A explosão aconteceu em meados de Setembro de 2010 e as coisas flutuavam no quarto, centímetros do chão, toda vez que alguém mais especial a tocava, era como um estímulo, ninguém entendia muito bem mas pesquisadores e médicos ligados a SHIELD estudavam Lila Stark a todo momento, na esperança de que pudesse dizer algo sobre o seu estado, mas as respostas ainda eram inconclusivas, que era culpa do cubo todo mundo sabia, mas não sabiam como reverter aquele quadro.

Tony passava mais tempo do que poderia sentado aquela poltrona e olhando para a filha, sempre mantinha o quarto arrumado e as coisas no lugar, da forma que ela gostaria de ver. Os jornais pararam de dar notícias sobre ela depois de um tempo, considerando o caso de Lizandra mais um sem chance de reversão, mesmo que poucos soubessem a verdadeira razão por trás do seu acidente, Tony tentou blindar toda e qualquer informação e ainda culpava a SHIELD por tudo que aconteceu.

As sessões de fisioterapia eram constantes, pelo menos uma vez por dia um fisioterapeuta fazia uma sessão de exercícios com ela, para evitar que seus membros tivessem alguma paralisia pelo tempo em que não eram usados, o Stark assistia tudo e na maioria das vezes Phill estava lá, Angelica costumava ir muito também, Steve e Connor eram presenças constantes, a cada dois dias os dois renovavam as flores do quarto, Connor ainda vinha contar as novidades para Lila, ao fim da sessão daquele dia só o Stark e Phill estavam por lá.

— Eu fiz promessas pro aniversário de 18 anos dela. — Tony resmungava olhando para o calendário, era 09 de Novembro, aniversário da sua filha. —  Eu não estava lá quando ela nasceu, ela não está aqui quando faz 18, o que mais vamos perder?

— Ela vai acordar em algum momento. — Phil tocou o ombro do Stark. — A SHIELD …

— A SHIELD! — Tony se afastou. — Eu fui relutante em deixar minha filha se aproximar da SHIELD e olha o que aconteceu, ela está em coma e sabe-se lá quando ela vai acoardar ou se vai acordar, você pode dizer o que quiser Phil, mas tem que concordar comigo, aposto que a Samantha concordaria.

— Sim, ela concordaria. — O homem suspirou, lembrava do diário que tinha prometido dar a Lila quando ela fizesse 18 anos. — Mas a Samantha não está aqui e temos que cuidar da Lila, eu já preciso ir, chamo alguém que está lá fora?

— Não. — Tony foi ríspido ao responder o agente. — Me deixe a sós com a minha filha.

As semanas não foram nada gentis com Tony, por mais monitoramentos que a SHIELD fizesse não mudava muita coisa, a mente de Lila estava imersa em algum universo só dela, Tony a visitava sempre que podia, mas as Indústrias Stark ainda pediam a sua presença, enquanto ele não estava lá as pessoas se revezavam, pouco antes do Natal ela foi submetida a mais uma cirurgia no cérebro, havia sido pelas mãos do habilidoso médico Stephen Strange, ele era uma das últimas chances de fazê-la acordar.

Stephen disse que logo ela responderia a alguns comandos, Lila progredia, mas progredia muito devagar e isso irritava algumas pessoas, não com ela, mas com a situação como um todo. Steve na ocasião estava sentado na poltrona lendo uma revista quando as coisas começaram a flutuar, ela tinha saído da cirurgia a pouco tempo, logo ele trocaria de lugar com Angélica, pelo menos até Tony chegar dali algumas horas, ele sabia que quando as coisas flutuavam alguém precisa se aproximar dela e acalmá-la, deveria ser horrível estar presa dentro do próprio corpo.

— Ei, Lila, estou aqui. — Ele passou a mão no rosto dela. — Pode ficar tranquila.

— “Steve?” — Uma voz ecoou e ele pensou ter sido dela. — “Steve me ajuda”.

— Lila? — Ele olhou em volta procurando de onde tinha vindo. — Bobagem.

— “Não, Steve eu tô aqui, olha pra mim.” — A voz novamente ecoou e ele a encarou. —”Eu não sei como isso acontece, mas eu tenho chamado todos vocês pode tanto tempo, agora você ouviu, não sei como mas parece que eu falar com você telepaticamente.” — Uma lágrima escorria do olho dela.

— Ei, não chore, eu estou aqui. — Steve sorria. — Você está indo muito bem, agora você consegue falar, o Tony vai ficar tão feliz.

De fato, Tony Stark ficou bastante feliz em saber que Lila poderia se comunicar com ele de alguma forma, mas as vezes ela não conseguia, falava pouco e ou passava semanas sem falar nada, era algo tão inconstante que nem mesmo o Stark via aquela novidade como algo bom, mas eles tentavam, era uma evolução mínima, mas era uma evolução. Connor ia sempre que podia ler poesias para Lila, mesmo que ela nunca tenha falado com ele, o que o deixava meio cabisbaixo, mas não o fazia desistir dela.

Ele demorou um tempo para perceber que as poesias que ele escrevia para Lila eram palavras que ela colocava na mente dele, na verdade ele rascunhava enquanto fazia companhia a ela, pensava em algumas coisas como a faculdade que logo chegaria, era meados de Junho de 2011 e ele se lembrava de como a um não atrás ele tinha brigado com Lila e ambos ainda estavam separados, sua mente estava tão longe que nem percebeu que riscava a folha.

Quando você se perdeu,

coloquei-me a pensar,

Queria estar contigo no céu,

o orgulho de mantinha no mar.

A lágrima em meu rosto desceu,

molhando pranto a chorar;

minha alma dominou o céu,

meu corpo apodreceu no mar.

Connor ficou olhando para aquilo durante um tempo, ainda admirado com as palavras e sorriu ao lembrar de um livro que Lila tinha dado a ele alguns anos antes com uma poesia bastante semelhante a aquela, já era de sua ciência que ela se comunicava telepaticamente com as pessoas, talvez visse algum bloqueio em Connor, mas ele voltava todos os dias para contar-lhe coisas e escrever poesias sobre as respostas dela, era divertido, mas com o tempo o garoto não aparecia mais, ele tinha outros compromissos, ele tinha uma vida.

Angelica, por outro lado, ia até Lila para contar o que podia sobre Sam, era outra a ouvir pouco as repostas da sobrinha que tanto lhe lembrava sua irmã, a cada resposta por mínima que fosse ela acariciava a mão da garota, certa vez estava na companhia de Happy, os dois conversaram por muito tempo, quem não sentia a falta dela? Todos se sentiam incompletos pois ela não estava lá para animá-los como sempre fazia.

A saúde de Lila, no entanto, nem sempre era boa, mesmo com os medicamentos e todos os procedimentos para manter o seu corpo saudável, as vezes ela ficava suscetível a algumas doenças e um vírus hospitalar em questão pareceu deixa-la muito mais pálida, ele tinha atingido seu cérebro e algumas de suas funções falhavam, ela inclusive adoecia com mais facilidade e depois de meses naquela cama ela estava piorando, o quadro que ninguém queria ver, mas infelizmente era tão real e palpável.

No fim de setembro, poucos dias depois de completar um ano naquele coma, o médico responsável por Lila indicou que fosse feita uma intervenção cirúrgica, era perigoso, mas poderia reverter o quadro dela, as coisas no quarto já quase não flutuavam, sinal que ela estava tão fraca que não conseguia se comunicar como antes, a fraqueza dela fez do procedimento um momento crucial, ela poderia regredir em seu quadro que vinha melhorando gradativamente, mesmo que se forma lenta. Tony estava do seu lado a maior parte do tempo, não poderia perder um segundo com sua filha, mas o cansaço vem e com ele a necessidade forçada de se ausentar, Pepper levou Tony que prometeu voltar em poucas horas.

Lila ficou sozinha, na verdade uma enfermeira a vigiava pela câmera que carregava consigo, ela mostrava imagens do quarto, a garota se recuperava do pós cirúrgico, naquela noite foi uma das poucas que ela passou inteiramente só, não houve pessoas se revezando para vê-la ou cerca-la de amor, não, naquela noite ela ficou sozinha e parecia bem mais vazio do que o normal, as dores no corpo e na cabeça eram constantes e aflitivas, os sinais mostravam agitação mental além do normal, além das coisas flutuando novamente pelo quarto, a enfermeira até teve que sedar Lila para que ela dormisse em paz.

Na manhã seguinte duas figuras eram vistas conversando dentro do quarto, a primeira delas era Nick Fury e a outra Natasha Romanoff, a ruiva arrumava as flores do quarto e mudava a página do calendário, já haviam entrado no mês de outubro. Eles estavam ali para ver o progresso dela, como Lila se portava em alguns exames para a SHIELD, Nick sentia a falta daquela garota, tinha que admitir.

— Eu sinto que parte é minha culpa. — Ele suspirou tocando a mão dela. — Se eu não tivesse insistido tanto.

— Há coisas que nem sempre podemos prever ou evitar. — Natasha suspirou se virando para os dois. — O acidente com a Srta. Stark é um deles.

— Talvez o fato de eu ter conhecido a mãe dela e também ela quando era um bebê faça com que as coisas sejam diferentes. — Ele olhou seu relógio, logo Tony chegaria. — Todo mundo está louco para essa menina acordar logo, se ela acordar.

— Ela vai, nós sabemos que vai. — Nick suspirou acariciando a mão dela.

Mesmo se Nick Fury quisesse prever o que aconteceria depois ele não conseguiria, ele e Natasha Romanoff foram surpreendidos pela cena que viria a acontecer, ele acariciava a mão de Lila, quando o corpo da garota se levantou de uma vez. Com os olhos arregalados e visivelmente com falta de ar, Lila agarrou o braço de Nick sentando na cama, a pele negra do homem poderia ter ficado branca e ele correria se ela não tivesse o segurado, ela ainda processava a informação a frente de uma Natasha de olhos arregalados e um Nick com o coração acelerado.

— Eu consegui, eu consegui. — Ela falava de forma pausada, parecia ter corrido uma maratona inteira. — Vocês não sabem o prazer que é estar de volta.