Os Fundadores escrita por Anne


Capítulo 3
Escócia


Notas iniciais do capítulo

Oie! Eu só ia postar esse capítulo no domingo mas como to super feliz com os comentários de vocês, vou liberar hoje! Espero que gostem!!



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''A bonita Ravenclaw das ravinas...''

 

Os dedos longos, finos e gelados corriam páginas e mais páginas de livros, dedilhavam pergaminhos e voltavam a se juntar, apertando-se. O suspiro pesado que saiu do peito de Rowena Ravenclaw se devia mais a um pesar do que cansaço, pois algo estava lhe chateando profundamente: Seu pai, o velho Rothad Ravenclaw, havia acabado de falecer. Ainda que por anos ele houvesse se negado a lhe ensinar o que quer que fosse além de feitiços muito simples, obrigando a filha a entrar escondido na imensa biblioteca durante a madrugada, lendo como se estivesse faminta, ele era seu pai, acima de tudo. Já faziam quase quinze dias que ele se fora, e mesmo que tivesse previsto por conta de seu estado debilitado, ainda sentia a perda. Rothad caíra de cama há quase um ano e meio e, se Rowena não tivesse sido petulante o suficiente para se educar sozinha, ele teria morrido muito antes disso. Certa vez, ela decidira lhe contar a verdade sobre as idas e práticas escondidas à que se dedicava desde muito nova.
— Que bom que criei uma desobediente. — A voz fraca dele dissera, após tomar uma poção revigorante perfeitamente preparada.
Estava profundamente chateada com a morte do pai, e em segundo lugar, sua tristeza não lhe permitia que conseguisse ler nem uma palavra. Sua mente vagava outra vez para os olhos azuis de Rothad e ela perdia a concentração do que quer que estivera fazendo. Não conseguia ler, não conseguia escrever, a única coisa que conseguia era sentar-se na escrivaninha do pai e passear os dedos pelo papel, se forçando à voltar ao seu estado natural. Era inútil, entretanto.
Para piorar, esperava ansiosa pela visita de Helga Hufflepuff: ela sempre a visitava, visto que Helga viajava bastante, mas fazia um mês que a cabeça loura não passava pelo batente da porta da casa de Ravenclaw. Sabia que ela teria o poder de animá-la, inventando alguma poção complicada para fazerem ou alguma planta mágica para desvendarem, mas não. Helga não estava lá e a impaciência a consumia tão intensamente quanto a tristeza.
Rowena soltou os livros e se levantou, bufando. Fitou o diadema da mãe, apoiado numa almofada de veludo. Edelinne Ravenclaw morrera há pelo menos cinco anos, perfeitamente saudável quando picou o dedo num espinho venenoso.
— Senhora. — O elfo doméstico da família bateu na porta e entrou, a olhando cauteloso. — Seu banho está pronto.
— Obrigada, Gathev. Pode se retirar. — Ela ouviu os passos do elfo se afastarem enquanto fitava a janela, na esperança de ver Helga caminhando pelo gramado, mas não havia ninguém.
Já despida e afundando na banheira quente, Rowena fechou os olhos. Helga era sua única amiga, por partido dela, pois Rowena sempre estivera tão de cara enfiada nos livros ou fazendo tarefas domésticas que não tinha interesse algum em conhecer pessoas. As pessoas, no entanto, a conheciam. Tão inteligente Rothad era, diziam o mesmo da filha pelas costas do pai. Depois que ele adoeceu, no entanto, mais ainda se falava da linda e brilhante Rowena Ravenclaw. Se lembrava de quando saia escondida para duelar nas tavernas bruxas, sempre vencendo os homens - que de início duvidavam dela - e fazendo todos prometerem que manteriam segredo sobre suas aventuras noturnas.
Até o dia em que conheceu Helga, enfurnada no canto de uma taverna bebendo cerveja amanteigada sozinha, os olhos brilhantes observando a todos com muita atenção. Quando Rowena venceu doze homens e vestiu a capa azul escuro para voltar para casa, Helga se aproximou, segurando a caneca entre as mãos e sorrindo gentilmente. A convidou para se sentar e passaram horas conversando. Depois disso, as visitas da sua amiga peculiar eram quase certas, uma vez por mês. Rowena sabia que nem sempre era porque Helga estava desocupada: ela sabia que era a única amiga de Rowena e não queria lhe deixar sozinha. Sabia que visitava os outros dois bruxos de quem muito ouvira falar, Gryffindor e Slytherin, e por isso sabia que ela se organizava para dar atenção à todos.
Sorriu, pensando no quanto admirava a amiga.
Levantou-se, torcendo os longos cabelos negros e jogando-os nas costas, que bateram em sua pele como cordas. Pegou sua varinha e a apontou para o próprio corpo, sentindo um vento quente secá-lo por inteiro. Colocou sua camisola e arrastou-se novamente para sua cama, afundando nos lençois e fechando os olhos, caindo no sono quase instantaneamente.

{...}

Rowena cutucava a comida no prato sem interesse, sob o olhar atento e preocupado do elfo Gathev. Há dias não conseguia se alimentar direito. Olhou para o elfo, vendo as orelhas dele se mexerem, captando algo que ela mesma não podia ouvir.
— Vem chegando gente, senhora.
Ela se levantou, caminhando à passos rápidos até a porta e a abrindo sem cerimônias. Helga vinha caminhando pelo jardim florido da casa, sorrindo largamente ao ver Rowena. Atrás dela, com uma roupa preta, vinha um homem alto e de feições sérias, que a analisava sem nem piscar. Enrolada em seu pescoço, uma serpente sibilava.
— Rowena! — Helga se jogou nos braços dela, abraçando-a apertado. Rowena devolveu o abraço, sem quebrar o contato visual com o homem e fechando a mente por precaução.
— Esse é o legilimente? — Perguntou, a voz quase rouca.
— Sim, esse é Salazar Slytherin. Salazar, aproxime-se! E não invada a cabeça dela, não é de bom tom, querido. — Recomendou, chamando-o com uma mão. Ele se aproximou.
— Não estava fazendo isso, Helga. Estava ouvindo Saeth falar. — Declarou, o rosto inexpressivo. — Salazar Slytherin.
— Rowena Ravenclaw. — Ela estendeu a mão e Salazar a segurou, levando até os lábios e depositando um beijo suave na pele. — Essa é uma mamba-negra?
— Sim. — Confirmou ele, olhando para a serpente em seu pescoço.
— E onde você conseguiu? Não são comuns por aqui. — Rowena analisava a cobra e seu comportamento estranhamente inofensivo, ainda que mantivesse os olhos negros em cima dela. Havia lido sobre essa espécie: era extremamente mortal e imprevisível, a mais perigosa serpente que se tinha notícia. A de Salazar media quase quatro metros e tinha a coloração escura que seu nome sugeria.
— Numa expedição africana. Consegui conquistar a confiança e lealdade de Saeth e a trouxe para a Irlanda.
— Por que não entram, senhores? — A voz do elfo fez os bruxos voltarem a atenção para baixo. Se Salazar continuasse respondendo as perguntas de Rowena, não sairiam dali tão cedo.
— Claro, claro. Entrem. — Rowena convidou, recebendo um sorriso doce de Helga, como de costume. Ela liderou os dois para dentro, na sala de estar, enquanto o elfo se certificava em fechar a porta. — Gathev, prepare chá para nossos convidados. — Disse, em voz alta, se acomodando numa poltrona e analisando Salazar e Helga sentados juntos. Era uma dupla estranha: ele não sorria e seu rosto era inexpressivo, mas ainda assim, muito bonito. Suas vestes escuras e a cobra de estimação contrastavam com Helga, que usava um vestido cor de creme e fizera uma longa trança em seus cabelos louros, enfeitando-a com flores. Eram como a noite e o dia, lado a lado.
— Salazar, não pode pedir para que Saeth saia para passear um pouco? — Pediu Helga, ligeiramente incomodada com a cobra que se inclinava para ela. Rowena e Helga assistiram quase assombradas enquanto Salazar sibilava para a cobra, que fechou a boca e encarava o dono, entendendo cada palavra. Então, ela deslizou pelos ombros dele e rastejou depressa para fora do campo de visão deles. Ouviram o grito esgoelado de Gathev, o elfo, mas logo tudo voltou a ficar em silêncio.
— Um ofidioglota. — Rowena disse, impressionada. — Pensei que não existissem mais. Você é filho de Serlo Slytherin, não?
— Sim. — Confirmou Salazar.
— Um grande mestre de poções. Meu pai... — Ela engoliu em seco, atraindo a atenção de Helga. — ...meu pai costumava encomendar muitas poções e ingredientes do seu pai.
E foi assim que a família Slytherin erguera seu império. Salazar, que tinha os talentos do pai para as poções, decidiu fechar o Empório e Boticário Slytherin quando a fortuna atingiu graus exorbitantes. As vendas triplicaram com as poções de Salazar, que eram ainda mais perfeitas do que as de Serlo. Vendeu todo o estoque a preços ainda maiores e confidenciou à clientes antigos que poderia fazer uma poção aqui e ali quando precisassem, claro, sem sair de graça. Era ali que a família de Ravenclaw tinha ligação com Slytherin, ainda que os dois herdeiros não se conhecessem: o famoso autor Rothad Ravenclaw não poderia ter escrito tantos livros e vendido tantos pergaminhos se não tivesse estudado as poções de Serlo Slytherin. Claro, ele não publicava somente sobre poções, mas sobre tudo um pouco. 
— Rowena, o que houve com Rothad? — Perguntou Helga, com a voz baixa e cuidadosa. O elfo vinha equilibrando o bule de chá numa bandeija com três xícaras prateadas e passou a servir a todos.
— Ah, Helga! — Suspirou ela, segurando as lágrimas. Salazar se levantou, educadamente, e disse que iria atrás de sua serpente. Quando ele saiu pela porta, Rowena se levantou e abraçou Hufflepuff. — A doença o consumiu de uma vez há quinze dias.
— E aquela poção que lhe ensinei, querida? Pensei que ajudaria. — Helga esfregava as costas de Rowena, que soluçava com o rosto enfiado nos cabelos louros da outra.
— E ajudou, sim! Ele foi embora em paz, sem dor. Me disse para continuar desfrutando da biblioteca e que se arrependia de ter sido tão cruel comigo.
Helga se manteve em silêncio, afagando a amiga enquanto ela ainda chorava. Se lembrava de quando o próprio pai morrera e entendia como Rowena se sentia, mesmo que Rothad fosse completamente diferente de Hadrian Hufflepuff. O pai de Rowena não permitia, de jeito nenhum, que ela estudasse; Hadrian incentivava muito Helga. Rothad era agressivo e já havia batido na filha algumas vezes; Hadrian jamais levantou o tom de voz para ninguém. Mesmo assim, Helga sabia que Rowena não era capaz de odiá-lo: procurava compreender seu lado e sua rebeldia com o que lhe acontecia se manifestava nas vezes em que fugia para duelar ou revirar a biblioteca do pai.
— Ele está descansando agora, Rowena. Deixe-o ir.
— Ou seja melhor do que ele. — Salazar havia voltado, sem a cobra, mordendo uma maçã distraidamente. — Ele não merece suas lágrimas. Vi o quanto foi ruim com você.
— Você! — Rowena soltou Helga e se virou, os olhos molhados se estreitando. — Você invadiu meu cérebro!
— Salazar! — Helga colocou as mãos na cintura, ligeiramente brava. — Não faça isso!
— Não foi minha intenção, Helga. — Defendeu-se, sem alterar o tom de voz suave. Fora sim sua intenção. — Senhorita Ravenclaw, se te ajuda, honre o nome dele sendo ainda maior do que ele jamais fora.
— O que te faz pensar que eu poderia chegar aos pés de meu pai, Slytherin? Ele podia ter tudo nas mãos e sempre me proibiu do conhecimento. Sei muito pouco. — Rowena parecia cada vez mais abatida enquanto falava, se desmerecendo de um modo que Helga jamais a vira fazer.
— Sabe o que te faz melhor do que o velho Ravenclaw? A ambição. — Ele se sentou na poltrona outra vez, a olhando com um sorrisinho de quem acabara de contar um grande segredo. — Se não fosse por ela, o teria obedecido da primeira vez em que ele te mandou ficar longe de sua biblioteca. Mas não foi o que fez, não? E posso apostar que devorou cada pergaminho que existe nessa casa. Seu pai, por outro lado, podia ter acesso ao que quisesse, então isso não despertava nenhuma curiosidade nele. E mais, seu pai se julgava o homem mais inteligente no mundo bruxo. Você não pensa assim e é o que te faz continuar buscando por mais. Rothad se limitava em sua arrogância. 
Rowena assentiu, sem discordar. Ele estava mais do que certo. Talvez o que a levara a se arriscar em tavernas durante a noite fora principalmente provar para si mesma e para o pai que podia ser tão boa quanto ele. E ela sabia que podia. Salazar Slytherin sabia perfeitamente bem como a cabeça de Rothad era, pois ainda se lembrava de Serlo se queixar do homem inúmeras vezes: era brilhante, sim, mas brilhantemente arrogante. 
— Eu não conseguiria contar quantos livros Rothad tinha. — Helga sorriu, passando os dedos por um cacho negro dela.
A casa dos Ravenclaw era um tanto menor que a de Slytherin, mas o mais impressionante nela era o segundo andar: ali se concentrava apenas a biblioteca de Rothad Ravenclaw, com livros estocados do chão ao teto e em todos os lugares onde ele poderia guardar. Em baixo ficava a casa, com pelo menos cinco quartos, duas salas e a cozinha, o que dá a proporção de quão grande a biblioteca era. O pai começara a lhe ensinar ainda muito pequena, com seis anos, feitiços simples de defesa e azaração. Quando ela se enjoou da simplicidade deles, implorou por mais e fora ali que as proibições começaram. Já aos nove anos ela aprendera a destrancar a porta da biblioteca e passava a noite inteira lendo, escondida dos pais. Aos dezesseis, já havia terminado de ler cada um dos milhares de livros que ali estavam e recomeçara tudo de novo.
— Isso nos leva diretamente ao que viemos fazer aqui. — Salazar voltou a falar, transfigurando o resto da maçã em um canário e o observando voar para longe.
Salazar! — Helga o olhou com advertência, fazendo-o rir. Rowena observou seu sorriso, achando engraçado que Helga podia arrancar dele uma risada: pensou que Slytherin não fosse capaz de tal ato, tão sério era.
— Desembuche, Helga. — Pediu Rowena, sentando-se outra vez. Como esperava, a amiga ruborizou, torcendo os dedos.
— Eu... nós tivemos uma ideia. — Começou, olhando-a nos olhos.
Nós não, você teve. Eu nem concordei ainda. — Slytherin interrompeu, apontando a varinha para o bule e fazendo-o subir no ar, despejando chá numa xícara que levitou até ele.
— Mas você está aqui, não está? — Hufflepuff o encarou.
Dessa vez quem ruborizou foi ele, o avermelhado nas bochechas indo e vindo tão rapidamente que Rowena não acreditaria se não estivesse vendo.
— Não te deixaria vir sozinha. — Resmungou, olhando para o fundo da xícara. Helga se virou para ela outra vez.
— Eu pensei, Rowena, que seria uma boa ideia fundar uma escola de magia. As caças de bruxas só crescem pois elas não sabem como se defender. Os maridos-
— Eu concordo. — Declarou ela, seu cérebro trabalhando rapidamente e montando cada aspecto da escola em sua cabeça.
— Concorda? — Perguntou Helga, surpresa.
— Absolutamente. É uma excelente ideia! — Sorriu largo, sentindo as bochechas doerem. Faziam dias que não sorria assim. — Como não pensei nisso antes?
— Simplesmente concorda? — Slytherin parecia chocado.
— Claro! É genial! Uma escola onde todas as crianças com sangue mágico poderão desfrutar de conhecimentos bruxos, sejam ricas ou pobres! Eles podem morar lá para aproveitarem bastante o estudo e-
— Espere um instante! Quem vai arcar com isso? — Perguntou Salazar. — Se não serão eles, quem seria?
— Bem, inicialmente seríamos nós. — Rowena deu de ombros. — Só aqueles que realmente não pudessem pagar.
— Sim! E mesmo aqueles que puderem arcar com despesas só serão responsáveis pelos próprios materiais, pois ensinaríamos de graça! — Disse Helga, igualmente empolgada e andando na direção de Rowena.
O que?! — Slytherin continuava sentado, olhando as duas com assombro. — Vocês não estão se ouvindo. — Ele balançou a cabeça, incrédulo, mas nem Hufflepuff e nem Ravenclaw o ouviam: continuavam tagarelando e sugerindo ideias para a escola. — Espero que Godric seja mais sensato do que vocês duas.

 


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Notas finais do capítulo

Oláááá!!!!
Tô imensamente feliz com o feedback de vocês, juro, quase chorei!! Fico contente que estejam gostando, eu fiquei bem insegura sobre postar ou não, mas que bom que postei, né?

Aí está a bonita Ravenclaw das ravinas! Está sofrendo um pouco, tadinha, mas tudo vai melhorar.

E aí, vocês acham que o Godric vai ser mais ''sensato'' do que elas? Hahahaha
Para os Grifinórios que estão lendo, no próximo capítulo vamos conhecer Godric! Com certeza o Salazar vai ficar feliz, ele não parece meio deslocado entre as duas? Hahahaha
Esse capítulo seria muito maior, mas precisei me controlar pra não postar uma bíblia aqui pra vocês. Sinto que a Rowena concordou de primeira por dois motivos: ela precisa se distrair do luto e claro, é uma escola! Ela vai amar ensinar! Qual a opinião de vocês?

Vejo todos em breve com o corajoso Godric ♥



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