Vida de Trainee escrita por pawrkjimin


Capítulo 2
Primeiro mês


Notas iniciais do capítulo

Um mês se passou desde que Miyeon é trainee da SM Entertainment, uma das empresas mais famosas e cogitadas da Coréia do Sul. Será que as coisas estão fáceis ou ela estará enfrentando seus primeiros obstáculos.



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São quatro da manhã. Eu só queria dormir mais um pouco ao invés de ter que acordar cedo para me arrumar. E ainda, queimar o dedo por causa da chapinha é uma baita humilhação para meus talentos embelezadores... Termino de me arrumar rapidamente, sem nem tempo para colocar um curativo. Ao invés de tomr café da manhã, tenho que seguir a dieta de minha empresa, então apenas como uma maçã.

É inverno na Coréia do Sul e está tudo cheio de neve. Fico impossibilitada de pegar minha bicicleta, então esse vai ser o jeito. De qualquer modo, nessa época do ano, todos os trainees vão desse jeito. Vesti meu casaco grosso para não sentir frio no caminho e fui em direção ao metrô. Aproveitei a caminhada para ver minhas mensagens. Nossa, celular... Faz muito tempo que não vejo minhas redes sociais ou respondo meus amigos.

Para não ter problemas com minha empresa, tive que deletar todas as fotos do meu Instagram e só posso aceitar familia e amigos mais próximos nas redes sociais, que agora são todas privadas. Ou seja, sou um super-herói disfarçado. Pelo menos gosto de pensar assim, para não ficar triste por causa da privação que tenho. As vezes sinto saudades de ficar jogada na minha cama mexendo nas minhas redes sociais.

Chegando na estação do metrô, a fila está enorme. Desco as escadas rolantes já apertada pela movimentação, não sei se reclamo do cheiro ou agradeco pelo calor humano. Apesar de muito cedo, muitas pessoas trabalham longe, então acaba ficando cheio. Não gosto de lugares movimentados, então me encosto na parede e coloco o fone de ouvido para me distrair um pouco. A fila está cheia mesmo, então prefiro pegar o metrô seguinte do que ir apertada nesse.

— Está sonhando acordada? - Lucas tira meu fone de ouvido.

— Bom dia para você também. Estou tentando saber o que está acontecendo com o mundo. - Eu sorrio para ele.

Lucas pega o mesmo metrô na mesma estação que eu, somos os únicos que foram sortudos de morar perto da empresa. Saudades de quando não tinha neve e podíamos ir de bicicleta... Apesar disso, continuamos nos encontrando. Ele começou a pegar o metrô cedo quando eu falei que faria isso, então devo ser uma boa influenciadora.

— Rádio? Essa é a coisa mais sem graça que você poderia estar ouvindo. - Ele estava com o meu fone ouvindo as notícias.

— É bom se atualizar, sabia? - Eu puxei do ouvido dele.

— Tava brincando, desculpa. - Ele ficou sem graça.

Não queria ser mal educada, mas é complicado explicar o quão incomodada eu estava com a enorme concentração de pessoas naquele lugar. O metrô chegou e logo as pessoas entraram, o que me fez suspirar aliviada. Lucas não entrou, ele preferiu ficar ao meu lado sem nem tocar no assunto. Talvez ele tivesse percebido que o barulho e bagunça estava me incomodando.

— O que você fez no seu dedo? - Ele pegou na minha mão, me assustei com o movimento dele.

— Eu queimei com a chapinha. - Repondi.

Me senti idiota por falar isso, como já falei anteriormente, isso ofende meus dons embelezadores. Ainda mais por falar que estava passando chapinha... Não quero que ele pense que estou tentando impressionar alguém da empresa.

— Tome cuidado da próxima vez. - Ele abriu sua mochila e começou a mexer em suas coisas.

— Não vai se repetir. - Respondi, envergonhada.

— Deixe eu te ajudar. - Ele segurou minha mão mais forte.

 Lucas puxou um curativo de sua mochila e gentilmente passou pelo meu dedo, para não me machucar. Aquilo me surpreendeu muito, esse menino está preparado para tudo?

— O-obrigada. - Afastei minha mão assim que ele terminou o curativo.

— Eu sempre me machuco nos treinos, então ando com isso. Não quero parecer paranoico nem nada... - Ele riu, nervoso.

O segundo metrô chegou, dessa vez mais vazio. Eu entrei na fila e Lucas veio logo atrás de mim, novamente sem questionar. Não quero exagerar nem nada, com certeza ele deve ter seus defeitos, mas até agora ele tem se mostrado um dos meninos mais educados que eu já conheci. Não conversamos muito, só quando vamos para o treino, mas ele sempre foi tão gentil comigo.

— Pela sua cara não está muito boa a notícia... - Assim que o metrô começou a andar, ele tentou puxar assunto.

— Tinha esquecido que o tunel da interferência. - Suspirei.

— Quer ouvir uma música? Melhor do que o zumbido... - Ele olhava para o chão, pensando.

— Pode ser. - Tirei meus fones de ouvido.

Lucas olhou por um tempão para suas músicas procurando algo que pudesse me agradar. Ele gosta bastante de rock, e sabe que eu destesto. Então, ele tomou cuidado para colocar uma música que eu goste. No entanto, dessa vez ele acertou em cheio. Colocou "Some" do Junggigo com Soyou.

— Você me surpreende. - Eu sorri.

— Sabe como é, né? Tem que conhecer vários estilos musicais. - Ele se sentiu orgulhoso. Apesar de ser algo bobo, pareceu bem aliviado ao ter me agradado.

— Sim, não sabia que tinha músicas românticas no seu celular. Está apaixonado? - Eu brinquei.

— Só se for pela Soyou. - Ele riu sem graça, falando da integrante do Sistar que canta a música.

Ouvimos a música até o final e depois mais nenhuma. Estava perto da nossa estação e ele tem uma superstição de que não pode parar uma música no meio. O único motivo de eu saber tudo isso é porque nosso assunto principal sempre é música, já que é o sonho de nós dois. Fomos no silêncio pelo resto do caminho. Quando fomos descer, ele esperou eu sair primeiro e depois me acompanhou de lado.

— Está tão frio lá fora que, se não fosse pelo suor, estaria grato pelo calor humano. - Lucas fez cara de nojo.

— Pensei o mesmo mais cedo. - Eu fiz a mesma cara, e caímos na risada.

É uma curta caminhada da estação até o prédio da SM Entertainment, então fomos em silêncio. ApChegando perto do prédio, ele me deixou entrar primeiro. Comprimentei o segurança e a secretária, pegando logo o elevador para minha sala. Esqueci de olhar para trás e me despedir dele, só percebi isso quando saí do elevador para a minha sala. Espero que ele não me ache mal educada.

— Bom dia. - Entrei na sala cumprimentando Alex.

— Bom dia, trouxe café? - Ela estava jogada no chão.

Alex se tornou minha melhor amiga na empresa. Temos as habilidades bem parecidas, então acabamos treinando bastante juntas. Não que eu não fale com outras trainees, mas Alex e eu somos muito parecidas.

— Fala baixo, sabe que é proibido. - Eu ri do pedido indiscreto dela.

 

 

Entrei na sala e deixei minhas coisas no canto. Olhei por um instante para o curativo que Lucas fez em meu dedo... Droga, devia ao menos ter me despedido dele. Me olhei no espelho gigante e comecei a me alongar, enquanto isso Alex ainda estava jogada no chão fazendo drama. Ficamos em silêncio esquanto eu esticava meus braços, até ela fazer uma pergunta indiscreta.

— Miyeon, será que vamos morrer virgens? - Alex abraçou minhas pernas.

— Não seja dramática. - Comecei a rir.

— Mas é sério! Estamos proibidas de namorar agora e quando formos idols temos que pedir autorização da empresa... O que vou fazer? Será que meu primeiro beijo vai ser num drama? - Ela começou a gostar da ideia.

— Pensa, é bem melhor seu primeiro beijo ser com um ator lindo e famoso em um drama, do que namorar como trainee e ser expulsa da empresa. - Eu puxei Alex pelos braços, para que ela ficasse em pé.

— Tomara que eu faça um drama com algum trainee da SM, então. - Ela riu.

— De novo não... Para de pensar neles! - Dei tapas no braço dela.

Eu não me sentia tão incomodada quanto Alex. Eu sei que nunca beijei ou namorei, mas essa não é minha preocupação principal. O que eu quero, mais do que tudo, é ser uma cantora. Então, tanto faz se meu primeiro beijo for apenas por atuação.

Terminei de me alongar e coloquei uma música para dançarmos. Temos que apresentar semanalmente coreografias autorais, e escolhi ela como dupla. Escolhemos a música "1+1=0" da Suran com o Dean. É uma música muito boa pois as batidas são bem aparentes, sendo bem fácil de coreografar. E além disso, a melodia é bem viciante.

Treinamos a música uma vez, duas, três... Já comecei a sentir o suor aumentar. Alex dançava sem fôlego, mas não desistia. Eu estava focada, não parava de olhar para mim mesma no espelho. Parecia que eu estava dura, sem movimentos suaves. Quanto mais você treina dança, mais você percebe o quanto precisa melhoras. Já haviamos ensaiado a música seis vezes, quando paramos para conversar.

— Vamos tomar água, por favor. - Alex secava o suor de sua testa com sua blusa.

— Só mais uma vez e já vamos. - Respondi, um pouco tonta.

Estava tão cansada e frustrada. Fiquei ontem a madrugada inteira treinando essa dança para estar tão mal agora. Tenho vergonha de apresentar isso ao professor, treinei tanto para nada. As vezes eu sinto que minha dança não está mudando significativamente, e tenho medo de ser mandada embora por causa disso.

— Miyeon! - Alex me sacudiu.

— Que foi? - Olhei para ela.

— Você precisa comer! Está ficando branca. - Ela olhou para mim preocupada.

 

— Eu estou bem, juro. Vamos treinar mais um pouco e bebemos água, aí vou ficar ainda melhor. - Eu sorri tentando disfarçar, mas eu realmente estava sentindo um pouco de tontura.

— Se você não vai eu ou buscar comida então... - Ela saiu da sala.

Assim que ela bateu a porta eu levantei e peguei meu celular. Ah, que dor de cabeça. Coloquei play na música e ensaiei sem ela. Tentava me olhar fixamente no espelho, mas agora minha visão não era a das melhores. Eu sabia que quando visse uns pontos pretos estava prestes a desmaiar. Então eu só precisaria deitar no chão, esperar, e voltar a treinar depois.

Essas coisas podem parecer duras e graves, mas viraram parte do meu cotidiano. Não posso comer mais, pois estou sempre numa dieta eterna. Não posso parar de treinar, pois preciso ser perfeita. E se a empresa ver que eu não consigo cumprir isso, talvez não me achem apta suficiente para debutar. Então, em hipótese alguma eu podia parecer fraca.

Mas, pera... Aonde Alex foi mesmo? Meu Deus!

Agora que percebi o que está acontecendo, não posso deixar ela pegar comida para mim. E se algum professor ver ela trazendo comida para a sala de treinamento? Primeiro que isso é proibido e acabaria compromentendo a nós duas. Além disso, vão achar que não estou seguindo a dieta. Ah não, Alex como você é ingenua. Ela deve ter ficado tão preocupada que agiu por impulso.

Saí correndo da sala de treino e olhei para os lados, perdida no corredor principal. Ela deve estar indo para o refeitório e posso alcança-lá antes que compre algo para mim. Chamei o elevador e desci até o último andar. Ok, minha visão está começando a escurecer. Talvez não tenha sido a melhor hora para sair correndo, mas eu preciso ser rápida. O elevador chegou e eu saí correndo o mais rápido o possível. Felizmente era ainda muito cedo então não tinha muitos funcionários no caminho, para ver minha "graciosa" corrida.

— Miyeon, tudo bem? - Ouvi uma voz masculina.

Me virei para ver quem estava do meu lado, mas a virada foi tão bruta que foi a única coisa que eu vi, porque logo que ouvi essa voz caí no chão.

Acho que pior ainda do que ter caído, é saber que estava bem no corredor a caminho do refeitório. E que Alex devia estar agora mesmo voltando para me dar comida e se deparar com uma desengonçada esparramada pelo chão. Tomara que meus professores já tenham tomado o café da manhã, pois não queria que me vissem assim.

— Escuta... - Ouvi uma voz.

Quando fosse desmaia, ou simplesmente "apaga" por exaustão, os sentidos voltam aos poucos. Seja a visão, audição... Então, você se recupera lentamente enquanto várias pessoas de enchem de tapas e gritam para te acordar. É bem irônico, não é mesmo?

— Miyeon... Você... - Eu apenas ouvia algumas palavras soltas.

Tentei abrir meu olho, mas ainda não tinha forças para isso. Consegui sentir que alguém me segurava, então já me senti mais aliviada de não ter batido a cabeça no chão.

— Me escuta...? - Uma voz masculina me perguntou.

— Sim... - Me esforcei para falar alguma coisa.

Tentei novamente abrir meus olhos para ver quem estava me segurando. Era muito claro, então coloquei a mão na frente do meu rosto.

— Calma... - Ele tentou me acalmar.

Consegui abrir os olhos e pisquei várias vezes tentando me acostumar com a claridade. Tirei a mão do meu rosto e finalmente pude ver quem era meu "príncipe encantado".

— Tudo bem? - Hansol me perguntou, preocupado.

Ele estava ajoelhado no chão me segurando pelos braços. Não tenho palavras para descrever o quanto eu estava grata por ele estar lá justo naquele momento. Se não fosse por isso, eu estaria numa bela encrenca. Além disso... Nunca fiquei tão perto do rosto de um menino antes. Ele me segurava com tanta delicadeza...

— Desculpe. - Tentei me sentar.

— Eu te ajudo. - Ele ajudou a encostar minhas costas na parede.

— Muito obrigada, mesmo. - Eu coloquei a mão na minha cabeça, ainda estava bastante tonta.

— O que você estava fazendo? Tem que tomar mais cuidado. - Ele pareceu bastante preocupado.

— Eu estava procurando a Alex... Onde ela está? - Olhei em volta procurando por ela.

— Já mandei mensagem para ela, ela deve estar vindo.

— A quanto tempo eu apaguei?

— Dois minutos. - Ele riu e logo depois desmanchou o sorriso. - Mas foi o bastante para eu ficar preocupado.

— Ainda bem... Nossa. - Suspirei, aliviada.

Nem terminei meu suspiro já ouvi passos e gritos até nós dois.

— Você quer me matar de susto! - Alex se ajoelhou para perto de mim.

— Onde você tava? Fui atrás de você... - Respondi.

— Você está bem? Vim o mais rápido que pude... - Lucas estava extremamente preocupado.

— Ela está bem gente, só a pressão que abaixou. Ela precisa comer um pouco agora. - Hansol tentou acalmar os dois.

 

— Miyeon, sua doida. Eu falei para você esperar lá e você saí correndo desse jeito, quer me matar do coração? - Alex brigava comigo.

— Desculpa, "mãe". Eu achei que você estaria aqui no refeitório, por isso saí tão rápido... - Me desculpei.

— Eu não, fui chamar o Lucas. Você não me escuta, mas sabia que ele poderia ajudar. - Alex olhou para Lucas.

 

— M-Mesmo? Que isso! Não precisa incomodar ele quando essas coisas acontecerem... - Fiquei envergonhada.

— Não, Miyeon. Eu fiquei muito preocupado, sério. - Lucas estava olhando para baixo, tentando recuperar seu fôlego.

— Vocês vieram correndo? Meu Deus, não queria chamar atenção! - Me desesperei.

— A gente quase morre de susto ao não ter achar na sala e você tá preocupada com "chamar atenção"?! Sem palavras para você... - Alex suspirou.

 

— N-Não... É que eu não queria... - Respirei fundo.

— Miyeon? Está tudo bem? - Hansol segurou meu rosto.

— Está... Eu só quero um pouco de ar... - Me afastei deles.

 

Saí do meio deles e peguei o elevador. Eu estava tão frustrada... Tão estressada... Tudo estava dando errado. Estava prester a surtar... Era tudo que eu não queria, atrapalhar todo mundo por ser tão despreparada. Eu nem devia ter saído da sala. Ou melhor, eu nem devia ter preocupado Alex. Agora todos estavam preocupados comigo, estou atrasando tudo!

— Ei, calma. - Hansol segurou a porta do elevador.

— Eu quero ficar sozinha. - Olhei para baixo.

— Eu sei, por isso que vou ficar com você. - Ele entrou e a porta do elevador se fechou.

Me virei de costas para ele. Eu não queria companhia. Tudo estava dando tão errado. Ninguém entendia como era. Ninguém me escutava.

— Eu sei como você está se sentindo, eu já passei por isso. - Hansol falou, sem olhar para mim.

— Você não sabe o que é. - Eu respondi.

— Então o que é, Miyeon? - Ele tocou no meu ombro, tentando olhar nos meus olhos.

Mas eu já estava chorando.

— Meu Deus, está tudo bem? - Ele ficou preocupado.

A porta do elevador se abriu, era o professor. Só de olhar para os olhos dele senti meu corpo inteiro arrepiar.

— O que está acontecendo? - Meu professor perguntou.


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