The Kostroma Dynasty escrita por Mialee Aurestelar


Capítulo 8
Pecados (In)Justificados


Notas iniciais do capítulo

Hello, people! Como vão?
Muito bem, mais um capítulo narrado pela Catherina e com uma participação do Nikolai no final ;) Espero que gostem!

P.S.: gente, eu juro que eu tentei me controlar, mas essa música de é tão boa e encaixava tão certinho... Meu coração de fã de Reign não aguenta kkkkkkkk.



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They all need something to hold on to

They all mean well

Pay your respects to society giving me hell

 

Scotland — The Lumineers

 

Olesya respirou fundo algumas vezes, tentando acalmar a revolta que sentia. Catherina devia estar fervendo de ódio, e ela assumira consigo mesma o compromisso de ajudar a Comandante a equilibrar-se. Não podia jogar mais lenha numa fogueira que já devia estar queimando em chamas altas.

Com cuidado, a caçadora abriu as portas da Sala de Comando. A cena que visualizou lhe causou um frio no estômago: papéis por todos os lados, canetas e livros pelo chão. Havia até mesmo cacos no tapete, de algo provavelmente delicado e caro que estivera sobre a mesa da czarevna. Era fácil visualizar a cena de Catherina jogando os objetos no chão, em um ato impulsivo de raiva. Pelo menos descontara em algo, não em alguém.  A czarevna, aliás, se encontrava de costas para a porta, agarrando a beirada da mesa. Seus dedos estavam brancos com a força que fazia.

— Catherina – só os muitos anos de convivência foram capazes de impedir Olesya de se encolher sob o olhar que a garota lhe dirigiu. Queimando, fervendo em ira.

— Onde eles estão? – foi a única coisa que ela proferiu, parecendo fazer força para não gritar.

— Eu te levarei até lá, assim que você se acalmar – Olesya tinha a sensação de estar tentando domar um animal selvagem prestes a pular em seu pescoço. Às vezes se acostumava à Catherina de bom humor e se esquecia de como aquela garota metia medo. 

— Me acalmar? – a czarevna se obrigou a abaixar o tom de voz, percebendo ela mesma o quão descontrolada devia ter soado – Não posso me acalmar, Olesya. Não consigo nem quero. Deveria eu mesma executar cada um daqueles merdas.

— Primeiro, arrume esse vocabulário quando for se dirigir a eles. Você continua sendo nossa superior. Segundo, você vai se acalmar nem que eu tenha que te imobilizar no chão e esperar.

— Olesya...

— Mostre alguma compostura, Catherina. Eu também queria estraçalhar cada um dos responsáveis por isso, mas não posso, e você menos ainda. Seja melhor do que eles.

Olesya observou a czarevna fechar os olhos e respirar fundo, lutando para controlar seu próprio temperamento inflamável. Quando voltou a falar, ainda estava visivelmente irritada, mas não parecia a ponto de explodir a qualquer instante.

— Estou calma – vendo o olhar de Olesya, se corrigiu – Tá, tá, estou menos irritada, não interessa. Me leve até eles.

Sem mais uma palavra, Olesya guiou Catherina até as celas no nível inferior do palácio. Sendo sincera, estava ansiosa pela punição que a czarevna aplicaria. Tinha a sensação de que a Comandante diria muita coisa que andara relevando.

*

O pátio em frente ao Centro de Treinamento dos Caçadores estava lotado. O grupo inteiro dos Caçadores da capital e arredores se reunira ali, todos, até o recruta mais recente. A maioria se encontrava em roupas comuns, visto que tinha sido uma reunião de última hora. A própria Catherina vestia um longo vestido dourado, em sua melhor versão “graciosa e bela”. Um olhar em sua expressão e qualquer ideia de levá-la menos a sério era completamente desencorajada.

Quando Catherina subiu no palanque improvisado – podia ver todo o pátio dali – não foi necessário pedir por silêncio, os murmúrios que tinham estado preenchendo o ambiente tenso pararam de supetão. Todos, até os mais inexperientes, entendiam que algo grave tinha acontecido.

Cinco pessoas se postavam logo à frente de Catherina, abaixo do palanque. Não eram seus companheiros de Caçada, esses estavam junto a todos os outros Caçadores. Não, Catherina estava ali, sozinha, com cinco Caçadores algemados a alguns centímetros de si.

— Há trinta e oito dias uma Caçada realizada pela equipe de elite capturou quatro dominadores de terra. Eles estavam sendo questionados por informações, com pouco progresso – a voz de Catherina cortava o ar, o único som naquele lugar. Estava usando de toda sua capacidade dramática. Aquilo era um espetáculo, uma demonstração de poder, e ela o faria com maestria – Na noite passada, Larisa Kulikova, Yulia Evonuk, Eugene Bogatyrev, Andrew Schipanov e Marco Faraday eram os responsáveis pelos bruxos. Na noite passada, as duas dominadoras foram estupradas e todos os quatro bruxos foram mortos, de maneira brutal. Os cinco são acusados e culpados pelos crimes.

O silêncio era incômodo. Os criminosos tinham baixado o rosto, numa tentativa patética de se esconder do olhar de todos ali. Esperavam que Catherina continuasse, desviasse a atenção que recaía sobre eles, quebrando o silêncio agoniante. Que sofressem. Aquela era a mais baixa das punições que receberiam pelo que tinham feito.

— Esse caso é extremo, mas sei de cada pequena infração que cada um de vocês já devem ter cometido, e continuam a cometer, já que não tenho provas de minhas acusações. Sei que extorquem não-bruxos sob a desculpa de protegê-los. Sei que pilham bens de dominadores que mataram, sei que violentam bruxas. Sei que se acham superiores e melhores, no direito de fazerem o que fazem.

O silêncio desconfortável passou a cutucar os Caçadores que, a princípio, pensavam que estavam ali só para assistir. Tentavam manter a expressão neutra, para não denunciar a si mesmos. Hipócritas.

— Sei que fora da capital a situação é bem mais caótica, também. Quanto mais distante dos meus olhos, mais o ego de vocês parece inflar. O poder subiu à suas cabeças. Pensam que se tornaram deuses, onipotentes e incontestáveis? Experimentem enfrentar sozinhos um dominador treinado. Não dou nem dois minutos para que estejam mortos, sem um único vestígio desse orgulho com que enchem o peito. Voltem a ler seus livros didáticos, voltem a entender o propósito dessa Caçada. Ou eu começarei a procurar pelas provas. Ou, melhor ainda, desistirei de esperá-las. Vou fazer como vocês e punir sem averiguar. Veremos quanto dessa Caçada sobrará depois que eu começar.  

Catherina se permitiu respirar fundo, deixando suas palavras se assentarem. Quase podia sentir os Caçadores tentando conter a agonia da consciência de cada uma de suas faltas. A czarevna não fazia promessas vãs.  

— Larisa Kulikova, Yulia Evonuk, Eugene Bogatyrev, Andrew Schipanov e Marco Faraday estão expulsos da Caçada, e destituídos de qualquer reconhecimento por alguma ação decente que fizeram durante seu tempo como Caçadores e serão presos, pelo tempo determinado a cada um de seus crimes.

Murmúrios de descrença surgiram. Catherina quase riu.

— Surpresos, hã? Não tenho um complexo de Deus, meus caros, serei justa – a próxima frase, porém, sibilou somente para os ex-Caçadores, a voz ríspida da ira que tinha contido até aquele momento – Mesmo que minha vontade seja matar cada um de vocês, desgraçados.

Alguns deles se retraíram com medo, outros a encararam num misto de vergonha e fúria. Que a odiassem. Daquelas pessoas não queria amor nenhum.

*

A noite tinha, finalmente, se tornado silenciosa. Nikolai voltava para casa, sozinho e cansado. Tinha ficado até o último instante, cumprindo seu papel de líder e amigo ao cuidar das pessoas em luto. Acreditava que o clima fúnebre se esvairia com o nascer do Sol, assim que voltassem às suas rotinas.

Nikolai estava surpreso. Não com as mortes, consideraram seus companheiros mortos desde o momento que haviam sido levados pela Caçada, aquilo era só uma confirmação. Estava surpreso com aquela situação inteira, que a cada segundo o deixava mais confuso.

Começara na manhã seguinte ao embate com os Caçadores, quando encontraram os corpos dos que haviam falecido em batalha intocados pelos animais da floresta, protegidos por uma barreira de destroços da luta.

Era-lhe completamente estranho esse tipo de cuidado por parte de Caçadores. Agora, tinham recebido os corpos dos bruxos mortos no palácio. Mal conseguia acreditar, para falar a verdade. Era uma atitude humana demais, preocupada demais para um Caçador. Nunca tinha lidado com os Caçadores de Elite, e as inconsistências estavam lhe dando dor de cabeça.

A experiência lutando contra a czarevna fora incomum. Nikolai sabia que era um dominador de terra excepcional, carregando, com certo orgulho, a morte de vários Caçadores nas mãos. Catherina, porém, tinha sido difícil. A garota não tinha um pingo de magia no sangue, bastava olhar para saber, mas era a guerreira mais habilidosa com quem ele já tinha se deparado, quase irreal. Tinha se esforçado para continuar a luta de igual para igual, pela primeira vez desde seus tempos de aprendiz. A czarevna, porém, não o tinha impactado somente pela força, mas pela maneira como conduzia a Caçada. Nada o convenceria que os corpos devolvidos e protegidos não tinham sido ordens suas. Ela esperara ser atacada pelos bruxos para ordenar um contra-ataque, um procedimento que Nikolai vira só duas vezes na vida, se recordava-se bem. Seus companheiros de equipe pareciam mais equilibrados, embora visivelmente mais letais que a maioria. Ela os controlava, lhes dava limites.

    Tudo isso só servia para confundir Nikolai. O rancor amargo dos Caçadores em seu coração continuava tão arraigado como sempre, mas não podia deixar de se perguntar... Se Catherina e seus Caçadores de Elite eram o que um Caçador deveria ser, livres da corrupção tão comum nos outros de sua “espécie”, então seu objetivo não era simplesmente exterminar bruxos, num crime de ódio e medo, como Nikolai tinha acreditado a vida inteira. Pela primeira vez, o dominador de terra se permitia pensar racionalmente sobre a causa dos Caçadores, e ficava claro que tinha algo, que não era de conhecimento geral, em que eles se baseavam para que se achassem no direito de fazer o que faziam. Algo que os colocava no lado dos heróis. Mas o que seria?

Precisava tanto de esclarecimentos. Talvez, na resposta às suas questões, estivesse a chave para findar aquele estado de guerra constante. Talvez...

Soubera que uma garota do coven de Anna fora escolhida. Sabia, também, que a pessoa que arquitetara toda a Seleção das Bruxas (era assim que estavam chamando o evento, embora lhe soasse um tanto tosco para um acontecimento tão definitivo para o futuro do país) de dentro do palácio estaria visitando as selecionadas a partir da manhã seguinte.

Tinha uma saída. A cidade de Anna ficava a seis horas de Loye. Teria que partir logo que o sol despontasse para chegar a tempo. Seria corrido, mas iria. Poderia ser sua única chance de obter alguma luz, uma indicação de que caminho seguir, ou, ao menos, compartilhar sua ideia com alguém que poderia fazer alguma diferença. Quem quer que fosse o dominador infiltrado no palácio, teria de falar com uma pessoa a mais antes de partir para a próxima cidade.

Com a viagem em mente, Nikolai saiu de sua letargia. Estivera encostado no batente da porta da sala o tempo inteiro, perdido em pensamentos. Agora, precisava agir com rapidez. Alguém teria de ficar no comando do Coven enquanto estivesse fora. Tinha de avisar Ivan para que cuidasse da cafeteria sozinho. Tinha que arrumar a mala, que, no caso, não via desde o Festival de Verão do ano anterior. Deuses, tinha tanto que fazer. Não dormiria naquela noite.

“A curiosidade matou o gato”. A frase ecoou no fundo de sua mente, num aviso. Quase conseguia ouvir a voz da avó falando a frase, ralhando com ele, condenando sua inquietude notável desde a infância. Sempre se achara mais inteligente que o tal gato, de qualquer forma.

 

 


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! No próximo capítulo já começam as apresentações o/ Vamos começar essa Seleção pra valer!



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