Estávamos mais de um mês trabalhando de Operador do Inferno, apelido carinhoso para nosso serviço. Seis horas pareciam ser vinte e quatro. O que nos ajudava era a empresa ficar a quinze minutos do prédio e usar o vale transporte pago em dinheiro, para comermos lanches e bebermos cerveja. Ainda não havia esquecido de ser a Stan Lee brasileira e não deixava Wesley esquecer isso também.

No serviço, Wesley era o senhor vendas. Tinha algo relacionado a sua sinceridade e comigo pegando no seu pé. Apesar de proibido, ele falada coisas como “Se o senhor comprar o produto, não será mais perturbado por nós”, “A senhora não acha que cinquenta reais valem mais que a encheção de saco”, “Se o produto não for bom, pelo menos não voltarei a te ligar”. Wes tinha batido todos recordes de venda com seu Marketing Agressivo. Quando queriam tirar suas comissões por não seguir o protocolo, ele ameaçava demitir-se, conseguindo o que queria. Ele ganhava mais que eu como supervisora.

Meu amigo sempre me alertava de uma supervisora que não gostava de mim. Confesso que achava estranho somente ela não me adorar como todos, mas relevava. Quando Wesley já estava a par de todas as fofocas da empresa, contou-me que ela esperou muito tempo até tornar-se supervisora, mas eu já cheguei colocando minha cabeça na janela. Não tinha culpa que somente eu poderia manter o senhor vendas no lugar e que ele era tão promissor. Isso só me mostrava como aquele moleque marrento me fazia bem e me dava sorte.

Certo dia, a gerente avisou que teria uma reunião às 14h com todos os supervisores. Nenhum deveria faltar, correndo risco de demissão. Nesse horário eu saía, mas seria pago a hora extra. Pedi para Wesley esperar-me, porque não faria mais que a obrigação.

Fui ao banheiro me arrumar. Quando tentei sair, a porta estava trancada e me desesperei. Minha bolsa estava em uma das mesas com o celular dentro. Estava perdida, até abrirem a porta.

— Senti uma sensação estranha e sabia que aquela sínica aprontaria uma!

—Wesley... – começaria a chorar, mas não deixou.

— Bote sua melhor cara de “Surprise, Bitch”. Acaba com aquele sorriso branco!

Antes, peguei meu celular, deixando na câmera gravando. Coloquei no sutiã, com a ponta da câmera para fora. Estava cinco minutos atrasada. Wesley falou que a sala estava cheia.

Caminhei até a porta, respirando fundo, abri quase que bruscamente, apoiando meu corpo na mão que segurava a porta e com o joelho levemente dobrado. Igualzinho ao meme.

— Estavam me esperando?

Todos riram exceto a pessoa bem na frente. Andei quase que pulando e dançando ao mesmo tempo, sentei com minha chefe. Mas ao passar pela ordinária, disse apenas para ela ouvisse “Surprise, bitch.” Fuzilou-me com os olhos, mas foi prazeroso.

Em casa, mostrei o vídeo para Wesley. Nem eu havia reparado o olhar de desapontamento da supervisora. Vendo Wesley rir daquela maneira, tive a certeza que nossa ligação era muito preciosa. Não tinha como não amar aquele tapado.