Chiquititas - Revenge escrita por Geovanna Danforth


Capítulo 24
Naufrágio




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Eu estou no corredor do orfanato.

Tudo é escuro e apenas a luz de um quarto está acesa.

De repente ouço a voz de tia Carlota me chamando baixinho.

— Tia Carlota? _ respondo.

E do nada alguém surge à minha frente, e preciso levantar a cabeça para ver porque ainda tenho nove anos.

É Soraya.

Uma xícara de chá está em suas mãos e a fumaça sobe e contorna seu rosto.

— Olá Loirinha... quer um pouco de chá?

Dou passos para trás para tentar fugir mas antes que a escuridão me engula, Soraya me pega.

CH

Com um grito ecoando no quarto dei um pulo da cama.

Meu coração estava batendo rápido e forte e precisei respirar fundo várias vezes pra voltar ao normal e me conscientizar que aquilo havia sido apenas um sonho.

A conversa com Mama no dia anterior tinha acionado algumas lembranças que eu preferia ter esquecido.

Me joguei na cama e tentei dormir de novo.

CH

Na segunda feira, o início de uma nova semana, eu me sentia restaurada, minha conversa com Mama apesar dos pesares havia me feito pensar sobre muita coisa e eu tinha um novo norte pra seguir.

Fui para o orfanato e felizmente tudo parecia tranquilo, até as crianças pareciam estar felizes, Soraya havia saído e aproveitei pra dar uma vistoria no escritório novamente, procurando por paredes ou fundos falsos, Soraya era apegada à coisas do passado, como a carta que ela guardava a tantos anos, então talvez tivesse alguma coisa que poderia ser usada contra ela. Mas, nada.

Sentei na cadeira em frente ao computador e pensei.

CH

Duas palavras piscavam na minha cabeça como luzes de neon, Dinheiro e Nilson.

Abri várias pastas do computador e as planilhas que Soraya havia me feito fazer e refazer, deveria ter alguma ponta solta por ali, ela não me mandava fazer nenhum trabalho no banco ou em outro lugar que não fosse o orfanato, mas alguma coisa devia sair dali, e se não era ela quem mexia, com certeza era outro alguém.

CH

Soraya se virou para a mãe, um celular tocou enquanto ela falava.

—Não vou pedir merda nenhuma! _ bradou ela e pegou um celular de cima da penteadeira do guarda roupa, imediatamente Tia Carlota segurou sua mão.

—Me dê isso agora.

Soraya não tinha saída, revirou os olhos e entregou o celular à mãe.

—Nil? _ falou Tia Carlota_ De novo esse garoto Soraya?

Soraya revirou os olhos novamente.

—Eu já te falei pra não conversar mais com ele.

— Mas é ele que me persegue mamãe... _falou ela com uma cara de inocente_ não vê que é ele que liga pra mim? O que eu posso fazer?

—Saia daqui.

Soraya estendeu a mão pedindo o celular, o que ela queria mesmo era sair correndo dali. Tia Carlota olhou pra ela e entregou o celular, “não sei pra quê” pensei, “ela vai ligar de novo pra esse tal de Nil...”

CH

As lembranças das brigas de tia Carlota com Soraya eram várias, e ela sempre buscava refúgio no colo do namorado, mas eu sabia que ele também era a razão das brigas.

CH

Voltamos tarde da noite do parque, lanchamos lá mesmo e brincamos pra caramba. Quando chegamos eu estava morta de cansada e fui direto pra cama, nem vi Soraya mas quando comecei a cochilar ouvi vozes altas no andar de baixo, Soraya estava brigando com Tia Carlota, de novo...

Parece que Soraya saiu sem a permissão de Tia Carlota, ela dizia que tinha ido ao supermercado e Tia Carlota insistia que ela tinha saído com Nil; pra mim, ela tinha feito as duas coisas.

CH

Coloquei as mãos na cabeça e tentei me acalmar. Soraya ainda não tinha voltado então decidi sair e respirar um pouco.

Ao encostar a porta do escritório outra lembrança invadiu minha mente e acabava de trazer à tona que horas mais tarde depois daquela discussão Soraya tinha feito o que fez.

CH

Meu sono foi profundo mas no meio da noite me deu muita vontade de fazer xixi que eu tive que levantar pra não molhar o colchão.

Quando voltava do banheiro tive a impressão de ter ouvidos barulhos na cozinha, entrei no quarto escuro e esperei; um vulto passou rapidamente pela porta, esperei ele sumir e eu o segui, desceu às escadas e eu fiz o mesmo, parei antes de entrar no corredor e espiei com o rabo do olho.

Soraya entrava no quarto de Tia Carlota com uma xícara nas mãos, a fumaça subia e torneava seu rosto, quando a vi meu corpo se arrepiou e eu decidi voltar para o quarto; talvez Tia Carlota estivesse doente, talvez Soraya estivesse fazendo um remédio pra ela, talvez ela não fosse uma filha tão ruim assim, talvez...

CH

Ao passar em frente ao quarto de Soraya, que um dia havia sido o de tia Carlota, um calafrio percorreu minha espinha. Tudo bem, Soraya não escondia nada no escritório, mas e no quarto?

Segurei a maçaneta e ouvi um clique, estava aberta. Soraya havia esquecido de fechar? Mas antes que eu olhasse dentro do ambiente senti que alguém me observava.

Olhando pra esquerda vi a garotinha de cabelos encaracolados, Brenda, que me analisava com curiosidade.

— Olá Brenda.

— Oi.

— Tudo bem?

— Sim.

Brenda continuou me encarando enquanto minha mão começava a suar na maçaneta da porta. Ela não iria sair dali até eu dizer o que estava fazendo.

— Quer me ajudar? _ perguntei.

— Com o quê?

— É que... preciso procurar uma coisa aqui no quarto e...

— Que coisa?

— Uma coisa do escritório. Mas outros crianças não podem entrar aqui então será que você podia ficar aqui na porta me esperando?

— Claro!

— Ótimo! Se alguém aparecer você bate na porta e vai embora, ok?

— Tá legal...

Entrei no quarto me sentindo como a Laurinha de uma década atrás, Adriana parecia estar na porta me esperando.

Observei o quarto que havia sido pintado de um vermelho escuro, móveis novos, mas as posições eram as mesmas.

Sem perder tempo abri tudo que pude e vasculhei, sem bagunçar pra não deixar pistas, mas a cada segundo que passava minha frustração aumentava. Nada.

Soraya não era tão esperta assim pra esconder todos os seus rastros... onde mais eu teria que procurar pra encontrar algo contra ela?

CH

Antes que Soraya chegasse voltei ao escritório e pedi segredo eterno à Brenda sobre o que tinha acontecido, me sentia nervosa com a situação mas precisava manter o controle.

Sentei em frente ao computador e voltei a procurar com mais calma. Como que por coincidência do destino encontrei uma pasta que pensei ser de atalho mas tinha alguns documentos dentro, e ao mesmo tempo ouvi o barulho da enorme porta da frente bater, Soraya havia chegado.

Abri os documentos o mais rápido que pude e vi vários comprovantes de saques e transferências, algumas quantias em dinheiro que entraram e saíram de contas desconhecidas, embora o dinheiro parecesse ser pouco, se fossem somados dariam uma boa quantia, um valor que poderia sustentar uma mulher preguiçosa que não trabalhava a anos mas vivia sempre com um vestido novo e maquiagens caríssimas.

Antes de eu copiar os documentos pra uma outra pasta escondida Soraya abriu a porta como sempre fazia, com estrondo.

— Bom dia Laureen.

— Bom dia Soraya. _ respondi sentindo o suor brotar em minha testa.

— E então... como tem andado o trabalho? Muitas tarefas?

— Nada demais. As mesmas coisas de sempre.

Alguma coisa estava errada. Eu podia sentir um calafrio na espinha.

Soraya começou a dar voltas no escritório fingindo observar o ambiente mas eu sabia que ela estava me analisando.

— Sabe Laureen, eu sou uma pessoa que viveu sozinha bastante tempo, então você deve saber que demoro pra estabelecer uma relação de confiança com alguém.

Encarei Soraya. Não sabia o que ela queria que eu respondesse.

— E confesso, _ continuou ela_ que eu pretendia ter algo a mais com você, mas...

Quê? Ela era lésbica? Além de louca e obcecada por um homem ainda queria outras relações?

— Pensei que você aparentava ser o que realmente me disse. _ disse ela inclinando a cabeça como uma psicopata.

Não.

— Mas me enganei com você. _ e então ela tirou o celular da bolsa que carregava.

 Agora estou destruída. Soraya descobriu minha verdadeira identidade. E agora vai me matar.

À minha frente Soraya colocou seu celular com algumas imagens, não, vídeos. Vídeos de câmeras. Câmeras do orfanato. Puta merda.

— Você pode me dizer o que significa isso? _ perguntou ela.

O que eu poderia dizer? Que estava limpando o orfanato enquanto eu aparecia em todas as imagens vasculhando cada canto do escritório e do quarto de Soraya? Só faltava ela me chamar de Laurinha.

— Soraya, eu...

— Você está demitida, Laureen.

— O quê?

— Sim, isso mesmo. Arrume suas coisas e vá embora.

— Mas Soraya...

Ainda tentava processar as informações. Soraya não tinha descoberto que eu era a garotinha dos seus pesadelos. Mas não me suportava mais por ter invadido sua privacidade.

— Eu sabia que tinha alguma coisa errada... por isso mandei instalar essas câmeras. Você só tem essa carinha...

Me levantei da cadeira e procurei meus pertences enquanto ouvia as acusações da sonsa.

— O que você tanto procurou aqui, afinal?

Paralisei.

— Quem mandou você aqui?

Então... lembrei que uma tática para destruir algo que está bem alicerçado é desestabilizando os alicerces. Mama me ensinou isso sem perceber.

— Nilson.

CH

E agora? Eu não tinha pensado no que fazer depois dessa parte.

Soraya me encarava com uma cara pálida, ela esperava que eu dissesse que estava mentindo, que seu amado não tinha traído sua confiança e agido pelas suas costas e que provavelmente estava tendo um caso com uma secretária que tinha a metade de sua idade. Sim, era isso que ela havia pensado, então optei por permanecer no lado da patetice, e me fazer de perdida, tão perdida quanto ela.

— Soraya... me desculpe, eu não sei porque fiz isso, eu estava precisando de dinheiro, e ele apareceu querendo me ajudar...

— Para de falar.

A voz de Soraya surgiu trêmula.

— Pegue suas coisas e vá embora.

— Mas não foi culpa minha...

— Não quero saber. Você quer dinheiro? Vou transferir seu último salário pra sua conta. Só some daqui e não apareça mais.

Permaneci quieta e peguei minha bolsa olhando com tristeza para o computador e as possíveis provas que eu poderia encontrar contra Soraya ali.

Aproveitei que Soraya sentou na cadeira parecendo estar desestabilizada e quase corri até a porta. Meu coração retumbava. Primeiro: graças aos deuses Soraya não havia suspeitado que eu era a loirinha, e segundo, ela e Nilson estavam tendo problemas, e agora, eu tinha atirado mais uma bomba no muro de confiança do relacionamento deles, e ainda sem querer. Eu era uma gênia.

Mas eu estava demitida.

Tudo acabado.

CH

Andei pela rua deserta me sentindo abandonada, imediatamente liguei para Adriana e ela apareceu de carro na rua seguinte, me levando em casa.

No caminho não falamos nada, apenas respirei fundo e senti as lágrimas escorrerem por meu rosto, o stress parecia querer me engolir e eu estava com muita raiva, meu plano havia desaguado, e agora não fazia ideia de como dar mais um golpe em Soraya.

Quando cheguei em casa Adriana preparou um suco e tomamos juntas, conversamos sobre coisas fúteis até que ela sentou diante de mim na mesa e trouxe o assunto à tona.

— E agora, o que vai fazer?

— Não sei Adriana... essa mulher... ela descobre tudo, ela sabe das coisas, parece que tem até uma bola de cristal!

Tirei minha peruca e coloquei as mãos nos cabelos molhados de suor.

— Temos que falar com a polícia Laureen.

— Não. Ela tem contatos. Não vamos conseguir.

— Sozinha você não vai conseguir também.

— Ela é só uma mulher Adriana... _ murmurei _ Não mais que eu. She have died.

Adriana me encarou assustada e aí fui me dar conta de que ela estava praticando o inglês.

CH

Depois de ter quase expulsado Adriana do meu apê alegando que precisava de espaço, fui almoçar fora e depois passei no banco para consultar minhas contas, iria precisar de um bom dinheiro já que não ia mais adiar minha compra tão sonhada.

Antes de anoitecer voltei pra casa com meu carro, ia precisar dele para o novo plano que eu estava bolando, e ao chegar em casa recebi a resposta de uma ligação que havia feito mais cedo recebendo a confirmação de que minha encomenda estava a caminho.


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