jisei no ku escrita por wolfnir


Capítulo 4
4 — Somedays




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nos dias quotidianos é que se passam os anos

— millôr fernandes

 

Alguns dias a Morte lhe visita durante os finais de tarde e Atsushi larga suas ferramentas de jardinagem, limpa precariamente os pés sujos de terra e prepara um chá diferente a cada vez. Eles se sentam na varanda e observam o pôr-do-sol juntos.

Algumas vezes Atsushi adormece, cansado do dia, e quando acorda está envolto da manta que ele deixa jogada em seu sofá. Em outros, Dazai vai embora depois de lavar as xícaras de chá, dizendo que é o mínimo que pode fazer pela boa companhia. Atsushi sempre cora um bonito tom de cereja e sorri sem saber como reagir.

Em algum momento, as visitas mudam de uma vez por semana, para duas vezes e em horários diferentes a cada vez. Algumas noites Dazai aparece enquanto Atsushi prepara o jantar, cantarolando e dançando ao som de músicas de algum cantor americano.

Nessas noites, Atsushi sempre se surpreende e Dazai solta uma risada, achando divertido as reações do humano. O jovem suspira e simplesmente se volta para o fogão, acrescentando aqui e ali porções extras de ingredientes para tornar o jantar em uma refeição para dois. Dazai nunca comenta sobre como ele, um deus, não precisa realmente comer e aceita a comida caseira e quente de Atsushi com um sorriso maior que o costume.

Eles se sentam e comem, com perguntas aqui e ali sobre como foi o dia de cada um. Atsushi às vezes lhe conta sobre as pessoas na vila ou sobre como suas flores estão mais vivas do que nunca e Dazai sempre sorri, tentando lhe contar histórias sobre aventuras que viveu ao redor do mundo durante os séculos.

Ele sempre arranca um sorriso largo de Atsushi, as bochechas do menino pinceladas de um rosa de contentamento.

Outras vezes, quando Dazai passa dias sem visitar o menino mortal com um jardim bonito e dançante, ele acaba aparecendo na calada da noite, Atsushi já tendo ir dormir há várias horas atrás.

Ele sempre é silencioso em seus passos, sempre escolhendo se sentar em uma das cadeiras da cozinha e esperar o sol nascer. Dazai não pensa muito no motivo para acabar sempre visitando Atsushi ou o motivo para se refugiar de seus pensamentos na cozinha do menino. Ele sabe o motivo, mas Dazai nunca foi bom em reconhecer os elefantes metafóricos que o sufocam, preferindo guardá-los abaixo de suas ataduras.

Nessas noites, sendo tão silencioso como a Morte deve ser, Atsushi sempre acorda como se soubesse que a entidade divina tão temida pelos mortais está lá, sentado no breu de sua cozinha, olhando para o nada, com olhos escuros demais, insondáveis.

— Dazai-san…?

Atsushi é quieto como um gato, Dazai pensa, olhando para o menino em pé na entrada da cozinha, esfregando um dos olhos para afastar a sonolência. O deus olha para o mortal em silêncio, admirando a pele leitosa das pernas descobertas — o menino sempre dorme somente com uma grande camisa que o engolfa e o desnuda ao mesmo tempo — e as clavículas salientes que fazem uma curva bonita e pecaminosa na pele.

Atsushi é lindo, mas — mais uma vez — Dazai não fala nada e tenta manter esses pensamentos momentâneos secretos em uma parte escura de sua mente.

— Olá, Atsushi-kun. — Osamu o cumprimenta, com uma voz usada para falar do tempo, fazendo-se parecer algo tão imutável como sua função no plano divino das coisas. Atsushi o olha com seus tons de ouro e violeta se misturando com a luz do luar que entra e recai sobre sua figura etérea demais para algo tão finito.

Por algum motivo, quando ele o olha assim, Dazai sabe que o menino pode ver através de sua máscara, mas nenhum dos dois diz nada e Atsushi simplesmente acende uma vela e, em vez de chá, prepara café. O cheiro de grãos torrados se espalha pela cozinha e acalma Dazai.

Eles passam a noite acordados, olhando para as estrelas. Atsushi coberto por sua manta e uma caneca de café com leite o esquentando e Dazai somente com sua capa — negra, espinhosa e sufocante — o cobrindo e o lembrando do que ele é, de quem ele é.

Nenhum dos dois reage quando Dazai se deixa cair no colo de Atsushi, em um suspiro cansado demais para alguém que tem a imortalidade. Atsushi simplesmente larga sua caneca e deixa seus dedos — finos, calejados e amáveis — percorrerem os fios de cacau do ser divino, fazendo carícias que deixam arrepios gostosos em sua espinha.

Algumas horas depois, Atsushi para seus carinhos e sorri para a imagem deslumbrante que é Dazai dormindo, seus músculos relaxados e as sombras, antes tão nítidas, invisíveis mais uma vez.

O platinado sabe que o que atormenta o deus ainda está lá, escondido em algum lugar entre sua imortalidade e sua existência, mas Atsushi tem esperança que um dia essas sombras que engolem o brilho bonito dos olhos de Dazai não consigam mais distorcer sua realidade.

Por enquanto, tudo está bem. Atsushi pensa, bebendo o restante de seu café agora frio.

 

[Por enquanto.]

 


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Notas finais do capítulo

ah! dessa vez o autor da frase de inicio foi um brasileiro! eu queria achar um poema japonês que se encaixasse com o capítulo, mas existiam muitos e poucos realmente retratavam o que eu queria passar :(

eu acelerei bastante o relacionamento do Atsushi e do Dazai, eu sei jkd mas eu não quero que jisei no ku seja uma fanfic muito grande, então precisei fazer isso! espero que não tenha ficado muito apressado a coisa toda, minha intenção foi deixar as coisas fluírem sskjs

eu me sinto um pouco incomodada com as descrições que eu fiz do Atsushi nesse capítulo sdjhs sinto que sexualizei demais ou algo assim, mas na hora que escrevi isso achei que combinava com o capítulo, ah bem, se eu realmente o sexualizei demais por favor me avisem! quem sabe eu edito sdkjfs



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