As criaturas seguiam pulando para fora do portal, enquanto não interrompesse a sequência de monstros saindo aquilo não iria acabar. Erik Sevik olhava para a plataforma que tinha ajudado a criar, para o portal que tinha sido sua culpa estar aberto, os olhos olharam para beira vendo às pessoas e a confusão criada lá embaixo, era como se um nó fosse dado na sua garganta, procurando a forma certa de interromper aquilo.

Lila estava pendurada na beira do prédio, seus poderes não alcançavam tão longe e estava cansada demais para usar um portal até lá embaixo, se segurava até sem força na beirada e a qualquer hora poderia cair se não fosse atenta o suficiente para isso. Natasha queria brigar com ela, mas estava tentando localizar os outros e traçar um plano para fechar o portal de uma vez por todas, os chiados no comunicador não ajudavam.

— Já sei como fechar, agente venha aqui com o cetro! — Erik chamou acenando.

 — Você vai interromper o fluxo e assim o portal fecha, vamos.

— Espere. — Natasha ergueu a mão livre e depois a voltou para o ouvido seguindo às instruções. — O Tony pediu pra manter aberto mais um pouco.

— Porque? — Lila afastou o corpo da beira e olhou a ruiva. — O que ele sabe?

— O governo lançou um míssil rumo a Manhattan, o seu pai quer interceptá-lo e levá-lo dentro do buraco de minhoca. — Natasha ia falando enquanto Tony ditava do outro lado.

— O portal é instável, agente. — Selvik alertou.

— Isso vai obrigá-lo a entrar lá Nat. — Lila avançou próximo a agente. — Ele não pode fazer o míssel tocar às águas?

— Não, a potência dele é muito alta e não pode ser hackeado. — Um silêncio estranho foi feito. — Iria varrer Manhattan do mapa.

Os três tinham se juntado para ver a figura do Homem de Ferro tentando mudar a rota do míssil, parados na borda do prédio, mas o que eles não se lembravam era que os monstros lá embaixo ainda continuavam a vir em uma quantidade grande, sem parar um só minuto, muitos ainda estavam no chão e eles não seriam páreo para esse tipo de combate por muito mais tempo, eles precisariam de vários Steve Rogers para que funcionasse de verdade, talvez nem assim fosse possível.

A atenção do trio voltou a entrada para aquele ambiente quando uma das portas de metal que davam para dentro do edifício foi jogada aos pés dos mesmos, o urro de algumas criaturas chamou a atenção, era um número maior do que eles conseguiriam conter, isso porque Selvik não sabia lutar e precisava cuidar da plataforma de onde o portal estava, Lila estava fraca e cansada e Natasha carregava o cetro na mão, tudo isso não colaborava para que os três ficassem em segurança.

— Fiquei aí atrás, eu vou tentar nos manter seguros até o Tony entrar. — A Viúva Negra pediu a dupla. — Lila faça a guarda do Dr. Selvik, se algum bicho passar o derrube com o que tiver.

Natasha não gostava de ter que pedir isso a ela, sabia o quão exausta ela estava, ou imaginava o quão pudesse ser, já que a mesma estava assim, quem dirá a garota. Por mais que fosse hábil com lutas e estivesse usando o cetro para acertar os monstros que vinham na sua direção, Natasha Romanoff ainda era uma só, o que se tornava inviável fazer tudo ao mesmo tempo.

Lila ficou na proteção se Selvik, mas teve que avançar alguns passos para que derrubasse alguns poucos monstros que ainda conseguiam passar da agente, mas estava cansativo demais, mais de um deles a derrubou no chão, os braços de Lila doía, a cabeça também e a força aos pouco esvai-se enquanto batia o bicho contra o chão ou quando pulava em suas costas e tentava o derrubar. Tudo mudou quando uma explosão aconteceu e uma figura surgiu entre seus olhos.

Lila sempre viu Connor como o seu amigo sabe tudo, mas não como uma pessoa que pegasse no pesado realmente, os olhos dela tremeram ao vê-lo, o agora namorado, que carregava uma arma grande que brilhava em um azul que expelia por uma das extremidades, quando o jato de energia escapava da arma ela tremia, o que quase fazia Connor a soltar, ser acertado não deveria ser gentil ou confortável, já que os monstros atingidos viravam uma pasta de sangue e fluídos. Por pouco o trio humano não foi acertado, Natasha foi a primeira a ser quase acertada, Lila se jogou no chão por pouco e Selvik escondeu-se atrás da base do portal, esse que absorveu o raio como se fosse nada, quando todos olharam não havia nenhum monstro de pé.

— Foi aqui que pediram um salvador da pátria? — Connor riu colocando a arma no chão convencido. — Um dia contarei a nossos filhos como eu salvei você, amor.

— Convencido. Onde você arrumou isso? — Lila levantava com dificuldade para olhá-lo.

— No ha...— A voz de Connor nem terminou ele só olhou arregalado para os três.

Demorou cerca de oito segundos para que Natasha percebesse, Lila veio dois segundos depois e Selvik não muito posteriormente, mas os três tiveram certeza quando a lâmina atravessou o peito de Connor, vindo de uma criatura que estava na porta e que correu em seguida, ao ser encarado por eles, saindo do campo de visão de todos, naquele momento o mundo Lila Stark veio ao chão.

Dizem que o corpo leva cerca de um minuto para entender algo realmente, antes disso estamos em um limbo estranho em que não entendemos bem o que aconteceu. Sob os olhos trêmulos de Lizandra o corpo de Connor caiu no chão, primeiro de joelhos e depois caindo de lado, ela poderia ter ido na direção dele, mas ela esteve paralisada ao assistir o assassinato brutal daquele que era mais do que seu namorado, Connor era seu melhor amigo.

Natasha nem chegou a tocar nela, só a olhou segundos antes do corpo magro de Lila correr já direção do rapaz caído ao chão. O sangue escorria por onde a lâmina tinha entrado e sido retirada com grosseria. Lizandra decaiu ao chão em meio a poça de sangue que se formava, amparando Connor em seu colo, puxando o corpo dele para perto, sentindo os batimentos dele tão fortes, que era como se estivessem dentro de si.

— Lils… — Ele a chamou da forma carinhosa que só ele fazia. — Eu não quero morrer, me ajuda. 

— Você não vai morrer. — Ela chorava sob o corpo dele, não conseguia manter a seriedade com a compostura. — Não me deixa C.

Ali na frente dos olhos de Lila ela via toda uma vida ao lado dele, ao perceber que Natasha estava em seu encalço ela olhou pra agente, que sussurrou baixo no ouvido dela que ele iria partir de qualquer forma, pedindo que Lila o deixasse ter um último momento tranquilo, só havia uma decisão a se tomar. A mão de Lizandra agarrou a de Connor, que estava fria e trêmula, os olhos delas se encontraram e ela fez a única coisa que poderia fazer ali, usou seus poderes para repassar na mente de Connor momentos felizes dos dois.

As primeiras imagens eram da infância, quando eles se conheceram, a escola que frequentavam juntos, as escapadas para tomar sorvete que Lizandra tanto amava, as horas de fofoca que compartilharam juntos, festas do pijama e eventos chatos que seus pais os obrigavam a ir, toda uma vida que eles tiveram e que poderiam ter. Entre o choro que Lila segurava era colocou na mente dele visões de como a vida deles poderia ter sido, a ida para faculdade, as viagens pelo mundo, jantares em família e principalmente os momentos a dois, em que eles só se olhavam e sabiam que se amavam, que se amaram antes de saberem, que eles eram feitos um pro outro.

— Eu vou esperar você … — A voz rouca dele abrir os olhos. — Pra sempre, Lizandra.

— Te vejo em breve, Connor. — Ela falou entre lágrimas e um choro que não dava para segurar.

Ela permeneceu abraçada a ele até que percebesse que Connor não mais retribuía a força que ela tinha, Lila - mesmo suja de sangue - se recusou a soltar o corpo do amigo, ali abraçada a ele ela chorou como nunca havia chorado, pois aquela dor era imensa no seu peito, perder Connor era como perder um pedaço de si, uma parte dela tinha ido com ele. Natasha e Erik olhavam a cena, respeitando o luto da garota, mas um chiado tirou a agente do transe de olhá-los e a voz de Tony veio em seguida.

— Ele vai entrar no portal. — Ela avisou aos presentes. — Tony vai guiar o míssil até lá.

— Vou preparar o fechamento do portal. — Erik voltou a olhar a bancada. — Agente, preciso que use o cetro, ele vai segurar a abertura para o Senhor Stark voltar.

Lila ainda embalava o corpo de Connor próximo ao seu quando Tony passou voando por cima deles, o olhar dela foi na direção dele, não conseguia ver muito além dos outros, no fim a imagem do Homem de Ferro misturou-se a massa obscura. Os minutos que vieram em seguida foram os mais tensos, ninguém parecia falar nada, só olhavam para cima e ficavam esperando que Tony voltasse, mas ele não voltava, o que aumentava a apreensão entre os presentes.

— Eu vou abrir um portal e ir atrás dele. — Ela anunciou se desvencilhando devagar do corpo do amigo.

— É impossível senhorita. — Selvik de pronto interveio. — A localização do buraco de minhoca é incerta, você pode se perder. E precisamos fechar o portal ou as criaturas continuarão vindo.

Juntos eles seguiram olhando, torcendo para Tony voltar e que Lila não perdesse mais alguém.