Já passava das 10 da manhã quando Kankuro acordou, a casa estava silenciosa, em paz, seus pais haviam ido viajar, o irmão mais novo Gaara tinha ido acampar com o namorado. E ele deduziu que sua irmã havia chegado tarde de alguma festa que tinha rolado na noite anterior.
 Temari adorava festas, assim como sua melhor amiga Tenten, todo sábado arrumavam alguma festa para ir, Kankuro não entendia essa animação toda para estar em um lugar abafado com tanta gente que você não consegue nem se mexer direito, fora as luzes piscando sem parar, o que só de pensar nisso já fazia o homem ficar zonzo. Sem contar as músicas que tocavam, funk, Kankuro odiava funk, achava a batida e letra repetitiva.
 Ele desceu as escadas e viu que a irmã dormia pesadamente no tapete felpudo da sala com uma almofada embaixo da cabeça. Ele deixaria ela ali, Temari tinha o sono tão pesado que na última copa do mundo, mesmo com todo griteiro ela continuou dormindo. Ele olhou para o sofá e lá estava ela, Tenten Mitsashi, melhor amiga de sua irmã desde que Temari tinha 7 anos.
 A Mitsashi não estava diferente de sua irmã, a maquiagem toda borrada, os cabelos bagunçados e o corpo estirado de qualquer jeito, aquilo daria uma bela dor no corpo, pensou Kankuro.
 Ele observava a garota, haviam se conhecidos crianças, Kankuro era dois anos mais velho, tinha 23 anos e havia se formado em arquitetura no ano anterior. Trabalhava numa empresa perto de sua casa e essa era uma das razões de ter continuado morando com os pais e irmãos, e claro ele também adorava a companhia de sua família. Mesmo que agora isso fosse raro, já que Gaara vivia saindo com Lee, ou estava sempre na casa do namorado e Temari, assim como Tenten, vivia em festas e dormindo. Tenten tinha 21 anos e estudava jornalismo, a garota tinha uma animação que contagiava a todos e estava sempre sorrindo.
 Kankuro tinha que admitir, Tenten havia se tornado uma bela mulher, ia à academia ao menos três vezes na semana, coisa que Kankuro nem cogitava em fazer. Tinha o corpo torneado e um leve bronzeado, tudo nela parecia ser na medida certa e se encaixar perfeitamente naquela menina risonha. Era dona de uma beleza comum, mas ainda assim tinha muita beleza nos seus olhos e cabelos castanhos que antigamente ficavam presos em dois coques.
— Quer parar de me olhar. - Tenten falou de repente.
— Eu não estava te olhando. - Como ela sabia que ele a estava observando? Ela estava de olhos fechados.
— Ah tá bom então. Tá parado aí faz uns 15 minutos fazendo o que?
— Pensando.
— No quê? - Ela continuava com os olhos fechados.
— Para de ser enxerida Mitsashi.
— Eu não sou enxerida, sou jornalista, tenho curiosidade natural.
— Hum, já que acordou, quer tomar café comigo? - A garota abriu os olhos e sentou no sofá.
— Só se tiver Nescau, porque eu odeio Toddy. - Kankuro abriu um sorriso, a mesma Tenten de sempre.
— Sabe que a gente só compra Nescau por sua causa né?
— Sinto-me lisonjeada. - Ela falou acompanhando o rapaz até a cozinha.
— É verdade, todo mundo aqui toma café. Ninguém toma Nescau, mas sempre está na lista de compras "Nescau para a Tenten". - Ela abriu um sorriso com aquela fala.
— E quem faz essa lista?
— Geralmente eu. - Tenten arregalou os olhos com aquela afirmação, não achava que Kankuro faria isso por ela.
— Obrigada. - Ela falou o abraçando, fazendo o homem se sentir surpreso mas ao mesmo tempo querer continuar naquele abraço.
— Afinal, por que não foi pra casa? Você mora aqui do lado. - Ela franziu a testa com a pergunta.
— Esqueci a chave de casa, e meus pais me matariam se eu os acordasse às 4 da manhã para abrir a porta.
— Não acredito que ficaram até 4 da manhã numa festa.
— Ai Kankuro, só porque você parece um velho de 70 anos que só quer ficar em casa vendo televisão, não significa que todos sejamos assim.
— Eu não pareço um velho de 70 anos. - Ele falou ofendido. - Eu só não gosto de festas.
— E você já foi a festas? 
— Claro que eu já fui a festas. - Ela o olhou desconfiada.
— Kankuro eu te conheço desde meus 6 anos e nesse tempo todo nunca te vi saindo pra uma festa que não fosse de aniversário.
— Tá, tá bom, você ganhou. Eu nunca fui a festas.
— Então não diga que odeia.
— Posso não odiar mas sei que não gosto, música alta, luzes piscando, aglomeração de gente, pagar pra entrar, pagar pra beber. Não, obrigado, prefiro ir ao cinema ver um filme.
— No sábado à noite? - Ele assentiu. - Sozinho? - Assentiu de novo. - Você é tão careta Kankuro SabakuNo.
— Nem começa.
— Não entendo como você consegue ir ao cinema num sábado à noite, ficar sentada duas horas numa sala escura, Deus me livre.
— Talvez se você experimentasse gostasse.
— Digo o mesmo. - Ela rebateu. - Vamos fazer um trato.
— Ai lá vem você.
— Fica quieto e me deixa falar.
— Você devia me respeitar, sou dois anos mais velho.
— E eu sou a melhor amiga da sua irmã e uma das sua únicas amigas também.
 Kankuro parou para pensar, aquilo era realmente verdade. Temari sempre foi extrovertida, sendo assim a que tinha mais amigos dos três irmãos. Gaara era o contrário, era introvertido demais. Kankuro parecia ser o irmão do meio, porque tinha um pouco de cada irmão, apesar de ser o mais velho, não era introvertido mas também não era extrovertido. O único dos três filhos que não deu trabalho para os pais, Temari era muito rebelde sempre se metendo em encrencas desde nova, Gaara teve sua época de roqueiro em que até formou uma banda de rock com ensaios todos os dias fazendo a vizinhança chamar a polícia mais de uma vez, e Mitsashi era baterista da banda. O irmão mais velho foi o único que não inventou coisa pra cabeça dos pais, nunca estava metido em encrencas, sempre com as melhores notas e tinha amigos, mesmo que poucos e sim Tenten era uma delas.
— Okay, continue.
— É o seguinte, eu vou no cinema com você ver o filme que você quiser sem reclamar se você for a uma festa comigo.
— Tenten... Por quê eu iria a uma festa com você?
— Ai Kankuro, eu vou te convencer de que festas são legais e você vai tentar me convencer de que ir ao cinema num sábado à noite é legal também.
— Hum... Tudo bem, eu aceito. - A garota abriu um sorriso enorme com aquela afirmação.
— Sabia que toparia Kankuro SabakuNo. - Ela falou saindo sorridente e dando pulinhos. - Avisa a Temari que fui casa. - O rapaz assentiu e ela mandou um beijo com a mão saindo pela porta.
 Kankuro olhou para o balcão da cozinha, Tenten havia deixado sua xícara suja de Nescau ali, ele revirou os olhos, aquela garota não mudava nunca. O rapaz lavou a louça e foi sentar na sala para ver TV, sua irmã ainda dormia pesadamente e parecia que ia ficar um bom tempo assim. Ele deu graças a Deus que seus pais estavam viajando, porque caso eles tivessem encontrado as meninas dormindo na sala, o barraco estaria montado. 
 Ele pegou seu celular e viu que a última conversa com Tenten havia sido na semana anterior. Ela estava agradecendo por ele ter "salvo" sua vida. Ele abriu um sorriso ao se lembrar do acontecido.

Madrugada do domingo anterior:
 Eram 3 da manhã, e Kankuro já estava no oitavo sono quando o celular começou a vibrar e tocar na cômoda ao lado de sua cama. Ele conhecia aquele toque, a música Man! I Feel Like A Woman da Shania Twain ecoava pelo quarto. Tenten havia colocado aquele toque pra ela uma vez quando roubou o celular dele sem ele perceber, mas ele achava que a música combinava tanto com ela que deixou.
— Tenten são três da manhã. Eu tava dormindo, tenho que entregar um esboço de um prédio segunda de manhã e... - Ele parou quando ouviu ela fungando do outro lado da linha.
— Desculpa te ligar essa hora. - Tenten com certeza havia chorado, ele levantou em um impulso rápido da cama. - É que...
— Tenten, me diz onde você tá que eu vou te buscar. - Ele falou apoiando o celular no ombro enquanto vestia uma calça jeans.
— Rua das Flores, número 345, na frente da Night Night.
— Ok, tô indo aí. - Ele falou pegando as chaves de seu carro e saindo pela porta. - Vai falando comigo enquanto não chego.
— Tá...
— Cadê a Temari?
— Ela encontrou um cara aqui, um tal de Shikamaru. - Shikamaru... Kankuro conhecia esse nome, Temari já havia falado dele. - E daí ela foi dançar com ele, mesmo ele não querendo, e eu fiquei sozinha, você sabe que não me importo de ficar sozinha assim, eu sempre acho alguém pra conversar. - Aquilo era verdade, Tenten era extrovertida e simpática, ela sempre conseguia fazer novos amigos. - Daí eu fui dançar um pouco só que precisei ir no banheiro fazer xixi.
— Não precisava me dizer que foi fazer xixi. - Ele falou com um sorriso no rosto.
— Desculpa... 
— Relaxa, continua.
— Daí quando eu saí do banheiro um cara me puxou pelo braço e me levou pra um canto e começou a falar um monte de merda pra mim e... e ... - A voz dela ficou embargada, ela havia começado a chorar, Kankuro sabia.
— Calma, eu tô chegando, só mais esse sinal. - Ele falou e continuou ouvindo ela chorar e fungar, mas ele sabia que ela tinha assentido com a cabeça.
 Ele logo entrou na rua da boate e avistou Tenten parada na frente do lugar parecendo desolada, ela estava com a maquiagem escorrida e os cabelos bagunçados, e parecia estar com frio, mas ainda assim estava linda. Usava um vestido tubinho rosa com manguinhas e Chuck Taylors rosa, só a Tenten pra combinar um vestido daqueles com um All Star. Ela entrou no carro chorando, os cabelos soltos caiam sobre os olhos. Kankuro estendeu a mão no banco de traseiro e puxou uma jaqueta de couro que sempre levava por precaução.
— Toma, veste. - Ele falou e ela na mesma hora vestiu a jaqueta.
— Obrigada.
— Tenten... O que aquele cara fez com você? Por que eu juro que se ele te machucou ou te beijou a força eu entro lá dentro com você e quebro ele na porrada. - Um sorriso se formou nos lábios da garota.
— Ele tentou me beijar a força...  - Kankuro fez uma cara de raiva, os cabelos castanhos estavam bagunçados, pois ele não havia tido tempo de pentear, mas Tenten achou que ele estava um gato. - Mas eu chutei ele bem naquele lugar e dei um socão no nariz. Ele me chamou de louca e disse que ia me arrepender. E então eu te liguei. - Ele ligou o carro e começou a dirigir. - Sério, me desculpa ter te ligado a essa hora, não sei o que deu em mim, eu podia ter chamado um Uber mas na hora eu só consegui te ligar. Desculpa, se eu soubesse que tinha coisa pra entregar no seu trabalho não teria ligado.
— Ei... Relaxa, tá tudo bem, fico feliz que tenha me ligado. E eu dou um jeito no trabalho, ainda tenho tempo. Você tá com fome?
— Não tenho dinheiro...
— Eu pago pra você, mas não vai se acostumando.
— Meu querido, eu sou feminista acha mesmo que eu ia querer homem pagando coisa pra mim? - Ele sorriu com aquilo.
— Entendo, mas eu tô com fome e vou parar pra comer, e sei que você também tá com fome, então eu pago pra você.
— Ahhhh. - Ela resmungou revirando os olhos.
— Tenten não vou deixar você passar fome.
— Tudo bem, mas só dessa vez.
 Ele parou o carro no Subway, já que era o único lugar 24 horas que tinha por perto. Eles comeram enquanto ficavam conversando. Conversaram sobre tudo durante um bom tempo, Kankuro gostava da companhia de Tenten e ela gostava da companhia dele. Mas será que esse gostar poderia estar se tornando algo mais? Afinal, por que Kankuro ficou tão preocupado quando ouviu a garota fungando do outro lado da linha? Era óbvio que não gostava de ninguém chorar, mas será que se fosse outra pessoa ele sentiria a mesma vontade de sair correndo para acolher?