Acordei bem disposta visto que não tinha dormido bem noite passada, meus pensamentos insistiam na imagem de Rony sorrindo lindamente enquanto nos beijávamos. Infelizmente aquele beijo não nos confirmou que tínhamos algo, aliás, só tinha me deixado com dúvidas ainda maiores.

Nossos olhos sempre se encontravam durante as aulas, jantares e qualquer tempo que estávamos juntos. Um sorriso tímido brotava nos lábios de cada um assim que sentíamos os olhares sendo retribuídos. Harry já desconfiava do que poderia estar acontecendo o que o deixava muito feliz. “Pelo menos alguém de nós está feliz com tudo o que está acontecendo.” Fora o que ele me disse uma vez durante o jantar. Isso, particularmente me deixava triste e angustiada pela sua situação presente. Eu não queria o deixar desconfortável e muito menos com inveja pelo meu romance, digo, eu nem sei se eu estava em um relacionamento.

Tomei um banho e me vesti com o uniforme que agora estava mais justo, em vista dos anos anteriores, peguei meus livros e dei uma vasculhada na cama para ver se não tinha esquecido nada. Não, estava tudo aqui. E por fim saí para o salão principal.

Ele estava parcialmente cheio quando entrei, a maioria dos alunos presentes eram grifinórios e sonserinos, deixando o ar incrivelmente tenso pairando sobre o salão. Isso era normal, aliás, desde que Harry Potter havia entrado na escola, as rixas entre as casas aumentaram em uma escala considerável.

Harry, Ginny, Ron e Neville conversavam entusiasmadamente enquanto comiam seus mingais de aveia e bebiam chocolate quente. Sentei-me ao lado de Rony que delicadamente posicionou sua mão sob a minha fazendo carinhos suaves pelo meu dedo indicador. Sorri envergonhada e acenei para todos entrando na conversa.

— Com quem é nossa última aula? — Neville perguntou olhando para o lembrol pela terceira vez na semana.

— Sonserina. — Respondi torcendo o nariz, vi Rony revirar os olhos, gesto repetido por Neville. Harry porém, ficou entusiasmado por compartilhar a mesma sala que Malfoy na tentativa de descobrir alguma coisa. Bufei com raiva fazendo todos terem seus olhos voltados para mim. — Eu já disse, ele não é um comensal. — Falei um pouco alto. Os olhares das mesas ao lado me fizeram corar levemente. — Para com essa paranóia Harry. — Disse dessa vez em um sussurro.

— Qual é Hermione? Por que está defendendo tanto o Malfoy? — Rony indagou virando-se bruscamente na minha direção, suas orelhas passavam do branco para escarlate. — Até parece que gosta dele. — Ele terminou e saiu.

— Eu não gosto. — Sussurrei olhando em volta, buscando uma cabeleira loira e par de olhos cinzentos tempestuosos que eram presentes em meus sonhos.

...

As aulas transcorreram normalmente, como sempre, os professores não viam “descanso” como seus amigos, nos dando vários metros de pergaminho como dever de casa.

Durante o resto do dia Rony não quis me dirigir a palavra, o que me entristecia, agora que estávamos aparentemente bem, tudo desanda. Harry me dava olhares significativos demostrando que não sabia o que havia acontecido com ele. Decidi simplesmente não perguntar novamente e deixar as coisas voltarem ao seu devido lugar normalmente.

Segui sozinha para a aula de tratos das criaturas mágicas; última aula do dia. Harry estava ocupado resolvendo os assuntos com Dumbledore, e Rony, bom Rony decidiu simplesmente não ir a aula para treinar quadribol – já que os testes para o time estavam se aproximando – vários alunos ainda se encontravam no lado de fora da escola quando eu pisava fora do castelo. Minha respiração estava pesada e acelerada, atraindo alguns olhares em minha direção.

Senti um par de olhos me fitando mas me recusei a olhar, eu sabia quem era e eu não queria me iludir de novo com a profundidade daquela íris incomum.

Hagrid não demorou muito para chegar e nos conduzir até a floresta proibida, todos conversavam sobre o novo professor de Estudo dos trouxas que havia começado a lecionar.

Um vulto se posicionou ao meu lado, caminhando no mesmo ritmo que meus pés me conduziam, permaneci em silêncio, com os olhos voltados para o chão.

— Gato comeu sua língua Granger? — Ele, vulgo Draco Malfoy, me perguntava com um sorriso de canto.

— O que você quer que eu diga Malfoy? O quanto estou feliz por você estar aqui? — Perguntei irônica e retoricamente enquanto revirava os olhos. Para a minha surpresa ele respondeu.

— Isso é um bom começo. — Ele sorria verdadeiramente e voltou a olhar para frente. — Sabe, sempre achei você a garota mais inteligente daqui.

Eu parei subitamente e o olhei intrigada. Malfoy's não elogiavam. Draco Malfoy nunca me elogiou.

— Como é? — Perguntei apurando os ouvidos para ver se eu entendia melhor.

Ele se aproximou devagar, o grupo de alunos já caminhavam bem a frente da onde estávamos, dando uma vista quase imperceptível para o que for que iria acontecer em seguida.

Nossa aproximação era terrivelmente perigosa, eu sentia seu hálito fresco em minha nuca enquanto ele chegava perto do meu ouvido.

— Isso mesmo que você ouviu Granger. — Ele sussurrou, mordiscando levemente o nódulo da minha orelha. — Das bruxas da nossa idade você é a mais inteligente. — Ele voltou seus olhos para o meu e me proporcionou um breve selinho. Rápido, porém, significativo.

Ele apressou os passos alcançando os demais antes de olhar para trás e dar uma piscadela.

“O que foi isso?” Perguntei em pensamento totalmente intrigada com o que acabara de acontecer. Toquei os lábios suavemente, onde o mesmo havia me beijado.

...

— Boa tarde turma. — Hagrid começava enquanto eu me mantinha ereta na cadeira improvisada por troncos de árvores espalhados pelo chão. — Hoje vamos estudar os tronquilhos, eles são extremamente pequenos, o que impossibilita de ser enxergado se não estivermos atentos. Ele pode ser comparado com o bicho pau trouxa, já que ele é formado por troncos e gravetos. Ele pode ser encontrado facilmente no sul da Alemanha, oeste da Inglaterra e algumas florestas da Escandinávia. — Ele parou por um instante, tirando de uma pequena gaiola a criatura na qual se referia. — Ele pode ser inofensivo se não ameaçarem a árvore em que vive, caso contrário, pode ser muito perigoso para o lenhador. Ele se alimenta de insetos e sua natureza aparenta ser bem tímida. Ele é conhecido por criaturas que guardam árvores, semelhantes aos curupiras, criaturas encontradas no Brasil. — Ele prosseguiu e colocou a pequena criatura de volta na gaiola. — Agora quero que se sentem com colegas de casas diferentes e me entreguem um pergaminho e meio falando sobre curiosidades sobre os tronquilhos.

Eu suspirei e olhei em volta, ninguém se aproximava da onde eu me encontrava, balancei a cabeça me concentrando e voltei a olhar para o pergaminho para começar a fazer as anotações.

— Não achou que eu ia te deixar sozinha, achou? — Sua voz rouca me fez sobressaltar e o encarar, ele transmitia um ligeiro sorriso nos lábios me fazendo corar.

— Senta aí e cala a boca. — Falei rudemente.

— Calma Granger, só estava brincando. — Ele disse desapontado. Revirei os olhos e voltei a fazer meu dever.

Quando finalmente a aula tinha acabado, entreguei o pergaminho para Hagrid que me lançou um breve sorriso e comecei a guardar minhas coisas de volta na mochila.

— Granger?

— O que é?

— O Weasley não é pra você. — Ele acusou me fazendo olhá-lo profundamente nos olhos.

— O quê? — Perguntei sem entender.

Ele revirou os olhos impaciente e repetiu.

— O Weasley não é a pessoa certa pra você.

— Ora Malfoy, desde quando você sabe o que é bom para mim ou não? — Perguntei irritada o fuzilando intensamente.

— Espere e verá. — Ele finalizou e saiu andando ao lado de Nott e Zabini que o esperavam.

— Que patético. — Sussurrei lembrando de suas palavras “o Weasley não é a pessoa certa para você” ri debochando do que tinha acabado de ouvir e me despedi de Hagrid para ir para o castelo. Eu estava claramente irritada com o que Malfoy havia me dito, mas algo no meu coração me dizia que ele estava certo.

— Será? — Perguntei para mim mesmo.