Tulipas escrita por Felipe Martins


Capítulo 3
III


Notas iniciais do capítulo

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Fazer as malas não fora difícil: pior foi desfazer o nó cego (em todos os sentidos) que o entrelaçava a seu pai.

A cara geralmente impávida agora concedia uma leve trégua: rosto inchado, semblante de aceitação e um leve desgosto de não poder fazer nada.

— Eu espero que você saiba o que está fazendo.

Bem, sabia pelo menos para onde ficava o norte.

 

Como um bom turista perdido, resolveu fazer sua própria ajuda (ou pelo pedir a de alguém) no lugar com mais vagabundos e “gente decente”, nos dizeres regionais: o centro em que seu pai costumava ganhar dinheiro. O caminho não lhe era desconhecido: mesmo o tendo feito poucas vezes (afinal, Mimosa não recusava um bom jogo emocional ao perceber que Joseph se preparava para ir à cidade e a abandonaria por absurdas três horas), não era tão difícil assim seguir um caminho reto, duas viradas à esquerda, três à direita e contornar o resquício do que outrora era uma fonte bastante lotada.

Tranquilo.

Aproximando-se do destino, uma movimentação ao longe chamou sua atenção: homens trajados de amarelo rondavam o local como soldados de chumbo, aparentando procurar algo — ou alguém — com urgência sem igual.

O par de reis de espadas deram sua cartada final: desgostosos com a falta de êxito, deram uma rápida cartada final, avançando em direção ao garoto e, sem muitas explicações, mencionaram em sotaque carregado algo como “vagabundo” e “andarilho” e empurraram-no para um veículo tão amarelado quanto seus uniformes.

O desespero dos homens o deixou incomodado: sentir-se engaiolado remeteu-lhe as galinhas do seu celeiro, e ele já tinha discutido um par de vezes com seu pai sobre a forma com que usavam indiscriminadamente os futuros filhos das coitadas.

Antes que pudesse começar a gritar, um “cala a boca, moleque” e pancadas sucessivas na grade de ferro que os separavam de Joseph acabaram intimidando-o, o que o fez recuar por instinto.

Sentou e esperou na parte detrás do veículo por uma hora, mais ou menos: o tempo foi tamanho que esperava ser levado para a pior prisão imaginável, até que alguns barulhos de quebra chamaram sua atenção.

Olhou para o espaço que outrora era o seu único contato visual com os homens fardados, mas permaneceu tão inerte em seus pensamentos que não percebera que aquele acesso havia sido fechado havia alguns minutos.

Desespero. Gatilho. Escuridão.

Congelara na mesma posição até que o veículo parasse completamente e as únicas portas ao seu redor fossem abertas. A luz o incomodou aos poucos, porém, à medida que se acostumava com a iluminação, menos acreditava no que via à sua frente.

Imenso: simplesmente imenso. O mais próximo de um lençol aquático que havia visto até então era o recipiente d’água reservado para a Mimosa e um casal de porcos que seu pai havia trazido em pagamento a dez dúzias de ovos, mas não se comparava àquele monte de água que se desdobrava e emitia sons em que parecia que quebrava ao bater em si mesmo.

— Gostou do mar, meu jovem? — o homem que conduziu o carro até ali que iniciava a conversa.

— É… indescritível, senhor. Porém, por que estamos aqui?

O militar foi surpreendido pelo “senhor”, então notou melhor o semblante do garoto: postura firme, um semblante sereno, porém imponente e o olhar… esperançoso ao mesmo tempo que incisivo. Quase cortante.

— Escuta, qual é seu nome, meu jovem?

— Joseph, senhor.

— Bom, Joseph… você por acaso já ouviu falar de alistamento?


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