Fazia quase um ano que Monica e Do Contra terminaram, ele ainda a amava, memo ela já estando namorando com o Cebola, no fundo, desde que terminou com ela DC sabia que ela e o Cebola logo estariam juntos, não que quando ela era sua namorada tivesse suspeitado da fidelidade dela, mas sabia que o Careca nunca perdera as esperanças, e agora sem ele no caminho, não haviam mais motivos que os mantivessem separados, afinal de contas depois que perdeu a Monica, o Cebola realmente mudou seu jeito de ser, ele melhorou pela Monica, não podia esquecer que fora o ex-Cinco fios quem salvara sua vida quando sofreu um acidente, se não fosse por Cebola, DC não estaria mais entre a Turma. Monica e DC ainda estavam namorando quando o mesmo foi atropelado, estava entre a vida e a morte, precisava de um tranfusão de sangue urgentemente, e por ter um tipo sanguineo muito raro, não havia reserva do mesmo no hospital, e foi Cebola, que mesmo não tendo idade suficiente para fazer a doação, armou mais um de seus planos infaliveis, e com a autorização de seus pais, conseguiu doar sangue para ele, salvando sua vida, mesmo sabendo que se morresse seu caminho estaria livre para ficar com Monica, mesmo assim ele o salvou.

Por estas e mais coisas Do Contra estava mais conformado com “novo” casal da Turma, porém não podia negar que ainda doía quando via os dois juntos, por isso ate hoje evitava passar os finais de semana com a turma, e este não seria diferente, mas este final de semana, ainda tinha um motivo maior para não se encontrar com os amigos, havia acabado de ser lançado a versão extendida, com os comentarios do diretor, do seu filme favorito, O Palhaço e a Panqueca. Ele não entendia como seus amigos não gostavam daquela obra de arte, este era simplesmente o melhor filme já criado em toda a história do cimena, o diretor havia conseguido captar o melhor do ator, que mais do que interpretar, viveu sua personagem de tal forma, que ate mesmo seu olhar contava a complexa história do palhaço, que refletia sobre os mais obscuros dramas da humanidade enquanto fritava panquecas. Do Contra já havia perdido a conta de quantas vezes assistira a este filme e mesmo assim ainda se surpreendia com algum detalhe que havia deixado passar daquele incrivel monologo.

Infelizmente, mesmo esta nova versão sendo um lançamento, não iria passar nos cinemas e foi lançado direto em DVD, embora DC adorasse a ideia de assistir a este filme nas telonas, ele já estava conformado com sua impopularidade, mas essa nem era a pior parte, a verdade é que só uma loja havia disponibilizado a venda do O Palhaço e a Panqueca, e ela ficava do outro lado da cidade, por isso acordara cedo em pleno sábado para ir busca-lo antes que a loja fechasse, ele podia muito bem pedir pelo filme pela internet, mas além de ter que esperar muito pela entrega, uma vez que o filme não estava disponivel online em plataformas que não fossem piratas, não gostava de coisas faceis, para ele quanto mais facil uma coisa era, menos graça ela tinha.

Por isso agora estava no meio de pratereiras cheias de DVDs procurando, pelo oque o atendente disse, o ultimo, e único comprado pela loja por engano, exemplar de O Palhaço e a Panqueca. Ele já havia procurado no minimo três vezes em cada prateleira, quando enfim o encontrou, um sorriso se abriu instantantemente em seus labios quando o achou, daqueles que você dá com as pequenas vitorias do dia a dia, e quando por fim foi pega-lo, outra mão se juntou a dele, assustado mas sem soltar as mãos do DVD, ele subia seu olhar lentamente, passando pelas mãos com unhas pintadas de preto, ao braço coberto por uma manga de um casaco, também preto, aos cabelos longos que lhe caiam por cima dos ombros, no rosto ela usava um oculos de grau redondo e trazia uma explessão que ele julgou ser a mesma que ele estava fazendo, um sorriso por ter achado o filme que ia se desfazendo ao ver que outra pessoa também o pegara.

Ele não pode deixar de notar o quanto ela era bonita, sua pele lisa e clara, era um pouco mais baixa que ele, e seus olhos que ele definitivamente não saberia dizer se eram pretos ou cinzas, mas o que mais chamou sua atenção, alem dela ter pego o filme que ele queria, era seu estilo, estava vestida toda de preto, mas nada muito sombrio, um all star, calças jeans pretas skinners, uma blusa preta com uma estampa de caveira, com um casaco por cima, trazia uma gargantilha simples em seu pescoço, e além dos oculos moldando o rosto, uma franja ali caia pouco acima dos olhos, usava também um boné igualmente preto, estava tão oculta dentro de tantas roupas que ate parecia estar se escondendo de algo. Ele a estava encarando e ao notar isso piscou algumas vezes para retomar a atenção, notando por ultimo que ela fazia a mesma coisa.

— Acho que você pegou o filme errado – ele disse, vendo que a garota não o soltava e já sabendo que quase ninguém sequer conhecia aquele filme.

— Esse é o filme O Palhaço e a Panqueca versão extendida com comentarios do diretor não é? - perguntou arqueando a sobrancelha.

— É – respondeu simplesmente.

— Então eu acho que eu peguei o filme certo – disse abrindo um pequeno sorriso.

— Você conhece esse filme de verdade? - caso a resposta fosse afirmativa, essa seria a primeira vez que ele encontra alguém que o conhece, sem ter sido ele quem o apresentou.

—Claro que conheço, é o meu filme favorito. E você, realmente sabe do que se trata o filme? - perguntou se lembrando das vezes em que garotos dizeram gostar de alguma coisa que nem ao menos conheciam só para puxar assunto com ela, mesmo ela não entendendo o porque faziam isso.

— É obvio, já perdi a conta de quantas vezes o assisti, e quando descobri que sairia a versão prolongada, com mais de 10 horas de duração fiquei tão animado que vim correndo compra-lo. Há uma parte no meio do filme em que o Palhaço deixa a panqueca cair, e então ele olha para a panqueca e fica em completo silencio, mas aquele olhar dele diz tanto, e depois ele começa a discursar sobre as mazelas da sociedade de uma forma apaixonante, mas sem esboçar nenhuma reação alem de microexplessões faciais, essa é sem duvida a minha parte favorita, e quero muito ouvir os comentarios do diretor sobre essa cena – DC falava com um brilho no olhar ao se lembrar de sua cena preferia, enquanto o mesmo brilho irradiava dos olhos da garota ao conhecer a primeira pessoa que realmente havia assistido a aquele filme e entendido o qual incrivel ele era.

— Essa é a minha cena favorita também, o diretor conseguiu tirar o melhor do ator, que por sua vez, fez muito mais do que interpretar, ele viveu o Palhaço de uma forma, que ate mesmo seu olhar contava a complexa história do personagem, e é simplesmente fantastico todas as discusões que ele levanta sobre tantas questões que afligem o ser humano, enquanto frita panquecas, todas as metaforas daquele monologo formam simplesmente a mais bela composição de toda a setima arte, e a cada vez que eu o assisto, sinto como se fosse a primeira, porque são tantos minimos detalhes, que me fazem enxergar coisas que eu ainda não tinha prestado atenção. O Palhaço e a Panqueca é simplesmente o melhor filme da história! - ela dizia, feliz e com um brilho ainda maior nos olhos por falar sobre o filme com alguém que realmente o entendeu.

— Eu acho a mesma coisa, parece que você leu meus pensamentos.

E assim eles conversaram sobre o filme da forma mais intusiasmada possível por horas, inclusive discutindo sobre quem compraria o DVD, nenhum dos dois queria ceder quanto a isso, eram realmente apaixonados pela obra. Estavam tão facinados em terem encontrado alguém que partilhava do mesmo gosto que nem notaram o tempo passando, e notaram menos ainda que suas mãos ainda estavam juntas segurando o DVD, sem que eles nem ao menos tivessem perguntado o nome um do outro.

Eles estavam tão imersos na conversa que não tiravam os olhos um do outro, essa conexão só foi quebrada quando o celular da garota começou a tocar em seu bolço, foi só então que percebeu que ainda segurava na mão do garoto, puxou suas mãos para si assim que notou isso por puro reflexo, ficando levemente corada com a situação, embora pela maneira que sentia seu rosto arder imaginou estar mais vermelha que um tomate.

DC também havia se assustado com a situação, mas soube disfarçar bem melhor que ela, assim que ela afastou as suas mãos ele desviou seu olhar dos olhos da garota e viu o percurso que as mãos dela faziam ao pegar o celular que tocava, foi quando ela estava com o celular na mão que notou duas coisas, a primeira era que não havia ninguém ligando para a garota, era apenas o alarme, que ela logo tratou de desligar, a segunda coisa era que já era meio-dia, eles haviam ficado mais de duas horas conversando sem sequer perceber, e isso o assustou.

— Er… An… Eu nem vi o tempo passando – gaguejou a garota ao notar o olhar de estando do DC ao ver as horas. - Eu preciso ir para a casa, já estou atrasada. E, hunm – ela parecia ponderar sobre algo e ficou em silencio por alguns segundos – me empresta seu celular – DC entregou o celular, já desbloqueado para a garota sem fazer nenhuma pergunta, apenas a observando com cara de interrogação, ela o pegou e após mexer um pouquinho em silencio o devolveu dizendo – Olha eu realmente não custumo fazer isso, mas eu salvei o meu número na sua agenda, já que você foi o ultimo que soltou o DVD acho justo que seja você a ficar com ele, além do mais não tenho mais tempo para brigar por ele, então depois de assistir me liga pra me emprestar ele. Agora eu preciso ir, tchau – antes mesmo de terminar sua ultima palavra a garota já havia se virado e seguido rumo a saida da loja.

Ele achou aquela garota intrigante e quando ela já estava de costas reparou de verdade em seus cabelos, e viu que embora longos eram da mesma cor que o cabelo da Monica, sua mente vagou nesse momento e se perguntou o que sua ex estaria fazendo nesse momento, mas logo balançou a cabeça tentando afastar o pensamento, era melhor não saber, decidiu por fim, indo finalmente em direção ao caixa da loja pagar pelo filme em suas mãos.

Foi indo em direção ao ponto de ônibus que ele a viu novamente, a garota com bom gosto para filmes, ela estava de costas para ele já subindo no ônibus, foi quando em milésimos de segundos decidiu que entregaria aquele dvd à ela, era tão raro encontrar alguém que conhecesse aquele filme, e fosse capaz de conversar sobre ele de igual para igual com ele, que decidiu presenteá-la com o mesmo. Saiu correndo em direção ao ônibus, que já estava voltando em direção ao transito, quando a viu sentada do lado de uma janela aberta, era seu dia de sorte.

— Ei – gritou, a fazendo se virar para a janela nitidamente assustada – Pode ficar com o filme, você assiste e depois me empresta. E não esquece de me contar oque achou antes que eu o assista, adoro spoillers – terminou a ultima frase gritando enquanto o ônibus se afastava, mas ainda assim conseguiu ver a garota sorrindo, agradecendo silenciosamente pelo gesto.