Nunca é tarde... escrita por Tah Madeira


Capítulo 6
Você tem medo?




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—Mas como assim um atestado, se sabe bem que ele está vivo? Não estou entendendo, como você tem isso em mãos. – ela passa novamente os olhos sobre o papel, como para ter certeza que não está enlouquecendo– Me diga.

— Julieta se acalma, eu vou explicar – ele tenta se aproximar, mas ela repudia o gesto dele dando um passo atrás, não fazendo mais porque suas costas encontra a mesa, ao que Julieta agradeceu mentalmente por se apoiar pois tinha medo de suas pernas fraquejarem, mas ele não desiste  e fica ao seu lado apoiado na mesa olhando para ela – Eu consegui esse atestado com um juiz amigo de Jorge...– não podia ter dito coisa pior, pois ela se põe em cima dele o segurando pela lapela do paletó, com uma força capaz de o balançar.

— Você contou para outros , você revelou meu passado, porque? – ela o sacode com uma fúria que ele nunca pensou em ver– Porque fez isso comigo, porque fui confiar em você, porque? –  chorando ela continua a puxá-lo, mas com bem menos força, ele percebe que ela irá perder os sentidos, mas a ampara bem a tempo a levando de volta ao sofá, a deitando ali e ficando de joelhos. – Porque fez isso Aurélio?– ela falava baixinho, não podendo crer que ele contou a alguém o seu segredo.

— Por que eu te amo– ele alisa o rosto dela que desvia do seu contato.

— Não me toque, nunca mais.– ela tenta levantar, mas desiste ao sentir uma tontura, que a faz sentar no sofá.

— Por favor, deixa eu explicar antes de tirar alguma conclusão precipitada.– ele pede puxando uma cadeira para ficar próximo a ela.– Eu não contei a ninguém o que você me revelou, não falei para ninguém que seu marido está vivo– ele dá ênfase a palavra “marido”, tentando não perceber a cara de desgosto que ela faz, resolve continuar – Eu jamais faria algo assim trair você desse ou de qualquer outro jeito, não iria perder a sua confiança dessa forma, confiança essa que conquistei passo a passo, como eu estava dizendo, esse atestado eu consegui através de um juiz amigo de Jorge, mas não revelei a verdadeira situação, falei apenas que você tinha perdido tal documento, por você ser conhecida e saberem a muito que és viúva não foi difícil,  só demorei mais pois não tinha as datas, precisei falar com Camilo, mas calma antes de ficar furiosa, disse o mesmo a ele, que apenas entranhou você ter perdido tal documento, mas que como você viaja muito pode ter facilmente esquecido em um ou outro lugar, foi simples.– ele diz correndo com a sua declaração, com receio que ela o interrompa, termina quase sem fôlego, ela ouve em um silêncio quase mortal.

— Foi simples, você acha que foi simples – ela levanta mesmo o mal estar ainda se fazendo presente– Você falsificou um documento.

—Você falsificou uma situação, o que eu acho ser bem pior.

— Sim era mais fácil eu continuar casada, ou melhor refém de um monstro, sofrendo dia após dia e levando meu filho junto.

— Não foi isso que eu quis dizer– ele levanta possesso com o que ela diz, tinha esquecido de como ela era cruel quando queria, Aurélio pega o papel que ficou no chão quando ela quase caiu.– Julieta você não entende que agora com esse papel em mãos nós podemos…

— Podemos o quê? – ela tira o documento das mãos dele, quase o rasgando– o que você queria com isso?

— Quero me casar com você, quero eu ser o seu marido, quero que você seja minha sem nenhum empecilho– ele diz frente a frente com ela.

— Eu ainda continua casada, o empecilho ainda vive, mesmo que sob uma cama, ainda assim vivo, ainda estou presa a ele.– ela fala amargurada.

— E quem sabe disso?

— Eu sei, minha consciência sabe…

— E o seu coração o que ele sabe? O que ele diz? O que ele quer?– eles ficam se olhando, um ar pesado  se instala naquele escritório.

— Eu não posso me casar novamente– ela diz dando as costas para ele– Não  posso– mas Aurélio não desiste, se não o fez antes quando ela o tratava pior não seria agora, ele a virou novamente para ele.

— Não respondeu a minha pergunta senhora Bittencourt – fala usando um tom ironico atipico de sua pessoa, fazendo Julieta erguer uma sobrancelha– O que seu coração quer?

— Não sou dada a ouvir as minhas emoções.– diz rápido nem tomando ciência de o quanto aquilo o atingiu.

— Você tem medo?– ela estranha a pergunta dele.

— Do que fala?

— Se tem medo de entregar aos seus sentimentos? De se envolver com outra pessoas?

— Eu não sei onde o senhor quer chegar– novamente ela se afasta dele, com o sensação que aquela conversa não vai acabar bem.

— Ao que você não está dizendo, que se agarrou tanto a essa viuvez e agora que sei a verdade e arranjei uma solução, mesmo que não seja a  mais correta, mas pelo menos uma solução, você se agarra ao fato de Osório, mesmo fazendo o que fez e moribundo em cima de uma cama, você se agarra ao fato de que ele ainda vive, me levando a crer que você não quer casar comigo, não me quer.– e o homem que se se mostrou persistente e não se deixando abalar pelas recusas e ofensas dela percebe que perdeu uma batalha –Eu tomo o seu silêncio como uma afirmação ao que acabei de dizer, desculpe se importunei a senhora, não irá acontecer outra vez, eu já tinha dito certa vez que não iria mais procurar a senhora, que a vez de falar dos nossos sentimentos tinha chegado, a senhora se calou como agora, mas naquela vez eu tinha esperanças e lutei, julgava que o que tinha acontecido antes era que a fazia agir friamente, mas hoje percebo que só um de nós tem real sentimentos para com o outro e só um luta, e estou cansado de lutar sozinho,  com sua licença.

Ela quer gritar quando ele começou a falar e  chegou naquela conclusão, quando ele diz que vai embora, quando a porta é aberta e ele sai, mas não conseguiu,  ficou imóvel, percebe os passos se afastando, mas não o alcança a tempo e cai no chão segurando aquele papel que foi a esperança de Aurélio e que ela enterrou, se entrega a um choro sofrido onde consegue pôr para fora um pouco daquela dor rasgando o tecido preto que mais que nunca a sufoca, não sabe quanto tempo ficou atirada ali, chorando a sua dor, não pode deixar de pensar que mais uma vez Osório a machucou, que mesmo longe ele venceu.

 

Aurélio volta o caminho em silêncio, não se permitindo extravasar aquela dor da certeza que agora tinha, da rejeição, de saber que ela não o queria, no momento parecia estar anestesiado, mas nem por isso pode deixar de pensar que Julieta não foi capaz de dizer o contrário do que ele a acusou, mas precisa seguir adiante achando uma força que só encontrou quando perdeu sua esposa e sua mãe, esse era o mesmo sentimento, perda de um ente querido, mas que nos deixou,  e ele tinha que tirar forças para ajudar seu pai e filha naquele momento, ele encontra a mesma força e olhando pela janela tomou uma decisão e segue o exemplo de Julieta não querendo ouvir seus sentimentos e segue o caminho da razão.

 

Já é de manhã quando o carro ganha novamente a estrada, seu pai ficará bem na casa de seu amigo Brandão, ele garantiu isso, deixou uma carta para o Barão, explicando o porquê de sua ida tão rápida ao Vale, e outra carta pensado em Julieta que se ela fosse o procurar, mas não tinha esperanças que ela o fizesse. Vai o caminho pensado na proposta que tinha recebido, uma boa oferta de emprego em São Paulo, que tinha recusado por ter planos com Julieta e queria achar algo no Vale, mas visto que isso tinha ficado para trás, nada o impedia de seguir adiante longe dali, sua filha Ema, já morava em São Paulo, logo que se acertasse viria buscar seu velho pai, iria reconstruir sua vida longe da Rainha do Café, por não ter dormido durante a noite, e por não querer se entregar a esse pensamento de derrota, encosta a cabeça no banco e fecha os olhos, com o balançar do carro acaba dormindo.

 

Julieta leva nas feições a noite não dormida e no corpo as marcas de ter ficado em pé  na janela olhando o nada. A pergunta de não ter ido atrás de Aurélio já tinha virado um mantra. Sentia um peso em seu coração, o olhar dele ao sair daquele jeito a perseguia,  já no começo da tarde, não podendo mais deixar de pensar em tudo aquilo, a ponto de não conseguir se concentrar em mais nada, resolve procurar por ele. Pede que o seu motorista vá rápido, perguntava-se o porque ela tinha de ser assim, quando era uma negociação tudo era mais fácil de ver e resolver, mas quando era algo mais emocional demorava a saber o que fazer, lembra quando Camilo dizia algo doce a ela, nunca sabia como agir como agir, o que dizer, parecendo aos olhos da criança indiferença, logo ele se acostumou com jeito da mãe e não esperança troca de carinho, e quando ela conseguia vencer suas barreiras, o filho se assustava, só agora via o quanto isso fez mal não só a Camilo , mas a ela mesmo,  será se havia tempo para ela mudar?

Sem perceber já se encontra na casa de Brandão, onde Aurélio estava hospedado.

— Olá D. Julieta– é saudada pelo Coronel, assim que a porta é aberta – Por favor entre.

—Obrigada, eu precisava falar com Aurélio. diz sem poder se conter e esperar.

— Ele não se encontra…

— O senhor sabe se ele vai demorar – a ansiedade a faz cortar a fala de Brandão, não percebendo o leve balançar de cabeça do homem– Eu posso ir onde ele está...

— Dona Julieta ele foi embora, não vai voltar.


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