De uma forma geral, Billy não gosta muito de banhos. A verdade é que ele não quer perder o odor acumulado de tantas brincadeiras nem o cheiro característico das pessoas que sempre lhe fazem carinho. O cãozinho fica meio frustrado porque sente as lembranças felizes — antes impregnadas por todo o seu pelo —, reduzirem-se à espuma, enquanto o menino joga água aos poucos sobre ele e o esfrega bem.

Entretanto, tem algumas coisas que Billy gosta nesses momentos. As bolhas mágicas que o sabão produz, por exemplo.

Elas dançam sem rumo certo pela água da bacia sob suas patas. Quase sempre explodem quando ele aproxima a cara para explorá-las melhor. Às vezes, algumas grudam no seu focinho úmido e Billy se agita tentando lambê-las com a língua impaciente, espalhando água por toda a parte. Como está fazendo agora.

O menino ri do reboliço desengonçado, mas a mulher que mora com eles surge no quintal de repente e diz alguma coisa. Pelo tom firme e um tanto bravo, Billy se convence que é melhor pegar leve na estripulia de agora em diante. E pelo jeito mais cauteloso como o seu dono passa a ensaboá-lo, ele também percebe que a bronca foi para os dois.

A segunda coisa que Billy gosta na hora do banho é de estar perto do menino. Do contato constante e do carinho especial que ele lhe dedica nessas horas. A massagem é gostosa e muito relaxante. Billy sente que está traindo a si mesmo — e as preciosas lembranças que demorou tanto tempo para reunir — por chegar à conclusão de que o banho é até bom. Ou pelo menos, não é tão ruim assim.

Vez ou outra, ele percebe os olhos pesarem com certo sono devido ao estado de relaxamento. Até uma nova bolha conquistar sua curiosidade e afastar a sonolência para os confins de sua mente, é claro.

A terceira coisa que Billy gosta é saber que, quando o banho chegar ao fim, ele estará livre para acumular os mesmos — e quem sabe novos e ainda mais valiosos! — odores e impurezas pelo corpo em crescimento.

Os próximos momentos que viver ao lado do menino, da mulher e também do homem — uma pena que este não pare muito em casa —, ficarão impregnados no seu pelo de novo.

E mesmo quando forem lavados desse mundo mais uma vez, de alguma forma seguirão gravados no seu pequeno e grande coração canino.