Kaiko escrita por Lily Starks


Capítulo 2
I


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem do primeiro capítulo oficial. Vai falar um pouco da vida e da família de Keahi.



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Senti-me enjoada ao sair do avião que havia aterrado há alguns minutos. De facto tinha dormido a viagem toda e neste momento estava com uma fome desgraçada porque perdi o almoço. Olhei o meu celular e vi que já estava sincronizado com a hora de Miami. 22h34 da noite. Estava demasiado cansada. Já não bastava estar a 770871 km longe de casa, longe do Hawaii, ainda tive que aguentar nove horas e trinta e dois minutos de voo. E a diferença horária era de seis horas.

Suspirei enquanto andava com os meus pais a meu lado. Quando os observei, peguei-me pensando em como os amava. Em como os amava mesmo não sendo os meus pais biológicos.

Malia Roberts vestia um delicado vestido verde claro que combinava com o seu tom de pele morena. Ela era uma nativa da ilha de Oahu. Os seus longos cabelos pretos, lisos e brilhantes, destacavam-se quase mais do que os seus olhos castanhos escuros que lembravam um pote de chocolate derretido. A sua forma magra, baixa e curvilínea estava protegida por um abraço meio desajeitado por Mark Roberts.

O meu pai era o seu oposto. Na realidade, tinhamos acabado de desembarcar na terra natal dele. Os seus cabelos loiros com alguns grisalhos era curtos e bem disciplinados, penteados para trás com gel. Os seus olhos azuis como o mar que eu havia deixado para trás, transmitiam todas as suas emoções, apesar de terem um certo brilho severo e duro. O seu corpo alto envolvia e fazia desaparecer não completamente o corpo de Malia. Para ele, aquilo era a forma de protegê-la do mundo. Palavras dele, não minhas.

As suas mãos entrelaçadas eram algo belo de se presenciar. Pareciam que se encaixavam tão perfeitamente, que era como se fossem gémeos de corpo e agora encontrassem a sua metade.

A sua história de amor era um deveras cliché. Admito que nunca fui muito fã de clichés, porém a história deles era algo que todo o mundo devia saber...

O meu pai tinha 22 anos na época. A minha mãe tinha 19 anos. Ele estava a acabar a faculdade de Gestão e Economia e, para celebrar tal feito, decidiu viajar com os amigos para o Hawaii, para poderem aproveitar o sol e a praia banhada pelo Oceano Pacífico. Ele estava noivo de uma mulher chamada Amber Mendes (ela dizia ter raízes latinas dos seus antepassados, porém eu duvido muito, sendo a loira oxigenada que é). Contudo eu tenho a absoluta certeza de que o meu pai viajou essencialmente para poder livrar-se daquela cola grudenta um pouco. Segundo a minha avó Martha (eu não poderia descrevê-la melhor): ela era um protótipo de Barbie com defeito de fabrico, uma vaca com uma mala cor de rosa choque que dava até angústia de ver e estragava a nossa visão.

A minha avó teima que começou a usar óculos exatamente por causa do "brilho" que Amber carregava a todo o santo dia. Tive o desprazer de me encontrar com ela uma vez.

Voltando à história inicial: o meu pai teve um encontro nada propositado com a minha mãe. Ela trabalhava no Surf Shop do meu avô para ganhar uns trocos e o meu pai entrou na loja para comprar uns calções de banho, já que os dele tinham se estragado na noite anterior que havia sido de bebedeira e de festa. Foi amor à primeira vista. O meu pai largou a Amber (que até hoje odeia profundamente a minha mãe), mudou-se para o Hawaii depois da festa de formatura, arranjou trabalho e casou-se com ela. Pouco depois, tiveram os meus irmãos mais velhos, Kanoa e Sarah, que são gémeos e estão sempre a discutir. As outras pessoas dizem que foi coincidência. Eu digo que toda a história deles foi obra do destino travesso que gosta muito de traquinices.

Até hoje estão juntos e felizes. Eu adoraria viver uma história cliché assim...

Não me interpretem mal. Eu não sou aquele tipo de garota que chora nos filmes de comédia romântica ou que adora boysbands e tudo isso. Na realidade eu sou meio macho. Adoro roupas largas, não sou a fã número um de vestidos, prefiro filmes de comédia sem o "romântica" ou então de ação e adoro Nirvana e Bon Jovi.

Mas gostaria de um dia ter alguém a olhar-me como o Mark olha a Malia ou como o Tommy olha a Zoe. Porque sim, um dos motivos para nós termos acabado foi o facto de o meu amigo estar irremediavelmente apaixonado pela minha melhor amiga. O único problema era que a minha amiga era mais lerda e idiota que alguns garotos.

Fomos buscar as malas e quando aparecemos na sala de espera do aeroporto, tive de rir imediatamente. Sarah, a minha irmã maluca e sem cérebro, estava em pé numa cadeira acenando freneticamente.

Ao lado dela estava Kanoa, balançando a cabeça em negativa, porém com um sorriso divertido a despontar no rosto moreno. Ele era a cópia da minha mãe: os olhos castanhos chocolate e os cabelos negros como breu, porém levemente encaracolados. Sarah era a cópia do meu pai: os cabelos lisos e loiros que estavam mais curtos do que da última vez que falei com ela por Skype. Os olhos azuis brilhavam felizes e a pele pálida estava com um leve tom rosado que indicava um escaldão leve.

Quem não os conhecesse diriam até que não eram gémeos. Porém eram. As suas personalidades eram tão diferentes quanto a sua aparência. Eles faziam tudo juntos. Deram o primeiro beijo aos treze anos no mesmo dia, à mesma hora. Não me perguntem como. Provocavam-se, mas muitas vezes tinham as mesmas ideias e completavam as frases um do outro. Era muito engraçado vê-los interagirem. Eles estudavam em Miami. Estavam prestes a formarem-se da faculdade. Acho que foi isso que fez o meu pai aceitar a proposta de um antigo amigo dele, para abrirem uma sede da empresa conjunta aqui em Miami. Ele queria estar mais perto dos filhos.

Os meus avós estavam logo ao lado: Martha e Joey. Eles eram impecáveis comigo e amavam-me, mesmo não sendo do seu sangue. Martha era morena com os olhos azuis brilhantes do meu pai. Ela era bela mesmo quando estava um pouco mais envelhecida. Joey era loiro e tinha os olhos castanhos claro mais divertidos que já vi. Estavam mais curvados e com mais rugas do que da última vez que os vi, no Natal há três anos.

Martha foi a primeira a adiantar-se para me abraçar quando os alcançámos.

—Oh meu amor ruivo, estás tão bonita!

—Olá vovó! Está uma modelo da Victoria's Secret como sempre!- ela riu da minha exclamação. Logo depois, foi a vez do meu avô.

—Avõzinho!

—Olha se não é a minha anãzinha preferida!- fechei a cara quando ele disse o apelido que ele sabia que eu odiava. Eu odiava ser baixinha.

—Ei! Eu cresci um pouco!

—Só se for no teu planeta privado! Continuas do mesmo tamanho, não vale a pena negares!- Kanoa interompeu e eu dei-lhe uma tapa no braço, fingindo estar brava. Ele abraçou-me, pondo-me segura nos seus braços.

—Senti a tua falta maninha.

—Eu também senti a tua falta Kaiko, muito obrigada.- e lá estava o tom ciumento de Sarah.

Soltei-me de Noa para abraçá-la, rindo.

—Sarah, não digas disparates!

Devem perguntar-se porque a minha família me chama de Kaiko.

Quando eu fui adotada, eu não vim de um orfanato. Eu vim pelas ondas do mar. Deixem-me explicar.

Os meus pais e os meus irmãos estavam a aproveitar uma tarde na nossa praia, quando repararam num pequeno cesto de verga que estava a flutuar na pequena baía. Então, encontraram-me dormindo no cesto com uma roupa ligeiramente gasta e um colar que eu preservo até hoje. Tinha o meu nome Keahi (nome havaiano que significa ardente; fogo) e a minha data de nascimento, presumo. Quando eu abri os olhos verdes eles apaixonaram-se por mim. Durante um tempo, procuraram saber dos meus pais biológicos, como nunca encontraram nada nem alguém que me quisesse, adotaram-me perante o governo. Nunca tive ressentimento dos meus pais biológicos, seja lá o que lhes aconteceu. Gostaria muito de poder conhecê-los, mas tenho medo de desiludir Malia e Mark e fazê-los pensar que quero substituí-los, depois de me amarem tanto, depois de me acolherem como sua filha.

Como foi a corrente do oceano que me trouxe, como foi as ondas do mar que me trouxeram até eles, como um milagre, eles chamam-me carinhosamente de Kaiko, que significa ondas do mar com corrente. Também me chamam assim devido ao meu espírito "livre".

Depois das saudações iniciais, caminhámos até à van luxuosa dos meus avós. Todo o caminho foi passado na brincadeira e pensei que não era tão mau mudar-me para Miami. Tinha a oportunidade de fazer novos amigos sem esquecer os antigos, de estar com a minha família e de continuar a surfar.

Eu adorava surfar. Era uma sensação íncrivel fazê-lo. Sentia-me no lugar certo, sentia-me em casa. Adorava levar com a água na face e adorava a adrenalina que tudo isso transmitia. Adorava o facto de o meu coração acelerar a cada segundo.

^~^~

Quando chegámos à "humilde" residência dos meus avós, fomos recebidos pelo mordomo Billy e pela empregada Bonnie. A cozinheira Beverly estava a prepara-nos a ceia, segundo Billy. Eles eram da família. Trabalhavam para os meus avós há exatos vinte e cinco anos.

O motorista Arthur (marido de Bonnie) abriu-me a porta do carro. Olhei a casa ou mansão, como preferirem. A família do meu pai era rica. Não se podia negar. Porém eu preferia o conforto da pequena casinha dos meus pais em Oahu.

A mansão era um leve tom amarelado e com muitas janelas e portas e um jardim enorme. Ficava de frente para a praia principal de Miami. Que bom! Amanhã podia comprar uma prancha e surfar bem de manhãzinha. Eu não gostava muito de dormir. 

—Kaiko, meu amor, acho melhor ires para o quarto e descansares, porque tivemos uma longa viagem e deves estar cansadíssima.- Malia disse-me assim que entrámos, dando-me um beijo na bochecha e eu sorri fraco e assenti. Eu adorava a voz dela. Tão cheia de carinho e de amor para distribuir por todos.

Despedi-me de todos com um beijo e subi as escadas para o quarto onde costumava ficar.

Branco e grande. Tinha uma cama de casal ao meio e uma secretária perto da janela. Havia duas portas: uma para o closet e outra para o banheiro.

Tinha de pôr um pouco da minha personalidade ali. Abri as minhas malas e tirei de lá os posters das bandas que gostava e dos cantores que amava ouvir. Tirei alguns dos meus troféus mais importantes como aquele do 1º lugar da competição Billabong Pipeline Masters que eu havia ganho o ano passado. Provavelmente o mais importante que eu tinha.

Tirei os posters dos meus surfistas favoritos: Bethany Hamilton; Dane Reynolds; Jordy Smith; Caroline Marks e Coco Ho. Eles eram a minha inspiração. Adorava um dia surfar tão bem ou melhor quanto eles, ser reconhecida internacionalmente. Era o meu sonho, aquilo por que luto todos os dias.

Depois de redecorar o meu quarto, deitei-me cansada na cama. A minha mente estava em branco e estava prestes a entrar no mundo dos sonhos, aquele mundo gostoso e colorido; cheio de alegria e vivacidade até que...

Ai Jesus! Esqueci-me do Tommy e da Zoe! Estou morta, completamente morta! De preferência, esfaqueada...

Fui buscar o meu portátil em pânico, sabendo que os dois iam dar um chilique assim que abrisse o Skype. Procurei a conversa de @tommyishere e enviei rapidamente mensagem.

@keahiroberts está online

@tommyishere está online

@tommyishere escrevendo...

KEAHI! onde estás? PORQUE NÃO RESPONDES, SUA ANTA PROTÓTIPO DE BALEIA?!

@keahiroberts escrevendo...

Vou ligar o vídeo seu apressadinho... E não sou baleia!!

Quando eles atenderam a chamada de vídeo, sorriram aliviados. Lá estavam Tommy e Zoe.

Zoe parecia uma boneca de tão delicada. Os seus curtos cabelos castanhos com madeixas azuis (aconteceu quando teve um surto de rebeldia para com os pais) e os seus olhos verdes musgo, mais escuros que os meus, sorriam para mim.

Sua doida! Já viajaste há doze horas e vinte e dois minutos! Tinhas o direito e obrigação de nos ligar assim que chegasses! Pensei que tivesses morrido!— ela reclamou. Revirei os olhos. Dramática.

—Calma, tá tudo bem. Eu liguei, contudo estou cansadíssima. Aí podem ser 18 horas mas aqui são meia noite! Preciso de ir dormir, seus idiotas!

Tudo bem, pequenina. Nós vamos a deixar-te a descansar. Amanhã ligas para falarmos melhor?— assenti quando Tommy finalmente se pronunciou com um sorriso compreensivo.

—Ok, meus amores. Não se esqueçam de que vos amo muito.

— O quê?! Tommy, eu não quero que a Kea desligue! Ai, seu incompetente! Keahi, eu proíbo-te de desliga...- Tommy desligou a chamada, quando uma indignada Zoe começou a discutir. Ri sozinha. Eu tinha os melhores amigos do mundo inteiro e arredores. Chegou uma mensagem nova logo de seguida.

@zoefantastica

Amorzinho, o Tommy desligou a chamada! Acreditas nisto? Aff,... Ele irrita-me muito. Vou tentar não matá-lo. Dorme bem e amanhã ligas! Beijinhos

PS: Também te amo demais.

 

Desliguei o portátil e deitei-me mesmo com a roupa com que estava.

Amanhã é um novo dia... Vou explorar a cidade e conhecer o que me espera...-pensei com um sorriso no rosto.

Logo que fechei os olhos para a escuridão que agora era o quarto, adormeci profundamente.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha ficado bem.
Para os leitores que têm visto a minha fic, gostaria de ter reações por favor. Positivas ou negativas. Apenas para poder saber se estão a gostar.
Beijinhos e até à próxima.



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