Bring Me Home escrita por Luh Marino


Capítulo 10
09


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente!
Desculpa a demora pra atualizar. Minha vida pessoal tá um caos, aconteceu algo que me destroçou emocionalmente mas agora tá tudo dando certo de novo então eu vim com um capítulo novo aqui pra vocês.
Boa leitura!



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Para a minha felicidade, nenhum outro evento no resto da semana me incomodou tanto a ponto de fazer os sete dias que se passaram parecerem uma eternidade. A única coisa com a qual tive que me preocupar levemente foi pedir a Hyun que me cobrisse no período em que eu não estaria presente. Clemence tentou me impedir, dizendo que três dias era muito para que meu colega trabalhasse sozinho; mas eu consegui convencer Chani a me substituir, claro, deixando ela ficar com o dinheiro correspondente ao período em que ficaria no meu lugar no Café. Depois disso, Clemence ficou sem argumentos e todo mundo (menos ela) saiu feliz na história.

Era meio dia e catorze quando Leigh estacionou o carro na porta do campus da faculdade, me buscando para finalmente partimos para a fazenda da sua família. Entrei no banco traseiro, cumprimentando o motorista, Rosa e Alexy - que também ia conosco - com beijinhos no rosto, e deixando a mochila que havia trazido comigo no chão.

— Preparada para três dias de diversão rural? — Rosalya perguntou, fazendo todos rirem. — Temos uma playlist incrível de roadtrip customizada pessoalmente pelo perfil oficial do Spotify! Obrigada Alexy pelo celular. — ela apontou para o celular de Alex, que estava conectado por um fio no sistema de som do carro.

— De nada, anjo. — meu amigo respondeu, rindo.

Eu já estava animada antes, mas tudo naquela pequena viagem parecia estar fadado ao sucesso, e minha felicidade só aumentava. Eu amava passar tempo com meus amigos em situações como aquelas; como quando tivemos um acampamento da escola, ou quando passávamos as férias no lago Archambault de Saint-Donat, nos divertindo na água como se estivéssemos em uma praia tropical. Passar algumas horas num carro com meus amigos, prestes a ficarmos três dias longe da cidade me deixavam com uma deliciosa sensação nostálgica, como se o tempo não tivesse passado e eu ainda cursasse o Ensino Médio, onde nada era realmente complicado e minhas únicas grandes preocupações eram não irritar Castiel e ajudar Rosalya a voltar com Leigh mais uma vez.

Naqueles poucos instantes em que o vento bagunçava meu cabelo e as árvores tomavam o lugar dos prédios na paisagem pela janela, estava tudo bem.

Como eu já sabia e calculava, em menos de duas horas o carro já adentrava os portões que limitavam a extensão da fazenda da família Ainsworth. Pegamos uma pequena estrada de terra que nos tomou mais alguns minutos antes de finalmente nos aproximarmos da grande casa no centro da propriedade. Era uma enorme construção, que parecia ser cheia de cômodos, toda com um belíssimo estilo neoclássico e que se erguia em no mínimo dois andares com pé direito alto. À sua volta, eu não conseguia enxergar o fim da propriedade. Centenas de metros se alongavam para todas as direções com algumas plantações, pomares, e as criações de animais das quais Lysandre já havia falado, como os coelhos, ovelhas e alguns porcos. E tudo que se podia ouvir era o sussurro do vento passando pelas árvores e passarinhos se comunicando dos galhos.

Estacionamos ao lado de uma picape preta com os pneus bem sujos de terra, que eu sabia ser o carro que Lysandre usava para se locomover pela fazenda toda e também já havia ido à cidade com ele - como no dia em que fomos juntos para o show da Crowstorm. Porém, um pouco mais à frente notei outro veículo, um modelo mais moderno e de cor vinho.

— Vocês têm mais outro carro? — perguntei a Leigh enquanto todos nós íamos em direção à casa.

— Não, é só esse que fica na cidade e esse na fazenda. — ele respondeu. Troquei um olhar inquisitivo com Alex, e pude ver que Rosa deu de ombros, provavelmente também confusa. Subimos as escadinhas para chegarmos à porta. — Não sei de quem é esse aí.

A porta da casa estava destrancada, então Leigh nos guiou ao lado de dentro. O piso era de madeira genuína. Eu amava pisos de madeira genuína. Diretamente à frente da entrada, um corredor se estendia por alguns metros, e encostada à parede havia uma escada. De cada lado do corredor, também próximos à porta principal, dois arcos dividiam mais dois ambientes, que imaginei serem as salas de estar e jantar. A primeira ficava à esquerda e a última, à direita.

Meu ouvido esquerdo captou som de risadas distintas. Então Lysandre não estava sozinho. Ou estava assistindo tevê. Mas Lysandre não era fã de assistir nada.

Eu não fui a única a ficar curiosa, e logo eu e os outros três dirigimos nossos passos para a sala de estar à esquerda, onde descobrimos com quem Lys estava tendo uma conversa aparentemente engraçadíssima.

E mais uma vez aquele ruivo me deixou sem reação.

Lysandre nos notou e levantou-se para nos cumprimentar. Falou primeiro com os outros três, me deixando por último. E por sorte ele parou exatamente na minha frente, cortando o contato visual que eu tive com Castiel durante todos os belos três minutos e meio em que Lys falava com os outros e o ruivo havia notado minha presença.

— Lot. — o platinado me disse, e eu levei meus olhos aos seus. — Bom te ter aqui.

Trocamos um abraço apertado, e Lysandre beijou o topo da minha cabeça.

— Vamos sentar. — ele nos convidou, e assim nós fizemos.

— Deixem as mochilas aí, mais tarde levamos vocês aos seus quartos. — Leigh nos orientou, e seguimos o que ele disse também.

Havia dois sofás e duas poltronas no ambiente em que estávamos, e eu fiz questão de não sentar no mesmo onde Castiel já estava. Quem o fez foi Alexy, que o cumprimentou com um abraço casual “de macho”: um braço sobre o ombro e tapinhas nas costas. Leigh trocou com o ruivo aperto de mãos e Rosa lhe deu beijos no rosto.

Eu preferi me manter na minha.

E Castiel fez o mesmo.

Que bom que ainda tínhamos pelo menos essa sintonia.

— Lot. Conseguiu convencer sua chefe maléfica a liberar-te? — Lysandre perguntou, sentando-se ao meu lado. Fiquei feliz pelo seu gesto.

— Sim, botei Chani pra trabalhar no meu lugar e a Clemence ficou meio sem argumentos. — os outros riram, menos uma pessoa. Adivinhe quem.

Castiel parecia não querer manter contato com ninguém, olhando para o tapete no chão e ocasionalmente verificando o celular. A conversa seguiu por mais alguns minutos, onde Lysandre perguntava como foi a viagem e nós rebatíamos perguntando como estava a fazenda. E por mais que eu tentasse, não conseguia manter meus olhos longe de Castiel na maior parte do tempo. A cada duas palavras que trocava com outro alguém, sentia minha atenção virar para o ruivo novamente, como um imã.

Felizmente, logo Lysandre nos levou aos nossos quartos, no segundo andar, e o clima tenso teve seu fim. Tudo que eu conseguia pensar era em tomar um banho quente e demorado, para ver se a dor de cabeça que havia se instalado no meu crânio iria embora.

Quando já era noite, ajudei Lysandre a preparar a comida e nós comemos todos juntos na sala de jantar, inclusive Castiel. Por sorte, acho que por todos estarem cansados, não houve muita conversa durante a ceia. Me arrisco a dizer até que os outros haviam notado o desconforto entre eu e Castiel, e isso aumentou ainda mais o silêncio.

Alexy e Rosalya ficaram encarregados de lavar as louças e com isso eu decidi dar uma volta pela casa. Acabei do lado de fora, na saída dos fundos, onde um quintal infinito se abria para o resto da propriedade.

Eu olhava as estrelas, sentada diretamente no gramado do quintal de Lysandre. Por estarmos na fazenda, no interior e não na cidade grande, o céu era muito mais limpo e claro do que se estivéssemos no centro de Montreal. Eu podia enxergar cada pontinho brilhante no alto. Atrás de mim, distante por alguns passos, a mansão, que tinha uma espécie de varanda com um banco e as escadas que levavam ao jardim onde eu estava.

A porta da casa se abriu e fechou pela segunda vez em alguns minutos. Diferentemente da primeira, que me mostrou Lysandre, não olhei para ver quem era desta vez. O vento trouxe consigo o cheiro de banho tomado e perfume amadeirado, e isso de certa forma delatou quem era a pessoa, porque o perfume dele não havia mudado em nada. Eu sabia que Lysandre observava o horizonte à sua frente apoiado na cerca que contornava a varanda, e imaginei que o outro que estava ali agora tinha feito o mesmo, passando a acompanhar o amigo.

Eu podia ouvi-los conversando, mas sem saber exatamente suas palavras. Eles também falavam baixo, o que contribuía para que eu não soubesse o assunto. Mas surpreendentemente, não me incomodei e nem fiquei curiosa. Alguns minutos se passaram e eu fechei os olhos para apreciar a brisa da noite. A porta fez novamente barulho, denunciando que um ou os dois que antes estavam ali foram embora. No entanto, passos mostraram que eu ainda não estava sozinha. Sem abrir os olhos, conclui que Lysandre se aproximava para apreciar o céu noturno junto de mim. Ouvi tudo perfeitamente em detalhes, pois o silêncio da noite parecia até mesmo melhorar minha audição. Apenas os grilos cantavam.

Ele sentou-se ao meu lado, não muito longe, eu podia sentir até mesmo o calor de seu corpo.

Ele tossiu.

— Me desculpe.

Não era Lysandre.

Abri os olhos e quem estava sentado do meu lado, sem me olhar, era Castiel. Eu engoli a seco e franzi a testa.

— Desculpar pelo que? — perguntei. O ruivo respirou fundo.

— No dia do show. Eu fui grosso com você. Não precisava ter aquela reação.

Eu estava realmente surpresa. Por deus, eu tinha feito uma aposta mental de quais palavrões ele usaria para me definir se decidisse por fim me dirigir a palavra. Eu tinha certeza que sua raiva não passaria, e de que eu teria de deixar para lá e ignorá-lo pelo resto da minha vida, ou nossos encontros só seriam repletos de brigas.

— Eu… nem tenho palavras. — foi o que consegui dizer. Ele me olhou, uma única sobrancelha arqueada.

— Como?

Novamente tive de engolir.

— Castiel, eu não… não te culpei.

A expressão de seu rosto mudou completamente. O que antes parecia uma feição sarcástica agora era legitimamente confusa.

— Não?

Olhei no fundo de seus olhos. Coloquei minha mão em cima da sua, que estava apoiada na grama. O senti estremecer, mas ele não tirou a mão.

— Eu entendo sua reação. De verdade. Acho que eu teria feito o mesmo. — decidi me virar completamente para encará-lo, sem deixar de tocá-lo. — Eu… sumi. Eu literalmente sumi. E sequer sei apontar um motivo, e sequer fiz isso com uma pessoa. Fiz isso com todo mundo; com você, com Rosalya, com Alexy. E foi minha pior decisão entre todas as minhas piores decisões.

Pausei por um minuto, e percebi que sua expressão se suavizou, mesmo que minimamente. De repente, um mutirão de palavras queria sair da minha boca em velocidade absurda, então eu apenas deixei.

— Eu imagino o que deve ter parecido pra você. Quer dizer, eu não posso afirmar com toda certeza, mas acho que ainda te conheço bem. E eu sei como você se sente em relação aos seus pais, e como foi com a Debrah, e que o que eu fiz deve ter sido semelhante pra você. Sei como todos eles priorizaram as próprias carreiras, e foram viver as vidas longe de você, jogando quaisquer sentimentos, qualquer amor que pudessem ter por ti para trás. E eu, mesmo depois de tanto ouvir suas reclamações, e mesmo depois de julgá-los tanto, acabei por fazer igual.

Ele tirou sua mão de baixo da minha com meu discurso.

— Eu não queria te abandonar. — minha voz não passava de um sussurro.

Ele desviou o olhar do meu.

Ficamos em silêncio, e eu não fazia a menor ideia do que ele estava pensando. Seu rosto tinha um aspecto neutro, algo que eu não sabia mais ler. Ele passou a língua pelos lábios, atraindo meu olhar, e virou-se novamente na minha direção. Encontrei seus olhos mais uma vez.

— Ok. Tudo bem, então. Obrigado. — ele não sorria. Sua feição continuava a mais séria que já havia visto, ele não queria conversar mais sobre aquilo, eu pude perceber. Mas seus olhos brilhavam, mesmo que minimamente.

Pisquei e assenti.

— E você? — ele inclinou a cabeça, novamente confuso. — Você me perdoa?

Seus lábios tremeram e eu pensei que ele ia sorrir. Mas antes de qualquer outra coisa acontecer, ele se levantou, bateu as mãos na calça para limpar a terra e começou a andar de volta para a casa, deixando-me mais confusa do que nunca estive.

Antes de entrar, porém, ele se virou novamente para mim.

— Isso eu preciso pensar.

E foi embora, com o que pareceu a sombra de um sorriso nos lábios. Me deixando ali sozinha, pensando no que tinha acabado de acontecer.

A dor de cabeça que já havia me visitado mais cedo resolveu voltar e eu decidi que seria uma boa hora para ir dormir finalmente, de uma vez por todas. E se as forças superiores que comandam o universo - quaisquer que sejam elas - tivessem o mínimo de piedade de mim, eu teria sorte e não acordaria tão cedo.


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Notas finais do capítulo

Claro que o Cassy ia aparecer, né, senão não tinha graça jashdjsadas
Gostaram? Vou pedir encarecidamente (e de novo) que vocês comentem pra eu saber o que estão achando da fanfic. O comentário de vocês é, além de feedback, um incentivo - e sem incentivo a gente não faz nada, né? :/
Até o próximo capítulo!



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