Capuz Vermelho Especiais escrita por L R Rodrigues


Capítulo 1
Deuses e Monstros (Parte 1)


Notas iniciais do capítulo

*Este capítulo especial aborda, de forma mais detalhada e aprofundada, a linha temporal alternativa na qual Rosie mantém sua decisão irrevogável quanto a proposta oferecida por Yuga. Tal irrevogabilidade desencadeia eventos que favorecem a vitória de Abamanu que triunfa sobre a Terra juntamente aos seus subordinados (soldados quiméricos e miméticos nível Beta), causando o decaimento gradual da humanidade. Em "Sinais do Fim (3x07)", Áker, inesperadamente, surge para Rosie quando a jovem se preparava para ir a uma reunião importante no QG do Exército Britânico, e, discretamente com os dedos, desenha um sigilo dimensional na parede do quarto enquanto conversa com Rosie, ativando-o com um estalar de dedos em seguida, mandando-a para um futuro apocalíptico onde Abamanu e suas tropas obtiveram a vitória, a Legião dos Caçadores conta apenas com três membros (Adam, Lester e Êmina) que possuem uma aliança com outro grupo de caçadores sobreviventes, Sekhmet tivera seus poderes totalmente absorvidos e encontra-se sob custódia da Legião, Áker está desaparecido e Rosie, especulativamente, fora morta na explosão da fábrica de Liverpool. No final do capítulo supracitado, o arauto de Yuga revela ter tido visões a respeito desse futuro assombroso e quis compartilhar esse alerta com Rosie o quanto antes para convencê-la a dizer sim. Os eventos a seguir iniciam-se a partir da ida de Rosie ao QG do Exército Britânico, sem a presença de Áker, pois, nesta linha temporal, o arauto não vislumbrou psiquicamente o futuro consequente da resposta negativa de Rosie. Só esclarecendo que Áker não possui um dom premonitório, tal como Alexia - que previu eventos distintos. O alerta proveio de uma fonte misteriosa, sobre a qual Áker não quis comentar nem mencionar em sua conversa com Rosie, e muito menos ele sabe quem lhe forneceu, preferindo questionar esse evento estranho consigo mesmo.

OBS¹: Informações a respeito da tal fonte misteriosa surgem nos capítulos que compreendem a reta final da 3ª Temporada (capítulos 37 à 40/13 à 16).

OBS²: Pode-se considerar os eventos deste capítulo como Linha Temporal 01 (Alternativa) na qual Rosie não sabia da fórmula da cura, as operações de resgate não ocorreram simultaneamente mas em dias diferentes e Áker estava mais focado em frear os movimentos violentos de Sekhmet sem saber do futuro catastrófico reservado, desencadeando acontecimentos que levam à morte da jovem na explosão da fábrica de Liverpool e ao triunfo de Abamanu sobre a humanidade poucos anos depois. Já os eventos decorrentes a partir do momento em que Áker se encontra com Rosie no Casarão em "Sinais do Fim (3x07)" - com a descoberta da cura para a substância tóxica por parte de Rosie em sua viagem ao futuro, algo que motiva ambos a mudarem o curso da história - deve ser chamada de Linha Temporal 02 (Oficial). Com a ida de Rosie (da já alterada Linha Temporal 02) ao futuro da Linha Temporal 01 graças a Áker, as probabilidades são rapidamente alteradas, o que consequentemente ocasiona a criação de uma outra linha temporal a partir do exato momento da chegada de Rosie, aqui sendo chamada de Linha Temporal 03, na qual ocorrem os eventos mostrados em "Sinais do Fim (3x07)", pertencentes ao futuro apocalíptico, como a antecipação da missão de invadir a fortaleza dos miméticos, por exemplo, evento este que também antecipa a morte dos membros da Legião graças à influência da Rosie do passado da Linha Temporal 02. Que tipo de futuro ocorreu na terceira linha do tempo, após a detonação e os efeitos da bomba Ômega, é desconhecido.

OBS³: A Linha Temporal 01 (Alternativa) pode ser entendida como o caminho mais curto que os eventos dela trilharam para um final da série como um todo, pois, como visto no clímax de "Sinais do fim (3x07)", o trio da Legião e todos os humanos limpos acabam morrendo devido ao imenso poder da bomba Ômega que transforma a Terra em um lugar inabitável para seres humanos não-infectados. Charlie também está morto após ter sido útil à Abamanu. Sekhmet foi a única sobrevivente, por ser uma deusa, claro, ainda que desprovida de seus poderes é imune aos efeitos do gás tóxico e passa a vagar pela Terra - após escapar do bunker da Legião -, solitária e envergonhada de si mesma por ser rebaixada a uma reles mortal.

OBS(4): Alguns trechos de "Sinais do Fim (2x07)" ou "Alfa,Beta e Ômega - Parte 3 (3x10)" foram transcritos para indicar que certos diálogos da Linha Temporal 02 (Abamanu e Hector, por exemplo) também foram ditos na Linha Temporal 01, embora as situações ocorridas em ambas tenham se desdobrado de formas relativamente distintas em diversos aspectos.

OBS(5): O pesadelo de Rosie apresentado logo no início de "Sinais do Fim (3x07)" nada tem a ver com as visões de Áker, é apenas uma manifestação dos medos da personagem em relação ao resgate dos seus amigos e da possibilidade de falhar neles. No entanto, não é desconsiderado na Linha Temporal 01, mas a cena não foi transcrita pois o foco deste especial são as consequências da recusa de Rosie diante da proposta, então alguns personagens que não apareceram no capítulo citado tem seus devidos destaques (como Mihos, Eleonor e General Holt).

OBS (6): Charlie não necessariamente deve aparecer. A descrição breve de sua morte está nas notas finais. Seria uma cena demasiadamente longa e tornaria este capítulo ainda mais extenso. O personagem terá seu devido destaque em algumas cenas importantes da reta final da 3ª Temporada.

Boa leitura.



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16 de Março de 1941

Inglaterra - Área florestal de Raizenbool  


Rosie guardara seu diário alternativo - pois o verdadeiro, para ela, havia sumido -, junto à caneta, ao puxar a primeira gaveta de sua cômoda, após ter escrito mais pensamentos a respeito de como enxergava as possibilidades em meio àquela crise que, no mais tardar, poderia alcançar proporções globais.

Abrira a primeira porta do guarda-roupa, seus belos olhos azuis fitando as vestimentas que normalmente utilizava para aventuras perigosamente imprevisíveis, as quais jamais imaginou que usaria. "E pensar que minha avó criou todos esses acessórios... Talvez para usar como um disfacre barato e escapar dos inquisidores ", pensou ela, a face séria, pegando as botas vermelho escuro, os cintos de couro, a blusa vermelha, o corset e os braceletes e braçadeiras, jogando cada um dos itens na cama. Por último, pegara o capuz vermelho escarlate, o qual estivera bem escondido atrás dos outros. Em vez de joga-lo como fizera com os demais itens, a jovem observava o vermelho vivo daquele manto, idealizando a figura de seu pai... usando-o em alguma seita dos Red Wolfs.

"Fugi tantas vezes... que nem percebi estar perdida nesse meu mundo virado do avesso.", pensou ela, direcionando seus olhos para um canto do quarto, seriamente reflexiva quanto á obrigação que Richard Campbell impôs à filha, sem nem mesmo ter pensado no quão direto isso influenciaria no futuro planejado de Rosie após a universidade.

Ajeitara seu cinto de couro marrom bem afivelado. Antes de sair, erguera o capuz escarlate sobre a cabeça, em seguida dando uma rápida olhadela no espelho, passando uns dedos pelas órbitas dos olhos. "Está tudo bem. Já estou mais do que requisitada... ele vai entender meus motivos.", pensou ela, dirigindo-se à porta do quarto. Puxara a maçaneta, com um olhar decisivo e determinado, logo abrindo a porta, fechando-a e seguindo pelo corredor semi-escuro em passos tranquilos.

"Hora de contar a verdade. Sem rodeios... e sem temer a reação do chefe.", disse ela para si, confiante de que não sairia de lá com o sangue fervendo devido à uma possível discussão.

                                                                                            ***

QG Alternativo do Exército Britânico 

Infelizmente, nada correspondeu às expectativas.

— Só pode estar brincando!- soltou o General Holt, levantando-se abruptamente de sua cadeira e pondo as mãos na mesa enquanto encarava Rosie com raiva através de seu único olho sadio.

— Eu estaria caso eu estivesse dando risadas agora. - retrucou Rosie, estando de pé, para o aumento da fúria do chefe militar. - Se temos algo em comum, então é o estresse.

— Ora, como ousa... - disse Holt, fechando o punho direito e fuzilando-a com o olhar raivoso. Deteve-se para acalmar-se e respirar melhor. - Isso não ficará do jeito que está, senhorita Campbell. Eu deveria indicia-la por omissão. - falou, apontando um dedo para a jovem.

— E o senhor deveria retirar meu diário confiscado na caixa de "Achados e Perdidos". - disse ela, mantendo o ar sério, revoltando-se com a atitude passada dos soldados, quando invadiram o Casarão sem autorização dela ou de Hector. - Acredite, vim com a melhor das intenções, esclarecer de vez as coisas, eu... - pausara, parecendo preocupada. - ... eu só quero que isso acabe. - seu semblante alterara-se, tal como sua voz mudara para um tom mais choroso e baixo. A jovem virou-se de costas para o General, pondo as mãos no rosto e andando pela sala devagar. Holt a olhou com estranheza, levantando uma sobrancelha.

— Não querendo ser indelicado, mas...  - disse ele, atento aos baixíssimos soluços de Rosie. -... Isto não é uma tentativa para me convencer com uma chantagem emocional, certo?

Rosie ignorara o comentário e enxugara as lágrimas e voltara-se novamente ao General, recompondo-se.

— Respire fundo... Rosie. - disse Holt, intencionando acalma-la, sentindo-se pouco à vontade.

— É a primeira vez... que me chama pelo primeiro nome. - apontou a jovem, estranhando.

— Foi a primeira coisa que pensei para me tornar mais próximo de você, de alguma forma. - disse ele, caminhando até ela. - Para amenizar sua preocupação, precisa de apoio, e eu sei o quão está atordoada. - se pôs mais perto dela. - No entanto, isto não minimiza seu delito. Devo exercer a lei... e fazê-la responder por esse ato.

— Ótimo. - disse, com rispidez, erguendo um pouco os braços e juntando os pulsos. - Vá em frente, me prenda.

— A exposição prolongada ao senhor Crannon, pelo visto, tornou você em alguém bastante petulante. - reclamou o General, aparentando ter desistido da ideia, andando para um lado, pensativo.

— O senhor também não parece estar nos seus melhores dias. - notara Rosie, olhando-o com seriedade.

— Meu estado de espírito não vem ao caso. - retrucou ele, voltando-se para ela, sem alterar a altivez. - Sabe por que não a prenderei? - semi-cerrara o olho. - Somente por conta de sua utilidade.

— E o que vem depois? - perguntou ela, desconfiada.

— A tão esperada reunião dos membros da Legião dos Caçadores para defrontar contra o cabeça por trás da calamidade. - disse Holt, pondo as mãos para trás e andando pela sala vagarosamente. - Caso seja encontrando, o senhor Crannon também está permitido a participar. Afinal, será uma operação sem a interferência do Exército, mas estarão livres para solicitarem nossa ajuda quando acharem necessário.

— E por acaso encontraram o paradeiro? - perguntou Rosie, sem deixar de olhar para o General, mostrando-se interessada a saber os rumos da suposta investigação para achar Hector.

— Ainda estamos trabalhando nisso. - disse o General, rápido na fala.

— Espera aí... - disse Rosie, não convencida. - Não estou entendendo nada. Por que me trata desse jeito se disse que sou priorizada pela minha utilidade?

— O que pensou quando eu disse isso? - questionou Holt, olhando-a com severidade. - Que minha intenção era fazê-la se sentir especial no meio militar? - virara o rosto e fizera um barulho rápido com a boca indicando deboche, como se tratasse aquilo como uma simples piadinha estúpida.

— Disso eu sei, mas, pelo seu tom, está fazendo me sentir ofendida. - reclamou Rosie, não gostado nem um pouco do rumo da conversa. - E chamar pelo meu primeiro nome não o torna mais próximo de mim, para o seu governo.

— E, tendo em vista seu tom, posso prende-la por desacato á autoridade. - ameaçou Holt, dando um infame sorriso de canto de boca. - A escolha sua... Campbell.

— Agora chega. Cansei de brincar de soldadinho. - disse Rosie, andando a largos passos, bufando em fúria. Porém, o General a pegara pelo braço direito, fazendo-a parar. A jovem virou o rosto enraivecido para o homem. - Me larga!

— Você não vai a lugar nenhum, mocinha. - determinou ele, categórico no tom. - Possuo contato com uma fonte que me assegurou sobre você ser perigosa o suficiente para pôr em risco todos os pelotões. Antes do interrogatório de Crannon, eu confisquei um item especial portado por ele.

— Quem é a tal fonte secreta? - perguntou Rosie, intrigada.

— Não está em posição de fazer perguntas. - decretou Holt, rígido.

— Não estamos em um interrogatório. - redarguiu ela.

— Mas logo passará por uma revista. - disse ele, logo sacando do coldre o seu rádio-transmissor a fim de chamar um de seus homens. Puxara a antena do aparelho e apertara o botão responsável por liga-lo, em seguida aproximando-o à boca e mantendo os olhos sérios fixos em uma irritadiça Rosie. - Gerard, preciso que se encaminhe até aqui, neste exato momento. Quero que leve a senhorita Campbell para uma revista. Caso encontre um objeto estranho, leve-a imediatamente para a sala de interrogatório. Fui claro?

— Entendido, senhor. - respondera o soldado do outro lado da linha.

Rosie limitou-se a pôr as mãos na cintura e respirar fundo para manter-se calma.

— Está cometendo um erro. - apontou ela, olhando-o com reprovação e balançando levemente a cabeça em negação.

— Não julgue minhas decisões. - disse o General, guardando seu rádio. Tornou a olha-la. - Não deixo passar um único detalhe. Não estiveram naquele antiquário para uma visitinha eventual.

— Como tem tanta certeza? - perguntou Rosie, a face dura.

— Os detectores são infalíveis, registraram um alto nível de atividade paranormal. - informou ele, andando alguns passos em direção à Rosie. - Acham que podem me tapear? Só estou preservando algumas informações comprometedoras sobre Crannon para não abalar sua relação com ele. E não estou insinuando nada, se é o que pensa.

— Nossa relação sofreu alguns tropeços. - disse Rosie, olhando para um canto da sala, pensativa. - Eu... já me desiludi com ele uma vez... por causa de um segredo... e não sei dizer se exatamente eu o perdoei ou... apenas me deixei levar pela urgência do momento.

O General a fitou com suspicácia rigorosa. Quanto mais secretas pareciam as informações omitidas por Rosie mais forte tornava-se sua motivação em desvenda-las e arranca-las de uma vez por todas.

— Urgência do momento!? - indagou ele. - O que isso significa? - fez uma pausa, sorrindo de modo infame. - Quanta hipocrisia.

— Não tiro sua razão. - disse Rosie, dando de ombros, rendendo-se à verdade. - Afinal, todos tem algo a esconder. Eu o fiz revelar tudo o que eu queria saber... é, acho que chegou minha vez de passar por isso. - uma lágrima escorrera pelo seu rosto. - O senhor tem toda a razão, General. Eu mantive coisas em segredo. Coisas importantes. Mas nesse caso, nós dois fomos cúmplices. Não precisa me dizer fatos horríveis sobre Hector. O conheço tão bem quanto o senhor mereceria conhecer. - declarou ela, comovida, parecendo denotar uma estranha saudade do caçador e ansiando profundamente por encontrar a resposta de seu paradeiro.

Antes que Holt dissesse algo, o soldado Gerard entrara na sala com algemas.

A jovem juntara os pulsos, entregando-se.

— Pensando bem, a mande direto para a sala. - decretou Holt, paciente.

— O senhor mesmo conduziu a revista antes de eu vir? - perguntou o soldado, fechando as algemas.

— Peça para o soldado Heller se encarregar de interroga-la. - decidira ele, dirigindo-se à sua mesa.

Um arrepio perpassara a pele de Rosie. "Espera aí... Vou ser interrogada por um deus carnívoro, psicopata e disfarçado de um homem morto?!", pensou ela, exibindo perplexidade na expressão.

Gerard franziu o cenho para o General, não entendendo a razão pelo chefe ter rejeitado sua pergunta.

— Mas o senhor não respondeu...

— O que eu disse sobre questionamentos? Não insista! Vá, já! - ordenou ele, colérico, apontando para a porta com o indicador e sentando-se em sua cadeira de couro.

— Desculpe pela teimosia, senhor. - disse o soldado, levando Rosie algemada para fora da sala. - Vamos. - falou, logo fechando a porta.

O telefone tocara no exato instante em que a jovem passara da soleira da porta. Holt, ainda sob o pesado efeito do estresse, atendera.

— Alô?

— Olá, General. - disse a voz feminina e provocante do outro lado.

O semblante de Holt alterara-se para nervosismo incontrolável, sendo possível ver gotículas de suor formando-se em sua branca testa.

— Justo agora? O que quer? - perguntou ele, rude.

— Apenas uma pequena renegociação nos termos. - disse Sekhmet, em seu apartamento. - Serei direta: Me deixe tentar matar Rosie Campbell nas duas operações e, em troca pela sua inestimável generosidade, lhe direi quem comanda as fábricas espalhadas no seu país. A identidade do inimigo de meu amado. Caso eu falhe na primeira tentativa, terei de revelar apenas quando eu mata-la com minhas próprias mãos na segunda.

— E se fracassar nas duas? - perguntou Holt, permanecendo sério, embora inseguro ao estar falando com a violenta deusa que lhe arrancara o olho esquerdo.

— Impossível. - disse ela, lacônica. - Embora haja um obstáculo.

— Então elimine-o. - pediu ele, lembrando-se logo do erro que cometeu ao dirigir-se à deusa daquela forma petulante. - Ahn... Quero dizer...

Sekhmet gargalhara em deboche.

— É tristemente patético. - disse ela. - Sócios devem interagir na mesma medida. Estou profundamente calma. E quanto ao senhor... está falando comigo como um cão com o rabo entre as pernas e as patas enfraquecidas e trêmulas.

— Não é necessário. - disparou Holt, sem medo desta vez. - Ela está sob minha custódia, vou arrancar dela cada palavra, cada informação a respeito do que presenciou nos últimos dois anos, desde quando conheceu Hector Crannon. Portanto, irei descobrir o nome do cabeça por minha conta e risco. E você pode voltar para o inferno de onde veio. Mate-a se quiser, já não me importo mais, eu fui tolo, mais do que nunca em minha vida ao confiar em uma jovem de 21 anos sem nenhum preparo militar e com intenções questionáveis. Encerremos por aqui, sua vadia infernal. O acordo está, definitivamente, destruído! - levantara-se da cadeira, enfezando-se. - Tem minha permissão concedida para mata-la. E se sentir-se ofendida por causa do meu tom, eu...

Sekhmet desligara de forma abrupta, denunciando impaciência, mesmo satisfeita com a resposta.

Holt olhara para o fone com o cenho franzido.

— Entenderei isso como um "Sim, senhor". - afirmou ele, pondo o fone no gancho.

                                                                                             ***

Haveria uma reunião a respeito das próximas duas operações de resgate marcada para aquele dia, às 10 horas em ponto. Rosie, vendo-se sozinha na silenciosa, abafada e pouco iluminada sala de interrogatório, perderia a participação de tal evento tal como, provavelmente, perderia sua alcunha de líder de esquadrão. Fitando o nada, concentrada unicamente em si mesma e nos vários devaneios que vinham-lhe à mente, a jovem sentia os pulsos doerem devido ao tamanho das algemas. Uma lâmpada meio amarelada e meio branca era fonte de iluminação da sala, localizada no teto, focando mais o centro da média mesa de madeira. Rosie encontrava sentada do lado que postava-se diante da única porta do recinto, aguardando pacientemente a chegada de seu interrogador.

"Não é justo!", pensou ela, colérica por dentro, sem o mínimo de aceitação por aquele tratamento. "É praticamente óbvio que tem o dedo podre de Sekhmet no meio disso. Se Mihos vai me interrogar... Então, é bom que esteja preparado, pois vai ser de grande ajuda, mesmo estando em cima do muro.", pensou ela, mal acreditando por estar considerando a ideia de unir forças com o filho daquela que deseja mata-la brutalmente, "Sei que é loucura! Mas que outra opção eu tenho?". Olhou para a sua direita, encarando a janela de vidro semi-espelhado, incerta sobre alguém estar vigiando-a do outro lado. "Vai parecer estranho se eu gritar perguntando se tem alguém aí. Tem sempre alguém acompanhando o processo. Merda! Não posso sair daqui, não há como saber, nem Mihos pode me revelar quem se resolver não facilitar as coisas só por diversão. Se eu acabar presa, já era. Se eu for liberada, porém, talvez ainda haverá uma chance de conversarmos a sós outra vez, a menos que me mandem ir para casa o que seria péssimo. Se acontecesse, ainda assim não daria certo caso eu pedisse algo emprestado do soldado Heller, com certeza estranhariam minha intimidade muito rápida com ele, depois vão me acusar, especular que estou envolvida com um soldado e que posso ter a má intenção de colocar em risco sua carreira, depois essas teorias infundadas chegam aos ouvidos de Holt... Enfim, o jeito é simplesmente acreditar que vou contar com a sorte do meu lado, por mais possível que eu ache que isso não vá acabar bem, principalmente à mim".

O ranger da porta se abrindo fizera Rosie se empertigar na cadeira, fixando seus olhos na figura que ali adentrava.

O "soldado Heller", fardado e de boné, entrara na sala, exibindo certa arrogância.

— Ora, ora, ora. Veja só quem eu encontro. E eu duvidando. - disse ele, sacanamente sorrindo para Rosie ao se aproximar da mesa. Puxara a cadeira e, em seguida, sentou-se, pondo o boné em cima da mesa. Olhou-a com cinismo. - Pelo visto, seu juramento não recebeu aquele voto de confiança honesto. Se bem que... - inclinou-se um pouco para ela, o olhar pulsante. - ... honestidade, para os mortais, tem o seu preço, por isso o General manteve os dois pés atrás.

"Para estar falando assim...", pensou Rosie, no ápice do nervosismo, olhando de soslaio para o lado direito, visando a janela. Depois voltou novamente a atenção para Mihos, esperando uma resposta rápido e precisa.

O herdeiro de Yuga não tardou a notar, sendo bem esperto quanto ao significado da expressão insegura demonstrada pela jovem.

— Pode ficar tranquila. - disse ele, bem à vontade, encostando as costas na cadeira. - Sem bisbilhoteiros enxeridos. - relanceou a janela. Por fim, revelara a aparência de seu receptáculo, metamorfoseando em milissegundos. Um caçador meio loiro de cabelos pouco espetados, esbelto, olhos azuis e face meio arrendondada. - Aliviada? Mais satisfeita, eu diria? Admita, você me esperava, mas não exatamente para me fornecer respostas que só o ignóbil comandante deste bando de carnes suculentas ambulantes quer saber.

Rosie suspirou longamente.

— Eu iria perguntar sobre não haver ninguém nos assistindo, mas estou com pressa. - disse ela, fitando-o seriamente.

— Use-a a seu favor. - disse Mihos. - Esta conversa não durará muito mais. Na verdade vai durar mais do que minha abstinência forçada pelos meus pais. Deve imaginar como é.

— Sim, eu sei, imagino você numa jaula chorando e pedindo comida para a mamãe trazer. - disse ela, irônica.

— Você realmente quer me ver cooperando ou mudando de ideia? - perguntou ele, dando sua condição. - Porque, para falar mesmo a verdade, eles nem sabem que estou aqui.

— O quê?! - indagou Rosie, franzindo o cenho e estremecendo. Sua voz soou mais alta do que ela esperava. - Entrou sem ser visto?

— Senti a energia do amuleto emanando. - declarou ele, mostrando-se um pouco mais sério. - Uma emanação tão forte que pensei ser basicamente um pedido de socorro de um mortal desconhecido, só depois percebi que se tratava de você, a princípio duvidei, mas, quando enfim entrei, tive certeza.

— Como sabia que eu precisava de ajuda? - perguntou Rosie, desconfiada. - Foi Áker quem me deu aquele amuleto.

— E por essa razão a energia dele está fortemente ligada à você. - informou Mihos, enfático. - Uma divindade oferecendo um item de certo valor a um mortal faz com que a energia dele se conecte ao portador. Ou seja, você, nesse caso. Como eu disse antes: Use a pressa a seu favor se quiser que isto termine logo.

— Por acaso, você sabe ou está a par de algum plano de Sekhmet para me matar? - perguntou Rosie, tentando ser o mais direta possível, sem esconder a apreensão.

Mihos deu uma risadinha zombeteira, cruzando os braços.

— Mamãe não aprendeu mesmo a lição.

— Dá para responder logo? - apressou-se Rosie, demonstrando sua impaciência seguida de um tom ríspido.

— É claro que não. Nem que ela me ofertasse o maior banquete de toda a minha vida. - disse ele, transparecendo sinceridade na expressão. - Mesmo tendo uma vantagem palpável, eu jamais me aliaria à alguém obsessivo, insano e traiçoeiro.

— Então é um "sim"? - indagou ela, levemente esperançosa.

— Você nem expôs os termos. - disse Mihos, exigente, sorrindo de canto de boca. - Não assino na linha pontilhada sem ler tudo.

— Então lá vai o primeiro: Você para de se alimentar, pelo menos aqui no QG. - apontou ela, sucinta.

Mihos ficara alguns minutos em silêncio, pensativo quanto a condição, movendo a boca de um lado para o outro.

— E então...? - perguntou Rosie, encarando-o com bastante seriedade e suspicácia.

— É válido. - decretou ele, decidido. - Estou ouvindo passos distantes... É melhor agilizarmos a negociação.

Com aquela revelação, Rosie sentira seu pulso acelerar subitamente de um minuto para outro. Engolindo a saliva, a jovem se esforçou para pensar numa maneira rápida de conseguir um apoio.

— Me dê um novo amuleto. - pediu ela, receosa.

Mihos levantara uma sobrancelha, sorrindo de modo cínico.

— Tem ideia do que está desejando? - perguntou ele, sem pôr muita fé no pedido da jovem. - O que acha que nós somos a partir de agora? Aliados?!

— Não seja idiota. - disparou Rosie, impaciente. - Por que acha que estou propondo esse acordo?

— Um acordo de fornecimento mútuo. E temporariamente limitado. - elucidou ele, não gostando nem um pouco do rumo que a conversa passara a adquirir. - E não uma aliança forjada para beneficiar somente um lado. - levantou-se da cadeira, pondo as mãos na mesa, exibindo uma postura rude. - Não pense em quem está lidando, saiba com quem está lidando. Palavras do General, não minhas.

Rosie se via quase no limite, virando o rosto para um lado ao bufar em aborrecimento.

— Se realmente pensou que eu poderia ajuda-la a escapar das garras da minha mãe - disse Mihos -, lamento profundamente, então vou refrescar sua memória: Não escolhi um lado nesta maldita guerra por eu estar pouco me importando, por eu achar isto completamente inútil e sem sentido algum.

— Será que vou precisar implorar? - perguntou Rosie, já pensando em desistir daquele plano arriscado.

— Você é frágil, mas também não é pra tanto. - retrucou Mihos, sentando-se novamente. - Mas não vou ser forçado a trabalhar em conjunto, muito menos com uma mortal. Menos ainda se tiver a intenção de envolver aquele serviçal e seu clube rebelde.

— Eu estive pensando agora... - disse Rosie, estreitando os olhos. - ... Recusou por talvez estar com receio de enfrentar sua mãe?

— Nem nos meus piores delírios eu me intimidaria com a presença dela. - confessara Mihos, dando de ombros.

— Não foi exatamente isso que eu quis dizer. - disse Rosie, séria.

— E o que foi, então? - perguntou Mihos, denotando irritabilidade.

— Que deve estar apavorado só de pensar em voltar para a prisão onde colocaram você por ser tão intransigente. - disse ela, inclinando-se para ele.

— Não seja estúpida. - devolveu Mihos, levantando-se novamente, mas, desta vez, para se retirar. Olhou de soslaio para a janela a sua esquerda. - Nosso tempo acabou. - falou, arqueando as sobrancelhas. - E o acordo... desfeito. - dera as costas para a jovem.

Antes que o herdeiro de Yuga tocasse na maçaneta, Rosie o chamara como que por instinto alimentando pelo desespero.

— Espera! - disse ela, sua voz soando bastante alta para aquela sala.

Mihos voltara-se para ela, demonstrando todo o seu descontentamento.

— Ah, é verdade, esqueci o boné. - disse ele, andando até a mesa e pegando-o. - Até... nunca mais.

— É sério, por favor. - suplicou Rosie, rangendo os dentes em aborrecimento. - Tenho quase certeza de que sabe boa parte dos planos de Sekhmet e o que ela tem feito ultimamente.

— Continue se convencendo disso. - retrucara ele, abrindo a porta e, por fim, saindo.

— Como contactar o General, por exem... - interrompera a frase na metade ao ver a porta fechando-se. Fechou os olhos, suspirando pesadamente em desalento pelas chances se esvaírem por completo.

"Ele com certeza vai voltar", pensou ela, irrequieta na cadeira e destetando cada vez o aperto e o desconforto que as algemas lhe proporcionavam. "Mas obviamente como soldado Heller.", Foi então que lembrara-se de algo de grande importância, o qual utilizaria-se como trunfo para sobressair-se. "Merda! Eu... eu poderia te-lo chantageado, ameaçando contar ao General que o soldado Heller na verdade está morto! Sim, eu sei, se eu o fizesse, ele me ameaçaria de morte, não cometendo a loucura de me matar aqui mesmo por ser um deus explosivo, mas o faria enquanto eu estivesse fora da vigilância do Exército. Os outros soldados o revistariam... achariam o amuleto... Mas, se ele matou o soldado Heller aqui no QG, qualquer um dos detectores de atividade paranormal seria acionado. Considerando que ele está possuindo um caçador qualquer... do qual ninguém costuma prestar muita atenção, então ele foi bem seletivo, planejou isso bem antes. Se eu não for imediatamente desvinculada quando isso acabar, posso ir até um dos acampamentos e perguntar sobre o caçador. Hector seria de extrema ajuda com um retrato falado... mas não, eu não sou muito boa em fazer descrições, então vou ter de me esforçar. Se alguém se lembrar e reconhece-lo, vão da-lo como desaparecido e vai gerar suspeitas. Mihos não vai demorar a saber, irá atrás de mim exigindo explicações, mas não vai me matar, pois seria punido por Áker, que foi ordenado para ser o responsável dele na ausência dos pais. Sekhmet está preocupada em elaborar o plano perfeito para me pegar desprevenida e me matar com rapidez e Yuga está ocupado demais com sua meditação, de acordo com Áker, crédulo demais sobre eu aceitar a maldita proposta. Só preciso... relaxar... tentar agir naturalmente". Rosie permanecera silenciosa, oral e mentalmente, olhando para a mesa e aquietando sua aflição.

A porta fora aberta novamente. Era um dos subordinados de Holt, verificando o estado da jovem, sem exatamente entrar na sala.

— Como está se sentindo? - perguntou ele, de modo apático.

— Além de uma criminosa? - indagou Rosie, a expressão séria. - Hum... Se não se importam, então não precisam saber.

O soldado franzira o cenho, fitando-a com chateação.

— Só me foi ordenado para ver como está. - disse ele, dando de ombros.

— Se estivessem tão preocupados, talvez não me manteriam algemada como se eu fosse um psicótica enrustida. - disparou ela, vomitando toda a sua insatisfação, destacando suas mãos algemadas. - Sou líder de operação. Se me punirem injustamente, me sentirei no direito de recorrer à Corte Marcial.

— O General já está a caminho. - disse ele, prestes a ir embora, ignorando as queixas da jovem.

— Ei, espera aí. - chamou Rosie, fixando sua atenção no soldado. - Interrogar ou me vigiar?

— Interrogar, obviamente. - disse ele, lacônico. - Não foi avisada? - perguntou, estranhando.

— Não, é que... - disse Rosie, desviando os olhos para um canto da sala, pensativa. - Tudo bem, que seja ele. Não me importo. - disse, balançando de leve a cabeça com os olhos fechados por uns segundos.

— O.K. Aguarde mais alguns minutos. - disse o soldado, fechando a porta.

Rosie se limitou a deitar sua cabeça na mesa, esticando os braços com pulsos algemados, não suportando ter de esperar o início do interrogatório por mais tempo, deixando-se vencer pelo tédio.

CONTINUA...


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