Sonho de Infância escrita por Frida


Capítulo 1
Rodada 1


Notas iniciais do capítulo

Tema da Rodada 1:
"Queria saber, depois que se é feliz, o que acontece?" - Clarice Lispector



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"Comece me contando... Como era sua relação com seus colegas de escola?"

O entrevistador me encara por trás dos óculos de grau. Sua expressão é séria, o que me faz engolir em seco.

"Como assim? Quando eu era criança?"

"É. Lá no ensino fundamental."

Ah, sim...



Outro dia mesmo ouvi no rádio a "Velha Infância", aquela dos Tribalistas. Na minha cabeça, a letra da música volta a tocar.

Infância. Eram bons tempos. Ah, como eu era feliz...

Uma das primeiras amigas que tive quando era criança foi a Nicole (ou, como eu falava, Ni). Éramos feito unha e carne.

Lembro que na hora do recreio nós corríamos pra fila da cantina para pegar o lanche. O estômago roncava como se a gente não tivesse comido há dias. Dos salgados, o que eu mais gostava era o pastel de carne, parecia que meu dia não estaria completo até comer um desses. Só de pensar nele dava água na boca.

Os meninos, como sempre, iam pra quadra pra jogar futebol, mas eu e a Ni preferíamos brincadeiras mais interessantes. A gente fingia que estava desbravando a Floresta Amazônica, vivendo uma aventura e tanto, o que na realidade era apenas ficar andando no meio dos canteiros de flores da escola. Ou estávamos em um mundo de fadas e bruxas, nós tínhamos poderes mágicos, e o nosso vilão era o jardineiro (que, vocês podem imaginar, não ficava nem um pouco contente quando nos flagrava pisoteando o jardim).

Outra lembrança feliz era quando minha mãe deixava minhas coleguinhas irem lá pra casa. Eram dias recheados de brincadeiras e alegria. Andávamos de patins na quadra do prédio, espalhávamos todos os meus brinquedos no chão da sala, víamos filmes da Disney, fazíamos teatrinho com os bonecos de pano, e ainda tinha a cabaninha com o lençol da cama. Eram coisas tão simples, mas que traziam uma felicidade imensa.

Eu era muito feliz. Mas... e o que aconteceu depois disso?

Pelo que me lembro, depois dessa época, a vida adulta chegou e tudo começou a ficar mais complicado. Há muito tempo perdi contato com todas as minhas amigas de infância. Ah, que saudades tenho desse tempo...

 

Do outro lado da mesa, o entrevistador acabou de pigarrear pra chamar minha atenção. De repente, acordo de meus devaneios, e percebo que ainda não falei nada. Ele provavelmente quer uma resposta direta, pra poder avaliar meu espírito de trabalho em equipe, e não ouvir essas minhas histórias de menininha. Dou uma resposta que acho que dá pro gasto, em seguida respondo mais algumas perguntas que ele faz e depois de finalizada a entrevista vou embora da sala. Do lado de fora, constato que a fila para as entrevistas de emprego continua bem grande. Logo penso nas contas pra pagar. Um sentimento de tristeza surge dentro de mim, que não consigo suprimir de jeito nenhum.

No caminho para casa, no meio do engarrafamento da hora do rush, ligo o rádio com esperanças de ouvir mais uma daquelas músicas gostosas da minha infância. Ao invés disso, o que ouço são as notícias de sempre sobre a crise, umas pessoas quaisquer que foram assassinadas e sobre as eleições que estão próximas. E olha que eu ainda nem sei em quem vou votar.

Uma leve dor de cabeça surge. Começo a pensar na louça pra lavar quando chegar em casa e, subitamente, um outro pensamento me ocorre. É. Deveria ter respondido diferente naquela entrevista. Acho que já posso desistir de conseguir aquele emprego. Amanhã eu tento em outro lugar...


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Notas finais do capítulo

Caso tenha algum erro, por favor me avisem. ;)
Antes de escrever a história, tive várias ideias diferentes, mas que fugiam do tema da rodada. Espero que o resultado tenha sido bom! Gostei muito de escrever. É sempre bom relembrar a infância.
Bjs, Frida.



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