Bring Me Home escrita por Luh Marino


Capítulo 3
02


Notas iniciais do capítulo

Pessoal, eu estava viajando e com isso não consegui escrever mais nenhum capítulo por enquanto. Resolvi postar esse aqui para compensar pela demora.
Espero que gostem!



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O local havia mudado.

Na minha época era uma lanchonete, mas agora o estabelecimento havia se tornado um café. Imaginei que os donos sequer deveriam ser os mesmos, pois estava tudo diferente.

Adentrei o café e um sininho anunciou minha chegada. Logo um garoto de olhos puxadinhos, vestindo um avental, e não muito mais alto que eu se aproximou com um sorriso gentil.

— Boa tarde, sou Hyun. No que posso ajudar?

— Oi, tudo bem? — perguntei por educação, e o garçom acenou que sim com a cabeça. — Eu vi um anúncio de que vocês precisam de uma garçonete. Gostaria de tentar o emprego.

— Ah, claro! Você tem experiência?

— Na verdade, não. — sorri envergonhada, e Hyun riu também. — Eu estou no último ano da faculdade, transferi agora de outra cidade e queria muito um emprego de meio período para me manter por aqui sozinha.

— Sem problemas! A dona não está aqui hoje, mas eu posso te fazer algumas perguntas?

Hyun apontou para uma das mesas ali, e eu fiquei surpresa por já estar fazendo tipo uma entrevista. Sequer tive que entregar currículo nem nada.

Pelo jeito nada havia mudado, o espírito de cidade pequena ainda apoderava-se de tudo.

Sentei, então, e o garçom me acompanhou, pondo-se à minha frente e deixando a caderneta onde, imagino eu, anotava os pedidos apoiada na mesa.

— Bom, já vi que você é honesta. — ele se referia ao fato de eu ter dito que não tinha experiências, imaginei. — Mas relaxe, você aprende rapidinho a lidar com tudo por aqui. — sorriu gentilmente. Ele fazia bastante isso. — Qual você diria que é sua melhor qualidade?

— Acho que meu bom humor.

— Essa é uma boa pra lidar com os clientes e fazê-los voltar sempre.

Nós dois sorrimos com essa.

Hyun me fez mais algumas perguntas - inclusive uma charada, aleatoriamente - e por fim me dispensou. Disse que provavelmente eu seria contratada, o que me deixou de certa forma surpresa. Deixei um currículo por lá (segundo aquele que esperançosamente seria meu futuro colega de trabalho, apenas por precaução). Ele disse que falaria com a dona e que no dia seguinte já teria uma resposta pra mim.

Agradeci por tudo e voltei ao campus.

Estava de volta ao prédio dos dormitórios.

Resolvi passar no meu quarto antes de ir para o bar com Rosa, para tomar um banho e me revigorar um pouco. Estava me sentindo um pouco tensa; logo no primeiro dia de aula eu já tive de fazer tantas coisas e, principalmente, falar de assuntos delicados. Um banho faria bem.

Me aproximando do quarto, ouvi uma voz vinda de dentro do cômodo. Imaginei que finalmente conheceria então minha colega de quarto. A voz dela me parecia familiar, mas eu não conseguia ter certeza de quem era.

Ela parecia estar falando no telefone.

“Sinceramente, já estou farta desse lugar, e olha que acabei de chegar.” A voz dela estava exaltada, mesmo através das paredes e da porta.

Reclamona…

“O quarto é minúsculo! Minhas roupas nunca caberiam todas nesse armário patético. Espero que a outra moradora seja uma primeiro-anista e desista rapidinho.”

Infelizmente, para ela, isso não iria acontecer.

Ela ficou em silêncio por alguns segundos a mais, então resolvi entrar logo. Assim que abri a porta, porém, ela voltou a falar. Estava de costas, na parede oposta à porta e olhando pela janela, mas os cabelos enrolados me lembravam alguém.

Estava na ponta da língua…

— Você prometeu que viria! — ficou mais um tempo em silêncio. — É sempre a mesma coisa, não é?

Seu tom de voz denunciava que estava chateada.

Eu me aproximei daquela que era a minha cama, mas ela parecia tão concentrada na conversa que sequer ouviu meus passos se aproximando.

— Bom, deixa pra lá. Até mês que vem, então.

Desligou.

Eu me sentia culpada por estar ouvindo toda a conversa, mas não havia nada que eu podia fazer. Não iria ficar do lado de fora por mais tempo, precisava me arrumar logo para ir ao bar.

Mas a culpa se esvaiu quando finalmente vi o rosto da cidadã.

Era a grosseirinha de mais cedo, que estava implicando com Chani. Minha expressão ao vê-la não deve ter sido das melhores, mas ela também soltou uma careta, com direito a grunhido de frustração.

— Não acredito que você é minha colega. — ela disse, com aquele mesmo tom de voz superior que eu já estava cansada de ouvir tantas vezes em um único dia.

— Irônico, não?

— Até demais. — ela revirou os olhos. — Mais de três mil estudantes no campus e fui cair logo com você… Pelo menos não foi a Mortícia.

Quem revirou os olhos então fui eu.

— Olha, eu não me responsabilizo pelos meus atos se você continuar lamuriando pelos cantos e sendo extremamente desagradável. Então, para que haja uma boa convivência, estou escolhendo ignorar qualquer merda que você falar daqui pra frente.

Ela, novamente, não me respondeu. Parecia só ter represálias espertinhas quando falava com alguém mais fraco. Mas eu realmente não tolerava aquele tipo de atitude, e não iria agir de outra maneira com ela.

Peguei algumas roupas na minha mochila e a primeira toalha que achei, e saí do quarto em direção aos banheiros comunitários, batendo a porta atrás de mim.

Quando voltei, a esquentadinha não estava mais lá. Me troquei calmamente, visto que ainda tinha cerca de uma hora até o encontro com Rosa no bar. Ela havia me passado o endereço por mensagem, coisa que me deixou muito feliz, pois eu não fazia ideia da localidade desse ponto de encontro dela. Pelo menos assim não teria que apelar para a internet ou sair perguntando nas ruas.

Optei por roupas simples, não estava com paciência ou energia para elaborar um visual. Quando terminei, faltavam 15 minutos para o horário marcado com Rosa. Vi que o bar não era longe e, sendo assim, poderia ir andando calmamente. Assim o fiz.

O estabelecimento era no centro da cidade, como tudo de mais importante, e ficava numa rua paralela àquela das lojas mais frequentadas. A rua basicamente só continha bares e outros locais do tipo, feitos para entretenimento noturno e alguns locais de comida. Rosa já estava ali, mexendo no celular. Outra pessoa, ao lado dela, tentava conversar com ela, sem muito sucesso. Os cabelos azuis não me deixavam confundir.

— ALEXY!

Meu grito fez não apenas com que ele, mas Rosa e algumas outras  pessoas na rua me olhassem. Chamei atenção.

O rosto de Alex se iluminou e ele abriu um sorriso quase maior que a cara, virando-se totalmente na minha direção e abrindo os braços.

Aproveitei que o sinal para carros estava fechado, atravessei a rua e corri em direção ao meu amigo, atirando-me nele e em seu abraço reconfortante. Ele enterrou o rosto nos meus cabelo e eu, em seu pescoço, aspirando seu perfume que era uma nova fragrância, mas continuava doce. Alexy não mudara nada.

— Menina, que saudades!

— Nem me fale!

Nos separamos e vi que seus olhos estavam cheios de água. Sorri pra ele, que então olhou para cima para evitar que as lágrimas caíssem. Toquei seu rosto e seus olhos se fecharam automaticamente, e então era eu quem estava emocionada.

Nosso momento passou e nos aproximamos de Rosa, que ainda mexia no celular, agora parecendo levemente brava.

— Queria que Leigh viesse, mas ele não vai conseguir. — ela finalmente guardou o aparelho eletrônico no bolso de trás da calça e olhou para nós. — Gostou da surpresa, Lottie?

— Sinceramente, Rosa, você não se esforçou muito pra manter isso em segredo.Eu já imaginava. — eu e Alexy rimos da careta que ela fez. — Mas sim, estou muito feliz!

Meu braço estava ao redor da cintura de Alexy enquanto ele me abraçava pelos ombros.

Alexy era a última fatia do nosso trio inseparável. Ele havia chegado com seu irmão gêmeo, Armin, na metade do segundo ano do colégio, e se infiltrou rapidamente. Bolamos muitos planos juntos, e ele foi crucial na minha história com Castiel, me incentivando a viver o amor que eu queria, porque ele mesmo queria ter essa oportunidade. Alex era apaixonado no nosso colega, Kentin, que era deveras hétero então nada nunca iria rolar. Antes de me mudar, lembro de uma conversa que tive com Alex, tentando acalmá-lo e fazê-lo acreditar que o amor chegaria para ele um dia.

— Qual é a desses cabelos amarelos? — Alex disse, puxando uma das ‘molinhas’ do meu cabelo cacheado, esticando-a e vendo-a voltar ao lugar como se nada tivesse acontecido. Ele parecia fascinado.

Era só cabelo.

— Desisti do platinado. Isso é coisa da Rosa. — minha amiga jogou os próprios cabelos de um lado para o outro, exibindo-se. — Agora estou só loira mesmo. Quase natural.

Rimos e começamos a nos encaminhar para dentro do bar. Eu ainda estava agarrada em Alexy e Rosa liderava a passagem.

— Você está fazendo faculdade também? — perguntei.

— Sim! Faço sociologia.

— Nossa, nunca imaginei… mas acho que combina com você.

Ele piscou para mim.

Um segurança na porta olhou nossos documentos e nos deixou entrar facilmente. Lá dentro era escuro, mas não o tanto que eu imaginei. Algumas luzes coloridas nos deixavam ver o que acontecia ao nosso redor. Rosa nos guiou até uma mesa, mas já havia alguém ali. Quando esse alguém se virou, mais uma ótima surpresa.

— E aí, Lottie?

— Priya! Não acredito, você está aqui também?

Me soltei de Alexy para abraçá-la. Ela me apertou fortemente contra si. Essa menina sempre teve um abraço muito bom.

— Sinceramente, acho que só você saiu da cidade. — Priya riu. — Mas fico muito feliz que esteja de volta.

— Eu também. — sorri para ela. E era verdade. Acho que voltar pra Montreal foi a melhor coisa que me aconteceu em anos, definitivamente uma das minhas melhores decisões.

Finalmente nos sentamos na mesinha. Rosa pegou nossos pedidos e foi buscar bebidas para todos.

— Uau, eu realmente não sabia que todos vocês ficaram por aqui. — comentei.

— É verdade. Não mantivemos contato com todo mundo, claro, mas a maioria ainda permanece por aí. Dá pra trombar. — Priya me respondeu, enquanto apoiava a bolsa na cadeira. — Sabe, todo mundo ficou muito triste quando você se foi.

Meu coração apertou.

— É mesmo. — Alexy entrou na conversa. — Não vou citar nomes, mas alguém demorou muito pra se recuperar. — ele fez um gesto em direção a Rosa, que pegava nossos pedidos no bar.

— É mesmo?

— Claro que sim, queridinha! Você acha que foi fácil superar seu abandono?

— Ei! — reclamei, e Priya riu. — Você não se faça de sonso, senhor! Amizade é uma via dupla, por que só eu precisava manter contato?

Alexy me encarava desafiadoramente, enquanto Priya apenas se divertia com nossa “briguinha”. Esse sempre foi o clima entre eu e Alexy. Entre tapas e beijos, eu diria.

— Ok, você ganhou. — comecei a comemorar, mas ele me interrompeu. — Mas! Só dessa vez. Não vá se achando.

Mostrei-lhe a língua, bem infantil mesmo, e nesse momento Rosa voltou a se aproximar.

— Aqui estão, dois mojitos, uma cuba libre e a sua cerveja, Pri.

— Sinceramente, Priya, como você bebe isso aí? — Alexy fez uma careta. Rimos novamente.

— Bem melhor que esses drinks bobos de vocês.

— Me respeita! Não há nada melhor que coca com rum! O melhor dos dois mundos, ok? Sem precisar entrar em debates do capitalismo versus socialismo.

— Mas a gente sabe quem ganharia… — Rosa piscou para Alexy, e todos nós caímos na gargalhada.

Continuamos a conversar por horas a fio. Falamos sobre nossos cursos, as expectativas com o último ano de faculdade, como era a vida acadêmica e tudo quanto é tipo de coisa. Claro, eles me fizeram diversas perguntas sobre os anos em Toronto, e eu rebatia com perguntas sobre a vida deles na monotonia de Montreal. Como se fizesse muita diferença. O Canadá inteiro parecia uma única cidade metropolitana, e não um país. Falei a eles sobre a desgraça que foi conhecer minha colega de quarto, e eles sentiram-se tocados com minha falta de sorte. Pelo menos eu teria Chani, eu os disse. Ela parecia legal, seria bom uma cara conhecida pelo resto do ano nas aulas.

Falar sobre Chani, inclusive, me lembrou do poster do show.

— Vi que Crowstorm irá fazer um show daqui menos de um mês.

— Você até que demorou pra achar um poster. Eles estão em todo lugar. — Alexy tirava a franja do rosto enquanto falava.

— Você quer ir? — Rosa me perguntou, algo em seu olhar parecia preocupação.

— Acho que seria legal. Uma boa maneira de começar o ano letivo.

— Como se precisássemos de desculpas pra festejar! — Priya comentou, e riu basicamente sozinha. Depois se tocou. — Ah. Castiel.

Dei de ombros, não sabia exatamente o que falar.

— Ainda acho que seria uma boa. Vai dar certo, pessoal.

Minhas palavras não pareceram totalmente firmes, mas meus amigos se deram por convencidos.

Depois disso, não demoramos a dividir a conta e nos preparamos para irmos embora. Já do lado de fora, cada um disse pra onde iria, e seria um para cada lado. Eu teria que ir embora sozinha. Mas não me preocupei muito, nunca tive problemas na cidade antes.  Em quatro anos as coisas não poderiam mudar tanto, não é?

Nos despedimos com fortes abraços e Rosa disse que faria um grupo de mensagens para mantermos conversas constantes. Alexy fez graça dela, mas óbvio que ela não se abalou. Ninguém nunca se abalava com o que Alexy falava, já que era tudo pirraçagem.

Tive que atravessar um beco um pouco esquisito para cortar caminho, mas tudo parecia ok. Até que dois homens apareceram das sombras na minha frente. Meu corpo todo tremeu imediatamente com a visão.

— Onde a mocinha vai esse horário da noite assim tão solitária? — um deles falou. Engoli a seco. — Precisa de companhia?

— N-não, eu moro logo ali. Muito obrigada. — as palavras passaram raspando na minha garganta.

— Ora, mas que tipo de cavalheiros seríamos se não formos te acompanhar até em casa?!

Eu não sabia o que responder. Meu sangue corria frio nas veias. Minhas mãos suavam.

Um deles se colocou atrás de mim enquanto o outro estava à minha frente, impedindo minha passagem.

— Sério, eu posso ir sozinha. Com licença.

Nenhum deles se moveu, e o que estava na minha frente apenas sorriu maliciosamente.

— Ora, mas eu pensei que poderíamos ter uma noite divertida juntos.

Meus olhos estavam se enchendo de lágrimas. Eu me arrependia de não ter chamado um táxi ou insistido pela companhia de algum de meus amigos.

— Por favor, eu… — não tinha palavras. A adrenalina começava a correr no meu corpo. — Se não me deixarem ir eu vou gritar!

— Que gracinha. — o que estava atrás de mim se aproximou enquanto falava.

Eu imediatamente tentei passar, esquivando-me do toque dele. Porém, ao tentar ultrapassar, aquele que estava na minha frente me segurou pelo pulso.

— Onde você pensa que vai?

Estava tudo perdido. Eu não tinha mais saída. Não havia nada que eu pudesse fazer. Eram dois contra uma, e eles eram claramente mais fortes que eu. Fechei os  olhos, pronta para gritar, ou não fazer nada, mas uma voz atrás de mim soou.

— Soltem ela imediatamente!

Aquele tom vocal fez algo na minha memória se remexer.

— E quem é você, por acaso? — um dos agressores perguntou, mas eu ainda não havia tido coragem de abrir os olhos.

— Eu disse pra soltar. AGORA! — o intruso gritou. O esquisito me soltou no mesmo momento.

— Foi mal, cara. Não tinha visto que era você.

— Estamos indo.

Abri os olhos lentamente, vendo os dois se afastando pelo beco. Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Senti a presença do homem atrás de mim se aproximando e me virei antes que ele tentasse encostar em mim ou algo do tipo. Me sentia suja.

Sua voz se fez presente novamente, no mesmo momento em que eu me virava em sua direção.

— Você está bem, Charlotte?

Ele me conhecia.

Seu rosto estava encoberto pelas sombras da noite e a falta de iluminação da rua. Franzi a testa, tentando descobrir quem era.

— Você… me conhece?

— Lottie, sou eu.

A última surpresa da noite. Eu nunca imaginaria.

Nathaniel havia acabado de me salvar.


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Notas finais do capítulo

Gente, espero muito que vocês estejam gostando. Por favor, deixem seus comentários e impressões sobre a fanfic até aqui, e se quiserem dar ideias e sugestões, também serão muito bem-vindas.
Espero não demorar muito para postar o próximo capítulo.
Ah, e me informem de qualquer erro que virem, eu não tive tempo de revisar antes de postar.
Até mais! ♥