Ode às Margaridas escrita por Ahelin


Capítulo 5
V


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo pertence à Rodada 5, cujo tema é decepção.



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Ela esperara tanto tempo por aquilo que agora, olhando para trás, o ar lhe faltava. A expectativa acumulada vazava por seus poros e a ansiedade enrijecia seus músculos.

Mais de duzentos dias, contados no calendário, até que o primeiro botão branco se fizesse visível em meio à delicada folhagem. Ela comemorou por dentro, mas decidiu escondê-lo até que florisse; teria, enfim, o tão esperado presente de Rodrigo.

Ao primeiro sinal de que as pétalas logo se abririam, Agatha preparou-se para a grande surpresa. Espalhou velas pela casa, arrumou qualquer almofada que estivesse fora de seu lugar e deu à casa um ar de jantar romântico.

Não se arriscou a cozinhar, porque a sorte sempre se colocava contra ela. Bastava que cortasse os ingredientes e Rodrigo aparecia em casa sem ser chamado. Para a felicidade dos envolvidos, pediu pizza.

Com tudo pronto, sentou-se com um livro à mão e esperou. A cada tique-taque do relógio de parede, o turbilhão de sentimentos crescia a ponto de rasgar seu peito. Imaginava a noite que se seguiria e a desejava como a um prêmio indescritível.

Mas ela não veio.

Em vez de Rodrigo, o que chegou a ela foi uma simples ligação. Algumas palavras, então silêncio.

— Eu sinto muito, senhora — disse a voz no telefone, tentando confortá-la com a frieza profissional de quem faz isso a todo momento. Apenas uma tentativa vã.

Por mais estranho que pareça, o primeiro sentimento que lhe chegou não foi tristeza, tampouco raiva ou a saudade que se instalaria nela e destruiria sua rotina, sua alegria e sua vida a partir dali.

Foi a súbita noção de que nunca ouviria o ode que lhe fora escrito. As notas se perderiam ao vento, as palavras não teriam mais sentido. Seu precioso ode às margaridas, nunca tocado ou recitado por seu autor.

Expectativas estilhaçadas, sonhos despedaçados. Foi o que tirou seu chão e deixou-a numa queda livre ininterrupta que não cessaria perante seus gritos. 

Nenhuma lágrima riscou seu rosto naquele dia, nem nos outros que se seguiram.  Estava, sobretudo, decepcionada. Com a finitude da vida, com o senso de humor perverso do destino, com sua própria impotência e com a ausência do homem que amava.

E, por um longo período, este foi seu apoio, a única coisa a impedi-la de desistir. 

Depois de tanto tempo, ela estava decidida a não se esconder mais. Deixaria que tudo aquilo se derramasse dela e inundasse o mundo, o que fosse preciso para o tormento acabar.

Como tinha aprendido em suas primeiras aulas de teatro, um conhecimento há muito deixado de lado, ela não tentou colocar em palavras; dançou o que sentia no recital daquela noite. Bebeu aquele sentimento, encheu-se dele até que transbordasse e deixou-o ir até que não houvesse mais nada.

Qualquer um que a visse diria ter presenciado sua melhor apresentação em vida.


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Notas finais do capítulo

E aí? Aos 45 do segundo tempo FJSKLD diz aí o que achou!



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