Sempre ouvira de seu pai: “Intuição de alpha não falha”.
Sequer conseguiria contar quantas vezes ele o havia dito aquelas cinco palavras.
Mas conseguira sentir na pele. Sabia o que a “intuição de alpha” significava. Era um incômodo, a princípio. Uma sensação estranha na boca do estômago, pelos arrepiados e um zunido quase inquietante que só parava quando descobria o que era que estava fora dos trilhos, ou perto de desandar.
Foram algumas vezes que sentira isso, e sempre soube quem procurar depois daquela primeira vez.
Ainda recordava bem como havia sido. O zumbido no ouvido e a pressão estranha na nuca, o nó na boca do estômago, o arrepio ruim que tomava os pelos do braço e nuca. Lembra-se bem de como fora quando o encontrou, parecia mais uma bolinha do que um shifter, enrolado sob os bancos do auditório após o jogo de betas e alphas, algo que ele recusava-se a participar, gastava melhor seu tempo na biblioteca da escola do que fingindo gostar de correr atrás de uma bola. Acontece que, aquela bolinha dismorfa sob os bancos do auditório adorava aquilo, correr e brincar.
Foi ali que soube que seu lado irracional, a fera dormente em cada um, havia escolhido aquele shifter para acolher, proteger. Não sabia ainda que amar fazia parte do pacote, mas estendeu a mão a ele para ajudá-lo a limpar os joelhos ralados e lhe fazer companhia até em casa, recebido por uma mulher brava e protetora com seu filhote. Quando ela notou que ele não era risco ao pequeno ômega espoleta, o recebeu melhor, chegando até a convidá-lo para entrar, Convite este, na época, recusado com educação, afinal, seu pai estava acostumado com sua presença em casa para as refeições, era a rotina deles, não a quebraria sem antes informar.
Nas demais vezes, quando os pelos eriçavam por nada e o zumbido voltava, seguia o cheiro que havia ficado gravado em mente, cerne, quiçá na alma!
O aroma de morangos silvestres sempre guiavam-no ao ômega que era ímã de confusão. Se ele se machucava, Shino sabia. Se ele tentava fugir da aula com o amigo beta, Shino sabia. Era quase irritante, aos dois. Foram inúmeras vezes que Kiba o jogou isso na cara, mas ainda assim parecia feliz sempre que Shino aparecia para livrá-lo, seja lá do que ele tivesse se metido naquela vez.
“Serão um casal”, o pai havia mencionado num jantar após seus relatos do dia, e de como Kiba parecia sempre fazer o possível para se meter em confusão e tirá-lo do sério em determinadas vezes. Quando refutou a ideia do pai, afirmando serem apenas amigos, ouviu mais uma vez: “Intuição de alpha não falha”.