minha vida, dos meus dezassete anos de vida. Quando saí da água, dirigi-me a Camilla, que me observava com um sorriso. Larguei a prancha na areia e corri para onde ela estava.

—Como correu?- perguntei em ânsia. Ela percebeu e sorriu, divertida.

—Oh, querida, correu muito bem. Por isso, bem vinda à equipa.- ela estendeu-me cinco camisolas azuis da equipa O'Neill com o meu nome nas costas em letras garrafais.

—Quando começo? Quando são os treinos?- estava tão extasiada e feliz, que quase não respirava direito.

—Amanhã mesmo. Os treinos são todos os dias depois das tuas aulas escolares. Falei com os teus pais a respeito disso, para poderes estudar em casa como fazias desde dos treze anos e dedicares-te aos treinos, porém eles não quiseram. Preferiam que fizesses o teu último ano escolar com pessoas da tua idade e em turma, na escola.- senti uma enorme pontada de aborrecimento com os meus pais- Não poderás fazer competições internacionais dessa forma, mas espero que para o ano possas. Tu tens talento, miúda. Vamos aproveitá-lo e espremê-lo muito bem, para que possa dar sumo e vitórias.- ela saiu e eu fiquei ao olhar o horizonte feita parva.

Dirigi-me então à Liv e abracei-a muito feliz.

—Ai, saí de mim sua peste! Estás toda molhada!!

—Consegui!!- gritei, contente. Ela balançou a cabeça com um sorriso e logo depois Jeremy agarrou-se às minhas pernas, sem se importar com o facto de estar toda molhada. Abracei-o de volta e festejei.

O meu sorriso sumiu assim que notei o protótipo de idiota perto do Harry. James O'Brien. O que raios do inferno ele fazia aqui?

—Antes que digas alguma coisa, baixinha, não estou aqui para gozar com ninguém. Vim desculpar-me com a Liv.- Eu ia divertir-me tanto com esta situação. O garoto parecia muito orgulhoso para o seu bem e encontrava-se um pouco rosa nas bochechas. Os olhos dourados estavam a mexer-se nervosamente, como se não soubesse o que devia dizer.

—Olívia, queria pedir-te desculpa pelo o meu comportamento ontem. Agi muito mal contigo, estava numa mau dia e sei que isso que não justifica nada, porém peço muita desculpa. 

Liv sorriu docemente para ele. Espera. O quê? Onde estavam os gritos e os tapas? Onde estava o que eu faria se me encontrasse na situação dela?

—Está tudo bem, James. Não te preocupes. Acho que a Keahi tem algo a dizer-te também.

Olhei para ela, totalmente pasma. James olhou-me, parecendo avaliar-me, talvez porque acabava de saber o meu nome.

—O QUÊ?!!!

—É óbvio que se o James me pediu desculpa por todo aquele episódio ridículo que aconteceu, tu também devias. Assim fazemos todos as pazes, ficamos todos bem e ninguém odeia ninguém.

James mirou-me divertidamente e Harry começou a rir histericamente, enquanto Liv me olhava severamente e eu começava a odiá-la.

—Nem pensar! Eu sequer me arrependo...Aii!

Liv acabara de pisar o meu pé com muita força, dando um sinal claro para que eu pedisse desculpas. Engolindo em seco e muito contrariada, pronta a fazer birra, exclamei:

—Ok, ok. Desculpa O'Brien, por ter estragado o teu precioso cabelo e o teu casaco de marca e com toda a certeza o teu enorme ego. Peço desculpa por ter propositadamente desejado estragar a tua cara feia com os meus punhos. Peço realmente muita desculpa principalmente por ter defendido a minha amiga-olhei afiada para a Liv- e ter me defendido do babaca que foste ao dizeres coisas impróprias e muito nojentas, que felizmente já te desculpaste-te.

Liv deu-me um empurrão, desgostosa. Jeremy ria, ainda agarrado às minhas pernas. Podia detetar os risos de Harry à minha direita. O meu olhar estava preso a James, que abrira um sorriso malicioso.

—Ah, mas baixinha, eu nunca disse que me desculpava pelo o que te disse. Que tu tens um corpão, oh essa é a verdade mais verdadeira que alguma vez disse. Que adoraria ter-te só para mim ainda é mais verdade- percorreu os olhos por todo o meu corpo, fazendo-me sentir exposta. Estreitei os olhos para ele, em fúria e raiva. Tentei atirar-me nele, contudo Liv segurou-me a contragosto.

Livrei-me dos braços dela. Não a culpava. Se pudesse passava o menor tempo possível com aquele ser nojento.

Virei-me, buscando a minha prancha. Comecei a andar, com passadas pesadas em direção à saída da praia.

—Falo contigo mais logo, Liv. Adeus Jer e Harry.

Nem me dignei a despedir dele.

~

Cheguei a casa muito furiosa ainda. Quem ele pensava que era? Pergunto isto demasiadas vezes.

Abri a porta e dei de caras com Beverly, os meus pais e Bonnie.

—Kaiko, meu amor, vai tomar um banho. Vamos ter um jantar com um amigo do teu pai. Sabes, aquele sócio da empresa.- a minha mãe dirigiu-se a mim.

—Ok, mãe. Não é o senhor Sanchez, certo? Não sei se aguento outro jantar como o anterior. Por falar e não falar nisso, entrei na equipa.

—Oh Parabéns! Eu sabia que eras capaz!- o orgulho do meu pai valia tudo para mim. Sorri, deliciando-me com as expressões contentes.

—Não é o senhor Sanchez. É o irmão dele. É um antigo amigo de faculdade. Ele casou-se há uns três anos com uma senhora viúva que tem um filho da tua idade. Eles têm agora uma menina com quatro anos. Os nomes do casal são Alice e Dean Stevenson. O da garotinha é Maya. O do garoto não sei.

—Está bem, pai. Vou para cima e já desço.

Tomei um banho rápido quando cheguei ao quarto, porque sabia que iria ter imensa dificuldade a escolher a roupa que iria vestir. É sempre o mesmo. Prefiro coisas mais práticas do que vestido e roupas chiques, mas para estas situações tenho de usá-las.

Já se ouvi as gargalhadas e o tilintar de copos na sala de estar. Acabei por escolher um vestido azul marinho e uns sapatinhos rasos, sem salto, tipo sabrina. Desci e entrei na sala.

Estavam todos sentados no sofá. Sarah conversava com um garoto que não pude ver a cara pois encontrava-se de costas para mim. Parecia-me tremendamente familiar. Kanoa estava entretido com um senhor que supus ser Dean. Alto, forte e com cabelos loiros platinados. A minha mãe, a minha avó e o meu avô conversavam com uma senhora de meia idade muito bela, com cabelos castanhos clarinhos cortados num estilo chanel e olhos castanho clarinhos. Ela tinha um sorriso doce e fácil. O meu pai encontrava-se com uma menina de cabelos loiros platinados lisos com olhos castanhos claros no seu colo. Ela brincava com o seu nariz.

A minha mãe avistou-se e chamou-me.

—Esta é a minha outra filha, Keahi.- nervosa, apertei o meu colar que se encontrava no meu pescoço com o meu nome. Alice sorriu novamente, levantou-se e deu-me um abraço.

—Olá. Tu és tão bonita!- corei perante o elogio dito num tom muito sincero- Eu sou a Alice, aquele é o meu marido Dean, a nossa filha Maya e o meu filho James.

Parei, estupefacta. Não podia ser. James?! Não podia ser James O'Brien, certo? Há muitos "James" no mundo inteiro. Era só uma alucinação minha. Mas aquelas costas tremendamente familiares e os cabelos escuros...

Quando olhei para o garoto ao lado de Sarah, vi que eu estava bem sóbria. Não havia alucinação. Ali, na minha sala, na minha casa, no meu território, estava James Idiota O'Brien encarando-me com um sorriso de lado e com os olhos brilhando em malícia.

Acho que congelei.

E acho que, pelo bem de Hades, eu acabei de morrer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Sei que este capítulo foi meio monótono, mas prometo que para a próxima melhora.
Alguém tem sugestões, reações? Comentários seria tão bom!!!
Beijinhos e até à próxima.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kaiko" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.