A vida que a morte traz escrita por Alice Pereira


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

O tema da sexta rodada foi a música Don't Be Happy, do grupo Mamamoo. O trecho que utilizei foi o seguinte:
"Não fique feliz, jamais fique feliz
Você me deixou então
Não se atreva a dar um sorriso
Não seja feliz, jamais seja feliz"



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 “T.L.,

Não sei se anda lendo as minhas cartas, como eu fiz com as suas, ou se importa algo para você. Parecia querer que alguém te ouvisse, mas acho que entendi errado, lamento por isso. Pode ser bobo, porém quis me despedir antes de parar com elas.

Estive decepcionado com seu silêncio, o que quer dizer que tinha alguma esperança de desenvolver uma amizade entre nós. Isso, felizmente, acabou. Deixou-me falando sozinho, com as mãos estendidas em sua direção. Negou minha amizade e minha sinceridade, abandonou-me. Poderia dizer que nunca esteve comigo para me abandonar, porém eu estive contigo.

Já não tenho compaixão e não quero ajudá-lo, nem me interesso mais por saber quem é Pinhão ou os detalhes da morte de sua querida irmã. Espero que não seja feliz e se arrependa por ter rejeitado minha ajuda.

Adeus,

Arthur”

Riu uma daquelas risadas que balançam o corpo inteiro, fazendo seus cachos curtos roçarem no seu queixo e bochechas. Tinha um pouco de medo, nervosismo também, mas tinha quase certeza agora de que o suposto Arthur não era um sequestrador ou qualquer coisa do tipo. Parecia um pouco seu pai, com chantagens emocionais e lamentações bem elaboradas, porém bem podia ser só um adolescente estúpido.

Não importava mais, pois não se sentiria tentada a ler inúmeras cartas que ele lhe deixara, ou culpada por não fazê-lo: ele a tinha libertado com o que deveria ser uma repreensão. Se seria feliz ou cumpriria o desejo expresso em seu último monólogo, estava fora de seu alcance saber, no entanto naquele momento estava aliviada. Jogou a carta no lixo e deitou-se na cama, tomando cuidado para não perturbar Pinhão (que o rapaz jamais saberia, mas se tratava de um gato).

Ainda conversava com Virgínia mentalmente, pois em sua imaginação ela era muito mais legal do que seu neto. Gostaria de poder continuar escrevendo ou visitando seu túmulo sem medo de que ele aparecesse, porém esse tipo de santuário que havia criado para aliviar o peso que sentia tinha sido maculado com a primeira resposta que recebeu.

Claro, talvez ela fosse a errada nisso tudo. Afinal, era o lugar de descanso da avó dele, que ele claramente amava muito, pois os azulejos beges estavam sempre limpos e bem cuidados, e plantas davam um pouco de vida ao lugar. Provavelmente tinha manchado o “santuário” dele também, o que tornava sua ira compreensível.

Aos poucos, imersa em pensamentos que iam desde o fato de ele acreditar que ela fosse um menino ser bom, até o quanto o ronronar do velho e gordo gato a fazia lembrar de sua irmã, Tamires caiu no sono. Algum momento mais tarde, sua mãe deve ter vindo, tirado seus sapatos, a coberto com sua colcha amarela e apagado a luz. Na manhã seguinte, a garota acordaria e agradeceria ao universo por não ter perdido sua mãe para a tristeza, no entanto naquele momento ainda sonhava com outras realidades em que tudo estava bem.


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