jisei no ku escrita por wolfnir


Capítulo 2
2 — Caramel Flavored Tea


Notas iniciais do capítulo

eu disse que voltava rápido, rs. (mas olha, foi uma batalha quase impossível, a formatação do Nyah às vezes me faz passar cada raiva)

espero que gostem! :)



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folhas fragrantes, brotos macios. o desejo de poetas, o amor dos monges.

— yuan zhen

 

A Morte se apresenta como Dazai, Dazai Osamu, e Atsushi pensa que é um nome bonito para alguém como ele — lhe convém, porém é humano demais. O menino serve chá de hojicha, o cheiro suave e adocicado se espalhando pela casa e relaxando os ombros ainda tensos do humano diante da presença de um deus.

— Obrigado, Atsushi-kun. — A Morte, não, Dazai fala e o menino tenta não se surpreender em como o homem sabe seu nome, afinal a Morte sempre sabe o seu nome, mas as bochechas parecem ter sido pintadas com suco de framboesa e Atsushi sabe que Dazai percebe.

Atsushi se senta na única outra cadeira de sua pequena mesa de jantar, um lado encostada na parede que na metade se abre e deixa espaço para o platinado conseguir observar a sala e a varanda que se abre para a visão de seu jardim.

O jovem não é de levar tradições a sério, mas faz muito tempo que ele não recebe uma visita e, à sua frente está a Morte, então ele serve o chá em um chawan antigo que ele conseguiu resgatar. Os desenhos estão gastos e quase totalmente apagados, deixando para a imaginação de Dazai a tarefa de preencher as peças faltando.

Atsushi saboreia o chá, cantarolando levemente com o gosto de caramelo que enche seu paladar. Ele volta seu olhar para Dazai, querendo saber se o deus também está apreciando o chá. Os olhos de Dazai estão entreabertos, olhando diretamente para Atsushi enquanto bebe do líquido âmbar.

— Tem gosto de caramelo.

Dazai fala, os lábios estão levantados em um sorriso meio surpreendido, como se não esperasse aquilo, afinal ele viu o jovem mortal preparando a bebida e em nenhum momento viu Atsushi usar o dito doce.

Atsushi sorri, querendo rir, mas ainda se encontra muito nervoso com a presença de uma entidade divina sentado em sua modesta cozinha.

— Nunca provou chá, Dazai-san? — Dazai parece, mais uma vez, ser pego de surpresa, não esperando que a criança a sua frente — todos os seres mortais são crianças aos olhos da Morte — utilizasse tão rápido seu nome.

Não são muitos que fazem isso; que o tratam mais do que somente como uma entidade que vaga pela terra com uma foice e vestes tão negras quanto o breu de Yomi. Dazai sempre se diverte com a imaginação dos humanos, sempre buscando transformar ele, a Morte, em algo a ser temido, quando na verdade é só mais uma passagem, mais um caminho inevitável do ciclo daqueles que sangram vermelho.

Atsushi parece esperar a resposta para sua pergunta, mas Dazai não sente vontade de responder a perguntas tão triviais. O chá é bom e aquece a palma de suas mãos quando segura sua xícara, fazendo a ser divino se sentir tão humano quanto o menino de fios de luar e olhos de pôr-do-sol à sua frente.

Osamu cantarola, olhando em volta e percebendo, mais uma vez, aquilo que chamou sua atenção desde a primeira vez que apareceu. Do lado de fora da casa um jardim floresce e canta louvores de pura e simples existência.

O deus se levanta, carregando a xícara morna consigo e deixando um confuso Atsushi para trás. Dazai sabe que logo o menino vai se juntar a ele e as flores e ervas ao redor vão cantar ainda mais alto com a presença do humano. A flora sempre foi um tipo de vida sentimental, que prospera com amor e cuidado. Dazai pensa que é culpa de Koyou que, uma vez, amou demais em um tão curto espaço de tempo.

Dazai não pisa no jardim, ele sabe que se ele fizer isso a vida naquele lugar vai morrer e, por mais surpreendente que parecesse, Dazai não gostaria de magoar os sentimentos de seu anfitrião. Não era preciso muito para perceber como Atsushi se importava com aquele jardim.

— É um belo jardim. — Atsushi olhou para Dazai, observando o homem alto se sentar na pequena área de madeira elevada que separava a casa da visão estonteante a sua frente.

— Obrigado.

O platinado sorriu, tímido, mas contente. Atsushi nunca recebeu muitos elogios em sua vida ele podia contar nos dedos as vezes em que aconteceu, então receber um elogio sobre seu jardim sempre o deixava feliz, já que ele passava dias e noites cuidando de cada pequena pétala de suas flores.

Eles se sentaram, quietos, observando as plantas ao seu redor, bebericando de um chá já não mais tão quente, e apreciando a brisa perfumada que balançava seus cabelos como se o vento estivesse lhes fazendo um carinho singelo na tentativa de fazê-los adormecer.

Dazai nunca se sentiu tão em paz, em tantos séculos de existência.

 

 

São sete horas da noite quando Atsushi acorda de um cochilo inesperado durante a tarde, ao seu lado repousa uma xícara vazia e uma outra meio cheia com um chá tão frio quanto o sereno da noite.

À suas costas a única fonte de luz vem da cozinha e o platinado não se lembra de acendê-la. Ainda grogue de sono, com os membros pesados e relaxados, ele decide investigar a fonte de luz, na esperança de que sua mente ainda enevoada o recorde do porque estava dormindo em sua varanda no meio da tarde.

Tudo que ele encontra é bilhete em cima da mesa de desjejum, marcas negras no chão, em forma de pegada, e um cheiro de terra molhada e madeira queimada permeando o espaço.

Obrigado pelo chá e pela companhia, Atsushi-kun. É tudo o que diz no bilhete, em uma letra bonita e curvada de modo elegante enchendo o papel branco e simetricamente dobrado ao meio que se encontra pousado de modo despretensioso na madeira clara e arranhada de sua mesa.

As memórias vem em um tremular de cílios, enchendo a visão de Atsushi com a imagem de um homem alto, de seu casaco negro que gosta de bailar com o vento e de olhos bonitos que o lembram de chocolate ao leite. Doces, mas secretos, dissimulados.

A Morte o visitou, deixando para trás uma marca eterna no chão de sua cozinha e um chá frio com aroma de caramelo.

 

 


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Notas finais do capítulo

▶ vocabulário:
↠ hojicha (ほうじ茶): é um chá verde japonês. É diferente de outros chás verdes japoneses porque é assado em um pote de porcelana sobre carvão, enquanto a maioria dos chás japoneses é cozida no vapor. É caracterizada por ter um aroma caramelizado, não sei se realmente tem gosto de caramelo.

↠ chawan (茶碗): é uma tigela usada para preparar e beber chá. Existem muitos tipos de chawan que são usados ​​nas cerimônias do chá do leste asiático. A escolha de seu uso depende de muitas considerações.

↠ Yomi (黄泉): a palavra japonesa para caracterizar o mundo dos mortos na mitologia japonesa e no xintoísmo. Suas saídas são guardadas por criaturas terríveis e é aí que os mortos vão apodrecer por um tempo indefinido. Uma vez caído lá e alimentado no fogo ao centro de Yomi, a alma nunca poderá retornar à terra dos vivos.
Nesta UA, Yomi é uma parte do mundo dos mortos, é como um purgatório para almas condenadas (termo usado para mortos que tiveram uma vida cheia de pecados) que desejam renascer.

↠ Koyou: Nossa querida Ozaki nesse UA é uma representação das respectivas deusas: Hera/Juno, Deméter, Cibele e Amaterasu. Todas tem algo em comum que é a Criação e Fertilidade (não pensem somente em fertilidade feminina, vão alem e pensem também em fertilidade da natureza). Koyou é considerada a Deusa-Mãe. Seus filhos são: Chuuya, Dazai, Kyouka e Yumeno (o único deus, além de Dazai, que nasceu de um relacionamento entre Koyou e Mori).

a a a a! espero que tenham gostado do capítulo! eu tentei ao máximo descrever como é a casa do Atsushi, eu juro, mas eu sou péssima com descrições físicas fksdks então se estiver muito confuso, imaginem como uma mistura entre uma casa tradicional japonesa em uma escala menor e o jardim da Shiemi de Ao no Exorcist (eu realmente espero que isso tenha feito sentido jkfk).

[obs: o poema é chinês e descreve o preparo do chá, na Ásia o chá e seu preparo é considerado algo quase sagrado, é uma tradição milenar. mais uma vez eu tirei a liberdade de colocar tudo em letras minúsculas como parte de um aesthetic pessoal jdsfjk]



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