Um Verão em Boulder City escrita por Carol Coelho


Capítulo 17
Bônus: Sem Radar


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, o bônus de hoje (e narrado pelo Luke!)
Música: https://www.youtube.com/watch?v=Riu68sYRzMg&list=PL5O5Jpqx4BBQPg4YtpWq5NqXdLm-_rzlf&index=4



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Eu acordei me sentindo pesaroso naquela manhã sem motivo. Desde a tarde de sorvete com Aaron, Vanessa estava um pouco estranha e mal respondia às minhas mensagens. Porém havia combinado de me encontrar na padaria depois do meu turno. Pensar no trabalho me deixou animado, pois hoje eu testaria uma nova massa cremosa nos cupcakes.

Desci as escadas rapidamente. Aaron estava jogado na sala e minha mãe colocava a bolsa no ombro, pronta para sair de casa.

— Ah, oi, Luke — disse, sorrindo de lado. — Já estou indo, tá bem, pitchuleco? Qualquer coisa me liga — mandou um beijo no ar e abriu a porta, pronta para sair.

— Tá certo. Bom trabalho, mãe — falei e ela sorriu amplamente para mim antes de bater a porta e cair na rua.

Suspirei e rumei para a cozinha à direita. Ela era bem ausente, se ocupava o tempo todo com trabalho desde que havia se separado do meu pai, logo depois de Aaron nascer. Acho que nós a lembrávamos dele. Eu até gostava de ficar sozinho, me virava muito bem. Eu pegava os ingredientes para fazer minhas famosas Panquecas Collins quando Aaron entrou na cozinha com os olhos pesados de sono.

— Ei, camarada — falei. — Acordou tão cedo por que?

— Eu queria ver a mamãe — confessou, batendo a cabeça na mesa. — Ela nunca está em casa.

Pressionei os lábios. Parece que eu teria que ser o adulto da casa novamente e conversar com Diane sobre como as coisas provavelmente vão mal quando seu filho se força a acordar às seis da manhã em uma terça feira das férias de verão para poder ver a mãe.

— Ela só trabalha bastante, Aaronzinho — eu disse, misturando os ingredientes. — Não é culpa dela.

— Mas é chato — disse, ainda com a cabeça escorada no mármore frio da mesa.

— Eu sei — concordei, derramando a massa na frigideira aquecida. — Mas, ei, talvez mais tarde a Vanessa venha aqui — disse para o animar.

— A Vanessa? — Aaron levantou a cabeça no mesmo momento. — Será que ela topa assistir A Batalha dos Vegetais de novo?

— Ah, não, Aaron! A Batalha dos Vegetais de novo não! Escolhe um desenho diferente pra variar — revirei os olhos, virando a panqueca

— Que saco — reclamou.

Finalizei as panquecas e me sentei com Aaron para comer, tentando animá-lo. Quando terminamos, eu joguei os pratos na pia e corri escada acima para trocar de roupa, colocando o bom e velho uniforme marrom da Padaria do Don. Peguei meu celular, minha carteira e o rascunho da receita da massa cremosa. Sorri para mim mesmo no espelho e desci com a chave na mão.

— Estou saindo, Aaron — avisei. — Se cuida, molecote.

— Até mais, Luke. Traz docinhos pra mim!

— Pode deixar!

***

Parei a minha maldita van, que a partir de agora não tinha mais nome, na porta de casa e nem me preocupei em alinhá-la perfeitamente com o meio fio. Entrei batendo a porta e subindo os degraus de dois em dois.

— Lukesio? — a voz de Aaron me chamou. — Cadê meus docinhos? Cadê a Nessa?

— Ela não vem, Aaron — exclamei antes de fechar a porta do quarto com força e me jogar na cama.

— Quando ela vem? — ouvi sua voz abafada do outro lado da porta.

— Nunca mais, Aaron.

— Por que? — ele quis saber, batendo na porta.

— Porque sim, Aaron! As vezes as pessoas somem da nossa vida sem explicação! — gritei.

— Mas isso não é certo.

— Não é, mas acontece. Agora vai assistir seu desenho e me deixa em paz!

Ouvi seus passos descendo a escada e me senti instantaneamente mal. Eu não devia ter sido tão grosso, mas eu estava muito mal. Sentia meu corpo tremendo, querendo desabar em lágrimas, mas me contive. Eu não iria chorar.

A Vanessa apareceu na minha vida em um momento que eu realmente precisava de alguém. Minha mãe usava o trabalho para ficar longe de mim e de Aaron e eu não dava conta de dar toda a atenção que ele precisava. Ele gostou dela. Ela gostou dele. Eu gostei dela e ela de mim. Eu não conseguia entender o que eu tinha feito de errado. O filme daquela tarde de domingo passava na minha cabeça em uma eterna repetição enquanto eu buscava algum motivo para ela ter feito o que fez.

Eu me sentia o resto do suco da bosta. Eu não estava preparado para que ela fosse embora agora. Eu sabia que eventualmente o verão acabaria e ela deixaria Boulder City, mas eu havia me proibido de sofrer com antecedência. Ela havia concordado com isso. Estávamos tão bem em um dia. Como tudo foi de mal a pior tão depressa?

Lavei o rosto no banheiro de cima antes de descer a escada. A cortina estava fechada, deixando a sala escura. Eu me sentei ao lado de Aaron e corri os dedos pelo se cabelo.

— Desculpa por ter gritado com você — falei.

— Tá bom — ele resmungou emburrado.

— Eu também estou triste por causa da Vanessa, Aaron — falei.

— Por que ela não quer mais vir aqui?

— Eu não sei — respondi sincero.

— Você não pode deixar ela ir embora, Luke! — Aaron exclamou, se virando para mim.

— Por mais que eu não goste, eu preciso respeitar a decisão dela — expliquei, olhando em seus olhos.

Aaron suspirou frustrado e voltou a prestar atenção no desenho tosco que passava na tevê. Estiquei minhas pernas na mesinha de centro e me permiti chorar um pouquinho. Eu me sentia um torrão de açúcar derretendo lentamente em um chá fervendo de tristeza.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha gostado ♥ Nos vemos sexta que vem o/