Depois de destrancar a porta e deixar o estranho ser de luz, Noriba, entrar, foram em direção à cozinha para fazer o ovo frito de Noriba. Quando, no meio do caminho (que era bem pequeno na verdade), Noriba percebeu que não sabia de uma informação importante.

“Qual seria o seu nome terráquea?”

“Miranda.”

“Que nome belo.”

“Ta me cantando? Porque se estiver já vou avisando que não vai funcionar não.”

“Cantando? Mas estou apenas falando, terráquea, mas se quiser que eu cante posso cantar!”

E começou a cantar uma música estranha a plenos pulmões. Miranda não gostou nada daquilo, ela gostava de silêncio e não de gente berrando músicas aleatórias em seu ouvido.

Chegaram na cozinha. Miranda tirou o ovo que ainda estava na frigideira, e enquanto pegava um outro na geladeira, se lembrou de um detalhe um tanto quanto importante.

“Meus pais, onde estão? Você não sumiu com eles, não foi?” - Ela deixou o ovo na pia, pegou uma faca numa das gavetas, a empunhou e foi em direção ao ser de luz, que agora, com um pouco de medo, não brilhava mais tanto.

“Não, não” - Ele levantou as mãos e acenou - “Apenas  nos transportei para uma dimensão paralela e te troquei com a Miranda dessa dimensão.”

Miranda estava confusa.

“Dimensão paralela? Achei que isso fosse só uma teoria.”

“Oh não, elas existem, milhões delas.”

“Ta, e onde estão os meus pais dessa dimensão paralela?”

Reparem no quão rápido nossa menina Miranda aceitou a existência de dimensões paralelas. Pessoas de mente mais fraca com certeza estariam à beira de um colapso neste momento. Ou talvez ela ainda achasse que tudo não passava de um sonho esquisito.

“Escolhi uma dimensão que eles não fossem estar em casa essa noite. Sou mais esperto do que pareço, sabia?”

“Nunca disse que não parecia esperto. Pois bem, me leve de volta, quero ir pra casa. Pra casa na minha dimensão.”

“Depois do meu ovo frito.”

“Ta, que seja. As coisas estão no mesmo lugar aqui?”

“Espero que sim. Mas seja rápida, andar entre dimensões e trocar pessoas entre elas pode causar um leve colapso.”

Miranda, que tinha acabado de quebrar um ovo na frigideira, parou e olhou para Noriba.

“Leve colapso?”

“Aham.”

“Se podia dar ruim por que você me trocou de dimensão então?” Por que não escolheu uma pessoa de alguma dimensão que quisesse ir com você salvar o planeta lá?”

“Isso faz tudo parte dos planos. Mas como eu disse, é apenas um leve colapso, nada demais. No máximo a gente não vai conseguir voltar. Devo acrescentar que sua versão desse universo, que agora está no universo que você estava ainda não deve ter percebido nada, e talvez nunca perceba. E se eu não tivesse mencionado nada, talvez nem você percebesse algo.”

Isso era muito para o cérebro de Miranda. O sono e a fome (ela não tinha conseguido comer seu sanduíche, lembram?) não deixaram ela entender tudo que o ser havia falado, mas como não estava com paciência para que ele repetisse, se concentrou no ovo que estava quase frito.

“Gema mole?” - Ela perguntou sem desviar o olhar do ovo.

“Meio dura, meio mole.”

“Como isso?” - Agora ela olhou para Noriba com cara de “ta me zoando?”

“Nem mole mas também não cozida.”

“Ok…”

Terminando o ovo, os dois se dirigiram até a sala de jantar para comer. Quando Miranda ia colocar a primeira garfada na boca, alguém bateu na porta.

“Era só o que me faltava…”