Criada em um convento desde os seis anos de idade, quando fiquei noiva de Francis, o futuro Rei da França, recebendo a educação necessária para ser uma governante exemplar, eu Mary Stuart ainda sou uma jovem romântica e sonhadora, apesar do fardo da responsabilidade que carrego desde o sexto dia de vida quando mataram meu pai e eu me tornei a rainha da Escócia.

Uma tarefa nada fácil quando a Inglaterra quer o seu trono e sempre que possível ataca suas fronteiras lesando seu exército e a deixando cada vez mais pobre, fraca e abalando o país inteira, nos deixando a beira de um colapso. Esse elo com a França deve garantir a força bélica que a Escócia precisa e eliminar de vez a ameaça inglesa.

Hoje é o dia em que finalmente irei rever meu noivo na Corte Francesa o qual me lembro vagamente, pois só o vi algumas vezes quando criança e agora que cheguei à maioridade e já está em tempo de me casar e talvez ele esteja tão diferente que eu nem o reconheça. Eu e minhas três ladies que também são minhas melhores amigas estamos de mudança para o palácio sentadas na carruagem real enquanto elas relembram o triste acontecimento no convento que ocorreu antes de partirmos.

Era um lindo dia de verão e foi preparado um banquete especial de despedida para mim, havia muita agitação e alegria por parte das freiras, pois sua rainha finalmente iria de encontro ao príncipe prometido.

— Estou tão empolgada, finalmente vamos conhecer seu noivo – Comentou Kenna agarrada em meu braço direito.

— Dizem que ele é lindo e gentil, acho que irá se apaixonar, mesmo que não se lembre da cara dele. - Falou Lola grudada no meu braço esquerdo. Eu as olhei e comecei a rir, pois realmente é algo cômico eu estar tão ansiosa para rever alguém que eu nem lembro do rosto e nutro sentimentos desde já. Bom, pelo menos em minha mente Francis é um perfeito cavalheiro que me ama e me espera ansiosamente para consumar o casamento arranjado.

— Não vejo a hora de rever Francis e pensar em como tenho sorte em me casar com um homem lindo e gentil que irá dar tudo o que nosso país precisa, porque me ama, e é o rei. A melhor parte é que eu tenho vocês três ao meu lado e tenho certeza que irão arranjar ótimos casamentos na França. Está tudo encaminhado para sermos felizes para sempre. – Completei pegando na mão delas ternamente, pois eu realmente acredito e rezo para que nós encontremos não só um marido na França, mas também o amor.

— Eu realmente queria saber... Depois do felizes para sempre, quando o casal apaixonado se casa e tudo mais, o que acontece? – Perguntou Lola

— A consumação claro. – Respondeu Kenna com a mente poluída de sempre e eu revirei os olhos.

— É uma metáfora Kenna. – Expliquei para que ela não poluísse a mente de Lola também com pensamentos libertinos. - Ninguém é feliz o tempo todo, mas escolhemos o que nos deixa felizes e cada um segue sua verdade. Não é como se o tempo parasse depois do final de uma história, a vida segue e vamos evoluindo conforme os anos passam e ultrapassar as dificuldades que vamos encontrando é o que constrói nosso legado na terra, as coisas boas e os ensinamentos que deixamos quando partimos. O que acontece depois do felizes para sempre é o mesmo que acontece antes, é a vida fluindo.

— Isso foi lindo alteza – Disse a Madre Superiora e foi então que eu notei que todas as internas haviam feito silencio para escutar-me. – Vida longa a Rainha! – Bradou a velha senhora sorrindo ternamente.

— Vida longa a Rainha – Responderam em uníssono e começaram a bater palmas animadas e a agitação de conversas e risadas voltou até ser cortada por um grito desesperado vindo da cozinha.

A minha comida fora envenenada e a freira que estava provando antes de servir-me havia morrido, eu sabia que era um recado dos ingleses dizendo que eles ainda querem a Escócia, que não há casamento que me tire da mira deles. Quero revidar esses ataques pessoalmente um dia e vingar o meu povo.

Iniciamos a viagem de um pouco mais de cinco dias e ouvir as trombetas tocarem anunciando a nossa chegada real e ver toda realeza e servos me esperando no pátio do castelo foi uma mistura de emoções. O alívio pelo fim da viagem e a ansiedade por estar de encontro a um futuro cheio de promessas. O Rei Henry II estava a frente da comitiva de boas vindas e ao seu lado uma linda mulher que eu não reconheci das pinturas da família, mas que se vestia tão bem quanto uma rainha.

— Quem é ela? – Perguntei intrigada ás minhas ladies enquanto descíamos da carruagem.

— Essa é Diane de Poitiers a amante oficial do rei, dizem que o filho bastardo deles é o preferido e tem muitas regalias, ela é uma lenda da sedução – Respondeu Kenna animada e eu franzi o cenho ao constatar que os costumes na França são bem diferentes do meu país, onde as amantes são tidas em segredo para evitar constrangimentos.

A Rainha Catherine estava mais ao lado e parecia incomodada, eu também estaria se Francis tivesse uma amante oficial. Vi dois homens jovens se juntarem ao grupo caminhando apressadamente, um loiro e um moreno, ambos com suas vestes reais.

— O loiro enfezado deve ser Francis – Comentou Lola amarga ao notar a cara de poucos amigos que o rapaz nos observava.

Ele é de fato muito bonito, mas não fez questão nenhuma de me receber o que me desapontou muito, pois tinha muitas expectativas para esse dia. O moreno continuou andando até nós e fez reverencia em minha frente.

— Seja bem vinda a França alteza, sou Sebastian. – Quando olhei para aqueles olhos verdes meu coração parou e não consegui falar nada a não ser sorrir abertamente admirando-o, pois parecia que um anjo estava sorrindo para mim e não um simples mortal, como pode alguém ser tão belo?