DUSK TILL DAWN

Capítulo XI

Minha cabeça latejava como o inferno. Um lembrete para que eu me lembrasse de que o álcool não era meu amigo e, muito menos, algo que eu deveria recorrer nos momentos de solidão.

Amos Diggory.

Automaticamente, senti-me a pior pessoa do universo. Eu usara Amos, meu amigo, para poder descontar a minha frustração e, por Deus, aquilo era errado de tantas formas que eu não era capaz de colocar em pensamentos.

— Merda, merda, merda, Lily Evans. – Murmurei quase num sussurro.

— Tudo certo por aí? – Eu ouvi a voz de Amo soando divertida. Olhei para o lado e ele estava sentado na poltrona de um dos quartos de hóspedes de Edgar, com uma caneca nas mãos. – Eu estava esperando você acordar.

Sentei-me na cama, encarando-o e eu sabia que meu rosto demonstrava que eu me sentia culpada pela noite passada. Eu fizera algo muito ruim e não esperava que ele me perdoasse.

— Eu sinto muito. – Disse eu, simplesmente. Ele saberia sobre o que eu estava falando, de alguma forma. – Eu sinto muito mesmo. Eu...

— Ei, ei! Pelo que você está se desculpando?

— Por ter beijado você! – Exclamei mais alto do que deveria, achei que fosse óbvio que aquele era o motivo. – Eu não... Amos, eu não deveria ter feito aquilo. Porra. – Sentei-me na cama e me virei para ele, tentando encontrar palavras. – Escute, eu estava num momento terrível, eu estava bêbada e...

— Não, pare, sério. Só pare. – Ele pediu, colocando a caneca no chão e me olhando perplexo. – Você está dizendo que só me beijou porque estava bêbada? – Ele parecia ofendido, eu apenas chacoalhei a cabeça, concordando e esperando que ele fosse me xingar ou algo parecido. – Lily, tinha dezenas de garotos na festa. Vários deles, da sua turma. Mas você decidiu me beijar. Assim que me viu.

— Não entendi o seu ponto.

Amos suspirou, sorrindo.

— Certo, Lily. Você está desculpada, se isso fizer você se sentir melhor.

— Amos! – Chamei-o quando ele fez menção de sair do quarto. – Você não entendeu.

— Então me explique. – Ele cruzou os braços de frente ao seu peitoral e arqueou uma das sobrancelhas.

— Eu não teria beijado você se estivesse sóbria. – Declarei, em tom baixo. Pude ver a expressão de Amos mudar, mesmo que ele não quisesse demonstrar, ficara chateado de ouvir aquilo. – Quer dizer, eu não digo que nunca beijaria você, claro que não é isso. Você é bonito, é interessante, educado, eu... Eu me interessaria por você, em outra situação. Não ontem, não daquela forma. Não da forma como as coisas estão entre James e eu.

A expressão de Amos mudou novamente, como se tivesse compaixão por mim, ou até mesmo pena. Eu não queria que ele sentisse pena de mim. E, conhecendo-o, eu sabia que ele não faria aquilo.

— Eu acho que entendo. Vamos esquecer isso, certo? – Respirei fundo, aliviada de ouvi-lo dizer aquilo. – Você deveria descer para tomar café, Edgar e Marlene já estão lá embaixo.

Voltei a deitar-me na cama macia, cobrindo-me com as cobertas bagunçadas, queria poder não me levantar naquela manhã, ou tarde – eu não fazia ideia de que horas era. Queria pode parar no tempo por algumas horas, apenas para refletir antes de voltar a viver.

— Amos? – chamei, eu estava coberta quase por inteiro, apenas com a cabeça para fora da coberta. Não estava frio de um todo, mas o ar condicionado incomodava um pouco. – Ah Deus, por que eu sou assim? Escute, eu não me arrependo, ok? Eu só... Achei que seria certo se eu dissesse que sinto muito. Mas eu não me arrependo. Eu sei que foi errado, mas não consigo me arrepender, talvez seja por causa de James, por eu achar que ele pode estar tendo algo com a Vance. E, sim, eu tenho plena consciência de que é mais errado ainda eu ter beijado você por causa disso, mas eu estou sendo sincera, eu prezo pela sinceridade e, por isso, estou sendo sincera com você.

Amos sorriu, verdadeiramente, para mim e se sentou novamente.

— Pessoas se beijam todos os dias, Lily. E nem sempre porque estão apaixonadas. Não vejo problema nisso.

— Você está bravo? Decepcionado?

— Claro que não.

— Eu sinto muito, de verdade.

— Pare de se desculpar. Eu aceitaria suas desculpas se você beijasse mal, ou se não tivesse sido extremamente bom. – Dei risada junto dele. Que se jogou para um lado da cama e começou a encarar o teto. – Sabe, eu entendo você. Essa sua situação com o tal do Potter.

Deitei-me ao seu lado e apoiei a cabeça em uma das minhas mãos, encarando Amos – que ainda olhava para o teto. Por alguns segundos, cheguei a pensar que ele estava evitando olhar-me diretamente nos olhos.

— Eu já tive um James na minha vida. – Continuou ele. Dessa vez, olhou para mim, mesmo que com cautela. – Digo, já estive apaixonado por alguém que não podia ter. A história é longa e cansativa, mas acho que, no final, chega no mesmo lugar da sua.

— Bem, eu tenho tempo. – Encorajei-o.

Ele balançou a cabeça com um sorriso triste nos lábios.

— Estive apaixonado pela mesma garota a minha vida toda, praticamente. Minha melhor amiga de infância. Quando descobri que ela também era apaixonada por mim... Foi o melhor momento da minha vida, Lily. Eu me lembro perfeitamente de cada detalhe daquele dia... – Ele me encarou novamente e soltou uma risada. – Desculpe, sou um romântico...

— Tudo bem. Eu gosto de ouvir histórias de amor. Continue.

— Bem, o nome dela é Thais. Ela sempre foi independente, decidida e eu sempre admirei isso nela, por isso nos tornamos amigos, ainda crianças. Começamos a namorar quando eu tinha 14 e ela 15. Minha família e a dela não gostaram tanto, éramos tão novos, mas sabíamos o que estávamos fazendo. Eu sabia o que queria e ela também. Viemos para a faculdade juntos, nos inscrevemos para cursos distintos, é claro, mas ainda assim passávamos todo o tempo que nos sobrava juntos. Ela cursava Veterinária, junto com a Lene.

“Foram seis anos juntos, pense só, seis anos com uma única pessoa. Seis anos incríveis. Raramente brigávamos ou sequer discutíamos. Acho que, no fim, era até tedioso – pelo menos para ela, porque para mim tudo sempre foi perfeito. Eu pensei que tudo fosse perfeito. Eu percebi, depois de um tempo, que ela não estava satisfeita, eu nem mesmo conseguia pensar nos motivos para isso. Até que, no ano passado, ela disse que queria um tempo.”

— A típica desculpa. – Eu disse sem pensar. – Desculpe, continua.

— Típica? – Ele arqueou uma sobrancelha. – Já passou por isso, Evans?

— Não, mas já vi em filmes. – Respondi, fazendo-o rir. – Agora continue!

— Bem, eu aceitei, claro. Não era minha escolha e, obviamente, era uma decisão dela, eu respeitei. Ela me disse que precisava apenas de um tempo para pensar, prometeu que não era definitivo. Eu não sei porque acreditei naquilo, juro que não sei. – Amos balançou a cabeça em perplexidade. – Ela foi embora para a casa dos pais onde disse que passaria as férias, mas voltaria em seguida. Bem, ela voltou apenas para se despedir de mim, disse que era melhor nos afastarmos. Na época, eu não entendi o motivo daquilo, fiquei totalmente sem entender o porquê. Na verdade, eu só descobri isso há algumas semanas atrás, quando meus pais me ligaram para dar a notícia de que o bebê dela tinha nascido.

— Ela teve um filho seu e não te contou? – Perguntei num tom mais alto do que gostaria. – Que f... Deus, Amos!

— Não, não é bem isso. – Contrariou. – Não era meu bebê. Eu gostaria que fosse, no fundo. Sempre quis ter um filho, sabia? Mas não era meu.

— Amos...

— Ela não me traiu, não fez nada de errado. Estávamos separados quando aconteceu, eu fiz as contas... Não sei se isso é bom ou ruim. No fundo, eu acho que gostaria de odiá-la, gostaria que ela tivesse feito algo terrível como me enganar por anos, ou coisa do tipo. Assim seria fácil de esquecê-la. Mas ela não fez nada de errado, não na minha visão. E por causa disso, eu não consigo não a amar.

 Eu não sabia o que dizer, sentia sua dor. Não era a mesma situação, como ele mesmo dissera, mas ainda assim eu podia sentir o quanto aquilo o machucava. Minhas palavras de nada adiantaria, nada que eu dissesse poderia causar algum efeito. Então eu apenas o abracei, colocando minha cabeça sobre seu peito e sentindo-o respirar.

De alguma forma, aquele momento nos aproximou ainda mais. Aquilo parecia, ao meu ver, o começo de algo novo.

***

JAMES.

Um mês depois.

— Não sei mais quanto tempo vou aguentar ficar aqui sentado, Prongs. – Reclamou Sirius para mim, colocando os pés sobre a mesa de madeira e recostando-se na cadeira. – Eu gosto de pintar, fazer a minha arte. Não negociar.

— Eu sei, Sirius, mas infelizmente a sua arte requer negociações. Pense nisso como um sacrifício.

Ele não respondeu imediatamente, mas eu podia senti-lo revirar os olhos, mesmo sem olhá-lo.

— Você não acha engraçado? Acabamos de nos formar e já estamos do outro lado do mundo, fazendo algo que sonhamos. É fantástico.

Pensei em responder que aquilo não era exatamente o meu sonho, mas sim uma segunda opção que, no fundo, eu gostava bastante. Mas fiquei quieto e apenas disse:

— Inacreditável. Tenho que agradecê-lo por isso, no fim das contas.

— Nah. – Resmungou ele, voltando a sentar-se ereto. – Isso aconteceu porque fizemos juntos, não apenas eu, mas também você e Remus. – Sirius voltou a ficar em silêncio, enquanto eu encarava a tela do celular. – Tem falado com a Lily?

— Estávamos caminhando para algo parecido com uma amizade. – Suspirei, sentindo-me derrotado e iludido. – Ela parou de responder há mais de um mês. Por algum motivo, às vezes eu tenho esperança de que ela volte dizendo “hey, estava muito ocupada com a faculdade. Tudo bem por aí?”. É loucura, eu sei, mas...

— Eu conheço a Lily, mas não tanto quanto você e nós dois sabemos que ela sempre foi muito determinada nas decisões que tomava, James. Acho que isso explica muita coisa.

— Eu sei disso. Acho que chegamos ao nosso fim, é triste pensar nisso. Muito triste.

— Você pode lidar com isso.

— Eu sei.

— Você vai lidar com isso. Tem amigos para te ajudar. E tem a Vance.

— A Vance? – perguntei confuso. – O que Emmeline tem a ver com isso?

— Sinceramente, eu acho que a Emme sempre teve uma queda por você, desde, sei lá... Desde o primeiro ano? Ok, eu não acho isso. Eu tenho certeza. Certeza absoluta. Nós éramos muito amigos naquela época e ela sempre me falava de você, sempre gostou de você. Mas aí você começou a namorar a Evans e, bem, você era louco por ela e a Emme era amiga dela, então não tinha muito que fazer.

— Eu nunca pensei que Emmeline fosse capaz de gostar de alguém. – Eu disse rindo, Sirius riu também. – Ela sempre me pareceu tão desapegada de tudo. Eu me lembro que éramos todos muito próximos no primeiro ano, mas depois Emmeline simplesmente se afastou, começou a andar com aquela galera esquisita dos Malfoy e... Enfim, você sabe bem com o tipo de coisa que os Malfoy estão envolvidos. Sua prima, Bella, também sabe.

— Sim, esse foi um dos erros que a Emme cometeu, mas logo ela tomou consciência das coisas que estava fazendo e voltou para o lado certo. Mas a Emme é incrível, sabe? Nós éramos muito amigos justamente por isso, porque ela é uma pessoa muito boa, meio doidinha, mas muito boa.

— Bem, mas, como você sabe, eu não estou a procura de um relacionamento.

— Por Deus, James! Tenho certeza que Emmeline também não está procurando um relacionamento. Só estou dizendo que ela superou você, isso é óbvio, você está solteiro, qual o problema de se aventurar e conhecer outro lado dela?

— Outro lado dela? – Gargalhei com a expressão no seu rosto. – Meu Deus...

— Não pense besteira! Estou falando que você nunca a conheceu a fundo. – Voltei a rir, e Sirius riu também. – James! Foco. Você conheceu a Emme como uma colega que, por algum motivo, estava sempre perto da gente. Mas nunca chegaram a ser amigos, talvez esse seja o momento. Ela não tem mais os sentimentos de antes, mas tenho certeza que não recusaria um beijo seu.

— Ok, nossos sócios chegaram, encerramos esse assunto aqui.

Sirius fez cara feia, mas em seguida me lançou um sorriso travesso.