Morena na Banheira escrita por lelexc


Capítulo 2
A primeira vez que saímos juntas - TRUCO!


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem



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30 minutos. Faz exatamente 30 minutos que ela deu a primeira mordida e ainda não acabou aquilo. Eu não sabia que alguém podia ser tão lerdo assim para comer. Nunca estive tão entediada na minha vida. É. Eu com certeza vou surtar antes de matar essa criança. 

Maldita seja a hora em que resolvi que não usaria minha folga no dia de hoje para guardar para mais tarde. Satã me dê paciência para aguentar até o fim do trabalho porque sozinha eu não consigo. 

35 minutos. Ela terminou. Louvado seja o senhor dos cascos fendidos. Eu não aguentava mais. Tomara que faça algo mais interessante agora. 

Ela continua me ignorando. Abre a mochila e tira de lá… Não! Outra barrinha não. Por tudo que é mais amaldiçoado. Eu não aguento mais nem um minuto disso. 

Limpo a garganta para chamar sua atenção. Ela não olha.

“Hum… Carol, não é?” 

Usar seu nome parece fazer efeito. Ela se vira para mim e assente. Embora seu olhar seja o de quem está olhando para uma nova mancha na parede branca atrás da geladeira como se imaginasse se vale a pena dar atenção aquilo ou não.

“É… Só por curiosidade, quantas barrinhas dessa você ainda tem por aí?”

Franze um pouco cenho enquanto me encara. Fico tensa sem entender o porquê enquanto espero pela resposta. 

Mexe na mochila, tira uma caixa com três pacotes, cada um com quatro barrinhas dentro e coloca ao seu lado. Empilha mais duas caixas idênticas sobre ela. 

“Algumas” responde em um tom de voz sem emoção e volta a se concentrar em abrir a que está em sua mão. 

Ficamos caladas por mais alguns minutos. Estou inquieta, não sei mais o que fazer. Desisto. Sou obrigada a me distrair de alguma forma. 

“Então… O que você está fazendo aqui?”

Parece que ela vai me ignorar. 

“Ei. Sério que vai me ignorar? Ok, então. Espero que você consiga conviver com a ideia de que sua última ação em vida vai ser uma greve de silencio.”

Seu olhar para mim não foi dos melhores. Ela suspira, se vira e volta a mexer na bolsa. Estou prestes a xingá-la de todos os nomes que eu conheço quando ela se aproxima de mim com uma necessaire na mão. Tira um pacote de lenços umedecidos dali, pega um e chega mais perto. “O quê você está fazendo?” pergunto sem entender nada.

“Tornando nossa convivência mais fácil. Não sou obrigada a ficar encarando sua cara suja de sangue.” falou como se isso fosse uma resposta decente. 

Vou fingir que não ouvi antes que resolva matá-la aqui mesmo e arcar com as consequências depois. Quando se aproxima com a feição ainda emburrada só consigo imaginar que não vai ser nada cuidadosa na tarefa. Tive uma surpresa.

Ela segura meu rosto suavemente com uma mão e passa o lenço pela minha bochecha de forma delicada com a outra. Consigo sentir o calor e a maciez de sua pele enquanto seus pensamentos se intensificam novamente. 

“Não acho justo que você tenha que ficar toda suja de sangue durante horas só por minha culpa. Espero que não tente me morder ou algo assim, o dia já está suficientemente ruim sem que faça isso.

Espera… Ela está… fazendo isso para que eu me sinta melhor e não o contrário? Sorrio automaticamente com essa descoberta.

Ela olha em meus olhos e sorri de volta. Fico aérea na hora. Essa proximidade toda, esses olhos, esse sorriso… Uau. Só percebo que ela já terminou de me limpar e tirou o algodão de meu nariz por causa do cheiro de seu perfume. Minha nossa! Não quero mais pós-viver sem esse cheiro por perto. Quais serão as chances de eu conseguir o nome dele antes de matá-la?

“Fui contratada junto com alguns amigos para transformar essa mansão em uma casa mal-assombrada. Aliás, mais mal-assombrada, porque assustadora ela sempre foi.” 

Sua frase não faz sentido. Quer dizer, faz, só o momento escolhido para dizê-la é que não. Por que ela falou algo assim do nada? É interessante saber disso, eu admito, e fico bem contente dela não ser uma psicopata ou coisa do tipo, mas não entendi pra que falar disso agora. Será que perdi alguma coisa enquanto apreciava o cheiro de seu perfume?

“Você parece confusa. Não respondi direito a sua pergunta?”

Ah. Pergunta. Eu tinha esquecido que tinha perguntado isso. Vamos lá. Pense em uma forma de não a deixar perceber que sua mente foi para longe. Já sei!

“Respondeu sim. Só estou tentando imaginar porque alguém iria querer deixar esse lugar assustador.” 

Ela se afasta  um pouco e tenho que me controlar para não esboçar meu descontentamento com o ato. 

“O proprietário é dono de uma rede de casas de aluguel temáticas e não tinha nenhuma assustadora. Temos que deixar tudo pronto até o início de setembro para que ele possa fazer a divulgação. Sabe como é né, ele não pode perder a oportunidade de vender pacotes de Halloween.”  

 

Ela fala a última frase com uma empolgação que não parece dela, parece aquelas meninas zumbis que vendem biscoitos de escritório em escritório. Quase como se estivesse reproduzindo algo que ouviu em uma propaganda. Talvez tenha ouvido mesmo. 

Ok. Então ela está aqui para deixar esse lugar ainda mais assustador para que pessoas que não devem bater muito bem das ideias possam alugar e viver alguns dias aqui. Por que ela trabalharia com isso, Belzebu? Ou melhor, por que ela trabalharia sozinha durante a noite com isso? Não faz sentido.

“Bom, como está indo o trabalho até o momento?” pergunto quando o silêncio começa a incomodar. 

“Nossa, está espetacular! Já descascamos todas as paredes do andar de baixo, posicionamos os quadros, espelhos e relógios, cobrimos a maioria dos móveis com lençol e colocamos a poeira aonde não vamos mais mexer. Além disso preparamos todas as panelas da cozinha penduradas para caírem  em horários aleatórios da noite, sons de correntes no sótão e de murmúrios e arranhões no porão. Quando os manequins chegarem…”

Eu via sua boca se mexendo só não conseguia mais prestar atenção às palavras. Não posso ser culpada. A cena dela sentada na banheira, com as pernas esticadas quase encostando nas minhas, os olhinhos brilhando, a entonação cheia de ânimo, os gestos que fazia inconscientemente, o micro-sorriso que aparecia sempre que terminava uma frase… Tudo nela, naquele momento, me distraia de uma forma impressionante. Ela fica tão fofa falando sobre algo que gosta. Que outras perguntas será que funcionariam da mesma forma? 

“Obrigar ela a me esperar abrir uma porta não era castigo suficiente, não é? Não, eu tinha que ficar tagarelando sobre o melhor tipo de sangue falso para se fazer sair do chuveiro.” pensou. 

“Opa. Acho que me empolguei.” disse parecendo envergonhada.

Deu uma risada nervosa e desviou o olhar. 

Sinceramente, acho que nem se me obrigassem a ouví-la falando sobre o assunto pela eternidade eu consideraria um castigo. 

“Sem problemas, achei super fof… Interessante.” 

Lúcifer do inferno, quase falei besteira. Tenho que prestar mais atenção no que falo. Será que ela percebeu?

Suas bochechas estão um pouco vermelhas, mesmo com a pele bronzeada. É. Ela percebeu. Droga.

Ela pega uma barrinha e a abre. Não. Infernos, por que ela vai fazer isso comigo de novo? Achei que tínhamos feito uma trégua. Contra minha expectativa ela dá mordidas grandes terminando a barrinha em poucos instantes. Depois toma alguns goles de água, mexe na mochila e tira de lá uma caixinha.

É sério isso? Esse ser enviado pelos exorcistas demorou de propósito só para me irritar? Tá decidido. Vou fazê-la engasgar com essas coisas antes de deixá-la descansar eternamente. Onde já se viu tamanha audácia. Garota do anjo. 

Ela abre a caixa e tira um baralho diferenciado de dentro. Os desenhos não são de flores e corações. Um é uma espécie de pedaço de pau verde, outro uma moeda amarela, também tem um taça ornamentada e uma espada. Quanto tempo já se passou desde que morri para até os naipes terem mudado? 

“Então dona Loira, o que você faz para passar o tempo quando suas vítimas ficam te enrolando?” pergunta.

Com as cartas em mãos fica embaralhando-as enquanto me olha atentamente como se nem percebesse que o faz. 

Aí está uma boa pergunta menina. Nunca fiquei tanto tempo assim presa com uma de minhas vítimas antes. Primeiro porque quase ninguém completa o ritual e segundo porque quem completa não tem mais chances de escapar e desiste logo. Claro que não vou deixá-la saber o quão inexperiente em longas esperas eu sou. 

“Cada vítima é uma vítima. Tento sempre seguir conforme a personalidade da pessoa.” respondo.

Pareceu algo que um espírito experiente diria, será que ela engole essa resposta? Tomara que sim porque não consigo pensar em outra.

Ela me encara como se avaliasse minha resposta. Vamos lá, garota, se convença. Solto o ar aliviada quando escuto:

“Nesse caso, acho que podemos jogar truco então.” 

O que anjos é turco? 

“Pelo seu rostinho você não sabe jogar, não é? Relaxa. Já já eu te ensino. Só vou arranjar mais dois jogadores.” 

Se levanta, entrega-me o baralho, bagunça meu cabelo e vai até o espelho. Como ela espera arranjar mais dois jogadores no banheiro mesmo? 

Olha fixamente para o seu reflexo e começa: 

“Maria Sangrenta. Maria Sangrenta.” 

Não. Ela não pode estar falando sério. Esse querubim não desperdiçou o meu tempo só para morrer pelas mãos de outro espírito. 

Maria Sang…”

Não tinha nem acabado de falar e uma mulher com cabelos negros, rosto coberto de cortes sangrando, alguns ainda com estilhaços dentro, expressão zangada e roupa toda branca aparece apertando seu braço com uma mão e segurando um caco de vidro de espelho contra a sua garganta com a outra. Ela solta um gritinho surpreso e imediatamente consigo ouvir seus pensamentos. 

“Má ideia. Má ideia. Péssima ideia. Esse com certeza não é um fantasma feliz.” 

As palavras vem em disparada e atropelando-se. Sério que ela não previu isso acontecendo? Demoníaca burrice hein. Cara, ela não faz ideia. A sanguinária ali detesta ser chamada de fantasma mais do que eu. Tadinha da Carolzinha. 

“Jesus. Eu vou morrer de certeza agora. Será que dá tempo de destrancar a porta e e ser morta pela loira? Ela é mais amorzinho. A Maria vai fazer picadinho de mim. Ela tá tão zangada.” 

Confesso que sorri um pouco com essa parte. Sério que ela me acha um amorzinho? Senti pena sabendo que não conseguiria realizar esse último desejo dela e mais ainda ao perceber sua pele pálida, os olhos arregalados, postura tensa e pernas tremendo. 

“Ok. Lembrete mental para o caso de um milagre acontecer e eu continuar viva: nunca mais invocar espírito nenhum.”

Os pensamentos dela tornaram-se uma confusão de imagens, sons e cores confusas e então pararam quando, depois de um minuto inteiro assim, percebeu que ainda estava viva. 

“Dona Maria?” chama tentando não se mover.

Falha nessa tentativa e o vidro acaba por ferí-la quando engole em seco. Uma pequena trilha de sangue sai do machucado. Meu sétimo sentido indica que não é grave o suficiente para colocá-la em risco de vida. 

Não é possível. Essa menina não pode bater bem da cabeça. Ninguém que batesse tentaria socializar com a rainha do mau-humor vulgo A Maria Sangrenta. Agora como se não bastasse perder minha vítima ainda vou morrer de novo quando a rabugenta ali resolver me castigar por ter deixado que a evocassem perto de mim. E dona Maria? Jura? 

“Tudo bem? Carol, prazer. Fui eu quem te chamei aqui. É ótimo finalmente conhecê-la”

Sua voz é pouco mais do que um sussurro, ainda assim não falha em momento algum enquanto fala e estende a mão direita para Maria. 

Olho para a esquentadinha esperando vê-la terminar de enfiar aquele caco na garganta da menina  e vir acertar as contas comigo, mas o que vejo é uma expressão perplexa dominando seu rosto. É. Acho que faz sentido. A Carol parece ter o dom de deixar os outros pasmos.

“Então… Eu te chamei aqui para jogarmos algo sabe? Tinha pensado em truco só que como alguém vai acabar sem dupla acho que podemos jogar outra coisa. O que você acha?” 

O tremor em suas pernas diminuíram  e os olhos não estão mais arregalados. Eu poderia até acreditar que não estava mais com medo não fossem suas pupilas ainda dilatadas. Além disso Sangrenta tinha saído do seu estado de perplexidade e estava fuzilando-a com o olhar. Ninguém conseguiria ficar sem medo diante daqueles olhos. 

“Menina estúpida. Termine logo o meu nome ou desista de uma vez dessa ideia para que eu possa ir embora mais rápido.” 

Carol sorri e solta o ar parecendo aliviada. Um sorriso que, embora mostre um pouco de felicidade, parece mais ácido do que aquele que dava quando mencionou a decoração da casa. 

“Por que está sorrindo, lixo humano?” 

“Ah dona Maria. Você acabou de confirmar minha teoria de que não pode me matar ainda. Isso me deixa radiante. Por um momento realmente achei que fosse dar ruim.”

Seu tom também parece diferente do de quando conversamos, quase como se tivesse um toque de deboche por trás das palavras. 

“Além disso acabei de descobrir que você está presa a mim até que eu desista de falar seu nome e como não tenho a intenção de fazê-lo tão cedo poderemos jogar um pouco. Isso não é fantástico?” 

O olhar inocente, o sorriso no rosto, o tom empolgado ao mesmo tempo em que Carol segura sua mão com delicadeza, afasta o caco de sua garganta e se distancia fazem um olhar de dúvida passar pelo rosto de Maria. É como se pensasse “com que tipo de pessoa estou lidando e por que anjos ela age como se fossemos amigas desde o jardim de infância?” Meu olhar também deve estar estampando dúvida, mas é por cada uma das ações citadas me dar o sentimento de terem algo escondido atrás delas.

“Venham. Sentem-se aqui. Vou explicar as regras.” A humana falou já acomodada na banheira. 

Tive vontade de rir da cara da rabugenta. Nunca a vi tão confusa e incerta do que deveria fazer. Fui até a banheira e me sentei enquanto a esperava terminar a discussão mental que devia estar tendo consigo mesma. Afinal, diferente dela, eu já sei quão cabeça dura a humana do meu lado é.

Maria ainda parecia não saber o que fazer e estar agindo no automático quando se sentou perto de nós e Carol começou a explicar o jogo. 

“A seqüência que eu vou mostrar agora é importante. Começa com a menor carta aqui na esquerda e vai até a maior. Vou deixar ela no chão durante o jogo para que seja mais fácil, ok?”

Pegou outro baralho igual em sua mochila, selecionou algumas cartas e as enfileirou entre nós. A fila começava no 4 ia até o 12 pulando o 8 e o 9 e depois vinham o 1, 2 e 3. 

“Toda rodada vai ser virada uma carta na mesa, a que vier depois dela na seqüência será a manilha.  A cada rodada todas vão olhar suas cartas, ver quão fortes elas são de acordo com a seqüência e dizer quantas de suas cartas são mais fortes do que as das outras jogadoras. Se as cartas forem do mesmo número e não forem manilhas elas empatam e nenhuma leva. Manilha são como coringas. Estão entendendo até aqui?”

Fui a única a esboçar reação apenas assentindo. Confesso que tive dificuldades para entender. Tenho a sensação de que vou perder feio esse jogo. Ela continuou. 

“Cada uma começa com 5 cartas. Cada erro faz com que se inicie a próxima rodada com uma carta a menos. O objetivo do jogo é ferrar com as outras jogadoras para que elas fiquem sem nada no final. Bora jogar?”

Perguntou já dando as cartas e virando a tal da manilha, mas interrompeu-se antes de iniciar o jogo.

“M.S. você vai acabar sangrando nas minhas cartas desse jeito. É anti-higiênico, sabia?” 

Maria resmungou algo que não consegui entender ao ouvir aquilo. Não tenho certeza se por causa da parte do sangue ou do apelido. Imagino que tenha sido até melhor não ter ouvido. 

“Não controlo meu sangue pirralha. Jogue assim mesmo ou me deixe te matar de uma vez.” 

A menina está ocupada demais mexendo em sua mochila para prestar atenção nisso. Tira de lá uma pinça, lenços umedecidos e uma caixinha colorida. 

“Vamos fazer o seguinte: eu tiro os cacos de vidro com essa pinça. Você limpa o rosto com os lenços e eu dou um jeito deles não voltarem a sangrar, fechou? Ao trabalho então.”

Não espera uma resposta. Se aproxima com a pinça ao mesmo tempo em que morde o lábio inferior. Vai tirando caco por caco e morde com mais força nos mais difíceis de serem retirados. Será que faz isso sempre que se concentra? Lorde das Trevas! Ela fica sexy demais fazendo isso.  

Quando termina entrega os lencinhos e fica esperando perto de mim. Espera. Por que ela entregou os lencinhos para a Maria se limpar e não a limpou como a mim? 

“Carol? Por que você não a está ajudando a se limpar?” pergunto baixinho. 

Ela me olha com uma cara travessa.

“Eu tenho medo dela tentar me morder. Sei que não pode me matar, mas não tenho certeza se não pode me machucar. Melhor prevenir do que remediar, não é?”

Menina esperta. Teoricamente ela não pode nem machucar sem a autorização, mas sempre machuca. 

“Pronto. Sem sangue, espertinha. Como vamos manter assim?”

Se a Sangrenta fosse um dragão certeza que teria cuspido fogo em nós naquela hora. Carolzinha não se abala, se aproxima e descubro que a caixinha colorida está cheia de band-aids que são aos poucos colocados no rosto de Maria. Quando a menina se afasta não consigo me segurar e caio na risada. 

Desculpem. Ver a Maria Sangrenta, rainha do mau-humor, deusa da rabugisse, cheia de band-aids com estampa de dinossauros coloridos pela cara é uma dessas cenas onde é impossível se segurar. Vou pagar por isso mais tarde? Com certeza. Mas agora nem essa cara dela de “vou te esganar” vai conseguir tirar minha satisfação

“Vamos voltar ao jogo então” finjo que não é comigo e tento mudar o foco dela.

Olho minhas cartas. Tenho um 4 da moedinha, um 10 e um 12 de pau, um 2 de espada e um 6 de copo. 

Carol vira um 11 na mesa. Doze é o coringa então, acho. 

“Eu levo uma” ela fala tranquilamente.

“Duas” Maria Sangrenta diz já concentrada em suas cartas.

Tá. Eu tenho um coringa e um 2. Eles são fortes. As outras cartas não são tão altas então…

“Duas.”

To confusa, mas acho que é isso. 

“Não pode fechar cinco loirinha. Escolhe outro número” 

“Uma?” respondo meio em dúvida

Carol esconde um 5 embaixo do meu 6 que estava levando. 

“Não, Carol, não é justo! Você me ferrou de propósito, dava pra ter levado essa.”

Já comecei me ferrando, quero uma novidade. 

“Esse é o objetivo do jogo baby.” fala piscando pra mim.

Humana descarada. 

Ela faz outra jogada nesse estilo e dessa vez quem se ferra não sou eu nem ela, o que irrita um certo espírito competitivo.

“Calma Maria, você só perdeu uma carta não precisa rosnar ainda.” Carol fala debochando.

Essa dai tem zero medo da morte, não é possível.

“Minha vingança vai ser plena, lenta e muito dolorosa pra você criança estúpida.”

Eu não duvido nem por um segundo de sua fala e ainda acho que vai sobrar para mim depois. 

“Ok… Joga sua carta logo e deixa as ameaças pra depois vermelhinha. “

Um pedaço de vidro se materializa na mão de Sangrenta e ela se prepara para atacar. 

“Hey galera não vamos nos exaltar aqui.”

Tento intervir e graças a um ser superior ela volta a sentar, porém ainda com o vidro na mão.

“To mais calma que o Gandhi, ela é que está se exaltando a toa.“ diz a humana com um sorriso presunçoso.

Quase ri aqui, mas to me segurando para não ser cortada em duas.

“Vou arrancar seus dentes um por um, triturá-los para garantir que você nunca mais sorria e guardar os restos deles do lado da minha cama.” 

“Cara, tu é muito estranha, não é surpresa que o povo tenha começado a evocar a loira ao invés de você.”

É, agora é oficial, ela quer morrer. Tive que ser rápida para evitar o pior.   

Depois que consigo impedir minha colega de profissão de matar sua vítima antes da hora, jogamos por mais um tempo, sou a primeira a ser eliminada e logo após perder minha última carta a garota me chama pra sentar perto dela e vai me explicando o por quê de cada uma das suas ações enquanto joga. Mesmo falando em voz alta seu jogo ainda consegue ganhar numa disputa aciradíssima quando as duas tem apenas uma carta. 

“Nem com a sorte de principiante conseguiu ganhar foi, bebê? Meus pêsames para sua habilidade em jogos de cartas.” 

Sangrenta ficou irritada com isso, para dizer o mínimo, e já ia avançar contra nós quando ela some de repente. 

“Acho que acabei desistindo de terminar o nome dela. Ops.“ Carol fala com uma falsa expressão de inocência. Essa garota não pode ser normal. 

“Caraca, ganhei de dois espíritos assassinos, posso morrer feliz agora” emenda, mas ao olhar pra mim completa 

“Ou talvez não. É, pensando bem, com certeza não.” 

Não consegui conter um sorriso depois dessa. Fazia tempo que não me sentia bem assim. 

 


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Notas finais do capítulo

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