Encaro a tela do celular. Você sempre envia tantas mensagens. Por quê? Eu não tenho tempo para te responder. Não tenho tempo para ler cada palavra sua e lhe dar satisfações. Mas talvez tenha minha parcela de culpa. Se respondesse pelo menos um dos e-mails, você ficaria mais tranquilo. Se atendesse uma de suas ligações, poderia dizer que estou bem. Acontece que eu não quero ouvir sua voz. Eu não quero sentir a preocupação nela. Porque, se eu sentir essa preocupação, vou me sentir culpado por te machucar. Por isso, permaneço em silêncio, observando esse ciclo se repetir. E, como um paradoxo, as suas mensagens me confortam. Você ainda se lembra de mim.

Arrietty aparece de vez em quando para trazer notícias. Sua habilidade para encontrar novos olhos é admirável. Ela também sabe manipular as pessoas. É mais eficaz do que buscar meios de ameaçá-las ou suborná-las. Não gosto desse tipo de serviço. Faz eu me sentir sujo. Mas o encaro, pois estou lutando por algo muito mais importante que meu orgulho. São as lembranças deles... As almas deles, que não podem descansar enquanto os olhos estiverem nas mãos dessas pessoas perversas, desses canalhas! Eu vou juntar todos. Todos! É minha promessa.

Esta noite, não estou conseguindo dormir. Arrietty respira serenamente a meu lado, e eu quase sinto vontade de abraçá-la. É como se fosse uma irmã para mim e, ao mesmo tempo, é como se fosse muito mais. Eu me sinto confortável ao lado dela. Mas também me sinto confortável quando estou com você e com o Kurode. Gosto do cheiro da sua cama. Gosto das suas pantufas. Gosto do cheiro do café que prepara pela manhã, mesmo detestando essa bebida. Estar com você é como estar em um lar.