Os filhos do tigre escrita por Anaruaa


Capítulo 8
Descobertas - Anik




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Na manhã seguinte, acordei cedo e saí do meu quarto, descendo logo as escadas. Eu não havia dormido muito bem, custei a pegar no sono. 

Eu não parava de pensar em Radha e em nosso encontro no quarto de Kadam. Ela parecia saber tanto sobre a minha família, coisas que eu queria descobrir também. 

Eu tinha ficado apenas alguns minutos no quarto de Kadam, Radha me colocou para fora rapidamente. Eu havia encontrado um diário que fora de mamãe e reconheci logo sua letra. Eu o abri aleatoriamente e vi um desenho feito a mão, por ela, que sempre fora uma ótima desenhista. Era o desenho de um tigre, com os olhos azuis, muito familiares. Sob o desenho estava escrito: Dirhen. Eu estava olhando curioso para a imagem, preparando-me para virar as páginas do velho diário, quando Radha me chamou:

— Senhor Anik,o senhor não deveria ler isso sem a autorização da senhora Kelsey. 

Pensei por um segundo antes de responder:

— Você tem razão Radha. Vou colocá-lo no lugar. E por favor, não me chame de senhor. 

Ergui o diário para colocá-lo na prateleira, mas algo caiu lá de cima, uma foto. Eu me abaixei para pegá-la e fiquei impressionado com aquela imagem. Era a minha mãe, jovem. Seus cabelos longos estavam enfeitados com o que pareciam asas de borboletas. Ela usava um vestido fino, bordado de flores. Sua pele maquiada parecia brilhar. Ela parecia estar em um bosque, um lugar lindo. Sorri e comentei:

— Minha mãe parecia uma princesa.

Radha aproximou-se e olhou para foto, então respondeu:

— Apsaras Rajkumari. 

Depois que eu saí do meu quarto, fui à academia para me exercitar um pouco, mas ouvi vozes ao me aproximar dali. Meu pai e tio Sunil estavam treinando juntos e conversavam, enquanto giravam os bastões um contra o outro. 

— Essa história mexeu muito com Kelsey, não é?

— Mexeu sim Sunil. Ela quer remexer naquilo tudo, reviver toda aquela história. Depois de tudo superado! Para quê?

— Ora Ren, são memórias dela. De vocês. É natural que ela sinta a falta das pessoas e queira relembrar. 

— De quem ela sente falta Sunil? É isso o que me preocupa. Ela sente falta dele? Às vezes eu acho que ela nunca se conformou por ele ter ficado. Às vezes eu me preocupo que ela sinta falta do tigre. Ela o amava.

Sunil parou de girar o bastão e colocou a mão sobre os ombros de meu pai.

— O tigre era você! Sempre foi você. E é você quem ela sempre amou.

Saí dali sem ser visto, tentando entender aquela conversa. 

De quem eles estavam falando?De Kishan? Mas ele não está morto? E o que Sunil quis dizer com "o tigre era você?". 

Voltei a sala e encontrei minha mãe e Nilima conversando com Radha. Mamãe estava de costas para mim e segurava as mãos de Radha, parecendo estar emocionada:

— Você me levaria até lá Radha? Tenho tantas saudades. 

Radha sorriu, mas não lhe respondeu. Ela virou a cabeça em minha direção e seus olhos encontraram os meus. Então ela ficou séria enquanto nos encarávamos. Minha mãe virou-se para mim e tentou disfarçar:

— Oi meu filho. Não te vi entrar. Você estava treinando com seu pai?

— Não. Eu fui até lá, mas ele estava conversando com Sunil e eu não quis interrompê-los. — Respondi sério, sem sair de onde estava. — Aonde Radha vai levá-la? E por que meu pai parece tão chateado?

Radha pediu licença e saiu da sala. Nilima a acompanhou, deixando-me sozinho com minha mãe. Eu continuei:

— O que tem no quarto que foi do senhor Kadam para que ele fique sempre trancado? E porque Radha pode entrar lá? O que houve entre você e Kishan de verdade? Porque meu pai parece tão inseguro em relação a tudo isso? 

Mamãe apontou para o sofá, pedindo para que eu me sentasse, então sentou-se à minha frente.

— Meu filho, há tantas coisas que aconteceram nesta família, que vocês, crianças, nunca souberam. Não porque não pudessem saber, mas porque talvez não entendessem, ou não acreditassem. Radha me disse que você está pronto, então eu vou te contar tudo. 

— Radha? O que ela tem a ver com tudo isso?

Mamãe sorriu.

— Há muito tempo, quando eu conheci seu pai, um velho xamã da floresta nos guiou em uma missão mágica. Seu nome era Phet. Ele era um sábio da floresta, mas era muito mais do que aparentava. Eu nunca soube quem era Phet de verdade. Radha o conheceu. Ele a criou e a ensinou. Ela sabe tudo sobre nós. Sobre mim. Sobre seu pai. Sobre Kishan!

Mamãe tinha minha mão entre as suas e a apertava de leve, seus olhos cheios de lágrimas percorriam os meus e ela sorria emocionada. Então ela olhou para cima e parou de sorrir. Virei-me na direção em que ela olhava e vi meu pai, de pé, sério. Seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo e seus olhos pareciam queimar de raiva e de dor. Meus pais se encaravam em silêncio. Mamãe soltou minha mão e levantou-se.

— Ren!

— O que foi Kelsey? Você parece já ter tomado sua decisão, então não temos mais nada o que conversar.

Ele caminhou para a escada. Minha mãe avançou rápido em sua direção.

— Ren, não!

Eu estava assustado. Nunca vira meu pai daquele jeito. Eu nunca vira meus pais brigarem além de pequenas discussões rápidas. Meu pai parecia tão perturbado e eu não sabia o que aquilo significava. Ele parou e virou-se rapidamente para mamãe, que já o alcançava, segurando sua mão.

— Por favor Ren, não faça isso.

— O que você quer Kelsey? Não tem nada naquela cabana para nós! Aquilo acabou! Foi comigo que você se casou, não com ele! Porque você quer reviver esse passado agora? Você o quer de volta?

— Não! — Mamãe gritou com os olhos cheios de lágrimas, que desciam por seu rosto. — Para com isso Ren! Isto não tem nada a ver com Kishan! Kishan pertence a outra época! Ele é um Deus e pertence a Durga! Você pertence a mim e eu a você. Eu te amo!

Os olhos de papai se encheram de lágrimas e ele puxou minha mãe para um abraço. Olhei para a porta da cozinha e vi Radha me olhar. Ela entrou na cozinha e eu fui atrás dela. Sentei-me em uma cadeira e olhei para Radha, que continuou seus afazeres como se eu não estivesse ali. Finalmente eu lhe perguntei:

— O que está acontecendo Radha?

Ela me olhou com piedade, mas não disse nada, apenas virou-se e me serviu um chá. Então meus pais entraram na cozinha e me chamaram para conversar.


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