Hear the rain escrita por Mandalay


Capítulo 8
Corais são para reuniões de amigos




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 "Diante de uma grande parede, parada ainda sozinha

 Você fecha seus olhos para não se machucar

 Aquela primeira vez que teve borboletas no estômago, aquela atração radiante

Onde elas estão agora?"

 

Seria engraçado de se lembrar que sua mudança acontecera na chuva e que aquele tempo ranzinza lhe trouxera tantas surpresas.

Alex estava certa de que aquele era o melhor momento para começar a trilhar seu próprio caminho em Ergastulum, sozinha, apenas ela e seu irmão, ela só não contava com o céu cinza desabando quando caminhava em direção ao apartamento que Constance conseguira para ela.

Tanto ela quanto Emílio estavam encharcados quando passaram pela porta. A chave que outrora pesava em seu pescoço acabara de abrir uma nova possibilidade para ela. O lugar estava parcialmente mobiliado e a morena com certeza iria ter que trocar muitas coisas de lugar mas, só de poder ter um lugar para ela, um sinal de recomeço e com seu irmão ao lado, ela não tinha do que reclamar.

Alex Benedetto era grata. Grata não só a Connie, por lhe dar um lar ou ao doutor Theo, que a ajudara a se curar mas principalmente aos faz-tudo daquele distrito. Se não fosse por eles, Alex não seria a Alex e não teria seu irmão mesmo que com cicatrizes, marcas que ela tentaria apaziguar com sua presença bem ali, ao seu lado.

Sua gratidão escorria em forma de lágrimas quentes que se misturavam as gotas de chuva que ainda estavam em seu rosto.

Sem pensar ela abraçou o corpo de Emílio que perguntava em vão se a irmã estava bem.

— Agora eu me sinto ótima, Emílio. Eu tenho você comigo.

E afirmar aquilo em voz alta a fazia se sentir ainda melhor.

A chuva não havia cessado quando o mais novo dos irmãos saíra do banho com uma toalha nos ombros, ele podia escutar a voz de Alex vinda da cozinha, a mesma música que ele ouvira na noite em que chegara ao distrito. Fora tão difícil conseguir reencontrá-la e agora, poder ouvir o canto de sua irmã era como um lembrete de que tudo estava bem, que ele estava bem.

Os dois irmãos estavam na sala, aproveitando a companhia um do outro quando um estrondo se fez ouvir. E não era do lado de fora.

— O que acha de um jantar, Emílio?

O garoto, um tanto sem jeito assentiu com a cabeça, saindo do aconchego que ela oferecia.

Panelas fumegantes eram postas a mesa quando bateram na porta. Alex estava distraída demais para dar atenção ao som, então Emílio se dispusera atender ao ruído insistente. Tamanha a surpresa do garoto quando encontrara um monte de rostos assustadores o olhando de forma a não ser ele quem eles esperavam abrir a porta. Eram os amigos de Alex, aqueles que a ajudaram antes que ele pudesse fazer algo.

— Alex, seus amigos estão aqui! - disse em um tom alto.

Quando a morena saíra da cozinha com um pano nas mãos, teve a sensação que seus olhos aumentaram consideravelmente de tamanho ao ver o motivo pelo qual seu irmão a chamara. Eram rostos conhecidos, com facilidade ela podia distinguir Nina, Loretta, Connie, Marco, Worick e Nicolas entre o monte de pessoas espremidas em sua porta.

Vendo que a morena não esboçava reação alguma, Connie tomara a voz.

— Porque não chamou a gente Alex? Eu queria ajudar na mudança.

— É que, o apartamento já estava mobiliado. Eu- eu não queria incomodá-los.

Alex olhava para seu irmão, que se sentia um tanto incomodado com a companhia mas, ignorou tal sensação se aproximando da irmã mais velha, como um suporte.

Alex não conseguia conter a surpresa que tomou conta de seus sentidos, muito menos a alegria que começava a borbulhar em seu estômago. Com Emílio ao seu lado ela imaginou que não precisava ser mais um incômodo na vida daqueles que a ajudaram mas, ver que todos se importavam com ela a ponto de se sentirem traídos por serem deixados de lado em sua mudança, algo tão simples. Bem, ela se sentia contente demais para se importar com algo além do que seus olhos podiam ver.

— A gente pode entrar, Ally? Ou você não quer a nossa presença? - era Worick.

— Não fira nossos sentimentos, faz-tudo! - cortou Loretta.

— Alex, você não quer a gente na sua casa? - choramingou Connie.

— Constance, deixe ela respirar! Não vê que está surpresa? - Marco tentava apaziguar sua mulher.

Até que um pequeno silêncio se esparramou da porta ao começo da sala de estar. Os olhos da morena tiveram sua atenção chamada quando um pequeno gesto de mãos se fez presente.

"A gente 'tá atrapalhando algo?"

Ela apenas balançou a cabeça, se voltando para a realidade.

— Não, me desculpem. Eu só estou surpresa de todos estarem aqui, pensei em chamá-los depois.

— Depois? - a voz de Nina era tão pequena quanto seu tamanho.

— Depois que eu arrumasse melhor o lugar. Mas já que estão aqui, melhor entrarem, acabei de fazer o jantar.

O anúncio fez com que todos corressem para saírem da porta o mais rápido que podiam, alguns tiraram seus casacos úmidos, outros os sapatos cheios de lama e em menos de cinco minutos o pequeno grupo se encontrava na cozinha, fazendo seus pratos e encontrando algum lugar para sentarem.

— Ah, a comida da Ally - cantarolou Worick.

Nina e Connie trouxeram doces e Worick, algumas garrafas de bebida, em sua maioria suco e água com gás, era curioso ele gostar de bebidas não alcoólicas. Alex arrumava a mesa para poder fazer seu prato quando avistou Emílio, encolhido em uma das cadeiras.

— Seus amigos me dão medo, mana.

Marco, que ainda se servia riu do comentário do garoto.

— Qualquer pessoa é a assustadora, desde que você a conheça e descubra o contrário - disse o capo da família Cristiano.

Alex não podia deixar de concordar com ele.

— Eles podem assustar no começo mas são boas pessoas, não se esqueça disso - ofereceu afagando o cabelo do garoto.

— Eles nos ajudaram afinal.

De alguma forma, ela conseguira convencer Emílio de se juntar ao grupo na sala.

— Seu irmão é muito calado Ally - resmungou Connie com um muxoxo.

— Ele só não esta acostumado com tanta companhia.

— Ei, Emilio. O que 'tá achando de viver com a Ally agora? - o loiro tentara puxar assunto.

O Benedetto mais novo parara em meio a uma garfada e enquanto olhava para a irmã, disse algo que a deixara aliviada.

— É bom poder estar com a mana de novo.

Tudo para ter seu sentimentalismo cortado pela chefe dos Cristiano.

— Falando assim, nem parece que é mais velho que eu.

— Loretta!

— É verdade, tem que ter mais peito menino.

— Deixe ela, Marco. Loretta teve que crescer rápido.

— Ei!

E em meio a risos e conversas os dois irmão se viram em um círculo de amizade poderoso. Alex sabia que uma hora ou outra, eles apareceriam para ver como ela estava, só não imaginava que fosse ser tão rápido.

Ali, ela se sentia querida. Alex realmente conseguira bons amigos.

— Hora da sobremesa! - anunciou Nina — Vamos, irmão da Alex, você vai experimentar um dos doces que ela me ensinou a fazer.

Enquanto era empurrado pela garotinha de baixa estatura, Emílio buscou refúgio nos olhos da irmã, que apenas assentiu com a cabeça. Relutante, ele se deixou ser guiado.

Na cozinha, Nina foi até a geladeira, pegando uma travessa e pedindo a ele que separasse o doce em tigelas menores para os outros. Não havia malícia, muito menos receio nos olhos azuis da garotinha, ela o observava com um sorriso no rosto.

— Alex passou por muitos problemas desde que chegou aqui, ela é uma boa pessoa. Me ajudou a cozinhar e cuida do Nico mas, sempre teve algo faltando e agora entendo que era você. Agora ela está radiante!

Emílio encarava Nina com surpresa, sendo totalmente arrematado pelas palavras que ela dissera. Houve vezes em que ele duvidava que encontraria Alex, chegou até a desistir mas no fim, acabou sendo encontrado por ela e saber o quanto era importante o deixava com uma sensação engraçada por dentro.

Mas ele só esboçou um sorriso como resposta.

— Certo, agora vamos levar isso para a sala!

Ao cair da noite, a chuva não cessara e por já ser tarde, todos decidiram que seria uma boa ideia pernoitar no pequeno apartamento, se espremendo pelos cômodos e sem dar voz de autoridade a morena, que acabou espremida no sofá com Emílio em seu colo. Enquanto afagava os fios negros dele, não pôde deixar de pensar quantas vezes não imaginara essa cena acontecer novamente, sempre que se lembrava que tinha um irmão tudo o que ela sabia fazer era chorar e agora, ela sabia apenas sorrir.

O lugar estava escurecido quando Alex acordara, deveria ser de madrugada, o motivo era o irmão, que se levantara dizendo que tentaria encontrar um espaço vago na cama. Desejou boa noite beijando a testa dela e seguiu pelo corredor escuro, ela se sentia cansada mas teve seu sono espantado momentaneamente, observando melhor, pode distinguir Worick deitado em um dos sofás com Nina agarrada ao seu corpo, tentando não cair do móvel, Loretta, Marco e Connie deveriam estar em um dos dois quartos mas, ainda faltava uma pessoa.

Nicolas não parecia estar por perto, tanto que Nina estava dormindo com o loiro, coisa que não acontecia com frequência. Procurando pelos cômodos escurecidos ela chegara a conclusão que o espadachim saíra em algum momento sem avisar, a fazendo se perguntar o motivo.

Em meio a um bocejo, ela avistou um vulto na varanda e antes que pudesse esboçar alguma reação, Nicolas estava encostando a porta de vitrais. Seus olhos se arregalaram ao vê-la acordada.

— O que foi fazer Nicolas? Aconteceu algo?

Ele negou com a cabeça e em seguida, a cabeça de um gato malhado saíra de sua camiseta. A morena se lembrava de ter visto aquela cena antes.

"Eu trouxe ele para você, desde que saiu de lá ele tem te procurado. É uma dor de cabeça", sinalizou constrangido.

— O gato?

Ele balançou a cabeça afirmativamente.

Aquele era o gato malhado que ficara grudado a ela naquela noite chuvosa, quando a viu, o bichado miou de alegria, tentando se desvencilhar do tecido que o guardava para pular nos braços da morena.

Os dois olharam em volta, procurando algum sinal de que alguém havia acordado, felizmente, nenhuma alma notara a conversa silenciosa que estava trocando.

Os olhos felinos estavam radiantes na penumbra.

— Obrigado Nicolas. Por tudo, tudo mesmo.

Ele coçava a nuca, ponderando o que seria melhor dizer naquele momento.

— Eu VOU SENtir a suA FALta AleX.

E a morena tinha de agradecer por ele não ter usado a linguagem de sinais para dizer aquilo, pois ela não conseguia acreditar em seus ouvidos.

— Sentir a minha falta?

Como resposta ele se aproximara, a beijando na bochecha.

A morena ficara atônita pelo ato, se resumindo a observar Nicolas dizendo que era melhor ela dormir.

Na manhã seguinte, enquanto os presentes acordavam aos poucos, tinham qualquer resquício de sono puxados de si diante da visão que tinham num dos sofás da sala. Nicolas e Alex dormiam juntos um do outro com um pequeno gato malhado espremido entre eles.


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Notas finais do capítulo

EW. FESTA. EW. MUITOS. EW. PERSONAGENS. EW!!
Eu não planejava dar um final desses a série mas acho que a minha musa recomendou uma super reunião de amigos então vamos ter fexta [party on] não que seja algo interessante de se saber, mas a minha experiência com mais de três personagens é zero então imagine como eu fiquei quando estava no meio disso aqui. Sim foi complicado, mas olhando por outra ótica, adorei poder colocar os personagens num ambiente festivo e acolhedor. Vamos dar uma folga para eles, os coitados tão passando por muita dor de cabeça (e meu headcannon nunca vai acontecer de fato, me deixem sonhar um pouco), mas que foi complicado trabalhar com eles isso foi. Phew!

Um beijo na bochecha. Nico sendo fofo. Loretta tendo a voz da razão. A personalidade do Emílio é complicada de ampliar e tenho a sensação de que o deixei 'manhoso' demais, mas deve estar bom por enquanto.

A cereja do bolo foi, enquanto editava o último capítulo (sim, último, deve ser por isso que exagerei um pouco nas palavras, ops), aparecerem duas clientes interessadas em papear sobre animes & mangás, aí eu não calei a boca e só agora, na madrugada que consegui terminar a revisão. Conhecer gente nova é sempre um must.

A música fica por conta de [pega microfone] YOU BETTER KNOW~ do querido Veludo Vermelho (a.k.a Red Velvet).



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