Estava frio. As nuvens de tempestade ameaçavam desabar a qualquer momento, circulando sobre Londres como um predador que circunda a presa. Sentado no parapeito da janela, a testa apoiada contra o vidro gélido, o loiro observava o céu cinzento com olhos tempestuosos. Evitava olhar para baixo; a visão do chão frio e duro invocava a imagem do diretor desabando da Torre de Astronomia, e a memória de que era ele quem deveria tê-lo assassinado, mas fora fraco demais para tal. Falhara. Sempre fora fraco, e então Voldemort pudera de fato provar isso com a ponta da varinha. As horas que passara em seguira no porão, agonizando sobre um cruciatus, faziam lágrimas brotarem em seus olhos. Ele as conteve, afinal, Malfoys não choram.

Sentiu os músculos de seu antebraço esquerdo repuxarem, e logo a pele ardeu dolorosamente; Voldemort tocava a Marca Negra, convocando todos os Comensais para uma reunião, mas Draco não ligou. Não era, nunca seria, necessário naquelas reuniões, e se pudesse evitá-las, decerto o faria. Talvez pagasse por isso depois, sob uma varinha, mas continuava ali. Permanecia no quarto, a despeito de tudo, apenas por eles. Pelas mesmas pessoas que o haviam enfiado naquele inferno, mas aquilo pouco importava. O peso de tudo o que havia feito já se acumulava sobre seus ombros, não queria adicionar este à pilha. A simples ideia de perdê-los apertava seu peito, mas ele o ignorou, pensando continuamente que Malfoys não choram.

Sua mente vagou para o dia da volta de Voldemort. O “glorioso” retorno do Lorde das Trevas, mais uma vez derrotado por Harry Potter, destruído por uma magia para a qual não ligava e que menosprezava, arrastando-se em busca da proteção de seus fiéis Comensais. Patético. Talvez ele conhecesse seus pensamentos, pois não perdia uma chance que fosse de torturá-lo por qualquer motivo. Divertia-se com a dor do garoto, o desespero do pai e as lágrimas da mãe. Sorria com cada grito que escapava dos lábios pálidos, e quanto menos ele gritava, mais a tortura durava. Mesmo assim, o loiro mantinha-se calado, aguentava cada crucio sem reclamar e guardava seus sentimentos a sete chaves, lembrando a si mesmo: Malfoys não choram.

Malfoys não amam, não sentem. Não se apaixonam e não têm finais felizes. Malfoys não se importam com os outros e não sentem pena. Não possuem compaixão e não se opõem às Artes das Trevas. Malfoys não simpatizam com os muggles e não defendem os sangues-ruins. Não são de qualquer Casa senão a Slytherin e não possuem coração. Há muitas coisas que Mafoys não fazem, mas, acima de tudo, Malfoys não choram.

As gotas grossas de chuva finalmente desabaram, batendo contra a vidraça e fazendo barulho. As nuvens pesadas refletiam-se em seus olhos, dando-lhe um ar ainda mais triste e solitário. Após a tempestade vem a bonança, mas ele sabia que a tempestade em sua vida estava longe de acabar. Avistou um vulto de manto escuro deslizar pelo quintal e seus ossos se enregelaram, embora não pudesse sentir-se mais miserável e desesperançoso do que já se sentia. Lembrou-se de como estava frio naquele dia em Hogsmeade quando forçara Madame Rosmerta a entregar o colar amaldiçoado a Katie Bell. O estrondo dos trovões e das gotas contra o vidro lembraram-lhe dos gritos da garota e, pela primeira vez, perguntou-se se ela havia sofrido muito. Desta vez, nem mesmo seu coração cuidadosamente esculpido em pedra pôde ajudá-lo a impedir as lágrimas. Ah, como ele queria que Malfoys não chorassem...