O Dia Mais Importante escrita por Karina A de Souza


Capítulo 1
Infinitos


Notas iniciais do capítulo

E esse é o conto que encerra a série Um Sol Para Missy. Espero que gostem. É um pouco clichê para um final... Mas... É isso aí.



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Eu lembrava como se fosse no dia anterior.

Cheguei em casa tarde por causa da chuva que me deixou ilhada no centro. Quando entrei, Missy estava enrolada no sofá, agarrando uma caixinha vermelha e Lua ao lado dela.

Cobri Missy, com pena de acordá-la. Ao tirar a caixinha dela, acabei deixando-a cair no chão, fazendo com que abrisse sozinha. Aí eu congelei no lugar, sem reação.

Não era só uma caixinha, era um porta aliança.

—Ah, Sol. -Missy murmurou, sentando e esfregando os olhos. -Você chegou. Tenho... Uma coisa... Hum... Onde eu coloquei?

—Procurando isso?-Entreguei a caixinha.

—Você viu?-Assenti. -Bom... Lá se vai o elemento surpresa. -Rimos. -Então... Sol... Como os humanos fazem isso?

—Eu aceito, Missy. Aceito, com certeza aceito!-Sentei ao lado dela, beijando-a enquanto meus olhos enchiam de lágrimas. -Eu definitivamente aceito!

Mais tarde, enquanto nós duas nos acomodávamos na minha cama, Missy contou que tinha ajudado minha mãe a fazer e vender doces, acumulando o dinheiro que precisava para comprar uma aliança. Eu não sabia desse emprego dela. Nem Missy, nem minha mãe tinha dito alguma coisa. A Senhora do Tempo contou que queria guardar segredo.

Naquela noite, nós passamos horas conversando e fazendo planos... Eu jamais esqueceria disso.

***

—Olhe só pra você, Sol!-Mamãe exclamou, entrando no quarto. -Está tão linda.

Ela tinha me ajudado a escolher o vestido, meses atrás. Branco, com uma saia rodada e uma fita amarela na cintura, da mesma cor dos meus saltos. Também ajudou Missy com o dela, mas nenhuma das duas me deixou vê-lo. Tradições humanas e antigas, mas que importavam pra minha mãe.

—Como está?-Perguntou, colocando meus cabelos soltos para trás dos ombros.

—Nervosa. Ansiosa. Feliz. -Sorriu.

—Eu não esperava que fosse diferente. Acabei de ver Missy. Ela está linda e doida para vê-la.

—Todo mundo já chegou?

—Sim, acho que sim. O Doutor acabou de chegar e foi ver Missy.

—Mãe... Como você se sente sobre isso?

—Isso...?

—Meu casamento. -Segurou minhas mãos.

—Eu não podia estar mais feliz por que você está feliz. Eu sei que não fui sensata quando me contou sobre seu relacionamento com Missy, mas juro que mudei de ideia. Estou indo naquele grupo para mulheres da minha idade e muitas lá tem filhos... Como é mesmo que se diz? Oh, sim. Filhos LGBTs. E algumas não entendiam no começo, mas agora entendem, como foi comigo. Viu só? Estou ficando moderna. -Sorri.

—Está sim. -Ela fungou e limpou os olhos cuidadosamente.

—Eu... Acho que vou dar uma olhadinha nos preparativos, para ver se está tudo certo.

—Okay. -Se afastou.

—Eu te amo, Solzinha. -Tentei segurar as lágrimas. Minha mãe estava quase explodindo de emoção. E era ótimo vê-la tão compreensiva.

—Também te amo, Josie maluca. -Riu e saiu rapidamente.

Me olhei mais uma vez no espelho. Missy e eu concordamos em casar no campo, e minha avó insistiu para que usássemos a casa dela.

Flores amarelas e roxas enfeitavam a área da cerimônia e da festa, minha mãe disse que não podia ser diferente. Não quando a “garota amarela” ia se casar com a “mulher roxa”.

Ajeitei a fita na minha cintura, então um movimento num canto do meu olho me fez pular de susto.

Respirei fundo e me virei para o homem perto da porta. Ele parecia surpreso e... Confuso.

—Isso é um vestido de noiva?-Perguntou, apontando como se fosse a coisa mais esquisita do mundo.

—Mestre... Como... O que está fazendo aqui?

—Eu vim atrás de você... Só para descobrir que está... Casando. Com quem... Quem é... O noivo?

—Noivo? Ah... Você se surpreenderia.

—Eu... Eu não posso te deixar fazer isso.

—Ah, pelo amor de Deus, o que acha que vai fazer?-Se aproximou, decidido.

—Eu? Eu vou fazer a única coisa que posso. Vou sequestrar a noiva. -Recuei.

—Você não se atreveria... Atreveria?

***

—Me coloca no chão!-Gritei, socando as costas dele. -Mestre! Você não pode me sequestrar!

—Quando ver a bobagem que está fazendo, vai me agradecer. Casando... Puff, com quem você iria casar?

—Mestre!

—Aposto que você nem quer casar de verdade! Com certeza algum espertinho encheu sua cabeça...

—O que?-Parou em frente à sua TARDIS, que estava na dispensa, parecendo um armário antigo. -Não ouse me colocar aí dentro! Mestre!

—Sol, por favor. -Me colocou no chão, mas se manteve segurando meu braço. -Você tem que entender que não estou fazendo isso por mal.

—Você está me sequestrando! Nunca vi ninguém ser sequestrado por bons motivos!

—Não seja dramática.

—Eu juro que não estou surpreso. -O Doutor avisou, se aproximando. -Sequestrar uma noiva no dia do casamento certamente estava faltando na sua lista de maldades.

—O que você está fazendo aqui?

—Eu vim para o casamento, obviamente.

—Então você sabe com quem a Sol vai casar. -Balancei a cabeça negativamente de forma discreta. O Doutor entendeu o recado.

—É claro que sei. Ela vai casar comigo. -Juro que se a situação fosse outra, eu teria rido da cara que o Mestre fez. Ele parecia totalmente confuso, falando algumas coisas incompreensíveis por um tempo.

—O... O que... O que você... Mas... Como... Isso... Não. Você... Você não sai casando com todas as suas “companheiras”!-Olhou pra mim. -Como isso aconteceu? Nem é o décimo rosto dele! O décimo rosto é o menos pior!

—Apenas... Aconteceu. -Menti. -E você não pode fazer nada sobre isso.

—Sol...

—Sinto muito. -Me soltei dele. -Apenas... Apenas vá embora, por favor.

—Mas... Nós...

—Você precisa entender que essa é minha decisão. Me forçar a ir com você só me faria infeliz. É isso o que você quer?-Parou um momento, parecendo envergonhado.

Céus, eu não queria ter que mentir assim, mas não podia contar a ele sobre Missy e eu. Alguns spoilers não podiam ser dados.

—Desculpe. -Mestre pediu, em voz baixa, encarando o chão. Droga, eu queria dar um abraço nele. -Sinto muito, raio de sol.

—Tudo... Tudo bem. -Recuou para sua TARDIS.

—Espero que seja feliz.

—Eu vou. E você vai, também. Tenho certeza.

Quando Mestre foi embora, fiquei um pouco chateada. Um dia ele ia entender tudo isso, ia saber que eu não ia me casar com o Doutor, ia casar com Missy.

—É bem a cara dele, sequestro de noivas. -Brinquei, tentando não chorar para deixar a maquiagem intacta, ou minha mãe ia pirar com isso.

—Não sei como ele nunca fez isso antes. Talvez tenha feito, mas eu nunca soube. Eu devia perguntar alguma coisa?

—Eu estou bem.

—Ótimo.

—E você está elegante. Obrigada por aceitar ser o padrinho. Isso é importante para Missy e eu, já que você praticamente foi nosso cupido.

—Missy tentaria me desintegrar se eu não aceitasse. -Sorri maldosamente.

—Nós duas tentaríamos.

—Eu tenho certeza disso. Acho que devemos ir, é quase hora da cerimônia.

—É mesmo! Mas tudo bem... Missy e eu combinamos que as noivas podem atrasar... Mas só se chegarem juntas depois.

—Vocês pensaram em tudo. -Dei de ombros.

—Descobrimos que podemos ser bem detalhistas.

***

Eu não achei que ia ficar nervosa, mas sentia que meu coração ia sair pela boca ou bater tão forte que abriria um buraco no meu peito. Segurei o buquê amarelo com mais força, tentando me acalmar.

De onde eu estava, não podia ver Missy. Minha mãe planejou tudo para que uma não pudesse ver a outra até que fosse a hora certa.

Havia um caminho em forma de T. Missy e eu estaríamos cada uma de um lado, nos encontrando no meio do caminho e indo juntas até onde a juíza de paz esperava, no arco de flores roxas e amarelas. Essa parte também foi coisa da minha mãe.

Can’t Help Falling in Love começou a tocar. Hora das noivas se encontrarem.

Achei que desmaiaria. Tentei me concentrar em dar um passo após o outro, e quase parei onde estava ao ver Missy. Ela tinha os cabelos presos num coque; o vestido branco e liso, tomara que caia. Os saltos eram roxos escuros, como as flores do buquê. Sorrimos uma para a outra. Hoje era o nosso dia mais importante.

—Você está linda. -Sussurrou, caminhando ao meu lado.

—Assim como você.

—Não podíamos estar diferentes, corujinha. As noivas mais lindas dessa galáxia. -Ri.

—É claro que você diria isso.

—Você me conhece. -Paramos em frente à mesa da juíza. -Nós vamos nos casar. -Olhei pra Missy, segurando sua mão.

—Parece que sim. Finalmente.

—Finalmente.

Eu juro que mal lembro do que a juíza de paz disse. Missy também não. A gente só passou a maior parte do tempo olhando uma para a outra, totalmente perdidas num mundinho próprio.

Nesse momento nada mais importava: o medo; o tempo correndo contra a gente; as pessoas que nos olhavam feio nas ruas e os caras que nos ameaçaram no shopping por estarmos de mãos dadas; parte da minha família sem falar com a gente, minha tia mandando mensagens com “justificativas contra homossexuais” e meu primo fazendo piadas do tipo “Se há duas noivas, quem entra primeiro?” ou “Qual das duas é o noivo?”. Nenhuma das coisas ruins ia nos afetar. Nenhuma dessas coisas ia nos afastar. O amor vence. Não importa quando e onde. Ele vence qualquer coisa. Missy e eu vencemos e íamos continuar vencendo.

—Acredito que as noivas possam se beijar agora. -A juíza disse, sorrindo para Missy e eu.

—Achei que não ia dizer isso!-A Senhora do Tempo brincou.

Comecei a rir, mas tive que parar quando Missy me puxou para frente, me beijando como se estivéssemos sozinhas. Achei que isso podia incomodar um pouco minha mãe, que talvez ainda não estivesse acostumada, mas ela sorria abertamente quando nos separamos, limpando algumas lágrimas com um lencinho. Ela estava feliz, por que eu estava feliz. E, quer saber? Isso me deixava mais feliz ainda.

Meu pai fez questão de dançar valsa com as noivas. Ele não gostava de “dançar em público”, mas disse ser uma ocasião especial. Missy não tinha nenhum pai presente, então o Doutor se prontificou em dançar com ela, o que lhe rendeu umas piadinhas da velha amiga. Claro que Missy não deixaria essa oportunidade escapar

—Eu juro que nunca a vi tão feliz. -O Doutor disse, dançando comigo. -Em nenhuma regeneração. Nem ao dominar a Terra quando era o maluco de cara redonda. Ela jamais esteve tão feliz.

—Acredito que eu também nunca me senti assim antes. -Olhei para Missy, que dançava com meu pai e ria de algo que ele tinha dito. Ela sorriu pra mim quando me viu olhando. -Isso é mesmo real? Não saí com você na TARDIS e fui atacada por algum alien que dá sonhos bons para as pessoas enquanto as mata?

—Que imaginação. -Riu. -Não, Sol, você não está sonhando. Se casou com a mulher que ama... E vai ter que lidar com ela agora... Até o fim de seus dias.

—Acho que posso lidar com isso. -Rimos. -Aliás, podia ser pior... Eu podia mesmo estar casando com você.

—Deuses, vou ter pesadelos sobre isso!-Missy exclamou, se aproximando. -Vamos manter esse assunto morto?

—Pode deixar. -Passei o braço por cima de seus ombros e beijei seu rosto. -Não é algo que eu queira imaginar. Se ele aparentasse ser mais novo, por outro lado...

—Eu sou novo!-O Doutor interrompeu, indignado. -E extremamente atraente.

—Como é?

—Perdão?-Essa foi Missy, rindo histericamente. -Vovô, você bebeu todo o champanhe? “Extremamente atraente”. Rá! Eu nunca vou me esquecer disso!

—É melhor te levar daqui antes que faça mais bullying com o Doutor

—Mas ele praticamente pediu por isso!-Começamos a nos afastar. -Você ouviu o que ele disse? Céus, Doutor... Cada dia mais biruta!

***

—Acho que o dia de hoje vai ficar gravado na minha mente pro resto da minha vida. -Comentei, deitada ao lado de Missy, nossa respiração se entrelaçando. -Ainda acho que parece um sonho.

—Você acha? Eu nunca vivi algo assim. Foi o dia mais lindo, brilhante, maluco e importante da minha vida. Em minha última regeneração, eu ainda vou lembrar disso... E de você.

—Senhores do Tempo vivem tanto... Há tanta coisa pra lembrar... Você poderia esquecer. E eu não poderia culpá-la.

—Como posso esquecer a pessoa mais importante da minha vida?

—Essa costumava ser você. -Sorriu.

—Acho que uma certa garota humana me fez mudar de ideia. Sol, não sei quanto tempo temos juntas, mas eu espero... Eu desejo, que seja longo.

—Vai ser infinito. E, de acordo com um escritor que eu adoro... Alguns infinitos são maiores que outros. Eu não sei o tamanho do nosso Missy... Mas vai ser o melhor infinito que a gente poderia ter. -Sorriu, me dando um beijo rápido. -Eu te amo, sabia?

—Também te amo, corujinha. Também te amo.


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Notas finais do capítulo

Quero agradecer todo mundo que acompanhou esses contos, que interagiu, comentou, apoiou e torceu por Missol. Eu amei demais escrever esses contos, amei demais escrever sobre esse casal, e isso, de alguma forma, aumentou meu amor por Missy e Mestre. São personagens que eu amo demais e fiquei feliz por Sol ter tido o melhor deles aqui.
O que acontece com Missol agora? As melhores coisas que se podem imaginar. Elas estão juntas, se amam, e terão um infinito fantástico. Sol morrerá um dia? Sim. Mas gosto de pensar que no fim, Missy estará com ela, e ambas estarão gratas pela vida maravilhosa que tiveram juntas.
Obrigada mais uma vez... E até mais.



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