Pacífico Caos escrita por Samantha, Magic Universal Feelings


Capítulo 2
Um novo lar


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura e não se esqueçam de ler as notas finais :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/761958/chapter/2

Despedidas nunca são fáceis, pois sempre que partimos de um lugar que é especial para nós ou que vivemos há muito tempo, uma parte de nossos corações sempre fica para trás. Alguns se despedem mais do que outros... Como eu. Isso me lembra de uma frase:

Todos os meus dias são um adeus.

Me despeço de todos, e de mim mesmo.

De qualquer forma, não estou aqui para falar de mim. Vamos voltar a nossa história?

Foi difícil para Sapphire se despedir. No caminho para o aeroporto, depois de prometer três vezes à filha que cuidaria de Dexter, a mãe de Sapphire contou-lhe o porquê era tão perigoso que ela continuasse vivendo em Poole, e contou também o que sabia sobre outras pessoas que, assim como ela, também tinham habilidades especiais, chamando-os de extraordinários. Isso de alguma forma acalmou seu coração e a fez se sentir menos sozinha.

É uma história interessante, essa dos extraordinários. Eu devo conta-la a vocês logo mais.

Enfim, depois de dois voos e um longo passeio de ônibus, Sapphire finalmente chegou em seu novo lar: Svaneke, a pequenin e encantandora cidade dinamarquesa, com seus poucos mil e tantos habitantes. Enquanto o ônibus estacionava, a garotinha pôde avistar algumas lojas e outros tipos de comércios abertos, um posto de gasolina, um pequenino hospital, um banco e uma escola. Tudo meio rústico.

A garota desceu do ônibus, respirando o ar fresco da desconhecida cidade. Olhou para frente e viu uma mulher que tinha lá seus trinta anos segurando uma placa com seu nome. Ela decidiu caminhar até a mulher para dizer algo:

— Oi... Minha mãe me mandou aqui, quer dizer, eu...

— Ah, você deve ser a Sapphire. Não se preocupe, mocinha. Eu sou Amélia, prima da sua mãe. Ela já me contou tudo que eu preciso saber. Seja bem vinda! – ela disse, em tom animado.

A mulher segurou a mão de Sapphire e as duas caminharam pela pequena cidade, que mais parecia um vilarejo. A garotinha observou com curiosidade as modestas casas da rua, que tinham um aspecto antigo, mas de certa forma elegante.

Bom, podemos dizer que Sapphire foi muito bem recebida, e ela e Amélia se tornaram muito boas amigas. A mais velha passou a dar aulas para a garotinha em casa, mas deixava que ela saísse para explorar a cidade e, quem sabe, tentar fazer alguns amigos.

Contudo, o dia do acidente com o gato nunca havia saído da memória da garota. Ela sabia que podia ser perigoso, mas a curiosidade sobre seus poderes lhe atiçava a cada dia. Alguns meses depois de sua chegada a Svaneke, ela sentou-se na calçada em uma tarde nublada. Viu um pequeno camundongo correr desajeitadamente, e notou que ele estava deixando um rastro de sangue.

— Pobrezinho... Deve ter se machucado.

Rapidamente e, antes que ele pudesse fugir, ela o segurou:

— Deixa eu ver isso aqui... Algum gato deve ter te pegado de jeito, né rapaz?

Novamente, um arrepio passou por seu pescoço, e ela reconheceu aquela mesma sensação sombria do dia em que salvou Dexter. Pensou consigo mesma no que poderia acontecer se tentasse mais uma vez... Olhou para o camundongo com o cenho franzido.

— Quem sabe...?

E passou a mão pelo ferimento do pequeno animal, aproximando-o do rosto para soprá-lo. Em questão de segundos, viu o ferimento se costurar de forma tão bizarra que quase fez com que ela o derrubasse do chão. Ela o soltou e o viu correr para longe, sentindo-se feliz.

Mas isso tudo foi em 2002, se lembram? Onde está Sapphire, vocês me perguntam? Pois bem, o incidente com o rato não havia parado por ali. Depois ela ajudou esquilos, cães, gatos... Estava pegando o jeito, aquilo era tão fácil par ela quanto se deitar para dormir. Entretanto, em um dia daqueles conseguiu seu maior feito até então: Curar o ralado do joelho de um garoto da sua idade, que chorava pela rua.

Descobrir que podia curar não só animais mas também humanos deixou-a muito feliz. Acompanhou o garoto até a casa dele – que era um tanto maior e mais bonita do que as outras – e se encheu de coragem para contar tudo o que havia acontecido para o pai do menino.

Esperou pela bronca ou que a chamassem de aberração mas, por incrível que pareça, o homem havia ficado maravilhado com aquilo. Sapphire acabou descobrindo que o tal homem era um dos mais influentes da cidade, e ele a apresentou para muitas pessoas depois disso. Amelia havia ficado preocupada com a exposição de Sapphire, mas o homem disse que não havia nada a temer e que ninguém da cidade lhe faria mal.

Anos depois, quando atingiu a maioridade, começou a trabalhar como voluntária no hospital de Svaneke, o que foi de grande ajuda para todos.

Bom, amigos, acho que já observamos o passado o bastante para entendermos as origens dos poderes da pequena Sapphire. Se me permitem, uma viagem no tempo seria a melhor escolha agora.

Vamos terminar esse flashback?

1.

2.

3.

E... Aqui estamos.

Svaneke, Dinamarca, 2018.

Havia anoitecido há pouco em Svaneke e boa parte de seus mil e tantos habitantes já havia apagado as luzes de seus modestos casebres para, após um longo dia, descansar para o novo que viria.

E, como o homem rico disse, nada de mal ou de estranho lhe aconteceu até o dia 25 de março 2018.

Em um dos poucos estabelecimentos com as luzes ainda acesas, duas moças conversavam. A primeira, visivelmente mais nova (lá pelos seus dezesseis anos) se chamava Fawn e trabalhava voluntariamente naquele local que, para os moradores da vila, era como um hospital. A jovem observava atentamente a segunda mulher – esta já dona de um rosto mais velho e experiente, não porque era velha, mas por conta de todas as desventuras pelas quais já havia passado – guardar os frascos de conteúdo desconhecido no armário, ao lado das faixas e esparadrapos para curativos.

As duas saíram daquela sala e foram para a entrada do hospital, recolhendo suas coisas para irem embora.

— Me conte aquela história dos heróis de novo, Sapphire. – a mais nova pediu.

— Eu já contei tantas vezes, Fawn... – a mais velha resmungou – Por que é que você gosta tanto dela, de qualquer forma? Além do mais, você já devia ter ido para casa. Vamos começar cedo amanhã. Viu quantos casos de febre alta tivemos só nesses últimos dias?

— Apenas conte. Sabe que nunca há nada de novo aqui, ou muitas notícias de fora. É entediante... – a garota uniu as mãos e disse em tom de súplica – Por favor... Eu prometo que depois disso vou embora e que não vou me atrasar amanhã.

Sapphire deu-se por vencida, bufando com impaciência:

— Certo. Mas vai ser rápido. – Fawn sentou-se em um banquinho enquanto a mais velha começava seu relato, ainda de pé – A Terra foi criada por algum tipo de entidade superior a tudo e todos, um ser onipotente, que também criou os humanos. Vendo a necessidade do povo de possuir crenças e se apegar a elas, esse Todo-Poderoso criou os deuses e suas respectivas religiões.

— Ele sozinho não deve ter tempo para pequenos problemas mundanos, talvez por isso tenha criado todas as religiões que conhecemos. – a garota ponderou.

— É, quem sabe... – a mais velha moveu a cabeça afirmativamente – Onde é que eu estava mesmo? Ah sim... As religiões e mitologias. Os homens passaram a acreditar nelas e aceita-las como dogmas. Contudo, nem todos os seres aqui na Terra pareciam ser humanos normais. Na verdade, há relatos desde a Grécia Antiga de possuidores de dons especiais que os permitiam fazer coisas extraordinárias, além da capacidade das pessoas comuns.

— O que eles eram? Algo como semideuses? – Fawn perguntou.

— Não sei... – Sapphire puxou um pequeno banco para se sentar – Eu acredito que eram filhos de pessoas normais, abençoados e presenteados pelos deuses com essas habilidades para tornar o mundo um lugar melhor.

— Isso não é otimista demais? – a adolescente questionou.

— Sim, é por isso que não deu certo. – Sapphire disse tristemente – Alguns não usavam suas habilidades como deviam, apenas para seus próprios fins egoístas. Contudo, muitos deles eram considerados heróis e até mesmo deuses que desceram para a Terra para protege-la, então era fácil manipular o povo. – a moça suspirou, ajeitando-se no banquinho – Mas acho que esse ódio que os humanos comuns começaram a ter por essas pessoas extraordinárias começou na época da 1ª Guerra Mundial. Os extraordinários, como normalmente se chamam, que usavam seus poderes para o mal venceram os humanos e os exploraram cruelmente.

— E os humanos deram o troco mais tarde. – Fawn completou, tentando se lembrar da história que ouvira.

— Isso mesmo. Na Segunda Guerra, os extraordinários foram massacrados e eliminados pelos humanos. É por isso que se vê tão poucos nos dias de hoje.

— É por isso que você fugiu para cá, Saph? – Fawn perguntou com hesitação.

Um silêncio constrangedor se instalou pelo local. A moça mais velha abriu e fechou a boca várias vezes, escolhendo cuidadosamente as palavras antes de dizê-las:

— Apesar de em alguns lugares os extraordinários serem considerados como heróis e as leis serem menos rígidas para nós, na maioria dos países ainda somos vistos como escória. Depois de tudo o que houve, tudo o que eu passei... Precisava de um lugar seguro para ficar, novos ares. – apoiou as mãos no colo e virou as palmas em sua direção, voltando seu rosto envergonhado para elas – E, além do mais, aqui tem menos chances de eu machucar alguém.

— Machucar? – Fawn se levantou, caminhando até a outra mulher e segurando suas mãos com força – Olhe ao redor, Sapphire. Você faz um trabalho maravilhoso aqui, ajudando todas aquelas pessoas. Nunca machucaria ninguém.

— Você me conhece há pouco tempo. – Sapphire murmurou. – Não sabe de muita coisa.

— Olhe para mim. – Fawn ordenou e, lentamente, a mulher levantou a cabeça para encará-la - Te conheço o bastante para saber que é uma boa pessoa e qualquer um no vilarejo vai concordar comigo. Eu nunca vi alguém fazer o que você faz.

— E que essa informação fique apenas dentro de Svaneke. – Sapphire suplicou - Não quero ter de fugir novamente.

— Sempre ficou. Continue confiando em nós. – e, dizendo isso com a mão direita levantada em forma de juramento, a garota se levantou e caminhou até a saída – Vamos embora juntas?

— Sim, vamos.

As duas saíram do hospital e trancaram as portas. Mal deram as costas para o estabelecimento, se notaram na presença de um menino baixinho de cabelos castanhos e olhos azuis, e óculos de natação pendurados no pescoço. Ele carregava uma grande mochila marrom.

As duas moças se entreolharam. Fawn se adiantou:

— Posso ajudar você?

— Seu nome é Sapphire Walsh? – ele perguntou.

— Sou eu... O que foi? 

— Meu nome é Archie, me mandaram pra ficar aqui com você. O que é que você faz, hein?

— Do que você está falando? – a mulher franziu o cenho.

— Você é super rápida? Super forte? Controla os elementos? Eu até poderia te mostrar o que eu faço, mas eu posso acabar fazendo um pouco de bagunça aqui.

Sapphire ficou apenas encarando o menino enquanto ele desatava a falar sem parar:

— Essa mochila está pesada, onde é que eu posso colocar? Onde é que eu vou dormir? Nossa, você atende muita gente doente nesse hospital? Que coisa, né... Vocês tem algum bolinho aí? Tô morrendo de fome... Deve ter naquele posto de gasolina ali na frente.

— Eu não entendi foi nada. – Sapphire balbuciou, perplexa.

Enquanto ela tentava entender a situação, o garotinho já havia caminhado até o posto, que ainda estava iluminado. Colocou os óculos de natação nos olhos e virou-se para trás, chamando as moças com a mão.

— Vocês não vêm? Nossa, que céu bonito...

— Alerta de criança hiperativa. E qual é a dos óculos?

 Fawn deu um tapinha no ombro de Sapphire antes de dizer:

— Bom, acho que esse garotinho tem muito para nos contar. Parece que vamos fazer hora extra hoje, Saph.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Podcast do capítulo em breve.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Pacífico Caos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.