A vida que a morte traz escrita por Alice Pereira


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

A terceira rodada chegou com muito carinho pra me empacar na escrita com um meme como tema. Ele está no seguinte link:
https://media.giphy.com/media/l0MYBbEvqqi1kfuyA/giphy.gif

Bem, queria fazer uma notinha antes de vocês lerem o capítulo, sobre uma expressão que usei algumas vezes ao longo dele: piá, que quer dizer garoto. Utilizei ele só nas falas e na carta, porque desde o início deixei explícito que a história se passa em Curitiba e, meus amigos, não seria Curitiba se não aparecesse ninguém falando "piá" ou "guria". Dito isso, boa leitura!



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“Querida Virgínia,

É impressionante como algumas pessoas são insensíveis. Me disseram esses dias que elas mereciam morrer porque eram lésbicas. Nem eram, Mirela era bi, mas isso é algo irrelevante se tratando do comentário. Sei que não deveria desejar a morte de ninguém, mas às vezes me pego torcendo pra que algum parente próximo do piá que me disse isso morra, assim talvez ele pare de falar merda por um tempo.

Foi direto demais? Perdão. É que, bem, se estivesse lendo sua correspondência já saberia quem ‘elas’ são. Se alguém estiver lendo, também, essa pessoa já sabe. Me pergunto se essas coisas que eu falo chegam a alguém, ou se as cartas que eu deixei nunca estão lá porque voam pra longe ou vão parar no lixo mesmo. Bem que a senhora podia voltar de vez em quando como fantasma pra fofocar esses detalhes pra mim.

Não acredito em fantasmas, ou que algo venha (...)”

Lia, quando foi interrompido. O professor, alto e meio gordo, com um sorriso maldoso e bem humorado ao mesmo tempo, arrancou o papel de suas mãos. Mal tinha percebido quando ele parara de falar e se aproximado, porém lá estava ele, com as confissões de T.L. bem debaixo dos seus olhos.

— Parece que você tem algo mais interessante que a aula, não é, Arthur? Vamos ser bondosos e compartilhar com os seus colegas, que tal? — disse. Para o suplício do garoto, começou a ler a carta em voz alta, enquanto risinhos surgiam aqui e ali pela sala.

Porém os risos logo morreram, junto com a voz do professor. Não foi muito além do primeiro parágrafo e, quando terminou, um clima pesado reinava no ambiente. O homem dobrou a folha com calma, como quem não percebia o que se passava ao seu redor e devolveu ao aluno, depois bateu as mãos nas calças e retornou ao conteúdo. Ninguém mais emitiu um som durante sua aula.

No final, como o garoto já temia, aquilo tornou-se assunto.

— Ei — chamou a menina sentada atrás dele. — Você que escreveu aquilo?

Negou com a cabeça, então ela continuou:

— Foi quem, então?

— Não sei — falou pela primeira vez desde que entrara na sala.

— Mas ué, piá, não sabe como?

— Só não sei.

Percebendo que não chegaria a lugar nenhum com aquilo, enfim, ela parou, deixando Arthur com seus silêncios e respostas curtas. Talvez se tivesse insistido ele acabasse contando tudo, desde a primeira carta que encontrou (que provavelmente não foi a primeira deixada) até a questão que o vinha perseguindo desde então: quem era T.L., afinal?

Era desconcertante que de certa maneira se sentisse tão próximo daquela pessoa e, no instante seguinte, perceber que nem sequer o sexo dela sabia, quem dirá o nome! Mais desconcertante ainda, saber que para o misterioso remetente, ele nem sequer existia senão como uma suposição, um devaneio ou desejo por ser verdadeiramente ouvido.


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