Nunca é tarde... escrita por Tah Madeira


Capítulo 5
Atestado.




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Um bilhete simples, sem muita informação,  o suficiente para ela indagar o que ele estava planejando, e o porquê sair assim sem falar com ela diretamente, mas não quer ficar pensando nisso, não neste momento em que batem em sua porta e mal esperam ela autorizar  e entram em seu quarto.

—Julieta minha cara o que está acontecendo?  – diz Suzana, com uma falsa preocupação.

— Não sei do que fala.  – Julieta começa a se levantar da cama.

— Como não? O filho do barão dormiu aqui – ela não consegue manter a curiosidade e é direta.

— Já vi que a fofoca rolou solta.– ela não se deixa abater por aquela indiscrição. 

 

— Não é fofoca, Mercedes disse que você chegou muito pálida, sendo amparada pelo caipi…. – se calou até ao ver o olhar de raiva que a patroa lança para ela – Digo pelo senhor Aurélio.

— Não passei bem ontem, e ele de fato me ajudou, não se sentiu bem em me deixar sozinha e apenas isso,  e só o que vou falar sobre o que aconteceu, não devo explicações  – ela fica próxima a Suzana – nem a você nem a ninguém. – e sai rumo ao banheiro deixando uma Suzana de queixo caído e olhos arregalados.

Julieta tratou de preencher seu dia de mais e mais trabalho, não permitindo pensar no que Aurélio estava fazendo ou no quanto ele vinha transformando sua vida a ponto de contar o seu mais tenebroso segredo e principalmente no quanto essa distância repentina a afetava.

 

Passa um dia, três, uma semana, seus pensamentos não  a obedecem mais, não podia mais deixar de pensar que ele a abandonou após revelar o seu passado, suas  atitudes estavam rudes por demais, por mais que o trabalho na compra de terras estavam indo bem, ela estava tão raivosa que Darcy veio conversar com ela no escritório.

 – Julieta, você tem um minuto?

— Sim claro, entre – ela tira os pequenos óculos de leitura – Você quer  beber algo?

— Não obrigado, os negócios estão indo bem – ele fala querendo ganhar um tempinho, ela apenas concorda – As pessoas do Vale parecem aceitar você.

— Sim, graças a sua ajuda, ao senhor Brandão e….  – ela não consegue completar, sem querer sua voz engasgou.

— E Aurélio, ele quem você iria mencionar?

— Sim, ele mesmo – coloca a mão no pescoço, começa a sentir um pequeno incômodo.

— Uma pena ele precisar se afastar assim  – Darcy continua, não percebendo ou não querendo perceber a aflição da rainha do café.

— Sim, uma pena ele não estar aqui presente. – ela levanta e vai até a janela – Mas ele deve ter coisas mais importantes para resolver em São Paulo.

— Talvez, vocês estavam começando a se dar bem – Darcy resolve arriscar, era óbvio para quem tivesse observado  um pouco mais os dois juntos, que ali tinha sentimento, muito sentimento, mas também sabia que Julieta não daria o braço a torcer e confessar algo, mas ela o surpreende e fala com uma voz embargada.

— Sim estávamos nos dando bem, Aurélio conseguiu derrubar um pouco da minha armadura – ela ainda olha pela janela, Darcy apenas observa e permanece em silêncio.– Eu sou uma pessoa difícil , você sabe– ela consegue esboçar um sorriso ao olhar para o amigo– E Aurélio não se importou com isso, e mesmo assim insistia em ficar ao meu lado e agora ele simplesmente foi embora.

— Deve ter acontecido algo, ele é uma pessoas honrada e sincera. – Darcy tenta amenizar.

— Eu sei, sei disso – ela se vira para o amigo – Ele é uma das melhores pessoas que conheci, mas não podemos comandar a vida dos outros.– ela divaga mais para si mesmo.

— Sabe eu  e Elisabeta somos pessoas bem diferentes, passamos por alguns obstáculos, começando por nós mesmos e nossos pensamentos opostos, mas  ela com as suas opiniões de mulher moderna e independente ao invés de me afastar, foi o que me encantou – ele vê que ela presta atenção no que ele diz– O que quero dizer é que quando há amor, não importa as armadilhas do caminho, as opiniões e o jeito diferente um do outro, foi assim comigo e com ela e pode sim servir a outras pessoas, você não acha?– Julieta apenas concorda e ele vê os olhos dela marejados, Aurélio tinha mesmo mexido com ela, pois jamais imaginou a ver assim – Eu estou indo a São Paulo, se quiser me acompanhar.

— Não posso ir, Suzana e Olegário estão viajando, para saber como anda as fazendas, nem sei quando voltam, estou no meio de uma negociação importante, não posso me ausentar, obrigada pelo convite.

— Entendo, quer que leve a algum recado ou carta  para Camilo, Jane ...Aurélio– ele a olha atentamente ela balançar a cabeça em recusa– Está bem. – ele levanta e vai em direção a porta, mas para quando ela o chama.

— Darcy, só veja se todos estão bem, todos eles– ela diz, ele concorda – E obrigada por tudo. – ele sai a deixando sozinha.

 

Dois dias após aquela conversa sentiu um cheiro diferente invadir o escritório, reconhece mas não sabe de onde, levanta e olha atentamente para tudo e não vê nada de diferente, caminha até a janela e observa um carro parado, fica imaginando quem poderia ser, não esperava visitas, ouve passos e pensa ser Mercedes que vem avisar da visita,  mas o cheiro que sentiu a pouco parece ficar mais forte, então lembra a quem pertence aquele perfume e sem mesmo querer acaba por  sorri.

— Soube que está vindo uma tempestade – ele diz, seu sorriso tímido só aumenta por ouvir aquela voz, ele estava ali, seu coração bate forte, mas antes de virar para olhar para ele se recompõe, ou tenta. – Oi – ele diz ao vê-la.

— Olá – fala tentando parecer indiferente a ele, tentando não demonstrar o quando sentiu falta de ver aqueles olhos azuis.

— Eu precisei viajar.

— Eu percebi – ela senta e faz o gesto para ele fazer o mesmo, mas ele permanece de pé. – O senhor aceita um café – ele faz que não.

— Você está chateada.

— Por que eu estaria?

— Por eu ter viajado, não ter me despedido corretamente – ele fala se aproximando e se apoiado na mesa ao lado dela, Julieta olha para frente, tentando não expressar o quanto essa simples aproximação mexe com ela.–Eu queria dizer que precisei viajar…

— Você não me deve explicação. – ela o corta, Aurélio a olha, analisando as feições dela, percebe olheiras, sinal de pouco sono e descanso, o cabelo mais preso que o habitual.– O que foi, porque me olha? – ela pergunta ao se sentir um animal em exposição.

— Você não está bem. – ele diz tentando tocar o rosto dela, que não o deixa se aproximar, levanta e senta no pequeno  sofá que há ali.

— Estou perfeitamente bem.– em vão ela se afasta, pois ele segue os seus passos e senta perto dela, uma péssima ideia ter saído da cadeira, ela pensa.

— Você está com um ar de cansada– mesmo sabendo que ela vai repudiar Aurélio toca seu rosto. – Você não tem dormido? Não tem  descansado?– vai se aproximando pouco a pouco, chegando a encostar sua testa na dela, ela tenta ser forte e parecer desinteressada, mas não consegue.

— Você me deixou sozinha, – ela diz num sussurro, confessando seu medo, colocando a mão sobre o ombro dele, querendo ganhar distância, mas ele faz o previsível e a puxa para um abraço, perdendo- se um pouco mais Julieta deita a cabeça em seu ombro, encostando o nariz em seu pescoço e aspirando aquele perfume que denunciou a chegada dele antes mesmo de sua presença  se fazer presente no escritório, nem tinha se dado por conta que sua memória tinha guardado aquele cheiro que agora sabia ser tão dele, aperta ele em seus braços, como sentiu falta de o ter assim tão perto, Aurélio ao mesmo tempo alisa as costa dela com carinho, e beija sua testa que se encontra tão perto de si, ela tem os olhos fechados, mas percebe escapar uma lágrima solitária daqueles olhos, ela o aperta enquanto ele se ajeita mais no sofá se apoiando no encosto e a deixando agora deitada sobre seu peito, parecendo que o sofá foi feito para eles ficarem assim juntos, não houve beijo, mas nem precisava mais disso para sentir e trocarem carinho.

 

Ficam algum tempo assim, sem palavras, sem se mexer com medo que qualquer coisa dita ou feita quebre o encanto. Ele sabia que não seria fácil se afastar e seria ainda mais difícil o reencontro, mas foi preciso, por fim as palavras precisam se fazer presente e quer acabar com aquela angústia que ela tinha desde a partida dele.

 

— Você se afastou por conta do que contei?– ela diz brincando com um botão da camisa dele, então era isso o que ela pensava, Aurélio sente ser o pior dos tolos por deixá-la pensar isso, ele a puxa para olhar para ele, toca em sua face, que fecha os olhos, beija sua testa com carinho, suas bochechas, o seu nariz fazendo-a sorrir por causa do contato  da barba, beija o cantinho da boca, por fim seus lábios, seus doces lábios com um gostinho de café, tentando assim deixar claro para ela que o sentimento continua o mesmo, Julieta abre sua boca para receber a dele, como queria aquele beijo, sente a pressão que a mão dele faz em sua nuca, e entrelaça os dedos no cabelos dele, podia durar uma eternidade aquele beijo, mas precisam de ar e ele cessa o beijo com alguns selinhos, mas continuam de rostos colados, as mãos dela ainda permanecem nos cabelos dele, ele faz um leve carinho em sua nuca, arrepiando todo o seu ser, será se ele sabia o quando era sensível naquela parte?

— Eu jamais iria deixar você, não deixei antes quando você lutou e tentou me afastar de todas as formas– ele diz calmamente, ela abre um pequeno sorriso, Aurélio encosta naqueles lábios ainda vermelhos por causa do beijo– Não deixaria você por saber a origem de ser quem és, eu te amo, te amo muito– um novo beijo acontece, mais urgente que o outro. Mas desta vez é ela quem precisa respirar.

— Nós não podemos ficar assim– Julieta quem faz um afago no rosto dele, deixando ali sua mão, ele quem fecha os olhos, revertendo a situação dos dois, pois era sempre ele quem a tocava carinhosamente, Aurélio percebe que ela já faz isso sem medo.

— Por que não?– ele perguntou, beijando a palma da mão dela que ainda se encontra em sua face.

— Você ainda não disse o que foi fazer em São Paulo.

— Achei que não queria saber – ele sorri a olhando.ela faz um ar de indiferença. – Fui atrás disso –ele  tira um papel do bolso e entrega para ela, que receber levanta indo até a mesa pegar seus óculos de leitura, começa a ler de costas para Aurélio, mas ao se virar ele se assusta com o que vê, não é mais sua Julieta quem está ali, e sim aquela mulher amargurada quem conheceu, meses atrás.

— Mas o que significa isso Aurélio?– ela balança o papel sobre a mão raivosa.

— É um atestado de óbito de Osório Bittencourt.


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