A Voz da Luxúria escrita por Juu Seikou


Capítulo 1
Bom e Velho Chá


Notas iniciais do capítulo

Rodada
1
Tema
“Queria saber, depois que se é feliz, o que acontece?”
Clarice Lispector.



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A campainha tocou. Ela ouviu passos quase imperceptíveis lá dentro, era como se panos estivessem se arrastando. Quando a porta abriu, reparou imediatamente no interior da casa, estupidamente extravagante, quase exageradamente. Com certeza aquela velhinha que ali sorria era exótica como tinham lhe avisado.

— Pois não, em que posso ajudar? — perguntou, agarrando-se à porta.

— Ah, boa tarde. Eu vim aqui em recomendação de um amigo, ele disse que a senhora podia me ajudar. — hesitou. — Em relação a… assuntos pessoais.

— Claro, claro. Entre! Eu imaginei que fosse, mas é sempre bom ter certeza — sua voz era tremida, um tanto aguda. Virou-se e foi entrando na ampla sala que se mostrava à frente, fazendo sinal para que a jovem a acompanhasse. — Sabe, hoje em dia não posso mais convidar qualquer um para entrar — seu tom era preocupado —, principalmente com esse pessoal da igreja. Batem na minha porta toda manhã e se você deixa eles entrarem… adeus, dia!

— Ah, é… — foi tudo o que foi capaz de responder naquele momento. Queria não estar tão nervosa.

— Sente-se aí, eu só vou passar um chá para gente e já venho — apontava para o sofá, que ficava de frente para uma cadeira muito suntuosa, quase como se fosse o trono de algum rei de qualquer filme. — Gosta de cidreira?

— Gosto.

— Ótimo — replicou antes mesmo de a jovem fechar os lábios, virando-se rápida e olhando pelo ombro. — Fique à vontade, querida.

Susana ficou sem fôlego no meio daquela sala, o lugar era bastante grande e enfeitado com peças visivelmente caras. A sala era dividida em duas pelo próprio sofá carmesim em que se sentava. Um lado tinha a cadeira a meio caminho da janela, ladeada por duas mesinhas quadradas, cheias demais de imagens de entidades que ela nunca vira na vida. Detalhes em ouro. Todas as paredes tinham prateleiras de alto a baixo com ricos enfeites e amuletos que dividiam espaço com pequenos quadros de tonalidade fria. O outro lado ela mal tinha reparado, viu-o de relance, mas estava desconfortável demais para virar a cabeça naquele momento. Ela mal piscava.

— Aqui está — ouviu, de repente, a senhorinha dizer, estendendo-lhe uma xícara, que logo pegou enquanto a via acomodar-se na lauta cadeira.

— Agora, vamos lá. Respire fundo e acalme-se. Vamos, tome um gole desse chá. Você está pálida demais! — a velha deu uma risadinha enquanto a convidada assim o fazia. — Certo, querida, qual o seu nome?

— Ah, me desculpe, que cabeça a minha, fui entrando e nem me apresentei! Eu sou Susana, prazer.

— Muito prazer. Bem, e sobre o que você gostaria de falar, filha? Sabe que o que falarmos aqui fica aqui, certo? Seu amigo te falou disso?

— Sim, ele falou. Justamente por isso que eu vim. Ele explicou também que a senhora apenas ouve e vai comentando, que é assim que trabalha.

— Isso, como um grande desabafo, como se você estivesse pensando consigo mesma. Só que eu estou aqui — riu novamente — pra dar uma mãozinha nas respostas que já estão dentro da sua cabeça. O que é que te preocupa?

— Eu vou… ser demitida. Amanhã.

Houve uma pausa constrangedora, uma esperando pela outra. A velha meneou a cabeça e achou que era melhor dar uma ajuda:

— Está tudo bem, querida, eu sei que é difícil entrar na casa de uma pessoa estranha e de repente sair falando da sua vida desse jeito, mas você não precisa ter medo algum. — Mais uma troca de olhares. A velha podia enxergar a esperança faiscando nos olhos de Susana. — Escute, todo mundo que vem aqui tem seus problemas. E chegam, conversam comigo, acalmam o coração… para saírem um pouco melhores com a vida. É tudo. Todo mundo quer ter o próprio final feliz, minha querida, só o que eu faço é ajudar a chegar lá. Eu tive o meu, sei como é difícil. Não precisa ficar envergonhada, nem com medo. Fale-me tudo no seu próprio tempo.

Susana suspirou.

E falou.


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Notas finais do capítulo

Agora vai.



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