The Kostroma Dynasty escrita por Mialee Aurestelar


Capítulo 26
A Traidora - Parte I


Notas iniciais do capítulo

Oie!

Demorei mais do que eu queria, mas já é mais razoável kkkkk. Estava tentando escrever um capítulo grandão, mas estava ficando grande demais, então decidi dividir no meio. A parte dois sai logo, já está quase finalizada!

Vou finalmente contar o passado da Yeva, espero que gostem!



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“And if you're in love, then you are the lucky one

'Cause most of us are bitter over someone

Setting fire to our insides for fun

To distract our hearts from ever missing them”

Youth — Daughter

 

Elista não mudara muito nos últimos anos. Era uma das cidades que rodeavam a capital, mas não poderia ser mais pacata. A maioria das coisas continuava no mesmo lugar que Yeva lembrava: a padaria com o melhor bolo de nozes da cidade, as duas maiores escolas da região, competindo (quase) silenciosamente para decidir quem era a melhor, os apartamentos e casas que ocupavam o bairro em que ela morara. Certamente continuava uma cidade bonita, com mais floriculturas e estufas que o normal, abastecendo os lares e construções com flores o ano inteiro. O apelido “cidade das flores” não era à toa, afinal. 

Yeva observava tudo com um olhar sonolento, as horas de sono perdido começando a pesar. Tinha passado a noite pensando em que mentira seria capaz de contar para Damian. Não conseguiu pensar em nenhuma, então decidiu dizer uma meia verdade. Que, naquele ano, seus pais comemorariam 75 anos de casamento, e ela tinha tomado coragem para ir visitá-los, finalmente. Demoraria dois dias, talvez menos. E que estava bem, claro que estava, eles tinham morrido há tanto tempo que já se acostumara com o vazio no lugar que tinham ocupado um dia.

A verdade inteira era que, no dia 23 de agosto daquele ano, meses mais tarde, seus pais fariam 73 anos de casados, e não tinham o costume de fazer comemorações extravagantes nessas datas, não o suficiente para Yeva agir como se uma tradição importante de família fosse o que tinha lhe movido a voltar para sua cidade natal depois de décadas. Também não era o suficiente para que Yeva se sentisse mais saudosa do que apavorada. Mas Damian não sabia disso. Confiara nela tão plenamente que a Czarina se sentira mal pelo que estava fazendo. Mas que escolha ela tinha?

O lado bom era que sua meia verdade também continha a justificativa para seu desejo de discrição. Conseguira, assim, o luxo de poder usar um carro sem identificação, uma reserva quase secreta em um hotel local e compreensão geral do porque o fazia. Seus motivos eram bem menos nobres do que a vontade de ter privacidade em um momento tão sentimental, contudo. 

— Aqui está bom, Tatjana — disse para a motorista, quando percebeu onde estavam.

— Tem certeza, Vossa Alteza? Faltam quatro quarteirões até… — começou ela, mas Yeva a interrompeu.

— Tudo bem, quero andar um pouco — abriu um sorriso tranquilizador diante da dúvida no olhar da mulher — Conheço essa cidade com a palma da minha mão, não se preocupe. Não precisa esperar por mim, ligo assim que terminar. 

Ajeitando o capuz do casaco pesado, Yeva seguiu pela rua em um passo firme. Gostaria de terminar aquilo antes do anoitecer. 

*

Se Elista tinha mudado pouco nos últimos anos, a rotina de seus moradores também sofrera pouca transformação, para o alívio de Yeva. As ruas estavam consideravelmente vazias, e permaneceriam assim até por volta das sete da noite, quando os bares e restaurantes abriam suas portas para os grupos animados que ocupariam as mesas e cadeiras. 

Por enquanto, aquela parte da cidade era silenciosa. Sempre fora. E ficava cada vez mais quieta à medida que Yeva se aproximava de seu antigo lar. Sabia que seria como olhar para uma ferida aberta, terrivelmente fora de lugar. Aquele lugar não seria nada como ela lembrava, disso tinha certeza. Continuava tentando repetir para si mesma todos os cenários que tinha criado em sua cabeça ao longo dos anos, tentando se preparar. Suas mãos não paravam de tremer mesmo assim. 

Nada. Yeva assustou-se com essa realidade. Conferiu se estava no lugar certo, confirmando se eram mesmo as casas de seus antigos vizinhos. Eram. O espaço que sua casa tinha ocupado, porém, não carregava um único vestígio da construção. Em seu lugar havia uma pequena praça, com alguns canteiros, dois bancos e uma luminária dupla no centro. Era tão comum, tão natural, que chegava a ser absurdo. 

Tinha pensado que teria a ajuda da casa, mesmo que agora habitada por outras pessoas ou mesmo que abandonada e deprimente, para revirar suas memórias. Mas não. Agora ela era a única testemunha da destruição que tinha causado. 

Espantou as lágrimas, estava muito cedo para se afundar em culpa. Sabia que, quando começasse, não conseguiria mais seguir em frente. Com isso em mente, já ia continuar seu caminho para a próxima parada daquela jornada tortuosa, quando seus olhos captaram algo que fizeram dor e alívio encherem seu corpo. Afinal, se tinha uma coisa que as flores roxas escuras irrompendo entre as rachaduras do chão e as margaridas dos canteiros lhe garantiam, era que aquela praça tinha sido construída em um terreno carregado de lembranças, boas, ruins e trágicas. 

 *

— Se eu soubesse que eram ervas daninhas, eu não tinha plantado! — repetiu Yeva, tão frustrada quanto a mãe. 

— Isso não são ervas daninhas, são maldições — resmungou Alina, jogando um maço das flores roxas no lixo — E seu pai se recusa a comprar alguma coisa para matar essas pragas, diz que vai matar as outras plantas também. Ai, dai-me paciência!

Já estavam arrancando aquele mato de flores roxas há meia hora, procurando, como todas as vezes, não deixar nenhuma passar. Àquela altura já tinha virado uma tradição mensal. Estavam as duas suadas e cheias de terra quando terminaram. 

— Aposto que vão renascer daqui oito dias — comentou Yeva, batendo a terra das calças antes de entrar em casa. Ouviu uma risada irônica de sua mãe, já dentro de casa, botando água para ferver na cozinha.

— Tudo isso? Dou cinco dias para tudo começar a se encher de botões verdes — Yeva teve que concordar, as pragas pareciam crescer com mais velocidade e força a cada vez que as arrancavam. 

Era um fim de tarde agradável. As luzes da rua iam se acendendo à medida que o sol baixava, e era possível ouvir o barulho das pessoas voltando para casa depois de mais um dia de trabalho. Viktor, o pai de Yeva, deveria chegar logo também. Com Yeva de férias da escola e sua mãe tendo expedientes mais curtos na farmácia, acabavam tendo bastante tempo juntas. 

— Ah, foi dia de arrancar as pragas hoje? — disse Viktor, anunciando sua chegada. A terra revirada nos canteiros da fachada da casa não deixava muito mistério sobre isso.

— Infelizmente — respondeu Alina, virando a cabeça para aceitar o beijo de saudação do marido — Mês que vem fica por sua conta.

— Estou bem ciente disso — respondeu ele, rindo — Mas vou poder contar com uma ajudante, não?

— Ah, qual é! — reclamou Yeva, levantando os olhos das cenouras que cortava — Vocês podem revezar para ver quem cuida disso e eu não?

— Ossos do ofício, querida — respondeu o pai, dando-lhe um abraço rápido antes de seguir para o quarto — Quem plantou que colha… Ou nesse caso, que arranque.

Yeva se limitou a soltar um suspiro indignado enquanto os dois riam. Não tinha como argumentar contra aquilo. 

Mais tarde, jantando juntos, Yeva não pôde deixar de reparar na fartura da comida. Sua mãe era uma cozinheira excelente, isso era fato, mas naquela noite ela realmente tinha caprichado. De vez em quando sua mãe se inspirava mesmo, mas, por algum motivo, Yeva desconfiava que havia uma razão especial. Talvez fossem os olhares que seus pais estavam trocando, cada vez mais frequentes. Não precisou ponderar muito sobre isso, porém, porque eles logo lhe deram a resposta:

— Bom… Eu e sua mãe gostaríamos de conversar sobre uma coisa, Yeva — começou seu pai, um tanto nervoso. Ele parecia feliz, contudo, então a garota imaginou que não precisava ficar preocupada.

— Claro — respondeu, se ajeitando na cadeira — O que é?

— Veja, você vai entrar em seu último ano escolar, logo já vai estar adulta, pode até cursar faculdade em outra cidade… — sua mãe não parecia muito certa de como continuar.

— Se é sobre que carreira eu vou seguir, ainda não consegui decidir… Desculpem — Yeva nem tinha muita certeza do porque estava pedindo desculpas, mas disse mesmo assim. Não entendia onde queriam chegar.

— Não, não, não é nada disso — sua mãe se apressou a dizer — Ah… Vou direto ao ponto. A questão é que você já está crescida, e não vai precisar tanto de nós daqui pra frente. 

Yeva assentiu, esperando que continuassem.

— E, bem, você sabe que tentamos por muito tempo aumentar a família, mas as coisas nunca realmente deram certo — continuou o pai da garota. Agora ela começava a entender o rumo daquela conversa — Achamos que foi para melhor, pudemos criar você da melhor forma possível e estamos muito orgulhosos disso. Mas a vontade de ter mais um filho nunca foi embora, então achamos que agora possa ser a hora certa. 

— Estamos olhando as questões para a adoção faz alguns meses, e finalmente conseguimos a permissão — a mãe de Yeva não conseguia parar de sorrir enquanto falava — Mais algumas semanas e vamos poder trazer ele para casa… Mas precisamos saber como você se sente sobre isso. 

Yeva não precisava pensar muito sobre. Sempre quisera um irmão ou uma irmã. O que pesava mais, porém, era ter visto seus pais cada vez mais abatidos a cada tentativa que não dava certo, a cada gravidez que não durava. Tinha visto o suficiente para saber o quanto aquilo era importante para eles, logo, era importante para ela também. Não havia outra resposta além de abrir um grande sorriso, mas não grande o suficiente para o alívio que estava sentindo, e dizer:

— Minha única condição é ver algumas fotos do meu irmão hoje mesmo! Já tem a data certa de quando ele vem?

*

Luka era uma criança quieta. Às vezes parecia prestar atenção a tudo o que diziam ao seu redor, às vezes era absurdamente distraído. Era tão elétrico quanto qualquer criança de seis anos, e não era realmente tímido, tendo feito amizade com as crianças da vizinhança depressa. Gostava de ouvir histórias e, depois de se familiarizar com o ambiente, vivia encontrando coisas para fazer na casa. Tinha o hábito de passar pelo quarto de Yeva, como se para conferir que ela ainda continuava em sua mesa, estudando. No começo ela costumava tomar sustos, ao se deparar com aquela figurinha loira a encarando da porta, mas se acostumou depressa. Não demorou muito a entender que, apesar de quieto, Luka não gostava de ficar sozinho. E como era frequente que ficassem só os dois em casa por grande parte da tarde, ela passou a manter a porta do quarto aberta. Às vezes ele queria lhe contar alguma coisa, às vezes queria ajuda com alguma brincadeira que inventara, às vezes só queria ficar fazendo as coisas dele num canto do quarto. Geralmente acordava assustado depois de cochilar à tarde, e era um dos poucos momentos em que pedia colo para a irmã. Depois de um tempo, virou hábito que ele dormisse na cama de Yeva durante a tarde. 

Resumindo, Yeva precisou de pouco tempo para amar aquela criança com todo seu coração. Queria protegê-lo de seus pesadelos e ouvir cada historinha boba que ele contava. E se ela estava assim, seus pais estavam absolutamente encantados. Luka encaixou-se na pequena família deles sem esforço. Estavam completos e felizes. 

Essa paz começou a rachar pouco depois de um ano de Luka vivendo com eles. Alguns meses depois do aniversário de sete anos do menino, acontecimentos estranhos começaram a povoar o dia a dia da família. A princípio era tão trivial que ninguém acharia estranho. As janelas batiam com mais frequência e parecia sempre haver uma brisa muito leve passeando pela casa, mesmo com tudo fechado. 

Yeva não tinha certeza se foi a primeira a perceber, e não teve coragem de falar com os pais para confirmar. Passando um tempo considerável sozinha com Luka, foi inevitável começar a reparar em alguns padrões, em como o vento parecia estar sempre atrás do garoto. Com o tempo ele pareceu entender melhor como aquilo acontecia, criando redemoinhos de ar com as pequenas mãos. Parecia tão entretido sempre que fazia algo assim...

Yeva, por outro lado, tinha medo. Se sentia ridícula. Imagine, uma mulher de dezoito anos com medo de uma criança - seu irmão mais novo, ainda por cima - brincando com lufadas de ar. O problema era que, por que repetisse para si mesma o quanto estava sendo irracional, não adiantava. Aquele medo não tinha nada de racional, lógico.

Seus pais mal tocavam no assunto “bruxaria”, aquele temor eles não tinham lhe ensinado. Mas na escola… Uma de suas professoras do ensino fundamental, sra. Brantov, tinha gastado um tempo particular de suas aulas para discutir os bruxos. Era uma professora de história muito boa e muito querida no colégio, e isso só fazia suas palavras terem mais peso. Aquela senhora doce e extrovertida se tornava séria ao falar de suas pesquisas sobre o assunto. Falava sobre as experiências de seus antepassados, chegando a afirmar que tinha relatos da Guerra Civil, contando dos estragos que a magia de um bruxo era capaz de realizar. 

Uma das falas em particular tinha ficado gravada no cérebro de Yeva. Não fazia ideia do que tinha acontecido naquele dia, nem do por que tinham chegado naquele assunto, mas a memória de Brantov com uma expressão sombria, com um quê de raiva nos olhos era impossível de esquecer. Falava sobre como a magia tornava o ato de matar, machucar tão banal. Um movimento de mão e um bruxo poderia ser capaz de fazer o que quisesse e isso facilitaria crimes tão hediondos. Mesmo nessa época, Yeva questionara a validade de punir todos os bruxos por isso. Se nem todo não-bruxo era um assassino, porque eles seriam? Brantov não teve nenhuma dúvida em sua resposta: “poder corrompe. Em níveis e velocidades diferentes, mas eventualmente a moralidade cede. Carregando um poder tão grande e fácil de usar durante toda a vida, confiar na força de vontade de um bruxo não só é inocente quanto é perigoso, não acha?”. Yeva não soube argumentar contra isso.

Foram quatro anos, dos onze aos quinze anos de idade, escutando as opiniões firmes de Brantov entre lições regulares de história. Quatro anos ouvindo seus relatos, vendo as cartas e fotografias conservadas. Quatro anos cultivando um medo comum naquela nação inteira. Depois, no ensino médio, sob a tutela de outros professores, as ideias de Brantov nunca chegaram a ser contestadas. Em casa seus pais nunca ativamente lhe ensinaram algo diferente. A neutralidade deles e do resto fez com que Yeva não realmente expusesse as crenças tortas que tinha aprendido, mas elas continuaram ali, dormentes. 

Afinal, a bruxaria não passava de um rumor àquela altura. As ocorrências de covens eram baixíssimas, os Caçadores estavam fazendo mais um trabalho de prevenção do que qualquer coisa. Claro, a magia não tinha morrido. Eram rumores, não histórias nem memórias, o que queria dizer que ainda havia alguma coisa viva naqueles casos. Mas eram poucos, ou, talvez, poucos o suficiente para poderem ser abafados pela realeza e pelos Caçadores. 

Assim, era extremamente desconcertante se deparar com uma das fontes dos rumores vivendo no quarto ao lado. As brincadeiras inocentes de Luka evocavam um medo desproporcional em Yeva, era chocante o quanto daquele pavor ancestral ela absorvera enquanto crescia, entrando em sua mente em silêncio, sem alarde. 

Tentou se impedir de externalizar aquilo, contudo. Continuou cuidando de Luka, apesar de ter que respirar fundo toda vez que ele começava a brincar com o vento. Às vezes não era capaz de se impedir de dar um passo para trás e se afastar do irmão, porém. 

 Quando seus pais descobriram, a chamaram para conversar tarde da noite. Pelo jeito, bastante coisa acontecia longe dos olhos de Yeva, porque eles tinham várias notícias.

— Recebemos uma visita hoje — disse sua mãe, à meia-voz. Parecia nervosa, mas não tanto quanto Yeva esperaria com uma situação daquelas — De um líder de um coven da cidade vizinha. Disseram que podem treinar Luka. 

— Treinar para…? — Yeva conseguiu perguntar, seus pensamentos encontrando respostas muito sombrias para aquela questão.

— Controlar melhor seus poderes — o pai de Yeva pareceu perceber, naquele instante, que Yeva poderia não saber do que eles estavam falando — Luka é um bruxo dominador de ar.

— Eu sei.

Os dois a encararam, surpresos. Ela realmente fora a primeira a reparar, então.

— Há quanto tempo? — perguntou sua mãe.

— Por volta de um mês. Não sabia se deveria contar para vocês ou não — justificou atrapalhadamente — Mas o que responderam para o homem do coven?

— Que vamos deixar que treinem Luka. Disseram que podem ensinar eu e sua mãe algumas coisas para ajudar seu irmão.

Yeva não sabia o que dizer. Não que ter uma criança destreinada com poderes em casa fosse seguro, mas ligar-se com bruxos… Seriam criminosos. 

— Vocês têm certeza de que isso é uma boa ideia? E se Luka for… Se esse coven piorar a situação? — ficava tropeçando em suas palavras, incapaz de dizer o que estava sentindo: e se Luke fosse perigoso? E se o coven o treinasse para se tornar ainda pior?

Seus pais, contudo, entenderam suas meias palavras e sua expressão temerosa do jeito errado. Acreditaram que temia pelo irmão, não ele em si, e tentaram confortá-la.

— Vai ficar tudo bem, querida, só precisamos ser cuidadosos — disse sua mãe, a abraçando — Vamos ficar bem. 

*

Talvez tivessem ficado, se ela tivesse dito, com todas as palavras, o que estava sentido. Talvez, se tivesse brigado com os pais e despejado o medo para fora do peito, alguma coisa teria se modificado no destino deles. Talvez eles mudariam seu jeito de pensar, ou desconfiariam dela e tomariam mais cuidado ao seu redor. Mas nada disso acontecera, e a vida tinha seguido. Quem diria que o hábito de Yeva de reprimir emoções ruins teria um desfecho tão trágico. 

Num impulso, Yeva arrancou um punhado das flores roxas, juntando-as de um jeito que as fizesse parecer pelo menos um pouco com um buquê. Não queria chegar de mãos vazias em seu próximo destino.

O sol estava baixando e as ruas começavam a encher. Yeva não se preocupou muito com isso, seguindo seu caminho para um local que certamente não estaria cheio, não importava a hora do dia. Ninguém gostava de passar tempo em um cemitério, no final das contas.

  As lâmpadas ainda estavam começando a ser acesas quando Yeva passou pelos portões, incomodada com a meia escuridão. Nunca gostara muito do escuro, o que era terrivelmente irônico, considerando o tipo de poder que fora concedido ao seu filho. 

Afastou Aleksei de seus pensamentos rapidamente. Ainda não. Tinha uma família em que devia se concentrar no momento, e não era a que construíra com Damian. Além disso, pensar em Aleksei e em tudo que lhe causara era particularmente doloroso no ambiente e nas memórias que revisitava.

Fazia anos que não visitava o túmulo de sua família, na verdade só estivera ali no dia do funeral. Mesmo assim, o caminho até onde estavam enterrados estava gravado na memória de Yeva.

Viktor Moskvin, Alina Moskvin e Luka Moskvin. Os nomes se destacavam nas lápides ridiculamente sofisticadas. Alguém tinha lhe convencido, na época, de que seria uma atitude importante, investir em um mortuário rico para sua família e ela, desorientada como estava, tinha concordado. Olhando agora, ficava claro que fora um esforço estúpido. Não importava que tipo de pedra fora usada nas sepulturas se tudo o que indicavam era que Yeva nunca mais poderia vê-los. 

Engolindo a raiva, frustração e limpando as lágrimas do rosto, Yeva se abaixou para limpar a neve que se acumulara nas lápides. Pegou as flores secas ali depositadas e, depois de jogá-las fora, as substituiu pelas pequenas flores roxas em suas mãos. Um buquê simbólico para cada um dos túmulos. Tinha poder e dinheiro o suficiente para cobrir aquele lugar de guirlandas das mais exuberantes durante o ano inteiro, mas nunca conseguira se forçar a fazê-lo. Parecia muita prepotência, achar que resolveria alguma coisa exibindo sua riqueza. Aquelas ervas daninhas, mirradas contra a pedra e a neve, eram muito mais cabíveis. Yeva não tinha direito de lhes oferecer flores caras quando suas decisões tinham infestado a vida deles como uma praga.

 

 


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Notas finais do capítulo

Muito que bem, tenho alguns recadinhos.

Depois de pensar bastante, decidi fazer algumas mudanças para me ajudar a fluir na escrita. Não farei mais desafios, já que eles demandam que eu segure o enredo até o prazo de entrega, e não acho que isso vai funcionar nem para vocês nem para mim. As páginas no Tumblr não serão esquecidas, contudo, prometo algumas surpresas por lá!
Sobre os pares secundários, eles serão exatamente isso: secundários. Ainda estou estudando como vou abordar cada um, mas meu foco principal é no plot de cada selecionada. Tenho que admitir pra mim mesma e para vocês que, com o plot complicado que criei, tentar desenvolver as histórias individuais junto com um segundo par romântico é tentar abraçar o mundo. Vou tentar amarrar tudo bonitinho, mas peço desculpas se ficar meio raso.

É isso! Até o próximo capítulo!



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