Pacífico Caos escrita por Samantha, Magic Universal Feelings


Capítulo 7
Reunião de família


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, e não se esqueçam de ler as notas finais!



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— Olá?

Foi a única coisa que Sapphire conseguiu dizer ao acordar em um lugar totalmente branco e vazio, preenchido por nada mais do que sua própria existência e sua voz, que ecoou por todo o espaço aparentemente infinito, mas não recebeu nenhuma resposta.

Não nos primeiros dez segundos, digo.

— Filha. – uma voz disse, suave como mil lençóis de seda.

Sapphire virou e se deparou com algo que tirou seu fôlego, tamanho fora o seu susto: Uma mulher alta, saudável e curvilínea, de pele tão lisa e prata que o brilho intenso incomodava os olhos da jovem. Seus olhos eram a parte mais faiscante da composição exótica que era seu corpo; os cabelos eram curtíssimos. Não trajava nenhuma veste.

— E-eu? – a garota estava com muito medo para se aproximar – É sério isso? Você é minha mãe?

— Eu não costumo brincar. E sim, sou uma das suas mães. – disse a mulher tranquilamente – Me desculpe ter demorado tanto... É que eu não podia te ver. Na verdade, ainda não posso. Mas sinto que te devo explicações.

— Eu concordo. – a moça loira engoliu em seco.

— Você é o resultado de uma relação que, nunca na história da existência e da inexistência poderia acontecer. O Pai, criador de tudo, do céu e da Terra, das coisas visíveis e invisíveis, nos deu tarefas quando dividiu o mundo, proibindo que eu tivesse o menor vislumbre da Morte. Contudo, sabe que tudo é mais tentador quando é proibido. Infelizmente, eu acabei descumprindo suas ordens. Eu imaginava como a Morte seria... Dolorosa? Tempestuosa? De alguma forma, Reconfortante? Não pude me conter, ou a curiosidade me mataria antes que a Morte o pudesse fazer.

— Como vocês se conheceram?

— Eu escrevi uma carta contando minha intenção de conhece-la. Não obtive resposta por quinze trilhões de anos, até que, um dia, a resposta estava em minhas mãos.

— O que a fez mudar de ideia? – perguntou Sapphire, ainda assustada mas visivelmente curiosa.

— Isso é um mistério que eu talvez nunca desvende. – disse ela, sombriamente – Decidimos nos conhecer às escondidas, na Escuridão mais distante do Pai que pudemos encontrar. Eu a vi... Era era linda. É linda. Poderosa de uma forma tão natural, exatamente como a Morte deve ser. Trocamos conhecimentos por uma noite sem dizer uma palavra, e na outra manhã eu já havia sido encontrada pelo Pai.

— O que aconteceu?

— Ele sabia que, se tivesse que me punir, puniria também todos os mundos e universos e tudo o que existe. Afinal, eu sou a responsável por cada mínima coisa viva. Então, me deu um ultimato: Se eu encontrasse Morte novamente, seria então o fim do mundo para todos. Então eu nunca mais a vi.

Sapphire notou o peso da tristeza nas palavras suaves de Vida. Queria poder dizer algo, consolá-la talvez, mas nada lhe vinha na cabeça a não ser a estranheza de toda aquela situação.

— Contudo, eu sentia que havia algo estranho em meu corpo. Algo que eu nunca havia sentido antes... E assim eu soube que te teria. Você nasceu depois de três trilhões de anos, uma forma de luz tão reluzente, mas que parecia prestes a apagar a qualquer sopro. O Pai não poderia saber, é claro, então eu lhe dei uma forma humana e te coloquei na Terra, para que pudesse ter uma vida normal. – Vida, ainda com o rosto neutro, aproximou-se da garota – Se eu pudesse sentir como os humanos, sentiria muito. Espero que não esteja zangada.

— Zangada? – perguntou Sapphire, incrédula - Você poderia ter me matado... Mas decidiu se arriscar para me salvar.

— Nem em um zilhão de anos eu a mataria. Eu sou a Vida, lembra? Não me cabe tirar a vida de ninguém. Bem, a Morte poderia ter feito, mas duvido muito disso.

— Eu vou chegar a conhece-la um dia?

— Quando o seu Dia Final chegar, sim. Se chegar, é claro. É fato que você desenvolveu habilidades como Cura e Ressureição, mas não se sabe se você é imortal como nós.

Sapphire então se lembrou do incidente com Dexter, que havia acontecido há anos atrás, e reviveu através da memória todo o medo que sentira naquele dia. Vida, que podia ver sua agonia transparente, tentou sorrir:

— Eu sei que é um fardo muito grande para se carregar. Eu estava lá, se lembra? Eu nunca a deixei de verdade. – os olhos de Sapphire se encheram de lágrimas quando ela se lembrou da voz que sussurrou em seu ouvido - E espero que você saiba das consequências de usar seus poderes de Ressureição – a mulher disse, agora em tom de aviso – Todo poder vem com um preço, e uma vida também deve ser paga com outra. Sempre que você ressuscitar alguém, outro alguém deverá morrer para que eu e a Morte possamos manter o equilíbrio vital e o mundo continue girando.

— E esse alguém é...

— Uma escolha totalmente aleatória. A Morte deve ser imparcial. Então lembre-se: Caso tenha que usar seus poderes de ressureição, você terá o sangue de desconhecidos nas mãos. E essa memória a assombrará por muito tempo, mas acho que já sabe disso.

— Sei sim. – a garota engoliu em seco.

— Meu tempo está acabando. – Vida disse, se aproximando mais – Preciso lhe contar algo: Toda vida tem um propósito. Uns maiores do que outros, mas todos importantes e válidos. Muitos descobrem esse propósito ao longo da vida, ou só percebem depois que o alcançam. De qualquer forma, está na hora de você saber o seu.

Vida se aproximou de Sapphire e sussurrou em seu ouvido algo que ficaria em sua mente por muitos e muitos anos, até o final de sua existência. Palavras que ela não precisou ouvir mais de uma vez para se lembrar. Quando Vida se afastou, percebeu que lágrimas caíam dos olhos de sua filha:

— E se eu não conseguir? Eu não sei se sou capaz de tudo isso... Você mesma disse, eu posso machucar pessoas. Eu não quero isso. Não quero ferir ninguém.

— Escute, às vezes você vai precisar ferir pessoas, mas isso não significa que é uma má pessoa. Eu dou vida à pessoas que podem não merecê-la, mas eu faço porque é meu dever. Morte tira a vida de pessoas que talvez também não mereçam, mas é o trabalho dela. Você é uma garota doce de intenções amáveis e virtudes admiráveis, e foi a única pessoa, depois de sua mãe, que me fez experimentar sentimentos humanos, como o amor. Sei que espalhará sua bondade por onde passar e, mesmo com os erros e tropeços que lhe esperam no caminho, vai conseguir cumprir seu trabalho. Eu acredito em você.

A mulher continuou:

— É provável que não nos vejamos mais. Colocarei um outro guardião além de Donna, para que possa te ajudar a trilhar seu caminho. Mas saiba que sempre, e para toda a eternidade, estarei perto de você. Numa respiração transparente, ou numa folha de outono.

A garota desatou a chorar, tentando conter os soluços que insistiam em sair. A mãe lhe dera uma dose de energia e que era exatamente o que ela precisou por muitos anos. Por um momento, uma chama se acendeu em seu coração e ela sentiu que conseguiria fazer qualquer coisa.

— Adeus, querida.

E, sem dizer mais nada, a mulher lhe deu as costas e continuou caminhando pelo vazio até se misturar com ele e sumir de vista.


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Notas finais do capítulo

Finalmente, Saph conheceu uma de suas mamães!
E aí, o que acharam?



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