Onírico escrita por Deusa Nariko


Capítulo 6
Capítulo VI: A Diligência de um Shinobi


Notas iniciais do capítulo

Amores!
Sexto capítulo de Onírico e nos vemos nas notas finais!

Boa leitura!



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CAPÍTULO VI:

A Diligência de um Shinobi

•♦•

 

SASUKE ACORDOU MUITO antes dela, quando a primeira luz da manhã roçou de forma muito tímida as janelas cerradas do quarto, escorrendo pelas frestas até alcançá-los, entrelaçados como estavam sob as cobertas; as peles nuas impregnadas com os cheiros um do outro dividiam o calor. O braço de Sasuke, que repousava sobre um par de seios delicados, deslizou devagar para longe, assim como uma perna desenganchou do meio de um par de pernas femininas.

Ele, sempre adepto de hábitos rígidos e de uma rotina matinal, afastou as cobertas e se levantou sem protestos. Sakura, por outro lado, adiou imitá-lo, aconchegando-se ao futon para dormir mais um pouco enquanto intuía o parceiro se mover pelo cômodo parcialmente escuro para se vestir.

Assim que ele saiu pela porta para sabe-se lá onde, ela relaxou e até conseguiu dormir por mais uma hora, um sono leve e bastante tranquilo. Acordou novamente com o trinado dos pássaros do lado de fora. Espreguiçou-se, alongando os membros e abrindo um sorriso fraco ao se lembrar da razão de estar se sentindo tão letárgica e saciada.

Ajustando os olhos à semipenumbra no quarto, ela buscou pela yukata que usara na noite anterior, vestindo-a e saindo do quarto em direção aos banhos. Mais tarde, limpa e revigorada, e vestindo suas próprias roupas, seguiu para o primeiro andar, lembrando-se de cada cômodo que Mahina mostrou à procura do espaço que era usado para as refeições dos hóspedes na estalagem.

Surpreendentemente, toda a hospedaria aparentava estar vazia. Nem um único vestígio da presença da estalajadeira estava à vista. Sakura atravessou um recinto amplo mobiliado com mesas compridas de madeira escura com bancos combinando. Havia vasos ornamentados nos cantos e uma pintura bucólica pendurada numa das paredes.

O silêncio denso como o de uma tumba deixou seus sentidos de ninja aguçados e alertas; mesmo o trinado dos pássaros havia cessado lá fora e como a estalagem se localizava num ponto afastado do restante do vilarejo era impossível buscar pelos sons de pessoas. Entrecerrando os olhos desconfiadamente, ela avançou passo por passo. Averiguou o cômodo com cautela, correndo os olhos pela mobília e os dedos pela textura lisa da parede enquanto as engrenagens do seu cérebro trabalhavam com todas as pistas que ela e Sasuke haviam reunido no dia anterior.

Ao ouvir o som de passos e o ruído da porta de correr da frente ser deslizada, ela tinha um sorriso cordial pronto nos lábios. Foi Mahina quem surgiu à soleira, carregando uma bolsa com o que lhe pareceu ser alguns legumes frescos. Ao se deparar com Sakura ali, a mulher a olhou de forma indecifrável num primeiro momento antes de se recompor e espelhar seu sorriso.

— Bom dia, Sakura-san — cumprimentou-a, atravessando o recinto para desaparecer por outra soleira, que certamente levava à cozinha.

— Bom dia, Mahina-san — Sakura respondeu, seguindo-a até o outro cômodo.

A mulher se movia pela cozinha com uma graça admirável enquanto preparava o desjejum. O quimono que vestia naquela amanhã, verde-oliva com estampa em branco e rosa, pouco fazia para esconder a forma esbelta do seu corpo. O cabelo escuro estava preso em outro penteado elegante, duas mechas compridas escapavam da presilha para emoldurar o rosto de feições belas.

Mahina era mais jovem do que Sakura supusera, via isso agora. Na noite anterior, com seus olhos dourados profundos e misteriosos, ela lhe dera a impressão de ser mais velha. Mas, com a luz do dia incidindo sobre os seus traços e realçando-os, ela via a verdade, sua figura destoava dos demais habitantes como uma peça que não se encaixava. Os instintos de Sakura gritavam que havia segredos sob a sua fachada misteriosa. A questão é como uma mulher como ela tinha vindo parar num lugar tão isolado quanto Iwaki.

Enquanto cortava os legumes que comprara numa tábua sobre a pia, com suas mãos movendo-se em perfeita sincronia, ela se dirigiu à Kunoichi, sem desviar o olhar da tarefa que executava tão diligentemente:

— Espero que tenha dormido bem.

— Muito bem, obrigada — Sakura respondeu sem pensar, acrescentando em seguida: — Sua estalagem é adorável.

Mahina se afastou da pia para despejar os legumes numa panela fervente.

— Ora, obrigada. Mas e quanto ao Sasuke-san? Também aprovou as acomodações? Acordei com ele saindo pela porta da frente, tão cedo...

Sakura se sobressaltou. Sasuke se movia muito silenciosamente, com toda a discrição e cautela esperada de um Shinobi como ele. Mas, ainda assim, aquela mulher conseguira ouvi-lo saindo pela porta da frente, distinguindo seus passos dos da própria Sakura. Só outro Shinobi muito bem treinado conseguiria tal feito.

— Sasuke-kun gosta de caminhar assim que levanta — Sakura afirmou com um sorriso.

A verdade é que nem mesmo Sakura sabia aonde ele tinha ido de manhã. Conhecendo-o como o conhecia, seu melhor palpite é que ele estava seguindo uma boa pista com relação aos ataques sofridos em Iwaki, ou no mínimo estava no rastro de encontrar uma com base nas informações que os dois reuniram.

— Entendo — Mahina anuiu, escondendo seus olhos de Sakura. — Acomode-se, por favor, Sakura-san. Eu já vou servir o café da manhã.

— Obrigada. — E saiu da cozinha sem mais uma palavra, com muito para pensar.

Algum tempo depois, Mahina trouxe o café da manhã para Sakura, que incluía sopa de miso, natto, legumes em conserva, porções de arroz servidas em tigelas delicadas de porcelana; fatias finas de peixe temperado com ervas e grelhado com chá verde como acompanhamento, servido em copos ornamentados. Enquanto se preparava para comer, ambas ouviram a porta da frente se abrir e não muito depois Sasuke irrompeu no cômodo. Tanto Sakura quanto Mahina o saudaram, a última de forma mais impessoal do que a primeira.

— Sakura-san estava prestes a começar a tomar o café da manhã; junte-se a ela — instou-o Mahina, indicando para a mesa à qual Sakura se sentara.

Comedido, ele se juntou a ela enquanto a estalajadeira retornava à cozinha para trazer mais comida e um copo extra de chá. Sasuke aceitou a sopa de miso, a porção de arroz e o peixe frito, mas recusou o natto — como Sakura suspeitou que faria —, comendo sem dificuldades mesmo que só dispusesse de uma mão. Quando Mahina se preparou para ocupar outra mesa para comer como seus hóspedes faziam, Sakura teve uma ideia:

— Sente-se conosco, por favor, Mahina-san.

A mulher ergueu os olhos dourados com uma curiosidade indisfarçada queimando dentro deles, mas anuiu e mudou-se para a mesa que ambos ocupavam, sentando de frente para Sasuke e Sakura. Em silêncio, os três comeram a refeição farta. Surpreendentemente quem o quebrou primeiro foi Mahina, fitando tanto Sasuke quanto Sakura:

— Vocês sabem por quanto tempo ficarão em Iwaki?

Sakura respondeu por ambos com naturalidade.

— Não, não sabemos.

Mahina aquiesceu de modo ambíguo.

— Entendo. A maioria dos viajantes não permanece por mais do que alguns dias. Principalmente nos últimos meses...

Sakura mudou de assunto para quebrar o clima estranho que se apoderou da conversa.

— Iwaki é tão encantador quanto imaginei. Você nasceu aqui, Mahina-san?

A mulher a fitou por um momento mais longo do que o usual antes de respondê-la de forma muito concisa e evasiva.

— Não, não nasci aqui.

Depois disso, os três terminaram o café da manhã em silêncio, Mahina sendo a primeira a se levantar e sair em direção à porta da frente sob a alegação de ter um compromisso em outro lugar. Sakura a seguiu com os olhos até vê-la desaparecer sob o umbral do recinto. Uma vez sozinhos, Sasuke e Sakura ponderaram a respeito do comportamento recluso da estalajadeira.

— Não consigo ter a sensação de que a Mahina-san nos ofereça alguma ameaça — confessou num murmúrio enquanto mexia o restante do arroz na sua tigela com os hashis. — Não há dúvida de que ela esconde algo, mas não acho que esteja ligada aos criminosos que atacaram Iwaki.

Sasuke anuiu, comedido, concordando com a afirmação, muito embora tivesse acrescentado em seguida:

— Isso não significa que devamos abaixar a guarda. Tem algo suspeito na forma como ela age.

— A maioria dos habitantes foi abertamente hostil a respeito da nossa presença no vilarejo — Sakura comentou com um franzir dos lábios. — Por receio e desconfiança, é claro. Mas a Mahina-san... Ela me pareceu ainda mais cautelosa quanto à nossa presença. E nem mesmo reagiu quando anunciou o seu nome ontem à noite. Quero dizer, sei que você é muito famoso, Sasuke-kun, e o seu nome é muito comentado, mas é quase como...

— Quase como se já tivéssemos nos encontrado antes — Sasuke completou por ela com um semblante notavelmente intrigado.

— Isso é possível? — Sakura questionou com um erguer das sobrancelhas.

— Estive em praticamente todos os lugares conhecidos do mundo nos últimos anos. — Isso levantava várias outras questões, Sakura concluiu.

Ela tocou o queixo num gesto pensativo, deixando a comida de lado porque de repente perdera todo o apetite; o enigma do passado de Mahina e sua possível conexão com Sasuke fomentavam aquela incógnita, mantendo ambos no escuro. Pela expressão desgostosa no semblante dele, Sakura intuiu que ele não conseguia se lembrar da fisionomia de Mahina em nenhuma das memórias da sua viagem pelo mundo.

Ela se levantou, frustrada.

— Não vamos progredir muito na investigação se permanecermos aqui. Por falar nisso, aonde você foi pela manhã?

— Fui fazer um reconhecimento do perímetro — ele alegou ao se levantar; juntos, eles seguiram em direção à porta da frente. — Um comentário de uma das crianças me deixou... desconfiado.

Sakura repassou a conversa que tiveram com Sachiko e Shouta.

— Você se refere à menção de um possível esconderijo...?

— Sim, nas montanhas — Sasuke aquiesceu enquanto ambos calçavam seus sapatos e saíam pela porta da estalagem.

Uma lufada de ar fresco atingiu Sakura, trazendo os odores das árvores que circundavam tanto a estalagem quanto a trilha íngreme que levava de volta ao vilarejo. O céu azul estava perfeito e o sol se derramava montanha abaixo com um calor agradável. Sasuke e Sakura se dirigiram para a trilha; o único som que os acompanhava era o cricrilar contínuo dos grilos.

— E você achou alguma coisa?

A resposta de Sasuke foi categórica.

— Achei. Venha comigo.         

•♦•

Apesar de ainda ser cedo, os aldeões de Iwaki ocupavam as vielas do vilarejo, realizando atividades do cotidiano com o máximo de naturalidade que era possível. É claro que a visão de dois Shinobis perambulando pelas mesmas vielas causava certo alvoroço, arrancando olhares de esguelha e murmúrios ressabiados na direção dos visitantes.

O sol estava mais quente àquela hora, erguendo-se dourado num céu límpido e desanuviado. Montanhas e outeiros forrados por uma vegetação verdejante e bastante densa completavam a paisagem agradável. O vulcão Iwaki sombreava boa parte do perímetro, mas num cenário como aquele mesmo a sua sombra colossal representava pouco mais do que uma ameaça fantasma, distante.

Sasuke e Sakura não reagiram aos olhares tortos ou aos comentários carregados de desconfiança que lhes eram atirados; desceram as ruas do vilarejo num passo constante até que uma figura aparecesse no meio do caminho, ofegando devido à corrida que fizera para alcançá-los.

— Sasuke-san, Sakura-san!

— Sachiko-chan — Sakura a cumprimentou assim que a menina parou diante deles, curvada, punhos apoiados sobre as coxas, o rosto meigo corado pelo esforço e o cabelo castanho em desalinho devido à corrida.

— Bom dia! — ela murmurou com um sorriso doce assim que recuperou parte do fôlego. — Vocês encontraram a estalagem da Mahina-san?!

Sakura anuiu.

— Sim. Sua mãe foi muito gentil em nos indicá-la.

Sachiko ampliou o sorriso, satisfeita com a resposta; os olhos verdes e brilhantes mal se desviavam do semblante alvo de Sakura. Mas, de repente, ela os abaixou timidamente, fitando os próprios pés quando murmurou as próximas palavras.

— Sakura-san, poderíamos conversar mais tarde? A sós?

Sakura hesitou num primeiro momento, incerta sobre o que deveria responder e sobre o que Sachiko quereria conversar com ela a sós, mas acabou concordando com um sorriso gentil.

— Obrigada, Sakura-san! Vou esperar ansiosa por isso! — Sachiko garantiu.

Sakura prometeu encontrá-la mais tarde e, com isso, Sachiko partiu, correndo viela acima.

— Ela admira você. — Ouviu Sasuke dizer, virando-se para ele com uma expressão surpresa, o ardor nos olhos desiguais acabou pegando-a de surpresa.

O sorriso discreto que ele lhe mostrou fomentou aquele sentimento de embaraço, desconcertando-a e obrigando-a a desviar o olhar. Seria orgulho o que enxergou nas feições serenas de Sasuke? A constatação a fazia ter vontade de beijá-lo no meio de todos aqueles espectadores. Que embaraçoso, refletiu.

Sasuke, entretanto, voltou a caminhar, afastando-se dela.

— Vamos.

— S-sim! — concordou, apressando-se para segui-lo.

Juntos, eles seguiram para longe do vilarejo e em direção à densa floresta que circundava o seu perímetro. Ao fundo, uma cadeia de montanhas se elevava acima da linha irregular formada pelas copas das árvores gigantescas, seus cumes angulosos destacados contra o azul limpo do céu da manhã. E foi na direção delas que eles seguiram.

Em dado momento, trocaram a trilha estreita na floresta pelos galhos das árvores mais robustas, galgando-os num compasso apressado rumo ao leste. Sasuke ia à frente, liderando-os, enquanto Sakura vinha logo atrás, certificando-se de que ninguém os espreitava pela retaguarda.

Algum tempo depois, Sasuke saltou um último galho e se lançou em queda livre até o chão, pousando com toda a graça e leveza que lhe era atribuída no campo de batalha. Os pés mal fizeram um ruído ao aterrissar na relva meio úmida. Sakura fez o mesmo, pousando ao lado dele com a mesma desenvoltura.

Ela olhou ao redor curiosa. A mata densa ainda os cercava, verde, viva e ruidosa. Porém, percebeu que eles haviam pousado aos pés de uma ravina com no máximo seis metros de altura; a lama seca se agarrava às rochas nuas tal como algumas samambaias. Encimando-a havia uma grande elevação rochosa, cinza e ameaçadora, projetando uma sombra longa sobre aquela porção da floresta: uma grandiosa montanha de calcário cujo cume oblíquo perdia-se do seu campo de visão. Ainda mais abismada, Sakura reconheceu a entrada estreita de uma caverna ali por perto, fria e sibilante, parcialmente oculta por algumas plantas; correntes de ar provocavam ecos na boca larga e negra que possivelmente levaria a túneis quilométricos escavados dentro da rocha.

Sakura deu um passo adiante, incerta, em direção à caverna. Sasuke fez o mesmo.

— Eu encontrei essa entrada hoje pela manhã. — Ele correu os olhos pela vegetação densa. — Está bem escondida e muito bem posicionada em relação ao vilarejo.

— Acha que eles podem estar se escondendo aqui? — perguntou num tom baixo, seus sentidos cautelosos de Kunoichi faziam os pelos finos no seu braço eriçarem.

— É possível. Só há uma forma de descobrir.

Sakura mordeu o lábio, pensativa. Se fossem adiante — e se o palpite de Sasuke estivesse correto —, iriam em direção ao inimigo muito provavelmente. Além disso, a desvantagem penderia para o lado deles, que não conheciam a planta do esconderijo muito menos em quantos eles estariam e as habilidades ocultas de todos eles. Iori e Suzumo já haviam se provado oponentes à altura.

Franziu o cenho ao se lembrar de tudo o que os moradores de Iwaki estavam sofrendo. Da tristeza e da dor que aqueles criminosos estavam provocando em pessoas inocentes. Cerrou um punho com força e determinação.

— Vamos em frente — declarou para Sasuke, que assentiu.

Passo por passo, eles se aproximaram da caverna. Sasuke ativou seu Sharingan para estar mais bem preparado para o que quer que encontrassem. A escuridão da caverna os engoliu depressa, o silêncio que imperava nos longos túneis úmidos os abarcou numa questão de minutos.

Ali dentro, uma frieza perene havia se infiltrado nas passagens rochosas, fazendo companhia à escuridão constante. Mas para Sakura só havia a remota possibilidade de ela e Sasuke terminarem com tanto sofrimento e injustiça, uma chama esperançosa queimando lentamente no fim de todas aquelas sombras.

 

 


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Notas finais do capítulo

Perdão pela demora dessa vez, minha rotina ainda não voltou 100% ao normal e as últimas semanas foram bem movimentadas pra mim. Vou tentar não atrasar o próximo capítulo, prometo! c:

Por falar nele, teremos mais mistérios (ou seriam algumas pistas?) a respeito desse bando de criminosos.
Muito obrigada a todos pelos comentários lindos!!!
Até o próximo! o/



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