Sentimentos Ao Contrário escrita por Deza Ikeuchi


Capítulo 8
Finais às vezes são necessários




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 Alice não soube dizer quanto tempo passou com Denise chorando em ombro daquele jeito, mas quando notou que as lágrimas pararam e a respiração da amiga se tornou mais regular enfim disse:

—Olha, sei que nos conhecemos a pouco tempo, mas se quiser falar comigo sobre o que tá acontecendo, pode ter certeza que eu vou estar ao seu lado e vou tentar te ajudar com o que eu puder, mas se não quiser falar nada comigo, por mim tudo bem também, só acho que faz bem poder desabafar, tirar o peso das costas, falar faz bem, mesmo que não seja comigo, sei que você tem amigas mais próximas que eu, e sei que elas são incríveis – disse pensando em Magali e Monica - e com certeza vão te ajudar, mas se não quiser também, a escolha é sua – falava calmamente enquanto ainda estavam abraçadas – só lembra que sempre que precisar de um ombro amigo pra chorar, eu não cobro aluguel para usar o meu – terminou brincando fazendo a outra rir.

As duas se desfizeram do abraço e embora ainda houvessem marcas de lágrimas no rosto de Denise ela sorria.

—Você me conhece há pouco tempo, mas mesmo assim foi a única que viu como eu to de verdade. Obrigada, por tudo – disse sinceramente - E se sinta honrada, é previlegio de poucos ver Denise chorar – disse fungando fazendo as duas rirem.

—Quer conversar? - Alice perguntou depois de alguns segundos de silêncio, ainda preocupada.

—Acho melhor a gente conversar na minha casa, não tem ninguém lá a essas horas mesmo, a gente vai ter mais privacidade, e além do mas vamos poder almoçar, to morrendo de fome, vamos? – disse lembrando Alice da fome que também estava sentindo fazendo seu estomago roncar com lembrança – Acho que isso foi um sim – respondeu Denise enquanto as duas voltaram a andar seguindo rumo sua casa.

Não havia mesmo ninguém na casa de Denise, a dona das maria-chiquinhas sabia que havia um prato de comida separado para ela na geladeira, pronto para por no micro-ondas e comer, mas preferiu abrir os armários e pegar todas as besteiras que encontrava nele para as duas comerem. Abastecida de guloseimas, Denise levou Alice para seu quarto para que pudessem conversar mais confortavelmente.

—Seu quarto é muito bonito – disse Alice reparando no enorme quarto de Denise, todo decorado com tema de emoji e com uma parede em estilo quadro negro onde tinha vários desenhos feitos de giz e frases de livros e filmes.

—Obrigada amiga, eu vivo mudando a decoração, não gosto de mesmice, você não tem ideia de quantas decorações diferentes você consegue fazer mudando pouca coisa, você só precisa saber oque fazer e conhecer a loja certa, e é claro que Denise conhece todas né amore.

—Você não tem jeito mesmo viu – disse rindo – mas me conta, oque tá acontecendo com você?

—Ai ami, é tão difícil ser eu. Às vezes acontecem tantas coisas ao mesmo tempo e eu me sinto perdida no meio de tudo – lamentou-se Denise. - Meus pais estão se separando – confessou. - O casamento deles já não ia bem tem um tempo sabe, sei que é o melhor pra eles esse divórcio, mas mesmo assim doí – disse com os olhos lacrimejando, mas não deixando as lágrimas caírem – meus pais já não dormem mais no mesmo quarto tem umas semanas, e agora meu pai conseguiu um apartamento em outro bairro, mais perto do trabalho dele para se mudar, e eu não sei como vai ser sem ter os dois aqui em casa todo dia.

—Eu sei como é ter os pais longes, como é conviver com a saudade, e eu conheço esse medo da mudança, mas a distância não altera em nada o amor que eles sentem pela gente, ou que nós sentimos por ele. Sei que essa é uma situação difícil, mas você pode contar comigo com oque precisar, e lembre-se sempre que, seu pai sempre será seu pai não importa aonde ele estiver morando.

—Obrigada Alice, você não sabe como ouvir isso é importante pra mim nesse momento – disse enxugando uma única lágrima que lhe corria o rosto. - A única pessoa para quem eu contei isso além de você foi a Carmem, e ela nem se importou, disse que era bobeira, pais se separam o tempo todo e que eu não devia fazer drama por isso. A única coisa que ela se interessava em falar comigo era falar mal dos outros, principalmente do Xaveco, depois que ela soube que eu gostava dele.

—Espera ai, você gosta do Xaveco?

—É… OQUE? NÃO! - disse balançando os braços espantada com as palavras que ela mesma falou. - Digo, é obvio que eu gosto dele, como amigo, assim como todos da turma – terminou tentando concertar oque falara.

—Eu até queria acreditar em você, mas a minha certidão de nascimento insiste em dizer que eu não nasci ontem, você gosta dele que eu sei – disse Alice enquanto Denise tacou uma de suas almofadas de emoji que estavam em sua cama nela, sem perceber que tacou a almofada do emoji com olhos em formato de coração, mas Alice não deixou isso passar despercebido, e logo usou a almofada para representar oque Denise estava sentindo, fazendo as duas rirem.

—Não dá mais pra negar né? Eu gosto dele, mas não conta pra ninguém, sei que ele também gosta de mim e se ele souber dos meus sentimentos vai querer me pedir em namoro, mas não estou pronta para namorar agora, não com tudo que estou passando, a separação dos meu pais, e… - parou a frase no meio, com um nó formando em sua garganta.

—E..? - insistiu Alice para que ela continuasse.

—E acho que eu perdi a minha melhor amiga – disse com um sembrante realmente triste – Eu e Carmem somos amigas deste a maternidade praticamente, sempre fomos muito próximas, ela sempre teve esse jeito de se achar melhor que os outros, por ser bonita e ter dinheiro, isso ate que era engraçado quando eramos crianças, mas agora vejo o quanto faz mal. Ela sempre menospreza todo mundo, se acha superior, eu admito que até eu faço isso um pouco, quando falo que os outros se vestem mal, mas nunca é no intuito de machucar ninguém, pelo contrário, eu quero ajuda-los a se vestir melhor, mas ela parece que se sente bem inferiorizando as pessoas. E quando ela fazia isso com os outros já era horrível, mas ela vem me tratando assim também, sempre me menosprezando, acredita que até falar mal do meu look ela já falou? Como se Denise absoluta errasse na hora de escolher o que vestir.

—Talvez conversando vocês possam resolver isso, afinal são amigas há muito tempo.

—Não dá Alice, eu já tentei, mas ela não me ouve, na verdade depois que eu falei com ela o comportamento dela piorou. Ela já sabia que eu sentia alguma coisa pelo Xaveco, e ela colocou a culpa nele por eu ter “mudado” o jeito como eu a vejo. Foi aí que ela começou a falar mal dele, e até inventou para o Jeremias que eu estava gostando dele e que eu só não ficava com ele porque não queria magoar o Xaveco. Ela sabia que eu tive um rolo com o Jerê há um tempo atrás, e usou isso só para me afastar ainda mais do Xaveco. Como eu posso ser amiga de uma pessoa que não respeita meus sentimentos, de uma pessoa que atrapalha a minha felicidade por puro capricho?

—Eu nem sei oque te falar Dê, principalmente porque eu não me dei bem com a Carmem desde que nos conhecemos, não quero te influenciar a deixar de ser amiga dela só porque eu não gosto dela, mas depois do que você me falou, acho que ela também não gosta de você, não de verdade, isso tá parecendo mais um sentimento de posse do que de amizade. Ás vezes as amizades acabam, e por mais que doa é sempre melhor o fim do que continuar com uma amizade tóxica, que nos faz mal.

—No fundo eu já sabia disso, já sabia que a minha amizade com a Carmem estava morrendo, mas perder uma amiga de longa data assim doí – disse Denise já não conseguindo mais conter as lágrimas. Quem já terminou um namoro sabe que machuca, mas perder uma amizade, essa dor sim quebra o coração.

Alice deixou que Denise deitasse em seu colo e chorasse toda a dor que estava sentindo. Ela conhecia Denise, sabia que assim como ela, depois que a última lágrima escorresse ela voltaria a ser aquela garota forte e determinada, e não se deixaria abalar, mesmo o seu mundo estando desmoronando, ela permaneceria firme. Antes mesmo que a ruiva dissesse qualquer coisa à ela sobre como estava se sentindo, Alice sabia que ela não estava bem, ela reconhecia aquele olhar que parecia impenetrável, mas que se reparasse bem, poderia enxergar a dor, ela mesma já encarou aquele olhar diversas vezes enquanto via sua imagem refletida no espelho.

Já era noite quando Alice se despediu de Denise e foi para sua casa o mais rápido possível, sabia que o irmão não gostava que ela ficasse até tarde fora de casa e ela preferia não contraria-lo, mas perdeu a noção do tempo quando estava conversando com Denise, que após desabafar, insistiu que ela passasse a tarde na sua casa para que pudessem ficar mais tempo juntas, já que as duas só se encontravam na escola, pois Alice raramente saía de casa, gastando todo seu tempo fora da escola estudando. Fora justamente por esse motivo que a mesma decidiu se dar uma folga naquele dia, e passá-lo com a amiga. Mas se espantou quando a mãe da Denise chegou às 20:00 horas em casa com uma pizza na mão, pois havia feito hora extra no trabalho não sobrando tempo para que pudesse fazer o jantar. Assim que notou que a noite já havia caído, Alice quis ir embora, mas tanto Denise como sua mãe insistiram para que ela jantasse com elas, alegando que Alice se arrependeria se fosse embora já que aquela era a melhor pizza da cidade.

Mesmo com todos os problemas que a família da Denise passava, havia sido um jantar divertido, e Alice pode perceber de quem Denise puxara aquele jeito tão descontraído dela. Após comerem, a mãe de Denise insistiu para que ela levasse Alice de carro até sua casa, mas Alice negou sabendo que o irmão não gostava de receber nenhum tipo de visita inesperada e podia se zangar ainda mais com ela por ter levado alguém para sua casa sem consultá-lo, e se a mãe da Denise não entrasse em sua casa, poderia ser ainda pior se seu irmão à visse chegando em um carro estranho. Agora ela só pensava no quanto foi burra em não ter ligado para o irmão para avisar aonde estava, mesmo com o celular desligado, graças a bateria que havia acabado no final da tarde, ainda sabia o número dele de cor e devia ter ligado, mas conhecendo o irmão como conhecia havia preferido evitar a briga que viria o máximo de tempo possível por ela ter saído de casa sem sua permissão. No final, não foi difícil convencer a mãe de Denise de que não precisava leva-la, já que não morava muito longe dali e o bairro do Limoeiro era conhecido por ser um dos mais seguros de São Paulo, então logo ela já estava correndo nas ruas tentando chegar em casa o mais breve possível, mas desejando que o caminho fosse mais longo, porque não estava nada ansiosa para enfrentar a bronca que seu irmão lhe daria.


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