O Sexto Comando escrita por Mitchece


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Sim, estou metralhando capítulos, mas é que hoje é dia regular de postar, então não quis deixar passar :)

Quando as férias acabarem, a quantidade de capítulos extras vai diminuir, prometo.

Boa leitura e até quinta!



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A mente de Lince virou um turbilhão. Uma mistura de dor descomunal, desespero pelo sangue, anseio por se levantar e medo de ser pega pelos guardas e morrer. Por que caralhos tinha que ser tão curiosa? Mas os esforços de seu corpo se apagaram e tudo ficou escuro.

— - -

A garota abriu os olhos com muita dificuldade e tontura. Rapidamente, quando retomou a consciência por completo, remexeu-se disparada e com medo, mas as mãos de Oliver seguraram-na para que ela se acalmasse.

— Calma, Princesa Fodona. Tá tudo bem agora.

Ela observou o local ao seu redor. Estava posta sobre um sofá velho e logo se sentou. O braço ardia e queimava em dor perto do ombro. Não conseguia mexer o cotovelo, o pulso, a mão e nem os dedos. As tentativas de movimento aumentavam a dor. O ferimento de bala estava enfaixado e o braço limpo, sem sangue algum.

— Mas que porra acontecem? Onde a gente tá? – ela perguntou completamente perdida.

— No depósito de uma loja – Oliver respondeu com calma. Demonstrava alívio e felicidade pela garota ter acordado enfim. – Tá se sentindo como?

— Meio fodida.

O cômodo não era tão grande, mas estava cheio de caixas empilhadas, vasos artesanais e objetos estranhos, o que dava a sensação de ser menor ainda. Havia apenas uma janela entreaberta bem no alto da parede e uma lâmpada fraca ajudava-a a iluminar os dois jovens. Lince continuou a olhar para Oliver com indagação e ele prosseguiu: - Quando você levou o tiro, eu te arrastei para a rua. Um homem tava passando e nos ajudou. Entrei com você no carro dele e ele nos trouxe para cá. Cuidou do seu curativo; retirou a bala e limpou tudo. Disse que podemos ficar aqui até você melhorar. Ele está lá na frente, na loja.

— Aceitou a ajuda de um adulto estranho? – Lince perguntou irritada. Odiava adultos.

— Você queria que eu fizesse o que? Achei que você estivesse morrendo. E se aqueles caras alcançassem a gente... Foi por pouco. Só não metralharam o carro porque o tio pisou com tudo no acelerador.

— Tudo bem... – ela aliviou o tom de voz -, me desculpa. Você fez certo. Mas não muito.

Houve um pequeno silêncio.

— Está se sentindo melhor?

— Sim. Tá doendo muito. Perdi a virgindade de tiro, yay— olhou para o braço. – Mas pensei que doesse bem mais.  Aos poucos acho que já vou conseguir mover meu braço certo.

— Lince... – Oliver disse envergonhado – O que foi essa merda toda?

A garota suspirou forte.

— Bota merda nisso... Deixa para lá, Oliver. É muita coisa e...

— Me conte logo. Se forem me matar eu quero saber pelo menos o porquê.

Ela o fitou. Não gostava de insistências, mas cedeu.

— Lembra que eu te expliquei das zonas? Talvez eu tenha ajudado, sem saber, a fazer elas tretaram. E quando elas tretam, meu caro... Fodeu.

— Mas como assim?

— Ah cara, não sei bem como, mas eu fiz um trabalho pro chefe do Formigueiro que pode causar essa treta ai.

— Que trabalho? Você matou alguém? – ele engoliu a seco.

— Meu, tenho cara de Hitman agora? Só roubei um bagulho lá.

— Tá, desculpa. Mas se foi só um roubo... Como que vai gerar discórdia assim?

— Eu sei lá. Só sei que pode dar bem ruim. Esses caras, os chefes das zonas, vivem se desentendendo. São todos punheteiros querendo dominar áreas e pontos pela cidade – retrucou com ódio. – Que saco, velho! Num minuto tudo parecia bom e certo, e depois eu fodo tudo, porra!

— Ei, fica de boa ai. Não se exalta com esse ferimento ai não...

— Vai ser difícil ficar de boa sendo caçada. E ainda tem a Mía. Não posso deixar ela lá no Formigueiro, acho que vão fazer algo de ruim com a galera de lá.

— Por que?

— Ah, o Mentor falou umas coisas sobre as formigas e tal...

— Por que não avisou todos eles então?

— Eu não podia causar tanto alarde assim. Só te busquei porque cê morreria naquele lugar se ficasse mais uma hora lá sem mim. Mía não ia conseguir fugir com a gente.

— Você deveria ter avisado eles! – se exaltou levemente.

— Depois falamos sobre o Formigueiro... Fica susse ai, irmãozinho.

— Tudo bem... Mas, cara! Isso é muita informação... Meu Deus!

— Eu sei! Mas agora só preciso focar em salvar a minha cabeça...

— Mas cê acha que essa treta ai entre comandos vai rolar quando?

— Hoje, amanhã, a qualquer momento, sei lá... Quem sabe até nunca. De qualquer forma, eu tô ferrada. Vou ter que sumir.

Oliver engoliu a seco novamente. Não era nada naquelas ruas sem Lince e ela estava completamente ferrada.

— E se houver guerra... – ele opinou - argh, não consigo imaginar uma guerra entre caras dentro de uma cidade grande, parece coisa de cinema.

— Pois é... Você não fica exposto a essas situações dentro da sua mansão. Pessoas morrem o tempo todo aqui, pequeno gafanhoto. Não aparecem na TV porque não querem que apareçam. Nem mesmo a guerra seria noticiada oficialmente. Um bando de tontos atirando um nos outros não é notícia segura para a televisão de Alpha. Eles têm medo.

— Isso acontece sempre por aqui?

— Bem, não. Normalmente são apenas trocas de alfinetes entre os chefes de cada zona. Um roubo numa área da outra zona, assassinato de capangas um do outro, ataques às bases e aos carregamentos, cercos... Mas o Mentor se referiu à treta como algo grande... E se ele vai lucrar com armas, então a coisa vai ser mais hard. Independente disso, o campo de batalha vai ser longe daqui; do outro lado da cidade. Onde estamos?

— Acho que ainda estamos no leste.

— Tudo bem. A treta maior seria entre oeste e norte, pelo jeito. Estamos bem aqui no leste, por enquanto. Tenho que me esconder até as intenções e planos do Mentor não serem mais segredo pra ninguém. Dai talvez ele não precise de mim morta.

— Será que ele teme que você conte tudo para as crianças do Formigueiro?

— Não sei. Se alguém tentar me matar hoje por ai, certeza que sim.

Oliver olhou com pena para Lince. Tudo aquilo era... deplorável.

O garoto já não estava tão limpo como antes e tinha suor ressecado pelo rosto. Estava com sua camiseta cinza, uma jaqueta preta de bad boy e calça jeans.

A porta de madeira do depósito de abriu. Lince hesitou, mas relaxou ao ver a imagem de um homem de meia idade passar por ela. Ele parecia ser inofensivo. O fato de não poder mexer o braço esquerdo a irritava. Caso precisasse fugir ou lutar, estaria em enorme desvantagem.

— Que bom que acordou – o homem disse aproximando-se dela. Lince hesitou novamente, mas Oliver olhou-a passando mensagem para ficar bem. O homem observou o curativo no braço – Está tudo bem. Caso volte a sangrar, precisaremos trocar as faixas.

— Não... – Lince disse seca, mas deu para trás e tentou ser simpática. – Obrigada pela ajuda toda, senhor, mas... Mas nós temos que ir. Muito obrigada, de verdade...

Lince levantou-se, pegou na mão de Oliver e se preparava para caminhar até a porta, mas o homem assustou-se de um jeito desengonçado:

— Não, crianças... Fiquem, por favor... Não precisam ir embora. É perigoso lá fora e... E você não está muito bem ainda. Fique e descanse, eu imploro...

— Não. Realmente, precisamos ir... – Lince insistiu. O comportamento do homem já a deixou alerta.

— Crianças... – ele abaixou a cabeça -, os negócios não vão bem e eu... E eu preciso alimentar minha esposa, meus filhos... Me perdoem...

Ele virou-se de costas e saiu pela porta, fechando-a. O barulho da porta sendo trancada desesperou Lince, que correu para tentar abri-la, mas não conseguia.

— Mas que droga! – ela gritou. Oliver tentou abrir também.

— Lince, me desculpa... Eu não devia ter aceitado a ajuda dele – o olhar dele era de completo medo.

— Não tem problema, Oliver. Tira isso da cabeça e derrube essa porta, pelo amor de Deus!

O garoto continuou tentando, mas era em vão. Ele parou e encostou a cabeça contra a madeira. Parecia estar chorando.

— Vamos, Oliver. Não é hora para fraquejar... - Lince aproximou-se dele e o puxou para o sofá. – Eu vou tirar a gente daqui.

Ela foi até a porta e bateu nela com força

— Moço – ela gritou tentando de comunicar com o homem. – MOÇO! Me escute! Eu tenho dinheiro aqui! Muito dinheiro... Nos deixe ir embora, por favor!

Esperou pela resposta, mas não houve nenhum som. Respirou fundo e esfregou as mãos no rosto e nos olhos. Tudo estava escuro quando tapou sua visão e rapidamente clareou-se quando abaixou as mãos. Claridade. A janela.

— Precisamos alcançar a janela.

Entusiasmada e atropelada, começou a puxar caixas e mais caixas para perto da parede onde ficava a janela - Me ajude, droga!

Oliver levantou-se e começou a empilhar algumas caixas, formando uma espécie de escada. Os dois adolescentes subiram nas caixas até alcançar a janela. Oliver deu uma cotovelada no vidro, estourando-o.

— Não é muito alto – ele disse olhando para fora da janela. – A janela dá para o telhado do primeiro andar da loja.

Ele ajudou Lince a sair primeiro e foi logo atrás. Andaram levemente sobre o frágil telhado da loja até alcançar a parte da frente. Lince olhou para rua. A fachada da loja estava loja abaixo dela. Havia um pequeno caminhão preto estacionado na frente, e o homem conversava com duas pessoas que saíram do automóvel. Elas estavam totalmente de preto, usando macacões largos. Exatamente como as crianças do Formigueiro descreviam. O corpo de Lince arrepiou por inteiro.

— A Patrulha tá aqui – ela disse com medo. Oliver foi até ela e olhou o caminhão. - Ele chamou a Patrulha pra pegar a gente... Caralho, mano, a gente precisa fugir. Agora!


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Notas finais do capítulo

Oh, fuck, the Patrulha is coming.



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