A família Cromwell tinha suas raízes na Inglaterra, quando ela nem mesmo possuía este nome. Claro, ela não fazia parte dos Sagrados Vinte e Oito, mas apenas pelo detalhe de por muito tempo terem migrado para os Estados Unidos da América e passarem a viver na região de Nova Inglaterra; somente há mais ou menos 100 anos haviam voltado para a Grã-Bretanha. Era uma família considerada decente para os padrões de outros sangues puros tradicionais, já que não mantinham contato com trouxas, mas não era um traço serem preconceituosos ou apoiarem causas de supremacia do sangue. Apenas esperavam-se grandes coisas de seus membros.

Eu pertencia a geração mais nova da família Cromwell, e como tal, sabia que se esperava grandes coisas de mim, assim como de meus irmãos. Estudava em Hogwarts e pertencia a Corvinal, assim como minha mãe e sua família. Meu pai fora da Sonserina. Meu irmão mais velho, Alexander, ingressaria para seu último ano no Instituto Durmstrang e meu irmão mais novo, Arthur, iria para seu primeiro ano em Hogwarts. Por minha vez, eu iria para meu sexto ano.

Mas ainda era verão, então esses pensamentos sobre escola não tinham tanta importância. O sol brilhava alegremente no céu, não estando quente demais, e a grama debaixo dos pés estavam verdes e macias. Estava em Somerset, no sudoeste da Inglaterra, onde as colinas verdejantes nos atraíam a cada olhar no horizonte. Não conseguia acreditar que deixaria aquele paraíso por mais um ano. O lugar onde cresci e onde meu lar estava.

— Rory! - a voz de Alexander me chamou, fazendo com que abrisse meus olhos - Venha! Vamos montar à cavalo!

— Onde está Arthur? - perguntei, ao ser puxada do chão por meu irmão - Ele não quer se divertir?

— Ele voltou a se trancar no quarto outra vez. - ele franziu o nariz - Acho que está com medo de não ir para a Sonserina e com isso decepcionar o pai.

— Mas papai não iria se chatear, ele nunca nos pressionou. - ergui as sobrancelhas em surpresa. Meu pai era o tipo de homem que destruiria todo estereótipo e opinião que você tivesse sobre sonserinos.

— Eu sei disso. - Alex respondeu - Mas Art anda se cobrando demais.

— Vou conversar com ele depois. - nos aproximávamos dos estábulos. O vento soprou forte, fazendo com que meus cabelos bagunçassem sobre meus olhos, e então eu entrei no assunto que mais me preocupava - Eu fico cada vez mais preocupada com você em Durmstrang, Alex. Com essa guerra... E você estudando na mesma escola que Grindelwald estudou não me tranquiliza.

A expressão de Alexander se tornou sombria.

— Não se preocupe comigo quando voltar a Hogwars, Rory, por favor. Eu vou ficar bem. - ele deixou os dedos passarem pelos meus cabelos - Você sabe que eu tenho capacidade para me defender caso precise, e permaneço neutro o suficiente para não ser recrutado para o exército de Grindelwald ou alguma resistência.

Com um aceno da varinha - já tendo dezessete anos, o sortudo podia praticar magia fora da escola - a porta do grande estábulo foi aberta. Não tínhamos elfos domésticos ali, embora meus avós tivessem, então Alexander ajustou a sela nos cavalos com magia, enquanto eu acariciava a pelagem negra do meu animal.

— Olá outra vez, Trovão. - murmurei, e o grande alazão cheirou meu cabelo.

Montei e Alex fez o mesmo, para logo em seguida sairmos depressa, atiçando nossos cavalos. Com toda modéstia, eu era melhor amazona; montava melhor do que meus irmãos. Geralmente, cavalgar tão rápido quanto agora, me ajudava a não pensar em nada e a relaxar. Esse amor por equitação foi o que deu início a minha amizade com Anastácia Van Der Waals, uma garota irlandesa da Sonserina que estava no mesmo ano que eu. Nossas mães eram amigas, mas nos víamos raramente antes de Hogwarts.

***

— Posso entrar, querido? - perguntei, após bater na porta do quarto de Arthur.

Precisei esperar alguns longos segundos, encarando a porta de madeira escura a minha frente, até que a resposta positiva do outro lado me permitiu entrar.

Meu irmão mais novo estava sentado na cama com os pés esticados pelo colchão e um livro de animais mágicos aberto no colo. Sempre me admiro com as semelhanças entre ele e Alex, os mesmos olhos azuis escuros que nós três temos e os mesmos cabelos escuros, que eu não herdei.

— Você não precisa ficar preocupado com a Seleção de Casas. - falei, me sentando ao seu lado - Já não disse isso? E se quer ir para a Sonserina, tente conversar com o Chapéu, tenho certeza de que ele ouvirá.

— Mas não quero ir para a Sonserina. - Arthur murmurou, me surpreendendo - Quero ir para a Corvinal, como você. Mas não quero ser uma decepção para o papai.

— Você nunca seria uma decepção para o pai, Art! - o abracei com carinho - Ele nunca se importaria com a Casa em que você estivesse. Não é nossa Casa em Hogwarts que nos define, docinho, mas nossas ações e nossas escolhas.

— E se eu for para a Lufa-Lufa? - ele perguntou.

— Então a Lufa-Lufa terá ganho um bruxinho incrível. - sorri - Embora eu não ache a combinação de amarelo e preto muito bonita.

— Pelo que eu li sobre a Sonserina, ela não me parece muito receptiva. - ele voltou a falar após alguns segundos, o que fez com que eu finalmente entendesse o que estava se passando. Arthur estava fascinado pela Sonserina, mas tinha medo de não ser bem recebido; por isso, queria cair na Corvinal, assim estaria perto de mim.

— Isso não é verdade. - expliquei - Anastácia é da Sonserina e sempre que nos visita trás sapos de chocolate para você, não é mesmo? Ela é monitora, assim como eu, e se for para a Sonserina pode contar com ela. E o monitor da Sonserina também é muito prestativo.

Ao tocar no assunto, me lembrei de Tom Riddle, o garoto de olhos azuis e aluno modelo de Hogwarts. Não havia sido uma grande surpresa quando no ano anterior ele fora escolhido para ser o monitor. Anastácia o detestava.

— Acha que me daria bem lá? - meu irmãozinho perguntou.

— Tenho certeza de que você se sairia bem em qualquer uma das quatro Casas.