Chapeuzinho vermelho escrita por louie espe


Capítulo 2
Capítulo 2 : A chave do corvo


Notas iniciais do capítulo

alguns fatos podem parecer não fazer sentido, mas acreditem é tudo proposital



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Já havia se passado dois dias que Chapéu estava trilhando quando chegou à cidade mais próxima e lá reabasteceu o suprimento de comida e água. Ela decidiu dormir na cidade e assim o fez com o máximo de discrição possível, já que sendo uma caçadora de lobos, ela era considerada uma fora da lei. Chapéu procurou por uma hospedagem barata para passar a noite e essa se encontrava bem perto do portão de saída da cidade. Ela deixou Rajado em um pequeno estábulo e retirou sua cela. “Obrigado” ele disse e ela pegou as coisas e levou com cuidado. A mulher que atendia no estaleiro parecia distraída com algo e Chapéu colocou as coisas na escada antes de ir em direção até ela.

                - Olá. Eu gostaria de me hospedar aqui por uma noite.

                - Para quantas pessoas?

                - Para duas – mentiu Chapéu – e, por favor, gostaria de não ser incomodada.

                - Você e mais quem vai ficar aqui?

                - Meu marido. É que ele já subiu.

                - Entendo. – Ela pegou uma chave grossa e entregou para Chapéu – Ultimo quarto do segundo andar.

                Chapéu se curvou com graça para a mulher e subiu rapidamente sem que ninguém notasse as coisas que ela levava. Entrou no quarto que possuía apenas uma cama e nada mais e começou a afiar as facas e comeu alguma coisa antes de deitar e cair no sono.

                Enquanto ela dormia tranquilamente. Do lado de fora da cidade um garoto chamado Abraham não podia dizer o mesmo. Ele se encontrava em uma emboscada e sua égua estava cansada com todo o trajeto.

                - Desculpe, Tulipa, terei de deixar você aqui no meio da floresta. – ele desceu de sua égua e fez carinho em sua crina – Fuja sem mim. Eu voltarei para te procurar. É uma promessa.

                Tulipa bateu a pata da frente no chão e depois saiu cavalgando. E Abraham correu o mais rápido que conseguiu, mas os lobos e os homens servos da rainha o capturaram.

                - A rainha vai ficar muito feliz em vê-lo, caçador. – disse o que parecia ser o líder dos captores – amarrem ele.

                Abraham tentou lutar, mas os outros homens prenderam suas mãos com força e o arrastaram pelo caminho até o reino mais próximo. Quando eles avistaram os portões já estava anoitecendo. Abraham notou um pássaro negro em uma árvore, mas não tentou se perguntar o que um corvo fazia ali e assim que ele e os que o prenderam entraram na cidade os portões foram fechados.

                Ele foi levado até o castelo do senhor da cidade onde o jogaram perante os pés do gordo e achatado homem.

                - Ora, ora. Vejam o grande ateador de fogo – ele disse com seu rosto gorducho – ainda colocando fogo nas plantações dos outros?

                - Não acho que isso seja de seu interesse.

                O rosto do senhor ficou completamente vermelho.

                - Ora seu...

                - Senhor – interrompeu o líder dos captores – creio que sabe que a rainha o quer inteiro – ele olhou para Abraham com desdém – mesmo por que talvez ele tenha informações do que nós procuramos.

                - A princesa, filha do rei eu suponho. – disse o senhor presunçoso.

                - Sim. Então nós o deixaremos aqui sobre os cuidados de alguns dos soldados da rainha enquanto a outra parte descansa. – ele foi andando acompanhado de outros homens por um lado enquanto dois homens levaram Abraham por outro. – sabe o que a desobediência das ordens da rainha significa mesmo para você, não sabe?

                Se o rei concordou ou não, Abraham não soube por que havia ser levado por uma porta antes de saber a resposta. Os homens o jogaram em uma sala pequena e ele pode ouvir o barulho deles trancando a porta logo em seguida. Ele sentou-se em uma cama de pedra e olhou para a janela, onde um pássaro negro pousou e algum tempo depois saiu voando com pressa. Abraham pensou que talvez fosse o mesmo pássaro, mas logo considerou a idéia ridícula.

                Antes de a noite chegar por completo Chapéu, que não havia conseguido dormir, viu que Odin havia voltado desde que tinha deixado ela para voar livremente antes de Chapéu entrar na cidade.

                - Olá, Odin. Boa noite.

                “Boa noite” ele olhou para ela por um momento esperando e ela entendeu o motivo. Estendeu as mãos para o pássaro que pousou nelas e entrou até chegarem à cama onde ela lhe presenteou com um grande peixe.

                - Então, o que descobriu?

                “Os portões fecham às seis horas em ponto e também eu vi que um bando de lobos e os soldados da rainha estão na casa do senhor que comanda a cidade.”

                - Então amanhã sairei cedo. – ela levantou – eu lhe recompensarei com mais um peixe também.

                “Também vi que havia um caçador que foi capturado esta tarde.”

                - Não parece tão importante. Agora descanse as asas que eu vou jantar e depois dormirei mais para que amanhã possamos sair.

                Assim ela o fez. E quando acordou no outro dia o céu estava claro e alto havia dormido mais do que pretendia e foi até Rajado que comia um feno perto de onde ela o havia prendido. Ele parecia bem e sua crina escura estava um pouco suja e Chapéu limpou e escovou o cavalo antes de colocar a sua cela.

                “Obrigado” ele disse e Chapéu acenou com a cabeça sorrindo. “Devemos ir pouco antes das seis horas, eu presumo”.

                - Eu na verdade gostaria de ir um pouco antes.

                “Se formos mais tarde, a cidade estará fechada e nós não vamos precisar se preocupar se algo ou alguém vai nos seguir.”

                - Se você acha isso... iremos então umas cinco horas.

                O cavalo bufou em concordância e Chapéu foi pela cidade para poder pegar os mantimentos necessários.

                - Bom dia – ela disse a uma velha senhora que vendia algumas frutas e vegetais.

                - Bom dia, minha jovem – ela pegou algo embaixo da barraca e depois se virou para Chapéu.

                - Gostaria de comprar algumas frutas, por favor. Você possui maçãs?

                - Sim. Vou preparar para você.

                Enquanto a senhora pegava o que ela ia pedindo, Chapéu notou que mais dois lobos entraram no castelo.

                - Muitos lobos visitam a cidade?

                - Não. É raro acontecer, mas esses dias eles estão à procura do Chapéu Vermelho. Por causa disso não param de sair e entrar.

                Ela deu uma risada e pagou a senhora sem rodeios. Essa quantidade de lobos apenas para capturá-la e ainda pensando que fosse um homem a fez pensar que talvez a rainha não tivesse tão bem informada quanto pensava e ela guardou todas as coisas nas bolsas que estavam nas rédeas de rajado.

                “talvez você devesse ajudar o caçador a fugir. Uma égua me contou que a segurança não está muito forte.”

                - Essa égua se chama Odin? – disse Chapéu sorrindo enquanto arrumava o cavalo.

                “Talvez...”

                - Me pergunto o que deixou vocês tão interessados em um simples humano assim.

                “Odin e eu fomos os únicos animais que sobraram da nossa antiga casa e você foi a única humana. Além do mais ele foi procurado pela rainha. Pensei que você fosse caçadora para proteger aos seus semelhantes”

                - Tudo bem. Se de alguma forma eu puder ajudar, assim eu farei.

                Ele bufou e ela voltou para terminar de pegar as coisas e pagou a mulher mal humorada e sem muita paciência. Terminou de arrumar as coisas e subiu em rajado quando Odin apareceu voando.

                “Encontrarei vocês do lado de fora” ele seguiu voando sem muita explicação e Chapéu notou que ele tinha algo preso em suas patas, mas saiu com o cavalo da cidade com calma. Até então ela não se importava com o prisioneiro e talvez ninguém fosse se importar, mas Odin que sempre pareceu indiferente aos outros não era como os outros corvos. Ele possuía decência e sempre agia de acordo com o que julgava correto.

                Imagino que queiram saber o que Odin levava e eu fico feliz em responder que era uma chave. Mas não qualquer chave, a chave que abria a cela de Abraham. Como ele a conseguiu ninguém sabe e nem mesmo eu consigo explicar, mas a verdade é que ele a tinha e quando Abraham o viu pela terceira vez soube que realmente era o mesmo pássaro.

                - Qual o seu interesse por mim, pássaro negro?

                Odin olhou para ele e momentaneamente perdeu o interesse, mas o entregou a chave e bateu o bico uma vez na grade. Abraham por um momento nada entendeu, mas depois que pegou a chave foi como se também falasse com os animais. A frente de cela os dois soldados dormiam com preguiça. Ele se voltou para Odin sussurrando:

                - Pode me arranjar uma faca também?

                Odin piou e voou e pouco depois voltou com uma faca tão pequena que Abraham achou que não dava nem parar palitar os dentes.

                - Uma faca pequena ainda é uma faca. – ele disse pra si mesmo otimista.

                O guarda a esquerda se mexeu, mas logo depois ficou quieto novamente e Abraham sabia que a fuga teria de ser hoje. Ele foi até as grades da porta de sua cela e chamou o guarda a direita.

                - O que você quer? – disse o guarda com a voz preguiçosa.

                - Um pouco de água seria ótimo.

                - Por qual motivo eu faria isso?

                - Bom... desmaiado de sede sou mais difícil de se levar até a rainha.

                Ele hesitou por alguns segundos, mas concordou e disse com a voz ríspida.

                - Não saia daí.

                - Como se eu pudesse... – ele observou o guarda sair e abriu a porta com cuidado. Ele olhou para o primeiro guarda que parecia ainda cochilar e saiu correndo pelo corredor das celas até chegar quase ao final, onde o primeiro guarda pegava a água. Ele se aproximou devagar e enfiou a faca que o corvo havia lhe dado no peito dele que sem reação se debateu por um momento e depois caiu no chão. – Desculpa, mas seria bom que um número menor de soldados me perseguisse.

                Ele correu e se escondeu em uma barraca qualquer. Odin o observava de cima e voou na direção do portão de fora faltavam vinte minutos para o portão fechar. Não muito longe Chapéu ainda esperava por Odin enquanto andava pela parte baixa da floresta onde encontrou uma bela égua.

                - Olá. – disse ela pra égua - Qual o seu nome?

                “Tulip. Não que você vá entender o que digo”

                - Realmente eu entendo o que disse, Tulip. Onde está seu dono?

                A égua que parecia surpresa disse que seu dono havia sido capturado e a deixado ali e ela decidiu ir até a cidade mais próxima.

                - O nome dele era por um acaso Abraham?

                “Sim” ela disse animada.

                Chapéu subiu em rajado e olhou mais uma vez para a égua preta e disse para rajado que voltasse aos portões.

                - Você vem comigo, Tulip?

                Ela bateu com a pata dianteira em concordância e os três voltaram para perto dos portões de entrada.

                Odin que estava nos portões a viu chegando um tempo depois e viu que Abraham havia começado a correr na direção na direção dos portões. Pouco depois alguns guardas estavam atrás dele Abraham só pode ver uma flecha passando perto de sua cabeça e afundando na cabeça de um lobo que quase pegara nele. Odin notou que os portões estavam se fechando voou na direção de Chapéu que estava com o arco pronto.

                - Acha que ele vai conseguir atravessar os portões a tempo, Odin?

                “Com certeza, mas temo que ele não consiga se livrar dos soldados.”

                - Vamos ver...

                Ela avistou Abraham há poucos metros dos portões e os soldados a sua cola. Ele corria e os portões fechavam lentamente. Chapéu esperou com a flecha armada até que ele passou e ela soltou a flecha que foi na direção da corda que segurava o portão. Então mais uma e mais uma até que a corda se rompeu e o portão fechou bruscamente e Chapéu atirou mais duas matando um soldado e mais um lobo.

                “Belo tiro.” Disse Odin. Ela sorriu.

                - Vamos. – ela entrou para a floresta com os cavalos e Odin onde desmontou de rajado e completou a aljava com flechas que estavam guardadas em uma das bolsas e deu a cada um dos cavalos uma maçã.


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