Florescer escrita por Bruninhazinha
Notas iniciais do capítulo
Hoje eu quero dedicar esse capítulo a Princesa Mestiça, que fez uma recomendação incrível! Muito obrigada pelo carinho, de coração e fico feliz demais que tenha gostado tanto da história! A todos que estão acompanhando e comentando, também quero deixar meus agradecimentos! Espero que gostem!
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Dúvidas
Perséfone demorou para digerir a frase. Permaneceu atônita por alguns segundos, mirando os rapazes, esperando que algum deles anunciasse a pegadinha – o que definitivamente não ocorreu. Quando a ficha finalmente caiu, as sobrancelhas arquearam-se e a boca entreabriu em uma expressão chocada.
Ela continuou sem saber como reagir. Os dois irmãos, por outro lado, trocavam olhares, visivelmente incomodados, sabendo que haviam extrapolado a linha dos limites. Qualquer pessoa que possuísse apenas dois neurônios funcionais saberia que aquilo daria em problemas.
Tânatos foi o mais atingido pelos pensamentos. Culpado e cheio de remorsos, percebeu que precisava contornar a situação.
— Isso faz muito tempo. — deu uma cotovelada em Hypnos, fazendo-o assentir com a cabeça. — Você ainda nem era nascida. De qualquer forma, o relacionamento deles foi problemático. Durou pouco. No fim, decidiram seguir a vida e continuar a amizade. Foi melhor assim.
Ela não conseguiu responder. Sem opções, concordou com a cabeça, fingindo compreensão. O resto do tempo que passaram na sala pareceu se arrastar. A Morte e o Sono tagarelavam, tentando inutilmente entreter a jovem e, quem sabe, fazê-la esquecer as recentes revelações, mas a verdade é que ela sequer prestava atenção neles.
Perséfone sentia-se perturbada, estranha, de alguma forma. Estarrecida. Tão atônita que as informações pairavam diante dela, preenchendo a mente ao ponto de deixa-la zonza. Algo a corroía por dentro, algo no estômago, em seu âmago; na boca, havia um amargor horrível.
Francamente, não sabia o que era aquilo. Só tinha certeza de uma coisa: queria ficar sozinha, enfurnada no quarto, sem ninguém por perto – nem mesmo Hades.
Apenas ela e os pensamentos.
Limitou-se a passar os minutos seguintes concordando com a cabeça, soltando comentários eventuais e abrindo sorrisos nos momentos certos. Mas a indisposição, mesmo que bem velada, estava ali, bem no fundo dos olhos esverdeados, escondida pelo brilho vívido da juventude – algo que, surpreendentemente, não passou desapercebido pelo atento Hypnos.
Ao contrário do irmão, que andava de um lado a outro surpreso e maravilhado com a sala, Hypnos reparou como Perséfone pareceu esquisita de uma hora para outra. Apesar dos sorrisos muito bem treinados, algo no semblante austero e imperialesco o incomodou.
Percebeu, ao contrário do que imaginava até alguns dias, que Perséfone não era tão indiferente ao deus dos mortos. Estava visivelmente abalada.
Ele se compadeceu da garota. Suspirando baixo, tocou-lhe o braço, chamando a atenção dela. Os olhos verdes levantaram-se até o rosto masculino, curiosos, embora abatidos.
— Acredito que esteja cansada. — a voz soou baixa. Do outro lado, seu irmão continuava suficientemente afoito com a sala para reparar em qualquer um deles. — Acho que deveríamos ir.
— Melhor não. — desviou o olhar para o de cabelos escuros. — Tânatos está se divertindo.
— Seu bem-estar é mais importante. Ele pode se aventurar por aqui sem nós. Venha, — estendeu o braço de maneira educada, que foi prontamente aceito. — te acompanharei até o quarto.
Ela sorriu, agradecida, e o rapaz avisou ao irmão que a levaria até os aposentos. Tânatos assentiu, embora parecesse desapontado, mas o peso nos ombros da moça era tamanho que ela sequer chegou a se importar com a expressão desgostosa no rosto do deus da morte.
Foi guiada silenciosamente pelos corredores escuros do castelo. O vento que atravessava as janelas congelava seus ossos. O frio estava tão insuportável que o queixo de Perséfone tremia.
Percebendo que a deusa estava sem qualquer proteção, ele retirou a capa e a jogou em cima dos ombros pequenos. Ela o fitou ligeiramente surpresa com o gesto protetor.
— Fique com ela por enquanto.
— Obrigada.
Ficaram em silencio. O único som era o de seus passos contra o piso de pedra.
— Agora faz sentido.
— O que faz sentido? — ele arqueou uma das sobrancelhas.
— Hécate. — percebendo que ele não havia entendido, tratou de explicar-se. — Bom, ela me odeia. De certo pensa que, sei lá... — pausou. —... que talvez eu goste de Hades ou algo assim.
Ela encarava os próprios pés. Hypnos a fitava de soslaio, cheio de curiosidade.
— E você não gosta?
A pergunta a deixou desconfortável. Simplesmente deixou, sem que soubesse o motivo.
— É lógico que não. — a frase saiu afetada, talvez até um pouco bruta. O deus arqueou as sobrancelhas, ligeiramente perplexo com a reação exagerada. Constrangida, ela continuou. — Quer dizer — pigarreou, sentindo-se sufocada. —, eu gosto..., mas não do jeito que a Hécate pensa.
— Sabe, — coçou o queixo, vislumbrando algo no horizonte escuro. Ele diria algo que talvez fosse deixar Hades aborrecido, mas achou necessário. Aquilo estava se estendendo por tempo demais. Não faria mal algum deixá-la ao menos um pouco pensativa. — eu não me surpreenderia caso vocês se gostassem de outra forma.
Foi a vez de Perséfone o encarar com certa surpresa.
— Como assim?
— Bom, não sei explicar. Você e Hades combinam, acho. — suspirou. — Claramente existe uma química entre vocês, isso é inegável. Não seria surpresa para ninguém se você de repente, sei lá, começasse a gostar dele de outra forma.
Ela piscou sequencialmente, desacreditada com o que acabara de escutar. As palavras seguintes saíram sem que ao menos percebesse.
— É errado.
— Porque seria errado? — encararam-se. — Só porque Hades é o deus dos mortos? Ou porque ele tem fama de ser malvado? Qual é, — reprimiu uma risadinha, vendo como ela parecia incomodada. Era óbvio que estava tocando na ferida, ou em sentimentos escondidos. Hypnos considerava ser a segunda opção. — já passamos dessa fase. Você sabe que ele não é ruim como dizem ser. Hades está longe de ter mau gênio ou de ser um vilão. E você claramente gosta dele.
— Eu não gosto! — defendeu-se, os olhos levemente arregalados e a respiração pesada.
— Tem certeza? — ela não respondeu. Simplesmente não conseguiu. Apenas ficou lá, boquiaberta, encarando-o como se acabasse de ser pega comente algum crime ou coisa do tipo. — Chegamos. — A porta que levava ao familiar cômodo ao qual estava hospedada erguia-se diante deles. — Apenas pense no que conversamos. Tenha uma ótima noite, querida Perséfone.
Após despedir-se, Perséfone retirou a capa ao adentrar o cômodo. Teria que lembrar de entrega-la na manhã seguinte. Suspirando pesadamente, deliberou que seria ótimo tomar um banho antes de dormir. Preparou a banheira com os sais, despiu-se e mergulhou na água quente, sentindo os músculos relaxarem.
Embora o corpo agora descansasse, o que ocorria em sua mente era exatamente o contrário.
Não, ela não gostava de Hades. Com certeza não. Não podia. O que sua mãe diria caso soubesse de algo assim?
Céus, nem tinha o que sua mãe saber! Pelo simples motivo de que ela não gostava dele. Definitivamente não.
Não, não e não.
Céus, Hypnos até podia ser um cara legal, mas as vezes conseguia ser mais linguarudo que o irmão. Ele bem que podia ter ficado quieto, ao invés de plantar tantas dúvidas em sua pobre mente.
Encheu o pulmão de ar, pensando que era besteira se incomodar com algo nesse sentido. Hades era seu amigo – e fim. Nada mais, nada menos.
Estava plenamente satisfeita com isso.
E dane-se o que Hécate achava ou deixava de achar.
Respirou profundamente. Ah, Hécate.
A sensação incômoda mais uma vez invadiu seu âmago e a boca ficou novamente amarga. Perséfone podia dizer qualquer coisa, mentir o quanto fosse, mas uma coisa era certa: não estava nada feliz em saber que a deusa da magia já tivera um caso com Hades.
Isso não tinha como negar.
E só os céus sabem como ela queria.
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Eaí? O que acharam?